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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Crônica do Inusitado

Crônica do Inusitado.

Eu estava conversando sobre presentes alguns anos atrás, quando, um amigo me contou de um presente inusitado que recebera.

_Cada um tem a sua profissão, e esse meu amigo me deu de presente uma faca com a gravação feita a fogo com o nome do cemitério em que ele trabalha. Seria para abrir a correspondência, mas eu lá abro a minha correspondência com faca? Não, não tenho preconceitos e nem medo da morte, mas ganhar uma faca grafada com o nome de um cemitério?

Achei muito estranho.

Perguntei se o amigo disse algo com o que ele pudesse saber o porquê de tal presente.

_Ele me disse que era a propaganda do local. Disse que essa era feita de pura prata.

Novamente perguntei sobre o que ele fez com o presente.

_Guardei. A faca era afiada e coberta com prata. A minha mulher não quis usar na cozinha. Eu também não quis usar essa faca para nada.

Disse que era um presente mórbido. Ele disse que talvez fosse e talvez não fosse.

_Pode ser propaganda, pode ser um mau desejo em relação a mim. Ele trabalha com isso, ele vende jazigos. Eu não sou garoto propaganda de cemitérios. Ele que me desculpe.

Disse para que ficasse longe do sujeito.

O tempo passou. Encontrei o meu amigo de novo. Aquele amigo que se encontra de vez em quando. Nós conversamos, eu lembrei daquele presente e perguntei que fim tinha levado aquela faca.

_Continua guardada. Ninguém lá em casa a usou, mas não a jogamos fora. Ela parece uma prova de um crime que não aconteceu. Eu tive uma sensação de que ele desejava que eu fosse para o cemitério dele. Aliás essa foi uma providência que tomei naquela época, comprei um jazigo no cemitério do concorrente dele. Eu não gostei do presente, considerei de mau gosto, mesmo a título de brincadeira. Ele me conhecia bem. Se ele queria brincar, que me desse uma bebida com a marca do cemitério, com uma piada escrita na garrafa. É angustiante receber um presente assim. Está guardada e para quê? Não sei. Eu sei é que eu não vou jogar fora, nem mandar derreter. Essa história eu não quero que seja esquecida, não quero que seja desmentida. Ganhei no meu aniversário. Doeu receber esse presente. A amizade acabou meses depois que aquela faca se interpôs entre nós. Evito até mesmo falar com ele.

_E ele?

_Ele debocha do meu comportamento.Até hoje ninguém sabe o motivo daquele presente.

Eu e mais alguns amigos comentamos que foi o presente de aniversário mais inusitado e de falta de sensibilidade que já vimos.

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