Rio de Janeiro

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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Esse Conto é de Quinta! Paco, paco, paco...

Conto do Paco Eunice, órfã, sobrinha de Marina, viúva, sem filhos, decidiram morar juntas. Juntando os salários e dividindo as despesas, sobraria dinheiro para os gastos fúteis. As duas conseguiram economizar mais do que esperavam e guardaram um bom dinheiro após três anos de convivência. Surpresa, Marina recebe o telefonema de um primo distante, que não a via desde a infância. Era Paco, apelido ganho nas compras a fiado, que os amigos e parentes pagavam. O pai e mãe de Paulo cansaram de avisar que ele um dia pagaria pelos trotes. Ele se divertia e todos à sua volta se irritavam. A “tia” Marina era de costumes sóbrios, mas se queixava de solidão. Para Paco a solidão da “tia” preencheria parte do seu bolso. Visitou a prima, se queixou tanto que a Marina deu de presente uma cesta com frutas, cereais, legumes e hortaliças. Marina chegou às lágrimas com a penúria de Paulo. _Deus me livre, tia. Não acredite nele. Ele prega peças desde pequeno. Mamãe me contou a respeito dele antes de adoecer. Paco ligava de Tocantins para a Marina, que morava em Presidente Prudente. Ele se queixava cada vez mais. Ele não tinha um só motivo para sorrir. Eunice olhava de soslaio para a tia ao telefone. A tia Marina não hesitava e, na melhor das boas vontades, ordenava: _Eunice vá ao mercado, compre uma cesta básica e mande para o Paco. Compre também doces e frutas. A moça obedecia. Se ele tinha fome, era bom que alguém ajudasse. Comida não se nega a ninguém. Passados alguns meses, Paco conta que pensa em comprar um carro. Ele diz que está economizando para a compra do carro. Viu um carro bom, mas faltou-lhe um pouco de dinheiro para dar de entrada. _Quanto? _ Mil. Marina pensa em ajudar, mas hesita e se cala ao telefone. _Como tem passado a querida sobrinha? Tenho pena de gente tacanha. Muito trabalho? Marina liga para ele, diz que a Eunice anda nervosa e não entendeu a brincadeira. Ele solta uma gargalhada e diz que a Eunice mente que ela não gosta dele. Marina acredita em Paco. Eunice que se mude se está com ciúmes. Os dois recebem afeto. Eunice impede que a tia envie o dinheiro para Paco, Paulo Alécio. Marina manda um cartão de natal e uma cesta de frutas natalinas para ele. No final de janeiro, Marina é chamada ao banco onde tem a sua conta-corrente. Alguém falsificou a sua assinatura e tentou tirar o dinheiro, mas o caixa do banco, Arnaldo, que a conhece bem, não reconheceu a assinatura no cheque. Marina pensou que tinha se descuidado com o talão de cheques. Verificou a bolsa e constatou que o talão estava correto, com o número de folhas certo e as anotações necessárias. O caixa constata que a folha de cheque é falsa e chama o gerente, que avisa o supervisor da agência, que exige o boletim de ocorrência na delegacia. O gerente convida a Marina para irem juntos à delegacia. Enquanto isso, em casa, os primos se desentendem de novo. _Paco, estou falando sério. Cuidado com o tipo de conversa. Respeito é bom e eu gosto, disse Eunice ao telefone. Ele se diverte e diz que assistirá uma missa na intenção da alma de Eunice, a beata. Marina volta para casa e conta o que se passou durante a tarde. O banco controla a conta da Marina, quem falsifica um, falsifica um milhão de cheques. Passam-se dois meses. O banco pede a Marina para que vá à sua agência, o falsificador fora descoberto. Marina vai contente. Eunice a acompanha. Elas querem saber o nome do malandro. _O nome é Paulo Alécio, dona Marina. Marina entra em estado de choque e vai ao hospital. Quando melhora, liga para o Paco: _Diz que é mentira, diz que é um plano paranóico contra você. Ele diria, não fosse a Eunice intervir. _Tia, pense um pouco. Ele é assim desde garoto. Esse é ele. Enfim, Marina chora magoada. Eunice baixa a cabeça e resmunga: _Por que é que tem que ser assim?

Esse é de quarta. Conto Herege. Miau.

Herege Herege é um gato preto, que reencarnou desse jeito após ter vivido como o filho de uma mulher descrente de qualquer deus. Ela, cujo nome era Ágata, foi queimada em praça pública e ele, seu filho Agamêmnon, foi jogado no deserto do sertão nordestino e foi comido aos poucos pelos urubus. Ambos, mãe e filho, quando perguntados sobre a forma na qual iriam nascer, escolheram nascer com sete vidas porque não tinham noção do tempo que lhes seria destinado para habitar a Terra. Destino é coisa que não se rejeita e eles nasceram no Brasil do ano 2.000, em Araçatuba, no interior paulista. Logo que eles se adaptaram a beber o leite derramado, lamber latas de sardinha e matar ratos apareceu um anjo daquele deus que eles não acreditavam, em forma de um gato angorá branco com asas e auréola. _Ágata e Agamêmnon: vocês vieram com esta forma para cumprir uma missão. Muitos são os ingênuos nesse mundo. O adversário do ingênuo é a malícia. A missão de vocês será impedir que a gente de bem, com estudos e algum dinheiro se perca em atos impensados ou se deixe levar ao péssimo caminho. Aviso também que os meios usados pelos gatos são pouco ortodoxos. Vocês terão diversão meus amigos. Os gatos ouviram e se dirigiram para a casa do motorista de caminhão João Sebastião. Era na casa dele que eles moravam, mimados pela mulher dele, a Francisca, que os tinha adotado durante a ausência do marido numa das suas longas viagens. Ele fazia carreto de mudanças pelo Brasil adentro e conseguia um padrão econômico confortável para ele, a mulher, que era dona de casa e os filhos João Baptista e Antonio de nove e cinco anos respectivamente. Acontece que era fevereiro e os meninos estavam em férias. Sebastião levou a mulher, os filhos e os gatos para uma viagem ao litoral. Reservou as diárias em um hotel familiar em Ilha Bela, pagou adiantado e pediu à Francisca que fizesse as malas. Partiram em viagem. Os gatos se animaram com a idéia de conhecerem o mar. Eis que desce à janela o gato anjo e pede para que eles desçam em São Paulo para a primeira missão. Eles deveriam ser rápidos e precisos para não atrapalharem a viagem daquela família _Não podemos estragar a viagem, se isso acontece, eu perco uma das minhas asas. Eu preciso que vocês contatem a gata da noite Miaumadruga e a levem até a casa do juiz. “Miaumadruga” e a levem até a casa do juiz.. Eles tinham sete vidas e podiam gastar uma delas na casa do juiz. Souberam que a filha do juiz era assediada constantemente para frequentar festas onde ocorriam orgias. A moça sabia e se recusava a ir, mas convivia com aquelas amigas pensando que bastava dizer não aos convites que não se incomodaria. Aos gatos cabia mostrar à jovem o que é que os amigos dela praticavam. A gata Miaumadruga, que era especialista em orgias, se entusiasmou e fez o melhor que pode. Juntou-se a cinco gatos e começou a miar embaixo da janela do quarto de Laura, a filha do juiz, que estava estudando geografia e foi até a janela para espantar os bichanos. Laura viu um gato pardo olhando atentamente e extasiado um gato marrom, que cobria uma gata mesclada enquanto outros dois gatos se lambiam. Ela parou, nunca tinha visto uma cena assim. Agora ela sabia o tipo de festa que as suas amigas faziam enquanto os pais delas viajavam. Depois do que viu, não seria mais a melhor amiga daquelas amigas. Nunca mais. Ágata e Agamêmnon aproveitaram a hora do almoço da família em São Paulo para aquela missão. Seguiram viagem com a família após correrem em direção ao caminhão. Chegaram a Ilha Bela. Beberam leite, usaram as caixinhas de areia e foram explorar o litoral. Na orla, os gatos observavam o sorriso pleno de otimismo de uma moça com traços delicados e femininos, com uma canga florida amarrada à cintura, de cabelos castanhos dourados ondulados na altura dos ombros, de olhos castanhos de olhar distante. A moça sorria para o infinito. Voltaram para o hotel, satisfeitos. O primeiro dia no litoral foi ótimo. Viram o mar, estavam com areia nas patas. Os meninos jogaram água do mar neles com uma jarra de plástico. Eles, que ficaram na calçada apreciando a paisagem, enfeitados. Ágata estava com laços de fitas vermelhos e Agamêmnon tinha fitas azuis com enfeites de peixinhos verdes. A família faz um lanche na sacada do hotel e um dos meninos avista um gato angorá parado na frente do hotel. Os gatos Agamêmnon e Ágata saem em disparada ao encontro do gato. O que é que o gato anjo estaria fazendo ali? _Vocês viram aquela moça na orla? Ela foi espancada pelas colegas e esconde os hematomas da família. A mãe dela está em convalescença de uma cirurgia de apêndice e não pode se incomodar. O pai dela viajou para São Paulo e volta amanhã. Uma garota planejou a surra. Ela é filha de pais muitos severos e eles a proíbem de ir à praia. Ela sentiu tanta inveja da outra que planejou o ataque junto com outras garotas reprimidas. Quero que vocês miem a noite inteira na janela dessa moça. Elas escolheram o caminho errado e vão se conscientizar disso. À noite Ágata e Agamêmnon saíram do hotel e se posicionaram ao lado dos muros baixos da casa da moça. Começaram a miar de todos os modos e com toda a força da garganta para chamar a atenção da Lícia, a moça ferida. Lícia não dormia, estava acomodada na cama de maneira a sentir menos dor, sentiu uma curiosidade enorme de ver os visitantes. Não tinha a menor certeza de nada e, com medo, apareceu à janela espreitando entre as cortinas. Viu os gatos pretos e dirigiu a sua palavra a eles. _Vocês são o que eu preciso hoje. Eu tive tanto azar que a companhia de vocês só pode me fazer um bem. Eles, ao se perceberem bem vindos andaram sobre o muro, pularam, rolaram e brincaram de lutar boxe. A moça sorriu. Estava machucada, mas sorriu. Parecia que os bichinhos sabiam o que ela havia passado. Passaram à noite toda, os três juntos, a moça conseguiu esconder os hematomas da mãe. O gato anjo apareceu pela manhã e ordenou que eles seguissem essa moça durante o dia. A missão deles na praia era fazer a moça sorrir. _Esqueceu que nós temos donos, perguntaram eles ao gato anjo. _Gatos não tem donos, gatos tem casas. Vocês sabem a duração da temporada dos seus donos no hotel. Saiam e voltem à tardinha todos os dias. Eles vão gostar. É proibido levar animais domésticos à praia. A moça foi à farmácia depois que o pai chegou de viagem. Avistou os gatos e lhes dirigiu a palavra: _Muito bem, os senhores gatos pensam que eu sou uma bruxa? Assim ela amenizava a dor dos ferimentos e do silêncio a que estava submetida. Ela se sentiu bem e foi até a beira do mar. Os gatos ao seu lado. Ela não queria levar gatos à praia e parou no supermercado para comprar um pacote de ração para os gatos. Ao se abaixar para pegar a ração, os hematomas apareceram e uma conhecida de praia, daquelas que gostam de bate-papo, reparou nas coxas com um amarelo arroxeado forte. Lícia não reparou que fora observada. Os gatos se deliciaram com a ração. _Somos golpistas senhor anjo, disseram os gatos olhando para cima com os beiços cheios. A moça volta da praia e eles a seguem de novo. _Meus hereges queridos, até quando me farão companhia? Eles voltaram ao hotel, ressabiados. Como a moça adivinhara o passado deles. Eles tinham que conversar com o gato anjo. O gato anjo apareceu à noitinha para vê-los: _A moça não sabe do passado de vocês. Ela tem que melhorar. Ágata e Agamêmnon acompanharam a moça. Aquela moça do supermercado a encontra: _Eu preciso falar com você. Eu descobri sem querer o que te fizeram e contei ao salva-vidas. Ele vai tomar providências. _ O que ele vai fazer? Eu não sei, mas ele disse que é para você não ir à praia hoje. Ela foi, levou a ração e a deixou na calçada para os gatos. As garotas, suas algozes apareceram trajando um biquíni fio dental. O salva-vidas tirou algumas fotografias abraçando cada uma elas. O gato anjo apareceu enquanto os gatos pretos se refestelavam com a ração. _Missão cumprida! Esse gato anjo era muito diferente daquilo que eles conheciam enquanto humanos. _Divirtam-se gatos pretos, mas voltem ao hotel. Quando eu precisar, eu aviso. Aproveitem o final da temporada com os seus donos. O gato anjo comeu o que restou da ração e quando a moça o viu, alegrou-se novamente. _Até que enfim aqueles gatos pararam de me seguir. O gato anjo a seguiu dali em diante. .

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Hoje estou para assobios. Poema Controle e assobios.

Controle e assobios. Controlo o controle que se descontrola, Que dorme em inertes mãos sós, cansadas Dos olhos colados na cantarola Que sobra das flautas escancaradas. São ternas e ilógicas assobiadas, Sonoras e alegres qual uma bola Pintada no céu da boca, inventadas. Acaso sem causa, ave sem gaiola Abraço ao cansaço, mãos enlaçadas. Assopra o claro som em doce marola, Violas de cordas acompanhadas Nas cordas vocais de doce bitola... A corda que embala a insônia que rola; Embora a tarde das noitadas Não tarde, melhor irão harmonizadas. Ps. Poema feito em função do vídeo do youtube:http://www.youtube.com/watch?v=AK4PpqL27YU

terça-feira, 20 de julho de 2010

Escrever é uma aventura constante. Conto Escritora.

Escritora. Ela cometeu um pecado mortal, resolveu escrever. Os seus livros poderiam algum dia ressuscitar o passado que se pensava morto. Margie, que era filha única do General O’BRIAN e não era afeita a área militar, poderia fazer a história da América revisitada e relida. O pentágono se dividia a favor e contra a moça. Estávamos em plena guerra fria. Era 1.974. As famílias de combatentes mortos, feridos, agentes de segurança em atividade e ladrões que participaram do macarthismo, tremiam ao ver aquele livro infantil de dez páginas com desenhos para as crianças pintarem com giz de cera. A história começou quando o gangster John Scoppeta que, ao saber que a moça era filha do melhor agente da inteligência que os americanos já tiveram naqueles tempos, impôs a lei mafiosa do silêncio à Margie. Com apenas 27 anos, calada sob ameaças de perder o emprego, a moradia e a vida, começou a ler tudo o que caía em suas mãos. Passado dois anos, começou a escrever para passar o tempo e se distrair, até que surgiu uma oportunidade de publicar um livro infantil. O editor da Edward books, uma editora com relativo prestígio editorial, que vendia livros para escolas do interior dos EUA, leu os textos da moça e a convidou para que fizesse um livro dirigido às crianças, que desenvolvesse a coordenação motora através das técnicas de pintura, estimulasse a criatividade através das cores e das formas e que contivesse uma história de simples leitura. Ela aceitou o convite. Dois meses após a publicação dos livros alguns fatos estranhos começaram a acontecer. Uma tarde, após uma ida ao supermercado, ela verificou que a sua agenda de telefones havia sumido. Procurou por toda a casa e não a encontrou. Lembrou-se do seu pai que havia morrido aos 64 anos de pneumonia, há dois anos atrás. _Filha, para a CIA não existe fechadura, não existe privacidade. Os radicais são igualmente da direita e da esquerda e, ainda temos muitos adeptos em nosso país. Os nossos ministros cedem às vontades dos mafiosos e muitas das informações que chegam até a Central vêm deles. Lembre-se sempre que o seu pai é um homem honesto e, por favor, não ceda às pressões. Talvez sua vida seja breve, talvez não. Que seja bem vivida. Sou igual a todos os pais. Não quero que você sofra o que eu sofri, mas também não quero que você sofra o que eu não sofri porque sabia que era um caminho ruim. Alguns adversários me apelidaram de otário lá na agência. Não me importo com isso porque isso é melhor do que compartilhar informações com ladrões que vão pilhar centenas de milhares de pessoas, que depois de pilhadas, vão submeter-se às manipulações deles, e vão pilhar outro tanto de gente e o país se transformará numa violência sem fim. Alguns militares tentaram entrar em contato com a Margie. Ela preferiu ficar só, mesmo sabendo que a vasculha continuaria no seu encalço. Nada encontrariam sobre ela porque ela jamais havia se entrosado no ambiente político onde a corrupção é “festa na floresta” e nem tinha tido problemas com a polícia. Ela gostava de desenho e de filosofia. O seu pai nunca a obrigou a seguir os seus passos ou os da CIA e a sua mãe era uma dona de casa que sentia um profundo respeito pelo trabalho do marido e interferia quando o marido pedia uma opinião sobre os percalços do emprego. Sua mãe morava em Seattle e ela residia em Spokane para criar os seus livros em um local retirado. Não podia de nenhuma maneira explicar a situação à sua mãe, pois colocaria a vida da sua mãe em risco. De qualquer forma, avisou que o fato de escrever estava causando problemas e pediu à mãe que se cuidasse. Pistoleiros de aluguel eram comuns na máfia. Margie era seguida por alguns senhores de idade. Eles cuidavam dos seus passos, da sua alimentação, dos seus afazeres e tentaram dissuadi-la de a não mais escrever. Falaram que sentiam saudade dos tempos melhores e que já era um privilégio para a moça não ser considerada uma opositora. Nem prostituta. O passado da história americana tinha que continuar enterrado. Margie, ainda jovem, procurou a imprensa até conseguir os seus contatos no chamado “quarto poder”. Jefferson organizou uma tropa de jornalistas homens que seriam contatos para informações claras e objetivas. As jornalistas mulheres ficariam de fora porque era uma operação de alto risco e os homens se arriscam menos que as mulheres em suas paixões. A vida da moça se transformou rapidamente e os seus contatos davam apoio moral e estratégico para ela enfrentar a situação sem colocar a sua mãe e alguns parentes próximos em envolvimentos danosos à suas vidas. Por alguns anos, as coisas funcionaram. Em 1.975, a máfia colocou agentes em relacionamento social com a sua mãe em Seattle. Margie aprendeu com a convivência jornalística alguns macetes da profissão, mas isso era pouco para aquilo que vislumbrava de terror. Resolveu jogar o jogo, apostar as suas fichas, como dizem em Las Vegas. Margie montou a sua agência informal de espionagem. Estudou os seus vizinhos, os seus amigos, os seus conhecidos e os da sua mãe. Cada vez que um daqueles malfadados senhores a seguia, ela os vigiava. Eram idosos, estavam sós, em atitudes insuspeitas nos supermercados, nos bancos, nas lanchonetes e nas livrarias. Através de conhecidos, se informava um pouco mais sobre a vida de cada um deles. Militares,políticos, empresários, profissionais liberais, policiais e bandidos com alto poder de persuasão pessoal, todos a serviço deles mesmos e dos seus interesses pessoais como se fosse uma profissão de fé e de ódio a tudo aquilo que não pertencesse aos seus propósitos. Margie recebe a ordem de visitar a sua mãe em Seattle, as passagens estão pagas. A ordem não veio de um dos seus contatos, veio de uma carta timbrada com o selo da CIA encontrada sobre o sofá da sala da sua casa. Avisou os contatos e embarcou no avião. Dentro do avião, sobre a sua poltrona de assento encontrou um pacote de lembranças de Washington. Dentro do pacote uma mensagem: A América sabe da existência do general O’BRIAN. Desceu no aeroporto de Seattle e imediatamente comunicou a mensagem aos contatos. Três horas após se reencontrar com a sua mãe recebeu a confirmação que todos os trabalhos secretos do general estavam espalhados pela América. Sem espetáculos, sem notícias. Agora toda a imprensa tem acesso aos segredos de uma época da inteligência, época da qual o general O’BRIAN, que estava dentro da agência, na sua pior época, não se contaminou. Provavelmente a imprensa macarthista dará um fim a esses documentos, mas são tantos e tão espalhados pelo país, que a história não morre mais. Margie lembra-se da frase inesquecível: _Talvez sua vida seja breve, talvez não. Que seja bem vivida.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A copa do mundo me deixou a ressaca e muitas saudades. A viúva e o técnico da seleção. É o meu conto de segunda-feira.

A viúva e o Felipão. Pobre Maria, que tinha ficado viúva aos 55 anos, idade em que a mocidade já se foi e a velhice é uma esperança a ser alcançada. Seu marido Paulo Cícero Cerrado morreu aos 65 anos de um enfarte do miocárdio fulminante em 1.999, após trabalhar 45 anos sem parar. Ele deixou uma casa de 80 m2 no Bairro do Capão Raso, em Curitiba. A casa de dois quartos e demais dependências foi comprada por ele e economizada por ela, os dois suaram muito para obterem a casa própria. Deixou um carro, um fusca reeditado, ano 96, que o filho Paulinho dirigia para cumprir a sua rotina das aulas na faculdade, o emprego e nas folgas, levar a sua mãe para um passeio de fim de semana até o pesque-pague. Depois que o marido morreu, Maria modificou o quarto onde o casal dormia. Ela queria no quarto além do útil e velho armário de roupas, a cama e um rádio com relógio. Os outros cômodos da casa ela não mexeu, deixou como eram; o sofá de três e dois lugares, a mesinha de centro e a televisão. Com o dinheiro deixado pelo marido mais a ajuda do filho, Maria dava jeito em suas contas, agradecia a Deus por não precisar de auxílio das instituições financeiras. Maria tinha uma irmã casada. Era a única da sua família que ainda era viva; o marido falecido era filho único e o seu pai e a sua mãe, falecidos. Há três anos atrás o seu pai pegou a meningite e a sua mãe, ao cuidar do marido se contaminou. Sua irmã, Sebastiana, que era casada com João Carlos era diferente dela. João Carlos, comerciante de verduras bem estabelecido, adquiriu o péssimo gosto de rir da dor dos outros e Maria não escapava do seu humor: _ Viúva é como ave de mau agouro, dá azar, ninguém quer por perto. Eu sei carregar batatas com perfeição. Maria, vem que eu te levo comigo. Sua irmã Sebastiana não falava muito diferente: _Coitada da Maria, casou mal, casou com um burro de carga. Quando a gente falava pra ele mudar de emprego e trabalhar por conta própria, ele dizia que preferia ser funcionário. Assim, empacado no serviço, ele gastou os seus anos e os da Maria. Com esse tratamento, Maria preferiu ficar com a companhia do seu velho rádio de cabeceira e comprou um pequeno aparelho de som. Colocou ao lado da televisão na sala, em frente ao sofá de veludo azul. Assim, o rádio substituiu o carinho que ela não tinha mais. Um dia, a solidão deu lugar para um técnico de futebol tomar o seu lugar. Era o técnico do Palmeiras. Maria prestava atenção em tudo que ele dizia no Rio Grande do Sul, em Alagoas e no Palmeiras de São Paulo. O técnico começou a fazer parte da sua rotina e ela torcia para que o time do qual ele fosse treinador vencesse, da mesma maneira como ela gostaria de vencer a sua saudade. Agora Maria dividia a sua atenção e, o que a sua irmã dizia, não a magoava. Agora ela tinha uma obrigação que era acompanhar todos os jogos em que aquele técnico participava. Ela ativava o despertador para não perder nenhum jogo e o despertador nunca desapontou Maria. Até o Paulinho deu para resmungar durante a noite: _Tudo bem, mãe? È tarde mãe! O Paulinho aparece só agora porque filho que não dá trabalho para a mãe, não aparece mesmo. Paulinho estudava, trabalhava e o que sobrava dessa maratona ele dava para a mãe. E Maria respondia: _São os jogos de futebol, filho. Bendito seja o técnico de futebol que me fez companhia enquanto você cuidava da sua vida. Assim foi até a escolha pela CBF do treinador da Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo em 2.002, quando Maria soube que o escolhido era Felipão, ela exultou em alegria, não tinha pessoa mais feliz que Maria, ela tinha certeza que o time do Brasil iria ganhar a Copa. Começou a Copa do Mundo de 2.002 e sempre que pôde Paulinho assistia aos jogos do Brasil com a sua mãe, aprendeu com ela a torcer também pelo Felipão. Quando o Brasil ganhava, era ela quem ganhava, quando perdia ou empatava Maria não ouvia os comentaristas, na opinião dela, eles eram maldosos com o Felipão: _Que ninguém venha falar mal do Felipão pra mim. Amanhã não vou sair de casa, senão eu brigo. E o Brasil foi P E N T A C A M P E Ã O! Maria era a campeã, Maria venceu os anos de viuvez, Maria venceu o estigma da tristeza, que ela pensava ter adquirida com a viuvez e conseguiu driblar a solidão! Paulinho compreendeu e festejou junto com a mãe o retorno à vida. Maria vitoriosa queria o filho campeão e comprou para o filho o livro “A Arte da Guerra” de Sun Tzu, o livro indicado pelo Felipão. Maria já venceu!