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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A Próxima Reportagem

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Edson Prado recebeu a pauta para a próxima reportagem. O jornal pediu uma reportagem sobre um fato comum que despertasse a vontade de ler para os cidadãos comuns em tema de livre escolha.

O tema era tão vago, que ele foi tomar um café a dois quilômetros dali para pensar em alguém comum. No café, conversou prestou atenção nos freqüentadores. De todos os presentes, tinha um homem sisudo, do tipo que cortaria qualquer diálogo, pelo menos esta era a impressão que o homem passava a quem o observava naquele momento.

Edson gostou do homem, ele seria a desculpa para que mudassem o tema proposto para ele.

_Bom dia. Está frio hoje. Eu sou jornalista, trabalho no Jornal da Cidade e gosto de conversar, às vezes falo até demais. A sua profissão deve ser séria, qual é a sua profissão?

_Engenheiro.

Ele perguntou se o homem gostava da profissão que exercia.

_É uma profissão edificante.

O homem baixou a cabeça e franziu os sobrolhos.

Edson se desculpou e perguntou se era inconveniente. Ao pedir desculpas, perguntou o nome do engenheiro.

_Ozias. A sua conversa não me aborrece, pelo contrário, me ajuda. Você que é jornalista, tem uma resposta para o meu dilema? Por que a população vota em quem faz praças e parques e não vota no político que investe em infra-estrutura? Estou cansado de ouvir que tatu não é eleito. Para nós engenheiros, que participamos das licitações, construirmos edifícios públicos, praças ou a rede de saneamento de água para a cidade dão o mesmo lucro.

Edson ficou atento à explanação e se postou com os cotovelos em cima do balcão e a cabeça voltada para ele, indicando que o ouviria.

_Sabe jovem, se um prefeito calçar uma rua e discutir com os moradores a forma de pagamento, os moradores o aprovam. Depois do calçamento pronto é que se pode falar e saneamento. Abrir a calçada da rua, fazer um buraco, instalar as manilhas e criar outra discussão sobre o assunto dá voto. É ilógico esse comportamento. Mas, se o prefeito construir a rede de água antes do calçamento e parcelar em doze vezes a benfeitoria, sem polêmica, nas próximas eleições ele não se elege.

Edson não o conseguia levar a sério, mas o caixa do estabelecimento concordou com o engenheiro.

_O doutor tem razão, disse o caixa. Para o político é necessário que o povo discuta sobre ele, que venha a oposição política e o critique e que a situação demonstre a necessidade da obra. Ele precisa ser discutido, as suas obras precisam de discussão, são essas discussões que o garantem no posto. Quando não há discussão, o povo e os outros políticos dizem que ele não fez nada, que colocou meia dúzia de manilhas e quer se reeleger.

Edson pediu mais um café e aguardou que Ozias continuasse a conversa.

_Enquanto isso, nós, engenheiros fazemos o mesmo trabalho duas vezes. Nós gostamos de dinheiro, mas é aborrecido esburacar a mesma rua que nós calçamos, quando há tantas ruas para serem calçadas. É uma incongruência. Eu não sei se é o analfabetismo que produz esse raciocínio, eu não entendo. Tira o prazer de construir, tira a motivação dos peões, mas deixa o povo feliz. Haja praça bonita para tampar a fossa.

Edson interferiu:

_O senhor não culpa a classe política, então?

_Jovem, não é prazeroso ganhar dinheiro em cima da incapacidade de convencimento da população pelo político. Eu quero é melhorar a condição de vida e moradia e, dentro desse próprio povo, a mesquinharia os impede de progredir.

Foi um café amargo, mas a matéria estava pronta. Pediu permissão para citar o nome do Ozias e não a obteve. No entanto, Ozias indicou algumas ruas recentemente calçadas onde algumas empresas faziam as melhorias necessárias. Ozias pediu ao repórter que entrevistasse os moradores dessas ruas e ouvisse os elogios ao governante.

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