Amigo,
Quero pegar no seu pé, ainda assimilando o que aconteceu. Três pontos na testa do lado esquerdo, esfoladuras nos braços e pernas, lucidez, médico plantonista dizendo que a tremedeira que você teve era do sistema nervoso (que você não tinha nada além das escoriações), companheiros de quarto dizendo que você estava estressado e falava muito durante a noite atrapalhando o sono dos demais pacientes.
Enfermeiras atenciosas e, somente a enfermeira que ficava permanentemente no quarto atendendo os pacientes me ouviu. As senhoras acompanhantes dos outros pacientes pedindo às outras enfermeiras que me ouvissem. As assistentes sociais me telefonando e eu dizendo que não era da família. Aliás, eles foram ao hospital depois de muitas pessoas procurarem por eles (que família, a sua!). Visita, só depois de morto?
Depois de morto você desceu e subiu pelos elevadores, te carregaram. Do seu corpo morto, só vi os pés, a cabeça era escondida por lençóis, mas também fui chamada para ver o corpo. Pés amarelos hepatite comprovaram a sua morte. Pedi a uma assistente social que fizesse uma investigação e ela, para o bem do hospital, disse que entraria em contato com o posto de saúde para saber como você tinha dado entrada no hospital. Infelizmente, isso aconteceu depois que você morreu. Liguei para o hospital diversas vezes até me certificar de que você não seria enterrado como indigente em vala comum.
Fui ao cemitério para o seu velório, o seu nome estava lá, mas você, ou, o seu corpo simplesmente não apareceu. Você fugiu. A funcionária do cemitério ligou para a funerária e disseram que iriam te mumificar. O velório não é obrigatório pela legislação? Eu fui duas vezes, mas parece que você foi enterrado de noite sem amigos e testemunhas.
Minha família está estarrecida com a maneira de como os fatos se deram. Solto um palavrão: PORRA!
Um abraço da sua amiga, pelo visto a única amiga sincera que você teve na vida. Preciso dizer quem sou? Ah, você sabe que não.
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