Madrugada
Do que não sei,
Deixado ao vento
Não me cansei.
Sei que cansei
Do pensamento
Que não pensei.
Num catavento
Dormi, sonhei.
É um blog com artes e contos, crônicas, comentários, imagens e, arteiros em geral
Madrugada
Do que não sei,
Deixado ao vento
Não me cansei.
Sei que cansei
Do pensamento
Que não pensei.
Num catavento
Dormi, sonhei.
O Tempo e a Fé
Melhor que o nada
É a caminhada
De se saber
Ensimesmada,
Palavra alada
De se escrever,
E esperançada,
Orar e crer.
.
Há um mês e meio fui picada por uma aranha.
Hoje resolvi tirar uma foto, e dar risada, mesmo que digam que ataquei a aranha com os meus punhos por sobre a mesa da lanchonete ao ar livre.
O vermelhidão foi tomando conta e o inchaço aumentando.
_Se for somente coceira, antialérgico, senão se prepare para ir ao hospital tomar soro anti-aracnídeo.
Graças a Deus o antialérgico resolveu a questão, e era uma aranha não muito peçonhenta.
Um mês e meio depois, a cicatriz ainda está comigo.
E eu achando que poderia ser alergia alimentar.
_Alimento pica?
Não, não pica, mas às vezes pode dar alergia.
Fiz tantas reflexões, tantas, que pensei que jamais faria alguma reflexão novamente.
Até agora não sei se foi o mal estar ou a preguiça, aquela vontade de não fazer nada além de apreciar o momento.
Sei que penso que não se pode ter pressa para refletir, e nem escolher hora e lugar, pois reflexão não é a oração, é um pensamento não dirigido sobre qualquer tema disponível.
Lembro de um certo pânico de que fosse uma aranha venenosa.
_Corre, corre na farmácia! Se precisar de atendimento as moças chamam uma ambulância para a senhora.
Agradeci, mas como estava apenas com coceira, inchaço e preguiça ou mal-estar, e sem febre, agradeci e fuei devagar a divagar.
Não é engraçado e nem aconselhável que se tenha reflexões a partir de picadas de aranhas.
Não, não tinha nada de errado com o veneno da aranha, pois fiz testes de verificação por precaução.
Sei que não voltei na lanchonete onde experimentei kami-kami, e nem foi por aqui que estive.
Depois voltei à rotina, com as minhas reflexões na cicatriz.
Sei que aprendi que quando a gente muda, muda tudo em volta da gente.
A pressa é um desperdício de pensamento, e que a obstinação acaba sem motivo quando o cansaço é impositivo por fator alheio à vontade da gente.
Grata pela leitura sobre um momento pessoal.
Contrassenso
Assovios
Pelas frestas;
Rodopios,
Que sombrios
Calam pressas.
Fugidios
Das avessas,
São arrepios.
Acontece
Acontece
Que se tece
Sem pensar,
Amanhece,
Ponto tece;
Tricotar
Não envelhece
Ao esquentar.
Soneto Desencontrado
A graça desencontrada da vontade,
Ilhada na desdentada liberdade,
Num frio caldo de feijão, o sentido e o espaço
Do bem estar almoçado, e o desinchaço
Obtido noutro sorvete, a caridade
Bem vinda, mas congelada à fatuidade
Necessária, que engraçada seria ao falso,
E aliviadora de fato por compasso
Natural nesse disfarce da humildade
Sensível de toda dor da humanidade
Risível e ocasional de um passo a passo
De um soneto que é a medíocre vaidade
Da dor, que bem ausentada, diz saudade
Na espera d'uma palavra, o céu descalço.
Árvores Floridas
Um lugar
A se ouvir;
Tilintar
De um pomar
A florir,
Seu cantar
Vem folhear,
Colorir.
Trocadilho
Que vagar
Por vagar,
É um motivo
De mediar
Circular,
Não duvido,
Mas sestar
É auditivo.
Sutil
Motivação
É inspiração
Que não se vê,
Não tem razão
E nem emoção,
Mas é um porque
Da elaboração
Do ser você.
Fim de Tarde
Ser racional
Ao seu tempo,
Temperamento
Fundamental
A esse momento
Que é um passatempo,
Antes frugal,
Agora tempo.
A Arte Enquanto Sensação
Imprimir
A impreesão
E sentir
Definir
A emoção
Sem concluir,
Permitir
A impressão.
Estrela-do-Mar
Uma estrela do mar,
Sob um céu a cintilar,
Refletiu sobre a areia
Quão estranho é o seu brilhar,
Que ao dia é o seu iluminar,
Sob um sol que a clareia,
E a faz brilhante ao mar
Depois da maré cheia.
Confortador
Significado,
É um por favor
Rememorado
Em cada dor
Que está ao lado;
Um cobertor,
Por mais que usado,
Confortador,
E agasalhado
Do frio ao torpor,
A emoção é agrado,
N'alma, calor.
Mirante
Deslocado um sistema,
O problema é um outro,
Um próximo sistema
Provavelmente solto,
Posto que voa esta ema
Sobre os rios até o Douro,
Viajante num dilema
Infinito, besouro
Em busca do sistema
Feito um miradouro
Na cidade, alfazema
De múltiplos poemas.
Alma de Fotografia
Filme e fotografia,
Dia sim ou todo dia
Aparece ocasião,
E até diria algum não.
Feita com simpatia
E inspirando alegria,
Diz da divagação,
Senão da tentação
No instante em que irradia
Conforme alegoria
De alguma distração,
Diz-se sim; coração.
Chuva e Frio
Um pão quente
Que se esquente
Neste frio
Tão da gente;
De repente
O arredio,
Mas presente,
Não vazio.
Andar por Aí
Amanhã é o continuar,
E o amanhã é hoje, e o ar
Veio com graça e vontade,
Mas fez por esperar,
Veio à chuva meditar;
Passear pela cidade,
Caminhar, caminhar
Sem café, gratuidade.
Dia de Festa
Acreditar
No que acontece
É como orar,
E não carece
Desse pensar,
E nem se esquece
De continuar
Aquela prece,
Que é festejar
Quem bem merece;
Humilde lar
Que se agradece.
Etéreo
Para dizer
Sem a canção,
Diga-se não
Sem escrever;
As letras são
Composição
A se perder
Pela canção.
Função de Domingo
É a paciência
Da pesquisa
Quem avisa
A consciência,
E, com ciência,
Diz que a brisa
É uma anuência
Bem concisa,
Cuja influência
Faz divisa
À excelência
Da pesquisa.
Tempo Outro do Meu Dia
Por ouvir pensamento,
Sei da filosofia
Divulgada, e não penso.
É do outro o pensamento,
E não sei do seu dia,
Mas me chega o seu invento,
E dele fez-se o tempo;
Tempo outro do meu dia.
Compensação
O segredo de ir ao mercado
É se abster de comprar errado,
Porque é difícil dizer não
Quando se compra, é a tentação
De provar o produto ao lado,
Sabendo-se do ressecado,
Aguardada a utilização
Porque o tempo vai dizer não,
Mas o necessário é um achado
Que também será utilizado,
E dessa forma, a promoção
É útil ao dia, e compensação.
Palavra Falada
É ritmada
Esta estrada
Que apregoa,
Destinada
E acostumada
E abençoa,
Vai contada
À pessoa.
Miniconto Curioso
Sally não gosta muito de televisão, mas no flat perguntaram sobre o funcionamento da televisão.
_Não sei porque não assisto televisão.
Passam-se alguns minutos e batem à porta:
_Aqui está um controle remoto novo. A senhora pode ligar a televisão para saber se funciona?
Sally concordou e ligou a televisão.
_Sim, está funcionando.
Ouviu na hora:
_Quer fazer o favor de se distrair e ligar a televisão. O seu silêncio é preocupante.
Ligou a televisão por alguns minutos, mas sair do canal de futebol era difícil. Desligou a televisão.
Depois, passou pela atendente e disse:
_Muito obrigada pela gentileza de levar um controle remoto novinho para assistir a televisão.
A moça perguntou se ela havia gostado.
_Gostei.
Gostou da gentileza. Gostou e muito.
Inverno
Pantufas, não,
Um café quente
E um queijo quente.
Um coração
De fé contente,
Que ore ao presente
Com devoção,
Até que esquente.
Casacos e Cobertores
O outro e a razão,
Menos tensão
Porque há de ser
Todo afazer
A obrigação;
Colocação
De se saber,
E conhecer
Que é humana a ação
D'uma doação:
Se desfazer
Do seu uso, e ser.