Rio de Janeiro

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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Constatações

Constatações

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Águas de chuva, esverdeadas;

Limpas são as águas correntes

Dessas vontades rosadas;

Cingem os rios pertinentes.

 

Chamam aos sonhos floradas,

Frutos maduros, sementes;

Verdes e azuis, irrigadas,

Vindas de fontes nascentes.

 

Flores de iguais semeadas,

Brotam e são diferentes;

Águas são chuvas levadas;

Nelas, a flor em sementes.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Mais Uma / Crônica do Cotidiano

Mais Uma / Crônica do Cotidiano

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É a segunda vez que ouço a mesma queixa e o problema é real.

As mulheres que frequentam a musculação são as que sofrem do problema, que embora pareça frívolo, alteram o humor, quando não o peso, ou, ainda, os dois problemas em conjunto.

São mulheres que se cuidam e para manterem-se em forma praticam a musculação e se alimentam bem.

De repente, num dia qualquer, o médico avisa que os exercícios são excessivos.

Às vezes elas perdem peso e não percebem que estão com o corpo fora do peso.

Todas, sem exceção, dizem que se sentem mal quando não vão à academia, não fisicamente, mas, emocionalmente. Sentem-se descuidadas consigo mesmas durante o dia inteiro, quando, pela manhã, não fizeram exercícios.

Pessoalmente, parei quando me avisaram que eu precisava engordar, e quem avisou sabia daquilo que dizia.

Não é a moda que impõe essa condição, é o organismo que pede mais e mais exercícios, provavelmente pelo bem estar causado pelo mesmo.

Quando o exercício vira apoio psicológico sem limites, acontece o que se observa, principalmente, entre nós, mulheres. São mulheres adultas com o peso oscilando entre 45 e 49 quilos de peso numa altura média de um metro e setenta de altura.

Todas as observações são feitas de modo particular, sem critérios científicos, mas não se trata de anorexia. Essas mulheres comem de tudo, se bem que às vezes trocam o almoço pela festa de aniversário à tarde; a maioria de nós já fez isso alguma vez na vida.

O que eu sou contra é esse estresse por um dia de falta na academia de musculação descrito como sendo uma sensação de fracasso, de ter jogado o dia fora.

Escrevo porque recebi três convites para frequentar a academia, ginástica que está parada há anos. Prefiro caminhar tranquilamente, olhar a paisagem em volta, mesmo composta de edifícios e calçadas.

Não quero o cronômetro me dizendo a que velocidade eu estou na esteira e a velocidade máxima permitida para a minha idade e etc.

Também não digo que não valha à pena ir até a academia, vale! Desde que não seja um disfarce para problemas não resolvidos, não se resolve problemas emocionais com ginástica. A ginástica que se transforma numa ideia fixa não é boa.

Enquanto escrevo, uma diminuirá a frequência, a outra continuará correndo sabe-se lá quantos quilômetros ao dia e, a terceira, achou que era o ambiente e não a academia e simplesmente mudou de academia, não consegue ficar sem.

São conversas femininas a serem compartilhadas.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Original / Conto Cotidiano

Original

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Um homem e uma mulher, ambos moradores de rua, começam uma discussão.

Quem está no centro da cidade, cumpre algum objetivo e, os estudantes aguardavam as aulas, as senhoras faziam lanche, os transeuntes desviavam o casal.

Os estudantes, curiosos, ficaram por perto, porque o homem queria estapear a mulher.

Ambos com poucas roupas e desarmados, não metiam medo em ninguém.

De dentro da lanchonete era impossível não ouvir a discussão. A discussão não conteve nenhuma ofensa pessoal e era extravagante.

O primeiro tapa surgiu e os estudantes reclamaram com o homem. A mulher se escondeu atrás do canteiro de obras.

Todos os estudantes estavam a favor dela, quando ela saiu do canteiro, deu um tapa no homem, correndo em seguida para trás do canteiro.

Os estudantes reclamaram da atitude dela.

Um dizia de um lado:

_É hoje que te pego!

A outra, respondia dali:

_Diga o porquê é que você está brabo comigo?

Ele respondia perguntando se ela não sabia.

A gritaria continuava e, em volta, todos ficavam quietos, aguardando os acontecimentos. Os estudantes seguravam-se uns aos outros para não interferirem na discussão.

A mulher, escondida, começou a perguntar:

_O que é que você tem homem? Por acaso eu te traí?

Ele respondeu:

_Não! Eu lá sou homem de discutir com mulher que me trai?

O homem estava muito zangado, mas ninguém sabia o que ele queria com a mulher.

A mulher, de novo, perguntou:

_Por acaso eu te roubei?

Ele respondeu:

_Não! Eu não discutiria se você tivesse me roubado!

O povo, cada vez mais quieto, esperando para ver até onde iria aquela discussão.

A mulher, mais uma vez, de trás do canteiro:

_O que foi que eu te fiz? Diga logo e acabe com isso.

O homem não se aguentou e disse:

_Você é “alcagueta”! Você me dedurou para a polícia.

Ele disse nessa linguagem incorreta e partiu para cima da mulher.

A gargalhada foi geral. O que era silêncio se transformou em piada.

Um estudante disse que iria procurar um policial e pedir emprestado gás de pimenta. Se o homem tinha sido “alcaguetado” é porque merecia.

As moças, estudantes, pediam para que o estudante tomasse cuidado com o pedido.

A zoada foi tanta que dali a pouco chegou um policial e acabou com a baderna.

Dali em diante, as pessoas desejaram uma boa semana para os demais. Todos com sorriso no rosto.

Urbanos contos perdidos.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

A Ponte

A Ponte

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Em dúvida e sem ter passado pela ponte de madeira, Josefina foi até a banca de revistas e perguntou se a ponte era firme e se ela poderia passar sobre ela sossegada, pois estava arrumada para a reunião de trabalho após o almoço e calçava sapatos de salto alto.

Os frequentadores da banca ouviram a pergunta.

Conversadores, os dois senhores idosos quiseram saber onde era a ponte.

A jovem adulta, altiva, ouvia sobre a ponte com atenção.

Depois de alguns minutos de conversa sobre a ponte, a localização e a qualidade da madeira, o responsável pela banca de revistas disse que o atalho era seguro, ainda mais durante o dia, quando se pode ver qualquer defeito na construção ou alguma tábua solta.

Josefina agradeceu e rumou à ponte.

Caminhava curiosa, pensando nos seus sapatos, quando ao lado dela observou os dois senhores de idade, ainda conversando:

_Você sabe que eu passo por aqui todos os dias e não sabia que havia uma ponte.

Ao que o outro respondeu:

_Vamos experimentar a ponte, hoje ganhamos o dia. Levaremos para casa a aventura de passar sobre a ponte.

Josefina aumentou o passo e verificou que a jovem adulta passava por ela. A moça, de cabeça erguida e determinada, rumava para a ponte, como se criticasse os demais.

Josefina diminuiu o passo.

Ao diminuir o passo, os senhores de idade ficaram lado a lado com ela, felizes, feitos crianças, pela ponte sobre a qual iriam atravessar.

Josefina diminuiu o passo e fingiu observar uma loja à beira da rua.

Deixou todos os demais, que estavam presentes na banca de revistas, passarem à sua frente.

Depois que os senhores e a jovem adulta atravessaram a ponte, ela foi até a ponte.

Um homem maduro, sentado no muro de uma casa, próxima à ponte, pensou em voz alta e disse:

_É a primeira vez que vejo tantos pedestres passarem por aqui...

Josefina acelerou o passo e atravessou a ponte.

A ponte estava em perfeitas condições de uso e os seus sapatos ficaram prontos para a reunião.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Salvando à Pele

Salvando a Pele

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Jaciara estava doente. O doutor veio da cidade e a examinou, havia pouco a fazer. Deu remédios e foi-se embora.

Juraci, menina criança, ficava com a mãe.

As duas eram tristes dia e noite.

Juraci era triste pela doença da mãe. Jaciara era triste porque sabia que a filha seria enterrada viva, junto com ela.

A tribo tinha pena, mas eram as normas da tribo.

Estavam as duas na oca, quando Jaciara disse que iria planejar tudo de modo que Juraci ficasse viva e não fosse enterrada viva.

Juraci, sabendo que iria junto com a mãe, não se opôs, seria uma distração para enquanto o dia do fim não chegasse.

Jaciara pediu a tinta das flores da tribo e Juraci as pediu ao pajé

_Jaciara precisa de tintura das flores.

O pajé fez as tinturas e as deixou na oca.

Jaciara ordenou que colocasse as tintas sob a rede de dormir e Jacira as colocou pela ordem conforme a mãe ordenava.

_A tintura preta será a primeira e ficará entre a minha rede e a sua. Quando eu não mais falar e apertar a sua mão será o nosso adeus. Pinte-se de preto e fique na mina de carvão abandonada até que me enterrem sozinha. Não chore para que ninguém te encontre. Fique por lá duas luas e, depois, saia.

Embora o assunto fosse mórbido, prometia uma aventura antes de ser encontrada e enterrada viva. Juraci obedeceu às ordens da mãe no mesmo momento em que foram ditas. Afinal, a mãe seria enterrada morta, mas ela, viva.

Depois de algum tempo pensando, veio à segunda ordem:

_Misture poeira de cal às cinzas de carvão. Jogue-as ao vento e pranteie a nossa separação.

Juraci encontrou a sua dificuldade, o pajé não levou cal para a oca.

_Não temos cal.

Jaciara sorriu e explicou:

_Não temos cal porque a mina de cal fica a dois quilômetros daqui. Há frutas no caminho. Alimente-se delas até chegar ao cal. Pegue o carvão e o cal. Moa. Espalhe ao vento e chore. O meu espírito estará perto do seu coração, não tenha medo.

Juraci disse que se fizesse do jeito que a mãe mandava, ela ficaria longe da tribo.

Jaciara ficou séria e disse:

_Não volte para a tribo. Nenhum homem, mulher ou criança gostará de você. Toda a tribo tem alguma mulher enterrada com a sua criança. Eles acham que é certo. Ninguém tentou sair da tribo até hoje e esse é o nosso plano.

Juraci não sabia se conseguiria fazer tudo, mas pediu à mãe um modo de ter coragem para obedecer.

Jaciara mandou que ela pegasse a tinta vermelha e pintasse os braços.

Juraci pintou os braços conforme a mãe mandou.

A mãe então disse:

_Olhe a tinta e pense que é sangue, o seu sangue.

Juraci sentiu a coragem para prosseguir com os planos de Jaciara.

Mas, para onde iria Juraci, sem tribo, sem nada? A filha perguntou à mãe.

Jaciara, com determinação, respondeu:

_Pote de fel, pote de mel. Existe uma tribo que acolhe crianças perdidas há cinco quilômetros de distância. Há um rio no caminho, siga o rio em direção à nascente. Pegue uma folha de árvore grande e navegue sobre ela.

Juraci pensou e perguntou à mãe:

_A nossa tribo não vai atrás de mim? Se eles pensam que o certo é que eu seja enterrada com você, eles irão atrás de mim para me enterrarem, embora a essa altura do plano eu já não tenha tanta certeza de que eles me encontrarão viva.

Jaciara respondeu, amenizando a seriedade:

_Eles te encontrarão na outra tribo, mas a outra tribo não entrega crianças para nenhuma outra tribo.

Juraci, sabendo que a mãe estava doente, não discordou. Ao contrário, perguntou como deveria se comportar quando chegasse à tribo e fosse encontrada.

Jaciara percebeu a inocência da filha, conhecedora da dor da saudade antecipada. Pediu a Juraci que pegasse as tintas azul e amarela. Perguntou à filha do que diziam aquelas cores.

_O céu, o sol e a água limpa dos rios e das cascatas.

Jaciara, então disse:

_A se ver encontrada, lembre-se da tinta preta, das cinzas e da cal, também da tinta vermelha. Olhe para o céu e perceba que eu te guiei até ali. Sinta o sol brilhando no dia que nasce e respire fundo, você conseguiu chegar até lá. Sua mãe está contente com você.

O tempo passava e em meio à tristeza, a conversa prosseguia cada vez com mais pressa. Jaciara receava não conseguir terminar o seu plano para Juraci conforme queria.

O plano da vida de Juraci estava pronto, mas ainda havia palavras especiais a serem ditas e Juraci disse:

_A tribo será boa, mas ninguém será a sua mãe. Cuide-se. Seja generosa, mas não acredite em tudo. Eu cometi enganos, acreditei mais do que devia, mas sempre pensando no seu bem. Você precisa saber disso para quando for mãe. Eu te fiz feliz quando todos queriam te castigar porque você brincou com fogo e se queimou e não me arrependo disso, pois ninguém sabe o futuro. Onde se viu castigar criança queimada? Tem gente que castiga criança machucada, pense nisso quando for mãe. Mãe cuida, mas criança cega a mãe. É bom partir sabendo que a filha foi feliz, sabendo que dependeu de mim essa felicidade.

Juraci sofria com essa despedida, mas estava feliz com a conversa.

Chega a hora. Jaciara aperta a mão da filha fortemente.

Juraci pega a tinta preta e vai para a mina de carvão abandonada sem medo de bicho nenhum, pois a tinta preta cheirava mal e bicho nenhum chegaria perto dela.

Esperou passarem as duas luas e foi atrás da pedra cal, misturou-a as cinzas do carvão e jogou-as ao vento. Cansada, sentou-se e chorou até se cansar.

Correu até o rio e o seguiu em direção à nascente. Achou a árvore grande e navegou à margem para colher os frutos que encontrava no caminho por vários dias.

Um dia, ela foi encontrada por uma índia que se banhava no rio. A índia segurou as suas mãos e ela consentiu porque sabia que a tribo era aquela pela qual buscava.

Juraci olhou para a índia que a segurava e olhou para o céu e para o sol e sorriu.

A índia retribuiu o sorriso.

Juraci ainda obedecia às palavras da mãe, sendo generosa para com as crianças da tribo.

Passaram-se algumas luas e chegou o índio da sua tribo atrás dela.

O cacique disse que aquela índia não era a índia que ele caçava.

Mais duzentas luas se passaram e o pajé veio conversar com Juraci sobre as danças que ela precisaria aprender para as festas. Aproveita a conversa e pergunta:

_Você é a índia pela qual o índio caçador procurava?

Ela disse que era.

O pajé a corrigiu dizendo a ela que não mais dissesse aquilo, agora ela era daquela tribo.

Durante as festas, houve uma dança para a Lua.

Ao nascer da Lua começou a dança com Juraci. Jaciara parecia sorrir.

domingo, 24 de novembro de 2013

Predestinação

Predestinação

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Dois negociantes se encontram na cafeteria Café de Casa e a conversa fica muito agradável. Conversa vem, conversa vem eles trocam números de telefones e continuam a conversar por muito tempo.

Otaviano e Ronildo marcam encontros e apresentam as respectivas famílias, sentem como se ambos se conhecessem há muito tempo.

Um dia, enquanto conversa, Otaviano se lembra do comércio que não deu certo.

Orlandim fica atento à história, pois, coincidentemente com ele aconteceu algo muito semelhante há alguns anos atrás.

Otaviano conta que alugou uma loja sob um edifício. O preço do aluguel era razoável e o ponto promissor.

O dono do ponto comercial, ao alugar a loja, propôs o contrato por dois anos, convencendo Otaviano que a proposta era boa, pois, se o negócio não desse lucro, a multa contratual seria mínima.

Passaram-se os dois anos e o comércio caminhava bem.

Chegou a hora de renovar o contrato e o proprietário pediu o ponto, dizendo que iria vender a loja. Como praxe, ofereceu ao inquilino a compra do imóvel, mas Otaviano não tinha recursos para comprar a loja e fazer os investimentos necessários ao seu negócio.

Foram seis meses gastos na procura de outro ponto comercial, reforma das instalações e mudança de endereço, com perda de clientes, prejuízos cobertos com parte do capital que seria de investimento no incremento dos seus negócios.

Orlandim, ao ouvir a história, ficou impressionado, porque com ele se dera tudo exatamente igual como ocorrera com o amigo.

Otaviano, para desfazer as coincidências, contou o endereço onde o seu negócio estava instalado naquela época.

Orlandim ficou em pé, como que assombrado. Havia sido ele o inquilino posterior, onde o caso se sucedeu.

_Saiba amigo, que quando eu aluguei o espaço, eu ouvi falar de você, mas sem que me contassem o seu nome e o nome da sua loja de comércio. Agora percebo que foi para que eu não conversasse com você antes de alugar o ponto comercial. A minha situação não foi melhor que a sua.

Otaviano e Orlandim se ofereceram um ao outro para ajudarem-se mutuamente, no futuro, caso precisassem mudar o endereço dos seus comércios.

Otaviano, por curiosidade, quis saber se ele frequentava ainda o Café de Casa e o amigo respondeu que quando, por acaso, passava por ali, parava para tomar um café.

Orlandim lembrou-se da chuva e da rua, onde deixara o seu veículo, estar alagada em frente ao estacionamento em consequência de um reparo da energia elétrica; um pedaço de poste entupia o bueiro. Entrou no café porque consertavam o poste, cujo fio estava caído em frente ao estacionamento.

Otaviano lembrou-se então que, naquele dia, chovia. Não que ele acreditasse, mas parecia predestinação aquele encontro.

sábado, 23 de novembro de 2013

Dia de Agradecer

Dia de Agradecer

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Há quem acolha sem julgar

O seu sofrer; por bem querer,

E vem e beija a perguntar

O que se pode a ti fazer.

 

Há quem te ame sem questionar,

Graça que faz acontecer

Toda essa paz sobre o seu lar

E regenera esse seu ser.

 

Deixa a ferida e põe o curar,

Meses à fio ao seu enternecer

Um coração de Gibraltar,

Apedrejado nesse doer.

 

Faz desse seu hoje o transformar,

É a unha sangrada a refazer,

Rosto molhado a se secar,

Muito a se crer ao agradecer.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Sucesso e Autorrealização / Reflexão

Sucesso e Autorrealização / Reflexão

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Embora o sucesso pareça estar ligado à autorrealização, os efeitos produzidos no dia seguinte ao feito ligado a um e outro são completamente diferentes.

Os processos envolvidos são semelhantes, tais como o estudo e a dedicação ao que se pretende fazer aliados à disciplina, etc.

Quantos shows musicais não terminaram com a guitarra sendo quebrada no palco? O sucesso foi atingido, mas é efêmero. Ao dia seguinte serão necessárias horas de estudo para o próximo show, mesmo com a ressaca do dia anterior ribombando como um sino dentro da cabeça. O artista nunca é o que costumamos chamar de homem realizado, a autorrealização dele se dá por momentos e horas, para dali a pouco voltar ao zero com a necessidade da criação latente. Todo artista vive a vida numa obra inacabada, sem questionar esse sentimento, absolutamente necessário ao seu modus vivendi.

A autorrealização tem o seu ponto forte ao ver o prato feito, numa linguagem bem coloquial. É concreta essa realização, como um prato de louça, que, quando bem cuidado, se tem para a vida inteira. Depois de servida a refeição, lava-se a louça e se pode tirar uma sesta porque o prato está lá para quando se precisar dele.

São sensações diferentes, porque a consequência do sucesso é a tristeza de se ter que dedicar a ele por quantas vezes forem necessárias e a autorrealização está na criação da obra de arte.

Já, a autorrealização, pode anteceder ao sucesso inesperado, que é o que acontece quando vemos leilões de louças pintadas à mão compradas por fortunas. O sucesso não se deu na autorrealização, foi uma coincidência e outro prato de louça virá a substituir o anterior, sem tristezas para o seu proprietário.

Portanto, a busca da autorrealização concreta através do sucesso é a busca perdida da autorrealização concreta e a busca do sucesso através da autorrealização concreta é uma coincidência.

Para concluir, deixo o ditado popular: Quem criou o domingo, enquanto um dia de descanso, foi Deus; porque o diabo não dá folga.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Sem Conversa Fiada / Crônica do Cotidiano

Sem Conversa Fiada / Crônica do Cotidiano

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Parei no Shopping para fazer lanche. Muita gente frequenta os Shoppings Centers nessa época.

Na mesa ao lado, dois vendedores, também consumidores. Eles conversavam sobre estratégia de vendas.

A vida deles é diferente de tudo aquilo que estamos acostumados a ouvir quando o assunto é emprego.

Compartilho as curiosidades sobre o modo de vida deles.

Vendedores ganham o salário fixo mais uma porcentagem sobre a comissão nas vendas. Os meses de janeiro e fevereiro são os mais difíceis porque os compradores são escassos nas cidades. Eles têm novembro e dezembro para fazerem a comissão de janeiro e fevereiro.

Eles conversavam sobre não oferecer aos clientes os produtos mais caros, mas os produtos de médio preço para sentirem o quanto o consumidor está disposto a pagar pelas compras. A partir da reação do consumidor, eles ofereceriam produtos mais sofisticados ou mais baratos, contando que todo consumidor quer o melhor produto pelo menor preço, eles querem o maior número de consumidores possível no espaço físico nas lojas.

O que observei de interessante é que eles fariam comentários dentro da loja para impedir que nos anúncios estivessem os produtos mais caros. Eles chamaram de anúncios “espanta freguês”. Aos vendedores do mercado voltado para a chamada classe média não interessa vender poucos produtos sofisticados.

Clientes especiais se dirigem às lojas especiais e diferenciadas voluntariamente, não precisam de anúncios com ofertas. As indicações de amigos frequentadores do mesmo ambiente é a melhor propaganda para esse público.

Jamais pensei que os vendedores são os melhores amigos dos consumidores, levando o preço para baixo e deixando as parcelas acessíveis para os consumidores.

O comerciante tem que ser bom negociador, ele ouve as sugestões e os comentários dos subordinados ávidos pelas comissões.

Os comerciários sabem que o cliente gosta do desconto no final da compra, quando possível. Eles ficam atentos aos preços e aos descontos oferecidos pela gerência.

A conversa não os cansa, eles possuem desenvoltura no diálogo com o seu cliente. O cliente é que tem que saber a hora de sair da loja e a quantidade de produtos que deseja comprar.

No caso específico da conversa, aprendi muito.

O dono da loja colocou um produto no anúncio com a prestação de R$900,00. Os amigos combinaram boicotar esse produto. Segundo eles, quando o freguês compra algo que cabe no orçamento, ele volta; mas, quando ele sente dificuldades no pagamento das parcelas, ele não volta à loja.

Os vendedores podem fazer com que o cliente se deixe levar pela emoção, mas esses que eu tive o prazer de ouvir eram absolutamente contra essa opção. Querem ter preço, qualidade e um consumidor que possa confiar nas suas indicações.

Eles conseguiram em poucos minutos de conversa substituir um professor de vendas. Eles eram a prática bem sucedida.

Eles terminaram o lanche antes de mim. Saíram às pressas e dali em diante seria o bom tempo da oferta, da procura, da competição leal e das pressões sobre o dono da loja.

Sorte do consumidor que os encontrar.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Presépio / Indriso

Presépio

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Não se faz definições,

Desse mundo racional

E obsoleto, sem canções.

 

Nem se apega às conclusões

Da vontade natural;

Carrossel das ilusões.

 

Sutileza de emoções,

 

Ao presépio de Natal.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Era Para Você

Era Para Você / Conto

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Dominique todos os dias desenhava alguma figura. Todos sabiam em sua casa que ela desenhava, mas ninguém perguntava o que era porque adivinhavam que, no final, quando o quadro ficasse pronto, como era dos seus hábitos, ela mostraria a todos da família.

Dentro de casa, a moça era considerada como a artista da casa. Uma pitada de orgulho de tê-la do jeito que ela era, uma pitada de amor salpicada de curiosidade eram os sentimentos nutridos e, assim revelados.

Quando Dominique desenhava assim, aos poucos, eles sabiam que o quadro seria agradável. Se for desenhado com capricho para depois aparecer pintado, é tarefa difícil, cochichavam entre si, ao carinho, sobre as surpresas de Dominique.

Eis que, alguém de fora da casa quis saber antes o motivo do desenho.

O curioso Sálvio pediu que cada um dos seus conhecidos descobrisse o que havia naqueles desenhos.

Os conhecidos do curioso, não tiveram dificuldades em descobrir. Dominique não escondia o que fazia a ninguém, o desenho e a pintura faziam parte das suas habilidades manuais. Os desenhos ficavam sobre o cavalete da varanda do seu quarto.

A cada pergunta, o desenho era mostrado, ali da varanda, aos passantes da rua, de acordo com as etapas do desenvolvimento da pintura.

Dominique não adivinhava que os seus quadros eram motivo de curiosidade. Não ao ponto de serem vistos passo a passo para serem sabidos por Sálvio.

Nesse percurso de compras na loja de telas e tintas, ela encontrou-se com Sálvio.

Conversam amenidades, quando, de repente, Sálvio dirige-se a ela num tom diferente e diz:

_Eu sei que você está pintando um quadro novo. Mostre aos seus amigos quando ele ficar pronto. Eu quero ver esse quadro!

Dominique diz que o mostrará como era do seu costume fazer.

Sálvio sorri como que estivesse contando que sabia do quadro e segue o seu caminho.

Dominique foi para casa, pegou o quadro, que estava ainda por terminar e o mostrou para a família.

A família ficou surpresa com a sua atitude e perguntou por que, dessa vez, ela mostrava o quadro antes da sua finalização.

_Era o presente do aniversário dele. Era a minha surpresa para ele. Todos nós desejamos felicidades para ele, mas agora o presente perdeu a graça.

A mãe de Dominique foi rápida na resposta:

_Compraremos outro presente para ele. O quadro, agora, é seu. Termine o quadro para pendurarmos na sala de estar, junto ao sofá.

O quadro se compunha de uma bela paisagem com bosque, adultos e crianças ao lazer. Combinou com a sala.

domingo, 17 de novembro de 2013

Quando o Elogio Cai Bem

Quando o Elogio Cai Bem

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Os elogios não são bem recebidos pela grande maioria das pessoas. Elas ficam desconfiadas e já presenciei gente perguntando o porquê da boa vontade.

Não é natural que esperemos dos nossos semelhantes às reclamações e as críticas, mas o comportamento sincero não exige tanto de nenhum de nós. Afinal, aborrecer aos outros não traz bem estar a ninguém e evitando comportamentos desnecessários, a convivência se torna melhor. Às vezes é absolutamente necessário que as reclamações sejam feitas, mas esse não é o ponto da reflexão.

Elogios são recebidos como eufemismos e ironias quando nem sempre o são.

Estamos na época adequada para reflexões, pois a época do final de ano se aproxima, aproximando todas as pessoas; são aglomerações em todos os locais.

Hoje, entrei numa loja e, a vendedora, gentilmente cedeu cadeiras para que aguardássemos os atendimentos sentados.

Nós nos organizamos e sentamos nas cadeiras e, naturalmente nos dividimos por idade e sexo, ficando a fila composta de uma senhora nos seus setenta e poucos anos, eu, na idade madura, a jovem e o cavalheiro, também maduro.

Descreverei um pouco mais: a senhora mais velha estava com o cabelo no tom louro acinzentado, quase branco; eu, bem, a foto do blog diz tudo; a moça de tez ligeiramente morena e o senhor maduro; louro de olhos azuis.

As vendedoras suavam para atender todo o público e nós conversávamos amenidades.

De repente, uma delas ficou aflita com as cadeiras ocupadas na sala de espera, sabendo ela que demoraria uma hora para chegar a nossa vez.

Nervosa com a fila, a vendedora chegou até nós, para nos convencer a ficarmos na fila. Sem saber como se explicar pela demora, me olhou e disse de boa vontade:

_Vocês formam uma linda família. A senhora está de parabéns pela educação e gentileza com que mantém a família unida.

Todos nós rimos.

A senhora de idade logo disse que não formávamos uma família, embora a conversa estivesse agradável e as companhias excelentes.

A moça despediu-se da avó e disse que tinha um compromisso urgente e inadiável.

O homem maduro olhou para mim e disse que não seria uma má ideia.

Eu disse com um sorriso envergonhado que não era essa a ideia ao entrar na loja.

Moral da história: passei a minha vez para a senhora, uma obrigação minha para com ela. Ela foi terna e disse que eu era muito querida, agradecendo o gesto.

A moça me chamou, mas o produto estava no estoque e eu teria que esperar até que o encarregado fosse pegar o produto.

Passei a vez para o homem maduro.

Ele foi ao atendimento sorrindo com aquele ar maroto.

Eu até sorriria, não fosse adentrar no recinto um casal francês com dificuldades para se expressar.

O marido talvez desejasse perguntar se eu estava na vez porque ele, mui gentilmente, não gostaria de ser atendido antes de uma senhora que estivesse na fila.

A vendedora, ao ver a situação correu para atendê-lo, mas ele não quis o atendimento sem a minha resposta.

Eu fiquei desesperada, não sei nada sobre o idioma dele.

Fiz a única coisa que poderia fazer:

Olhei para o casal igualmente e disse em inglês:

_Sorry, I don’t speak French. Please, take your chance.

Ainda bem que ele entendeu. Ficaríamos mais uma hora na fila se ele esperasse pela minha resposta em francês.

Que sufoco! Que delícia.

sábado, 16 de novembro de 2013

Abraça e Chora / Conto Cotidiano

Abraça e Chora / Conto Cotidiano

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Duas colegas de trabalho conversavam durante a pausa para o almoço e uma delas dizia para a outra que ela era a sua amiga no emprego.

A Júlia olhava para a Augusta com admiração e perguntou:

_Por que é que você acha que eu sou a sua única amiga na empresa?

A Augusta então contou que tinha reunido todas as colegas da loja de artigos femininos para uma recepção na casa dela. Júlia também foi à festa.

_E o que aconteceu depois da festa, para você me dizer isso?

_Falaram mal do Jimmy Hendrix, disseram que eu ouço os discos da minha avó. É que a música agora está no computador e eu quis um disco para o som ambiente. Não se pode confiar na discrição das amigas.

Júlia abraçou a amiga e disse:

_Você confiou nas amigas? Jimmy Hendrix era o cantor ideal para a reunião das colegas da loja? Coitada!

Aquela palavra “coitada” veio indigesta e Augusta perguntou à amiga o porquê daquela palavra triste.

_Você confiou demais. Não faça mais isso.

Augusta perguntou se ela não deveria receber as colegas em casa, ao que Júlia respondeu:

_Receba, mas guarde os CDs da sua avó para ouvir sozinha. Para ser amiga, digo que elas dizem que você é desatualizada. Há piadas na loja de que da próxima vez você colocará Chuck Berry para elas ouvirem.

Augusta entendeu aonde tinha errado.

O tempo foi passando e cada uma das colegas realizava a reunião mensal, cada mês numa casa.

Chegou à vez de a Augusta receber as colegas novamente.

Júlia queria que a festa fosse boa. Tinha viajado e passeado na Rua 25 de Março em São Paulo e comprado lingerie no atacado. Ofereceria algumas peças de presente às amigas durante a tarde.

Augusta concordou e deixou o sofá menor da sala de estar para que a amiga expusesse as suas compras durante a tarde de confraternização. Pensou que a tarde seria ótima sem Jimmy Hendrix e Chuck Berry.

Quando a lingerie estava distribuída ao sofá e a conversa animada, bate a campainha.

Célia chega, acompanhada do marido. Ele chegava de uma viagem e ela tinha ido buscá-lo na rodoviária. Para não perder a confraternização, esperando Jimmy Hendrix e Chuck Berry, levou-o consigo a festa.

Quando Augusta abre a porta, os dois veem as colegas e entram rapidamente para apresentar o marido e cumprimentar as demais colegas.

No menor sofá da sala, a exposição.

A risada foi geral. Júlia apressou-se em colocar as peças íntimas na sacola, deixando os mimos para os intervalos da semana.

As recepções de Augusta são inesquecíveis, todas concordam.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Do Outro Lado do Mundo

Do Outro Lado do Mundo

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Hoje, recebo como presente a amplitude do olhar. Não o olhar físico e ótico, o olhar da compreensão do outro.

. Ousei e perguntei sobre como são entendidos os cristãos na China. Digo que a oportunidade foi uma benção.

_Os cristãos são uma minoria no meu país, dentro de uma população de 1.351 bilhões de habitantes, na sua grande maioria, budistas. Para nós não há diferenças entre as denominações cristãs tais como vocês têm. São cristãos, pronto.

Eu fiquei admirando a explanação e mudei a conversa para não me tornar inconveniente, mas a divagação vinda da saudade veio e foi interessante de se ouvir:

_De lá, aqui é tão longe. As ideias sobre o seu país são histórias contadas como se fosse de ficção, histórias para criança dormir.

Aquele olhar distante, de repente, me fez sentir a China, distante de nós. Aquela realidade desconhecida que era a do outro passou a ser a minha.

Surgiu uma empatia instantânea, uma tranquilidade de diálogos, divagando sobre esse nosso mundo, nosso planeta.

De repente, acordei em meio a quatro perspectivas de mundo diferentes, porque alguém ligou a televisão e, o locutor dizia que a imaginação não é um parque temático da Disney. Lá, as pessoas se divertem com o que foi imaginado, o que é excelente para os dias de hoje.

Espera aí, dois dialogando e quatro perspectivas diferentes, aposto que ninguém entendeu.

São energias positivas trocadas entre música, teatro, cinema e televisão.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Ondas

Indriso

Ondas

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Engana-se quem diz

Que sabe todo o mar,

Aprende-se a embarcar.

 

Navega-se aprendiz

Em ondas a se espraiar,

Aos ventos desse ondear.

 

Ao barco, o que condiz;

 

Num mar de apaixonar.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Conversa de Gatos / Conto Cotidiano

Conversa de Gatos / Conto Cotidiano

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Dois vizinhos se encontram pela manhã na mesma hora, a hora de chegar ao emprego é a mesma.

Sobre o carro de Jorge dorme um gato.

Leandro diz que o carro de Jorge ficará com pelos e riscos.

Jorge bate palmas e manda o gato embora.

No dia seguinte, os dois se encontram e o gato está dormindo, de novo, em cima do automóvel de Jorge.

Leandro diz ao Jorge que de nada adiantou a medida tomada na manhã anterior.

Jorge estava bastante ocupado, mas lembrou-se de comprar um cobertor simples sobre o carro antes que a noite chegasse.

No dia seguinte, o gato não dormia e se aninhava folgadamente sobre o cobertor.

Leandro riu-se e perguntou o que Jorge faria depois daquilo.

_Eu vou deixar o cobertor e o gato que durma em cima do automóvel. Não tenho tempo para me preocupar com gatos. O bichano não é meu e há de ter dono para cuidar. Vou aguardar que o dono apareça para levá-lo para casa.

Passaram-se então dois meses. Agora, os vizinhos se encontravam para conversar sobre o gato todos os dias.

Eis, que senão é quando, e apareceram dois gatos sobre o carro.

Leandro disse no momento em que os avistou:

_Não são pássaros, mas fizeram ninhos. No seu automóvel.

Ao ouvir o vizinho, agora amigo de boas conversas, Jorge retrucou:

_Não fizeram ninhos e não são pássaros. São da mesma família, observe a parecença entre eles.

Leandro ficou sem saber o que dizer.

Jorge foi quem se divertiu na conversa:

_Perceba meu amigo e vizinho Jorge, que eu sou homem hospitaleiro. Permiti a hospedagem de um gato sobre o automóvel. A família do meu hóspede é tão amiga quanto ele.

Leandro ficou atônito com a resposta do outro e se despediu para ir trabalhar.

Jorge pediu desculpas aos hóspedes e retirou o cobertor, fazendo com que os gatos fossem para a casa deles. Pelo menos durante o dia.

Jorge e Leandro hoje são mais que amigos, são da família.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Agora, Miúcha

Boa noite a todos vocês!

Heloísa / Autógrafo Inesquecível

Heloísa

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Existem amigas que são a Heloísa,

Que contam p’ra gente, o que desse tempo,

Restou. Nessas folhas de fresca brisa,

De afeto sincero, que hoje contemplo.

 

São sonhos relidos ao prumo e à brisa

Ao ideal do possível, nesse meio-tempo,

Refeito de livros. Se não há divisa,

Há o início e a criação do gene do exemplo.

 

No livro da vida, surge a poetiza,

Atenta ao prospecto; sobre a areia, o templo,

Que o vento não fecha, antes profetiza.

 

E, ouvindo o que guia, compõe-se Heloísa;

Canção brasileira ao seu contratempo

De samba-canção; o que assim te precisa.

domingo, 10 de novembro de 2013

Cordel de Rio

Cordel de Rio

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Quem brinca com cobra d’água,

Não sabe do seu dorido:

Não pica e não faz perigo;

Cobre em verde nessa mágoa.

 

Cabra-cega, cobra d’água,

Nesse giro divertido

Chama o rio como a um amigo;

Pesca gente embaraçada.

 

Verde claro, vede essa água,

Tira os braços do arredio

Barco; o remo é que é o seu abrigo,

Nesse rio de cobra-d’água.

 

Cabra-cega não naufraga,

Brinca o dia sem ter navio;

Sabe o dia de pão de trigo

Desse rancho sem anágua.

 

Rio não brinca à cobra d’água,

Conta à lenda o seu sombrio;

Salvo é o porto e o chão batido,

Sóbrio ponto entre o cais e a água.

sábado, 9 de novembro de 2013

Café Espresso Della Mamma / Crônica do Cotidiano

Café Espresso Della Mamma / Crônica do Cotidiano

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Espresso com dois esses porque está escrito em italiano, a moça do café me explicou quando eu perguntei se não seria um xis ao invés de dois esses.

Entre o xis e os dois esses conversados no balcão, chegou ao atendimento a senhora de quase setentas anos de idade, dizendo:

_O seu café não é barato, embora seja de qualidade. Estou com o meu filho à mesa e ele gosta do café espresso com uma pitada de leite para quebrar o amargo característico desse tipo de café.

Estava no balcão, num banco digno de um designer de móveis e olhei para ver o filho da senhora. Afinal, qual seria o problema dele para que precisasse que a senhora fosse ao balcão providenciar o café para ele.

Fiquei pasma. Um homem bem vestido, com calça social e camisa social esporte, de boa aparência e encabulado. Nem pálido e nem corado, encabulado. Quarenta anos.

A mãe verificava o café enquanto a moça o preparava, mas ainda disse:

Quero-o numa bandeja adequada e eu mesma o levarei para a mesa. Por certo que não existem proibições das mães levarem o café para o filho nesta confeitaria.

A atendente disse que não.

Enquanto a mãe falava, olhei para a mesa mais uma vez.

O homem balbuciava baixinho, mas deu para ler o que os seus lábios diziam:

_Mamãe não tem jeito.

Ao perceber que eu olhava para a mesa, a senhora olhou firme nos meus olhos.

Eu tomei o último gole de café e desejei uma linda tarde para as moças da confeitaria.

O café sempre vale a pena, mas eu prefiro o clássico. Hoje tomei espresso.

Ele que aproveite a companhia da mãe, seja ela carinhosa como quiser.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Goste de Você!

Goste de Você!

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Goste do que é seu, do seu lápis e da sua borracha. A autoestima passa por aí.

Hoje não comprei livros durante uma passeada na livraria, mas, fiquei a pensar.

Hoje, ao invés de café, tomei guaraná para acompanhar um salgado.

Nesse momento de escolher entre o canudinho ou o copo, pensei no quanto é importante gostar daquilo que se tem. Nada mostra mais o seu jeito do que as suas miudezas tais como o seu porta-níqueis.

Um porta-níqueis custa cinco reais, ao menos o meu custou esse preço.

Ao pagar o guaraná e o salgado com moedas, observei essa minha falta de estilo que me faz tão bem.

Eu gostei desse porta-níqueis numa loja de variedades; gostei da cor e dos desenhos, além do plástico reforçado numa trama de tecido.

Acho que faz parte da autoestima gostar daquilo que é da gente, cuidar daquilo que é da gente.

Voltando ao assunto livraria, lápis e borracha são dois objetos que fazem parte do meu dia a dia. Também fazem parte do dia a dia de alguns amigos meus. Aconteceu outro dia da conversa durar pelo menos dez minutos em torno dos lápis e das borrachas.

Somos todos adultos e gostamos de lápis e borrachas; problema nosso. Cada um de nós guarda no estojo os seus lápis e borrachas com carinho. O máximo que fazemos é emprestarmos os lápis para testarmos a maciez durante a escrita.

Para nós, existem lápis que causam um arrepio desagradável quando em uso.

São os detalhes que nos unem; somos detalhistas. Afinidades constroem amizades.

Hoje, especialmente hoje, comprei caneta.

Inadvertidamente, pois depois encontrei uma caneta com pouca tinta no fundo da bolsa.

Obviamente usei a caneta de pouca tinta. As canetas que comprei aguardarão a sua vez para serem utilizadas. Esse fato é mais que economia, é cuidar do que é meu. A caneta com pouca tinta escreve macia e, provavelmente, as novas também; são da mesma marca. Mas a caneta antiga ainda tem histórias para contar a meu respeito.

Não sugiro a ninguém para que seja detalhista, mas que goste daquilo que é seu.

Gostar daquilo que se tem traz uma enorme sensação de bem estar.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Pacificação

Pacificação
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Pacifica o seu amor
Em canções. Sejam elas
Respeitosas; calor
Que afaga em piscadelas.

Se, gostar não é favor,
É o sentir sem querelas,
Ou, questões; recreador,
Vem ao enredo das telas,

E, ao surgir, é incolor,
E, sem som, ou, vielas...
Depois, é arranjador,
E conforta as janelas.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Pegadinha

Pegadinha

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Vinha distraída

Quando o celular

Grita um funk da vida.

Pus-me a pesquisar...

 

De onde era a batida,

E a árvore a apitar...

Dela, som e saída;

E ela a reclamar.

 

Corro à despedida,

Nego-me a ficar.

Nessa rua e na lida,

Desse seu tocar.

 

Música bandida

Sabe o seu assustar.

Vivo prevenida:

Mozart, Brahms e Bach.

 

Obs. Cabe ao final do poema contar de um celular tocando funk de dentro de uma árvore. É o caso de sair do lugar o mais depressa possível e, respeitando a faixa para o pedestre.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

A Primeira Árvore de Natal

A Primeira Árvore de Natal / Crônica do Cotidiano

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Eis que eu estava distraída, mas não ao ponto de não ver a árvore de Natal.

Bonita, bem decorada e com cartões coloridos sob ela.

Não pude evitar admirar e sorrir. Que ideia feliz da comerciante.

De repente uma ternura indizível invadiu os nossos corações, eram sorrisos iguais e humildes perante todo o simbolismo ali representado.

Todos que frequentam o seu estabelecimento têm muito a fazer e o dia é curto e fazemos as atividades conforme a agenda determina.

A sugestão para pensarmos no amor por alguns instantes, bem nos fez.

Conversamos assuntos banais, mas ela me disse que os cartões serão verdadeiros até o final do ano. Ainda não estamos na época do envio dos cartões.

Nada mais certa do que aquela emoção que trouxe a paz, desejou a paz a todos os homens e mulheres que ali estavam.

Depois de certa idade, a festa natalina nasce do coração e da confraternização com as pessoas que querem ter boa vontade com o próximo.

Não somos mais crianças que desejam brinquedos e alegrias palpáveis, somos adultos e queremos as alegrias que se sentem, embora não sejam palpáveis.

No supermercado as cestas estão expostas, mas, a realidade é que são ainda vitrines para o mês que vem.

A emoção, não. Não é vitrine, são a própria comemoração e comunhão nas intenções para com todos os demais.

As lojas de departamentos colocaram à venda as árvores e os enfeites. Interessante como esses enfeites e árvores não passam de objetos decorativos que terão o significado de acordo com a sensibilidade de cada um que os apresentar como sendo sua e seus.

Afinal, o que temos são os momentos de amor pela humanidade.

Essa confraternização na troca de energia sincera, sabedora ela que eu desejo felicidade e paz a ela, e, ela desejou-me paz e felicidade.

Ao desejarmos, com sinceridade, uma à outra, paz e felicidade, nesse momento, então já não somos felizes?

Penso que o caminho é por aí, não somente para mim, mas para todos que assim desejarem.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A Menina Que Virou Caramujo / Conto Infantil

A Menina Que Virou Caramujo

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Maria Clara era uma menina bem educada, tinha amigas e reuniões de bonecas.

As bonecas ganhavam banho e roupa nova para que as meninas as exibissem como as suas filhas e era de praxe as meninas comerem biscoitos e tomarem algum refresco de frutas, preparados por elas mesmas enquanto conversavam brincadeiras.

Um dia, a mãe da Maria Clara recebeu o convite de uma amiga para passar o final de semana numa chácara. O pai da menina não poderia ir, pois tinha os estudos de especialização em engenharia; o final de semana dele seria a apresentação de um projeto que exigiria a sua atenção.

Mãe e filhos foram para a chácara. Maria Clara, dez anos, tinha dois irmãos próximos de idade, um mais velho e outro mais novo, João, doze anos, e Célio, oito anos, por ordem de nascimento.

A dona da chácara tinha um filho e estava grávida do segundo.

O filho dela era da idade dos meninos e se chamava Alisson.

Alisson era educado e convidou João, Maria Clara e Célio para brincarem com ele.

Os três foram conhecer com curiosidade os brinquedos de Alisson.

Alisson tinha bola, mas não tinha com quem brincar; preferia brincar no rio.

Os irmãos perguntaram se o rio era raso e, ao saberem que sim, concordaram.

Maria Clara ficou em dúvida e parou olhando os meninos começarem a caminhar em direção ao rio.

Alisson pediu para que Maria Clara fosse junto com eles:

_Não tenha medo, o rio é manso.

Ela sorriu e foi com os irmãos ao rio.

Chegaram as quatro crianças encharcadas da camiseta ao tênis à casa da chácara.

A mãe do Alisson sorriu e indicou o local para que a mãe de Maria Clara desse a roupa seca para as crianças.

_ Aqui as crianças são livres, o rio é bom, quero criar os dois nesse lugar.

A mãe da Maria Clara resmungou com as crianças e pediu a elas que não incomodassem a amiga. Ela não adivinhava como era ser criança naquele lugar.

No domingo, Alisson, depois do almoço, convidou as crianças para subirem na casa da árvore.

Os meninos aceitaram o convite prontamente, mas Maria Clara perguntou se ela poderia subir até a casa na árvore antes de ir.

Alisson garantiu que não tinha perigo algum, a casa era de boa madeira e a escada, forte.

A mãe do Alisson concordou com ele dizendo que todos poderiam ir até a árvore. Ela tinha sido feita com segurança para as crianças.

A mãe olhou para Maria Clara e disse:

_Você é quem sabe, minha filha. Se quiser ir, vá. Se não gostar, volte. Você pode ficar comigo, se assim desejar.

Maria Clara subiu na árvore e entrou na casa junto com os irmãos e o amigo.

Ela estava se encantando em trocar a casa de bonecas pela casa da árvore, quando os percevejos apareceram. Os insetos eram inofensivos, pelo menos os daquela espécie, mas foi o momento em que ela resolveu voltar e ficar com a mãe e a amiga dela.

Todos ficaram tristes com ela.

O garoto Alisson disse, então:

_Ela estava se comportando tão bem até agora. Já vi que não tem jeito, todas as mulheres são iguais.

Os irmãos dela concordaram com ele.

_Todas as mulheres são iguais e cheias de dengos. É difícil brincar com ela.

Maria Clara correu para dentro da casa e contou a história para as respectivas mães:

_Eles pensam que eu sou caramujo. Brincar com percevejos! Isso tem cabimento?

Não tinha cabimento. Mas que eles ensaiaram um churrasco de percevejos para tentar agradá-la, isso tentaram.

A mãe do Alisson achou uma boneca de pano para a menina brincar, mas ela brincou pouco.

Maria Clara guardou o estômago para quando voltasse à cidade logo mais à noite.

domingo, 3 de novembro de 2013

Sonho Sertanejo

Sonho Sertanejo

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O galinheiro e a rua de saibro,

O jardineiro e a rosa em botão,

O rodamoinho e o bate pilão;

São desse mundo, da arte e do barro.

 

Quem saberá o tijolo e o cascalho,

Assim formado nessa emoção?

Quem pisará descalço esse chão,

Sem seus chinelos velhos o assoalho?

 

Vem do sertão o caboclo do baio,

E montaria por sobre a ilusão,

Qual sentimento, em som de acordeão,

Que entremeia a palha e faz o balaio.

sábado, 2 de novembro de 2013

Carta Literária Escolar

Carta Literária Escolar

De: Dorli
Para: Diretora da Escola
Prezada Diretora Gertudres
Através desta carta, querida diretora, quero informar do photoshop do que fizeram comigo. Não reclamo de bullying, porque acredito que não foi essa a intenção das colegas.
Acontece que há alguns anos atrás, quando eu entrei na escola de secretariado, eu trouxe o meu álbum de fotografias para a escola e o esqueci na saída, numa das cadeiras da cantina.
Alguém que gosta de zoar com as colegas, pegou as fotos e as colou de forma que parecesse apenas uma foto e, eis o porquê que eu digo que não foi bullying, a foto não é com o meu rosto.
O rosto que aparece, no entanto, é de uma amiga que eu não vejo há alguns anos.
Quem fez a foto, certamente conheceu a história desta minha amiga, porque todos a contam como se a história da vida dela fosse a minha.
Na verdade, eu nem me importaria, se eu conseguisse conversar com a minha amiga sem chorar. Ela não sabe que a foto dela é motivo para tantas gozações.
Ela teve uma vida muito sofrida, uma vida que quem sabe, assim como eu sei, chora sem querer. Eu tenho outra foto,a qual mostra que o rosto dela é a do photoshop.
A foto dela, como foi elaborada através do photoshop, também está distorcida, mas o rosto é o dela e isso me incomoda.
A vida dela, hoje, é feliz e ela se realiza profissionalmente e emocionalmente, mas, quando se lembra da foto, as lágrimas correm.
Peço que a senhora não deixe que essa colagem permaneça. Em primeiro lugar porque não é correto usar a foto de uma pessoa para descrever a vida de outra que nem estuda nessa escola. Em segundo lugar, porque não nenhuma coincidência de experiência de vida entre a minha vida e a dela. E, em terceiro lugar, porque a gozação é cansativa para todos, principalmente para aqueles que não conhecem essa minha amiga.
Essa história se presta a pequenas mesquinharias que não me atingem, mas também não podem ou devem atingir a quem sofreu tanto.
A senhora é a diretora e eu espero que a senhora não deixe essa história continuar sendo contada desse jeito, como uma colagem mal feita.
Quem fez o photoshop tem talento, pois uniu três imagens numa.
Das três fotografias, uma é sofrida, a outra exagerada e a terceira inexistente.
Contando com a sua generosidade e com o apoio da orientadora educacional, que me pediu para escrever para a senhora, eu me despeço agradecendo a atenção dispensada a esta carta.
Dorli Laranjeiras.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Estelar

Estelar

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Que céu é esse no seu olhar?

De tanto céu a brilhar,

Convida a essa amizade

De etérea brevidade.

 

A luz segue o sonhar

Co’a estrela em seu pulsar,

Numa efemeridade

Que ruma a uma unidade.

 

Que seja o contemplar

Singelo partilhar

Do ser afinidade;

Sincera a intensidade.