Rio de Janeiro

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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

sexta-feira, 31 de março de 2017

Espairecer


Espairecer


Da semana espaireço
Em meio ao passeio a calçar;
De um cansaço arrefeço
Sem nenhum questionar,

Porque a chuva é começo
E logo vem a esfriar.
Vejo vitrine e preço
E fico a imaginar

O adequado adereço,
Peça de combinar.
Penso n’algum contexto
E volto a caminhar.

quinta-feira, 30 de março de 2017

Não Exatamente / Crônica do Cotidiano


Não Exatamente / Crônica do Cotidiano

     Pela manhã, pensava eu no escritor Orwell e no filme Matrix, como mais uma daquelas Teorias da Conspiração.
     Com escritor e filme, imaginei um mundo de sistemas onde todos estariam inseridos enquanto pessoas em números. As vidas seriam programadas para que dela se fizesse o que a inteligência e a robótica determinassem.
     Com senha para a entrada, a vida normal e cotidiana ficaria à mercê dessa inteligência que, em resumo, determinaria a hora em que cada pessoa acordaria e sairia de casa para evitar o congestionamento.
     Continuando a imaginação: os ônibus e metrôs não mais venderiam cartões, mas senhas pessoais para que cada pessoa tomasse a sua condução no horário determinado pelo sistema. Não haveria mais compras em supermercados, pois o sistema determinaria a alimentação ideal para cada um em relação ao seu biotipo e, a quantidade necessária e saudável para a alimentação seria entregue regularmente na porta de casa. Nunca mais comeríamos as pizzas à quatro queijos enquanto assistíssemos um jogo da seleção brasileira.
     Pensei numa realidade onde a humanidade se transformaria em andróides ambulantes, não sem consciência de ter se transformado em andróide, onde a necessidade de estar apto para o sistema adaptaria o pensamento a querer ser sistema, quem sabe até organizar o sistema.
     Mas se quisesse organizar o sistema, seria substituído pela robótica. Os sistemas teriam donos, assim como os têm os nossos queridos sistemas de lazer na internet.
     Os automóveis que não precisariam mais de motoristas levariam as pessoas para os lugares determinados pelo sistema até mesmo para o lazer e por ruas pouco movimentadas.
     Os donos dos sistemas não seriam visíveis à ninguém, a não ser para eles mesmos. No entanto colocariam pessoas para aparecerem como sendo os donos desses sistemas. Todas essas pessoas de dentro da organização dos sistemas.
     As pessoas normais seguiriam os sistemas e teriam a vida regulada pelo sistema. O planeta inteiro teria entre três a cinco sistemas centrais com sistemas comunicantes entre si.
     Pensei na globalização extremada dos povos.
     Pensei em escrever uma história com essas ideias.
     Mas daí, olhei o twitter e vi que não pagaram a conta de luz do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
     Sem luz, não tem sistema que funcione.
     Senti um alívio enorme. Basta apagar a luz para não haver plano nenhum de sistematização mundial.
     E não fiz história nenhuma.
     Vou lanchar contente agora à noite, pois a humanidade está salva.    


quarta-feira, 29 de março de 2017

Autoestima


Autoestima

Energia dispersa
Espalhada no ar
É algo que conversa
A se poetizar.

Sobre o que se versa,
Que venha a inspirar,
Mesmo em vice-versa.
Que venha a animar

Onde se alicerça;
É o bem ao estampar,
Sendo, a quando versa,
Um se auto-estimar. 

terça-feira, 28 de março de 2017

Fatos da Janela / Crônica do Cotidiano

Fatos da Janela / Crônica do Cotidiano

     Estava eu na rotina musical, quando ouvi um bem-te-vi próximo à janela.
     Parei de estudar e fui até a janela. O bem-te-vi estava em cima de um muro e, assim que o bem-te-vi me avistou, chamou o sabiá e, ambos expuseram o problema deles.
     O bem-te-vi e o sabiá aproximaram-se um do outro para conversar.
     Vieram alguns sabiás e expulsaram o bem-te-vi e bicaram o sabiá seu amigo, o qual tratou de sair do muro.
     O bem-te-vi voltou ao muro e o sabiá também. E a cena se repetiu.
     Não apareceu nenhum outro bem-te-vi para ajudar o bem-te-vi.
     O sabiá juntou-se ao bem-te-vi e enfrentou os sabiás, quando estes voltaram à cena pela terceira vez.
     Os sabiás vieram para bicar o sabiá amigo do bem-te-vi.
     A cena de confrontos durou quase vinte minutos.
     Por fim, ambos desceram ao jardim e foram comer das sementes.
     O meu almoço por pouco não se atrasa em consequência da amizade do bem-te-vi com o sabiá.
     À tarde, durante o período de estudo musical, não ouvi nenhum piu.
     Toda briga é triste.

segunda-feira, 27 de março de 2017

Diferenciação


Diferenciação

A rotina alterada
É feita à notação
Nova na caminhada,
Passeada em distração

Na vida musicada.
Todo dia tem razão;
A razão é ser contada,
Nota a nota à emoção,

Sem pausa apressada;
Se pensada é a abstração
Nunca modificada,
Ela muda a impressão.

domingo, 26 de março de 2017

Composições


Composições

É boa essa vontade
Sem motivações,
A criatividade
Que interpreta ações;

Temporaneidade
Das composições
De felicidade
Sem limitações.

Essa atividade
Tem libertações,
Multiplicidade
De destinações.

sábado, 25 de março de 2017

Sobremesa


Sobremesa

A fome
Sem nome
Não é gula.
Não é agrura

E some;
Pronome
Que sua
Sem rua.

Consome
A fome
A sua
 Doçura.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Entrave


Entrave

Poema travado,
Tem sua linha,
Mas não é versado.

Desconversado,
Não se avizinha;
Descompactado,

Deixa de lado

O que adivinha.

quinta-feira, 23 de março de 2017

Musicalidade


Musicalidade

A rotina obrigatória,
Musicada por lazer,
É função contraditória;

Sem escolha e nem história,
Faz-se bela a esse afazer
Com feitio de somatória.

Sequencial e compulsória,

Não se cansa de entreter.

quarta-feira, 22 de março de 2017

Tristemente

Tristemente / Reflexão do cotidiano

     Basta ligar a televisão para se entristecer. Parece que o mundo perdeu o senso de razão. Detesto pensar em guerra, mas é o que se adivinha.
     Não é possível entender a filosofia de vida dessa gente que aterroriza o mundo como se a vida fosse um filme que demandasse de super-heróis.
     Não se melhora nada com a violência, mas diminui-se o tamanho do mundo com ela.
     A maioria das pessoas faz um esforço tremendo para melhorar a sua vida e, quando se pode ajudar, as ajudas humanitárias estão por toda a parte do planeta.
     Será que apareceu mais alguém para querer dominar o mundo?
     Não conheço filosofia adepta desses conceitos. São pessoas estruturadas financeiramente que agem dessa forma; eles têm carros e meios de informação para atingirem os seus objetivos de destruição. Não ouvi falar de nenhum pedido de ajuda humanitária por parte desses grupos de pessoas que, sejamos, sinceros, nos afligem e afligem o mundo inteiro.
     Provavelmente essas pessoas têm conceitos diversos do mundo tal e qual o conhecemos.
     O que deu para perceber, pelo menos, numa percepção pessoal, é que eles não gostam da liberdade e desprezam o que possuem, pois destroem lugares com os quais muita gente pretende conhecer ou visitar algum dia.
     Quando acontecem esses episódios como o de hoje, o que se pergunta é sobre a raiva e o por que essa demonstração de loucura em público.
     As necessidades humanas são muitas e, se fosse por aqui, as ajudas seriam a melhor propaganda de um país.
     Parece que é uma demonstração de força de um grupo qualquer, grupo esse extremamente frustrado com as próprias condições.
     Bom, que a humanidade está em perigo, é óbvio. Mas de vez em quando parece que é uma força invisível que faz esses atos de violência.
     Às vezes penso que, se descobrirmos o que lhes falta, muito saberemos para modificar essa agressividade gratuita que assusta a humanidade.
     Cada vez que acontece uma violência dessas, como a que hoje aconteceu em Londres, a diplomacia internacional sente-se fracassada.
     Some-se na ponta do lápis um negócio desses: um automóvel, o combustível, um plano meticulosamente engendrado, sim um plano bem arquitetado, pois as câmeras de segurança permeiam o mundo desenvolvido, o mundo em desenvolvimento e também está no mundo subdesenvolvido, pois hoje em dia o custo da segurança eletrônica é acessível.
     O que impressiona são esses ataques solitários de gente que perdeu a noção da convivência humana.
     Tem dias que a gente não sabe o que dizer, então escreve para compartilhar uma ideia.
     Esse é o caso dessa reflexão.

terça-feira, 21 de março de 2017

Deus é Verdade


Deus é Verdade

O que não é e não pode ser
É uma impossibilidade,
Mas quem nos fará entender,
Se Deus é uma realidade.

Pertence a Ele até esse crer,
Essa fé onde Ele é vontade,
Melhor é Nele viver
 E manter-se em humildade

Circunstância do sem ver;
Essa espiritualidade
De o indizível conceber.
A Ele pertence à verdade.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Causalidade


Causalidade

Essa seriedade
N’alma é a reflexão
Meio à imparcialidade,
Ser em compreensão

Da causalidade.
Alheia a uma ficção
À casualidade
Nessa condição,

Da espontaneidade
A uma introspecção,
O tempo é a verdade
Em oxidação.


domingo, 19 de março de 2017

Defensas


Defensas

Quando acesas,
Luzes tensas,
São incertezas;

Estranhezas
De descrenças
E tristezas.

Com fé há proezas,
Há defensas.

sábado, 18 de março de 2017

Um Sabiá


Um Sabiá

Ser cristão é todo dia
Orar em cada linha,
Folhear com alegria,

Ouvir sabiá na pia,
Piando nessa cozinha,
Que ao bem se chegaria;

E quanto mais se lia,
Mais a esperança vinha.


sexta-feira, 17 de março de 2017

Burburinho


Burburinho

Inspiração não se acha,
Ela nasce do nada
E sugere um caminho
Tal qual ave no ninho

Que, depois voa e se encaixa,
Na imensidão azulada
E não existe o sozinho;
Em bando, é passarinho,

Colorindo em faixa
A nuvem apressada
Em belo burburinho
Riscando um desalinho.

quinta-feira, 16 de março de 2017

Silvo


Silvo

Pragmática,
Sem prática;
Um livro.

Didática
 Gramática
É crivo

Na estática
Temática;
Um silvo.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Momento


Momento

Quando tudo é saudade,
É porque o dia valeu,
Não ficou e ainda é verdade.

Ultrapassou a humildade
E a luz aconteceu;
Rara é a felicidade:

Essa notoriedade

Que tinge qualquer breu.

terça-feira, 14 de março de 2017

A Geladeira / Crônica do Cotidiano


A Geladeira 

     Penso na sobremesa a ser feita e abro a geladeira. Um bafo morno me atinge o rosto. Eu não acredito na sensação de bafo morno vindo da geladeira.
     Pego a panela no armário e a coloco em cima do fogão.
     Abro a geladeira e um bafo morno me atinge o rosto.
     Fecho a porta da geladeira e vou providenciar o talher para fazer a sobremesa.
     Abro a geladeira pela terceira vez e sinto o bafo morno no rosto. Não me importo, ignoro o bafo morno no rosto e pego o litro de leite.
     O leite está na temperatura ambiente. Observo a geladeira e está suada com gotas de água nas prateleiras.
     O bafo morno sopra novamente. Descubro que a geladeira estragou.
     Penso no congelador e abro a porta para ver se ele ainda funciona. Os legumes estão descongelados e aquecidos. O congelador da geladeira está entre a temperatura morna e quente.
     Desligo da tomada a geladeira
     Providencio com quem compartilhar a comida do congelador para que ela não se perca.
     Os legumes foram perdidos, estavam quentes e dentro do pacote plástico de congelados.
     Eu não sabia que geladeira tinha placa-mãe. Hoje, eu vi pela primeira vez uma placa-mãe de geladeira derretida.
     Eu não sabia que geladeira soltava bafo morno para avisar que estava estragada. Eu não sei se geladeira chega a esquentar mais do que esquentou a minha geladeira.
     Eu não sabia que o congelador da geladeira podia aquecer os alimentos congelados. Os que estavam próximos ao sensor do congelador estavam aquecidos.
     A tomada, entretanto estava na temperatura amibiente e pude desligar a geladeira com pressa, mas tranquilamente.
     O que me impressionou realmente foi o bafo morno da geladeira no meu rosto.
     Ainda bem que foi um susto, uma placa-mãe e um sensor de geladeira e que o serviço autorizado é excelente.
     Eu poderia dizer a marca da geladeira, mas o técnico assegurou que todas as geladeiras vêm com placa mãe e que o fato pode acontecer a qualquer uma das melhores marcas no mercado.
     Depois do acontecido, eu fico pensando se não há maiores riscos para aqueles que possuem geladeiras embutidas em armários de cozinha.
     Por hoje, aprendi o suficiente.
     

segunda-feira, 13 de março de 2017

Ao Ser


Ao Ser

Reparte a sensatez,
A bola e a sua vez
À ideia que fortalece,

Ao mundo e ao seu freguês;
São muitos os porquês.
Sê a busca que enaltece,

A luz sem a mudez
Ao dia que não o conhece.


domingo, 12 de março de 2017

Sambanga


Sambanga

O tamborim não soa,
Ele flutua e voa
Nas asas de algum samba.

Está longe e se ecoa,
Ao ensaio não se magoa;
De estilo vário, câmbia.

Estribilho que entoa

O dia inteiro é sambanga.


sábado, 11 de março de 2017

Carta Literária ao Professor de Português

Carta Literária

     Curitiba, onze de março de 2017.

     Prezado Professor de Português,

     Ainda nessa semana senti saudades da infância e, mais precisamente uma vontade imensa de ainda ser criança e apresentar a mesma redação dos doze anos de idade.
     Em consequência daquele robô descrito na redação, o senhor me chamou à frente da turma e me passou uma descompostura de corar santo.
     Para lembrá-lo da redação, ainda presente na memória, mais pela descompostura que pela criação, a redação tratava da estória de uma moça que vivia num mundo egoísta, mas os cientistas, à época, criaram um robô, e no final da redação, a moça e o robô viveram felizes para sempre.
     Lembro que o senhor disse que aquela redação era falta de fé na humanidade e iria dizer religiosidades contra ela, mas se conteve pela minha pouca idade.
     Com uma alegria infantil, preciso lhe dizer da notícia da rede CNN Internacional, desta semana: Mostraram na televisão uma moça e um “robot” (ele não fala português) abraçados e saindo para passear.
     Professor, ao invés de achar a invenção fantástica, eu fiquei feliz e até comi um bombom com sabor de infância.
     Lembrei-me do senhor, revoltado com a minha suposição, ensinando aos alunos os valores da humanidade.
     Até que, naquele momento em que vi a reportagem, concordei com o senhor. Até o “whats’up”, que as moças que não falam o inglês chamam de “zapzapi”, há quem edite. A “Edite Robot” já aprontou algumas comigo, mas isso não vem ao caso e à carta.
     Concordei que o mundo está egoísta, mas me achei visionária naquela redação. Realmente, é uma pena que as escolas joguem fora as redações das crianças após um determinado período. Se estivesse ao meu alcance, prezado professor, eu iria até à escola e reveria a minha redação, com uma satisfação imensa.
     Se o senhor tivesse acesso àquela redação, certamente, hoje, prazerosamente, eu iria conversar com o senhor sobre a redação, os assuntos da humanidade e alguns assuntos teológicos também.
     Mas, parece que chegamos ao que, por algum motivo, eu vi e escrevi e inventei uma estória. Aquela redação que mereceu um sermão no colégio onde um padre era o diretor precisava ser lida hoje. Eu entendo a burocracia e a quantidade de redações de uma escola. Aqueles armários abarrotados de trabalhos escolares e testes de alunos com as suas respectivas notas.
     Estou madura, professor. Os métodos de ensino são outros e, a tecnologia nos deixa emburricada. Ao escrever emburricado, aceita é a sugestão do Word. De sugestão em sugestão, a qual se pode aceitar ou não, vamos calando a palavra que nos descreveria melhor. Assim age a “Edite Robot” quando está de bom humor. Ah, professor, quando a Edite está de mau humor, ela apaga a burrinha da felicidade.
     Escrevo ao senhor, porque sobre a redação, sobrou à memória, o sermão. Provavelmente a redação não existe mais. São passados mais de quarenta anos da sua escrita.
     Por minha vez, digo que também não guardei as redações escolares que me foram devolvidas com as correções e a avaliação.
     Por isso mesmo, professor, esta carta não passa de uma literalidade.
     Com todo o respeito que o senhor merece que fique a imensa discussão de um só num mundo de tantos sós.
     Cordialmente,
     Aluna Yayá.



    

     

sexta-feira, 10 de março de 2017

Palavra Pouca


Palavra Pouca

A palavra cansada
Ao pouco é, pois não exprime,
Em que é quantificada,
Mas ao menos exime

A vontade apressada,
Em cadeira de vime
À visão descansada,
Que amanhã se define.

Nem assim é passada,
Por mais que vaticine;
A beber água esfriada
Ao cansaço se mime.


quinta-feira, 9 de março de 2017

Sinergia


Sinergia

O invisível
É a energia
Do impossível
E assovia

O que é crível;
Sinergia
Da visível
Luz do dia.

De inaudível
Som seria
A teoria,
Mas cambia.

terça-feira, 7 de março de 2017

Teste da Natureza / Crônica do Cotidiano

Teste da natureza / Crônica do Cotidiano

     Eu já disse que gosto de passarinhos? Diversas vezes.
     O que eu não esperava era um teste, no caso, prova elaborada pela natureza.
     Pelos lados de cá temos bem-te-vis, sabiás, chopins, pardais e, de vez em quando um ou outro colibri, um ninho de joão-de barro numa árvore próxima, além dos passarinhos azuis, que aparecem somente no mês de outubro.
     Esse passarinho com cor de passarinho, aquele que se disfarça em qualquer árvore.
     O passarinho resolveu atravessar à minha frente, caminhando e eu esperei que ele passasse, mas que nada, o passarinho viu que eu iria em frente e mudou a direção e começou a caminhar na minha frente.
     Eu, que estava séria, sorri e disse ao passarinho, num faz de conta de que ele entenderia.
     _Eu não estou vendo você. Continuarei andando.
     O passarinho levantou voo e ficou em cima de um muro (local público) e ficou me olhando.
     Parei também e fiquei olhando para ele. A distância era de meio metro.
     Foram alguns minutos memoráveis e desafiadores.
     Comecei a assoviar, imitando um bem-te-vi rouco, porque eu não sei imitar um bem-te-vi e ele não era um bem-te-vi.
     O passarinho dava dois passinhos para um lado, voltava e me olhava e, depois, dava dois passinhos para o outro lado e me olhava.
     Eu não tentei pegá-lo, era silvestre.
     Ele não voou para mim e se comportou como um animal silvestre.
     Por fim, eu disse "tchau" para ele, como se ele entendesse e fiz menção de continuar o meu caminho.
     Ele olhou para mim e pulou para o lado de dentro do muro em que estava.
     É indescritível a sensação de bem estar que esse passarinho me causou no espírito.
     Não pensei em fotografia, pois eu estava ali conversando com um passarinho como se fosse uma completa idiota. Uma idiota feliz.
     Confirmei à natureza o que já sabia sem ser sabiá. Eu gosto de passarinhos.
     Mas conversar e assoviar e, ele, a prestar atenção na minha paupérrima imitação, foi o máximo que podia acontecer.
     Não se consegue explicar tudo o que acontece na vida da gente. Tudo bem.
     Ele mudou o meu semblante e preencheu minha alma. Sem piar, harmônico olhar.
     Desejo que vocês possam provar e serem provados por essas delicadezas da natureza, em acordo à natureza que possuírem. Felicidades.   

segunda-feira, 6 de março de 2017

Liberdade / Crônica do Cotidiano


Liberdade / Crônica do Cotidiano

     Estava assistindo televisão e vi uma campanha bonita sobre liberdade, posto que é em prol das futuras gerações. Essa campanha previne o escravagismo e educa através das falas dos próprios jovens.
     Essa tal liberdade é difícil de ser exercida.Ela é boa, se acompanhada da responsabilidade.
     Eu tenho uma história que me ensinou o que é a liberdade.
     Eu completei dezoito anos e não quis aprender a dirigir  o veículo.
     Talvez essa história seja repetida, mas contém um aspecto diferente, o aspecto da liberdade.
     Não me obrigaram a tirar a carteira de motorista, mas o automóvel ficaria à minha espera, muito embora a permissão para entrar como passageira fosse óbvia.
     Cheguei aos vinte e um anos de idade e ainda não queria dirigir.
     Ah! Vinte e um anos e não queria dirigir.
     _Muito bem. Não quer dirigir, não dirija, mas assuma.
     Eu não entendi muito bem a palavra "assumir".
     Não eram psicólogos, mas foram geniais.
     _Assuma que você não quer dirigir perante quem te perguntar.Responda sinceramente sobre essa questão para conhecidos, amigos e adversários, se os tiver e se vierem te perguntar.
     Que tarefa difícil foi essa de responder uma a uma das pessoas que eu não queria dirigir.
     Eram a liberdade e a responsabilidade caminhando juntas.
     Aos vinte e seis anos, um dia, após ter ido ao centro da cidade e passado em frente a uma auto-escola, voltei para casa e disse.
     _Eu não sei o que aconteceu comigo, mas ao passar pela auto-escola senti uma vontade imensa de dirigir.
     Era quase hora de almoço e me perguntaram a que horas a auto-escola fechava.
     Era sábado e a auto-escola fechava à uma hora da tarde.
     _Volte para o centro da cidade e se matricule. Se você sentiu vontade é porque está na hora de aprender a dirigir.
     Com passos lentos e firmes adentrei a auto-escola e perguntei sobre as condições que não estavam escritas no cartaz de propaganda no lado de fora.
     Naquele tempo eram aulas teóricas e o simulador de volante antes de sair para as aulas práticas.
     Passaram-se três meses e a carteira de motorista estava nas mãos.
     Eles aprontaram de novo.
     _Levando-se em consideração de que ela foi carona nossa durante esses anos em que podia dirigir e não quis, pensamos que podemos obter alguma carona com ela.
     _Bem que ela podia sair sozinha de vez em quando.
     Enfim, a liberdade exige.
     Exige que se diga não. Exige que se diga que não é isso. Exige horário adequado. Exige que se assumam fraquezas. O preço da liberdade é a responsabilidade de se assumir, de ter por adversária você mesma.
     Essa história eu conto e, a partir dela, algumas conhecidas foram para a auto-escola. Elas me fizeram felizes, me fazem felizes quando as vejo passeando de automóvel por aí.
     A juventude já vai longe, mas o meu "Freedom Day" para os não tão jovens está aqui.


domingo, 5 de março de 2017

Semana


Semana


Semana vai, semana vem,
E o apito do trem na estação
Que avisa da hora cheia também
E acerta mesa e refeição.

Relógio regrado contém
Ouvidos sem contradição
Marcados em passos a quem
Os têm também por coração.

Trepida o chão sem mais, porém,
E alegre é o chão da percussão
Que guia o tempo e não se detém
Semana vai e semana vem.

sábado, 4 de março de 2017

Ideável


Ideável

Estar certo,
Olhar perto,
Aquecer.


Ao céu aberto,
Ou, encoberto,
À luz ser.


É liberto

O querer.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Vagueiro


Vagueiro

Chorou,
Mas tanto,
Que o pranto,
Secou.

Passou
Do quanto
É o espanto;
Voltou.

Cansou,
Portanto,
Do encanto.
Vagueou.







quinta-feira, 2 de março de 2017

Sentido Inverso / Crônica do Cotidiano

Sentido Inverso / Crônica do Cotidiano

     Num só dia, o de hoje, ouvi duas pessoas em lugares diferentes e, provavelmente desconhecidas entre si, com a mesma conversa.
     Uma senhora comprou uma casa no interior do Paraná, Campo Mourão, cidade distante quatrocentos e cinquenta quilômetros da capital do estado, Curitiba.
     Ela estava feliz. Com o dinheiro que conseguiu juntar até agora ela poderia dar a entrada num apartamento na capital do estado, mas viu um classificado de jornal onde o preço de uma casa quitada cabia no bolso dela. Não pensou duas vezes, comprou a casa e está de mudança da capital paranaense.
     A amiga dela questionava sobre a distância da metrópole, mas ela dizia que Campo Mourão é uma cidade de médio porte e que ela teria como viver lá. Não respondeu ao questionamento da amiga objetivamente. Comprou a casa e fim de papo.
     A outra história eu ouvi de passagem. Ao homem ofereceram casa para morar em lugar retirado, emprego garantido, mas ele teria que levar a mobília.
     Esse homem,  de aparência sincera e humilde, contava ao amigo da decisão:
     _Tenho cama, armário, fogão e geladeira.
     O amigo disse uma frase que eu não entendi muito bem:
     _Se você tem cama e armário, fogão e geladeira, você não precisa de mais nada. Você tem tudo o que precisa, mas como é que você vai levar as suas coisas para lá?
     _O Zé ofereceu o carreto (transporte). Ele quer verificar se eu vou ficar bem instalado. Se esse não for o caso, volto para Curitiba, mas eu quero muito uma vida mais sossegada que a da capital. Aqui a gente mora em lugares que nem é bom comentar. Eu sou sozinho e posso arriscar a levar uma vida melhor.
     Esse homem está deixando o emprego para arriscar a sorte no interior. O estilo de vida dele o sobrecarrega de preocupações.
     Enquanto eu caminhava o que ouvi foi isso, tudo bastante rápido, nas paradas para esperar o semáforo abrir.
     Eu não sei como é que anda o estilo de vida no interior, mas é certo que esses dois querem se livrar da vida agitada.
     Alguns anos atrás, o sonho de quem morava no interior era morar na capital.
     Hoje, porém, o que ouvi foi muito diferente. Agora, que se saiba, não há nenhuma corrida do ouro pelos lugares do interior.
     Fiquei imaginando qual o tipo de sossego era esse do qual ambos falavam.
     Conseguir comprar uma casa é um bom motivo para se mudar.
     O homem no entanto, possui o que disse possuir e quer trabalhar sossegado.
     Provavelmente, no interior, serão conhecidos pelos seus nomes e não serão anônimos em meio aos transeuntes.
     De comum entre os dois é que ambos se sentem como que saindo de uma panela de pressão. Mas, se não fosse o semáforo e a caminhada, acredito que não os teria notado.
     Esses dois anônimos me deixaram intrigada. São pessoas com aparências comuns, mas com decisões cheias de subjetividade.
     Por outro lado, também pode ser um movimento inverso àquele que trouxe pessoas do interior até a capital em busca de alguma oportunidade.
     De qualquer forma, são pessoas honradas e querem melhorar a qualidade de vida.
     Não posso analisar conversas em semáforos, mas mesmo que fosse uma conversa de café, não seria fácil saber o que se passa com eles.
     Tomara que consigam essa vida melhor que tanto esperam, tomara.  

quarta-feira, 1 de março de 2017

Certeza


Certeza

A certeza segue adiante,
Pois se nega a ser instante
Que qualquer tempo desfaz;
É caminho certo e faz

Seu contínuo andar constante.
Sem atalho nem variante,
Não se basta em ananás,
Toma o suco e é pertinaz.

Segue a luz nesse semblante
E se torna interessante
À verdade, num cartaz,
Quando quer somente a paz.