Rio de Janeiro

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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

sábado, 30 de outubro de 2010

Poema Reflexivo

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Poema Reflexivo

Fiz bem mais do que podia

Sem saber por que eu fazia,

Mas bem menos que queria.

Foi-se embora aquele dia,

Sem lembranças, sem cobrar

Um centésimo de olhar

Ao passado, feito mar

Que se esvai ao espraiar.

A cidade se perdia,

Alusão àquele dia,

Que fiz mais que pretendia,

Que fui além porque pendia

A quimera de amar.

Sem sequer questionar

Se eu quisera conquistar,

O amor nesse abraçar.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Corrupção

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Corrupção:

Desmandos

Da nação,

Comandos

Sem razão.

Corrupção:

Escambos

Com teu pão,

Mulambos

Da nação.

sábado, 23 de outubro de 2010

O Jacaré Engomado. Conto para todas as idades

jacaré

Sônia sentiu-se traída com a demissão no emprego. Em busca do sossego foi caminhar no parque e se distrair.

No parque, sentou-se em um banco para refletir sobre a dor da traição. Aproxima-se um senhor idoso e pede licença para sentar-se ao lado dela. Ela olha para ele e consente com um gesto de cabeça.

O seu Orlando se apresenta e diz que tem oitenta anos e se conserva bem com caminhadas ao ar livre. Ele conta histórias do seu passado.

_Sempre que eu encontro senhoras com o seu ar triste eu falo do jacaré engomado.

Ela sorri e se dispõe a ouvir.

_Conte-me, seu Orlando.

_Você e todas as mulheres precisam se cuidar com um tipo com o qual vocês travam amizade pensando que a mulher sofre e não reclama. Deixe-me descrevê-la: cabelos médios, tingidos no tom da cor natural e vestida sobriamente. Ela não é nem gorda e nem magra, mas você percebe que ela não se cuida porque ela usa uma blusa com a cintura marcada sobre a barriga saliente. Usa pó compacto, lápis e batom em cores neutras. Pela descrição, você percebe que ela não passa dificuldades financeiras e também não é rica. Ela tem estudos superiores, a fala mostra. Mas ela escorrega e diz muitos palavrões quando conversa longe de pessoas com as quais usa a cerimônia. Ela diz os problemas que atravessa e pergunta sutilmente se você soube de alguém que tivesse passado por tais dificuldades. Se você passou pelo o que ela passa, certamente divide com ela. Afinal, somos sofridos. Todos nós temos os nossos sofrimentos. Ela parece ser discreta, não pergunta nada da sua vida. Mas você conta mais do que precisaria. Você mantém um relacionamento amigável e a encontra a cada dois meses. No ano seguinte você perde o emprego e não imagina como isso aconteceu.

Sônia pergunta: _Como?

Orlando continua:

_O jacaré engomado sofre de fato ao engolir seus amigos. Ela fala dos problemas dela como se o problema também fosse seu, na frente dos seus amigos. Ela diz que tenta te ajudar e que você não a escuta. Ela tem tato e só a procura a cada dois meses. A essa altura, os seus colegas sabem que você come abobrinha ensopada uma vez por semana para aliviar os seus problemas de prisão de ventre. Ninguém contou de você para fazer fofoca. Um colega perguntou de você ao verdureiro na feira livre e ele contou do bem que a abobrinha dele, que é cultivada sem agrotóxicos, faz para o seu organismo. Outra colega perguntou de você e a sua manicure aproveitou e a aconselhou a usar o esmalte verde que você usa nos fins de semana. A preocupação dela com você, fez com que todos se preocupassem e sem querer devassassem a sua vida particular. Quando todos souberam do seu dia a dia, o seu chefe a demitiu porque as suas queixas estragavam o ambiente de trabalho.

_E, depois? O que aconteceu? Pergunta a Sônia ao idoso.

_O jacaré engomado fica com a sua colocação. E desfaz das pessoas que se queixam o tempo todo. Diz que você é doente e precisa de um tratamento. Você fica mal e aprende a lição. Na sua casa todos se incomodam. Você está em um emaranhado de comentários bondosos e não consegue tocar a sua vida. Ela continua freqüentando a sua casa de vez em quando. Você tem que se recusar a recebê-la usando a educação para restabelecer uma rotina provisória. Ela te chama de ingrata. Quanto mais tempo você demora a perceber o problema, mais você se incomoda.

Sônia o questiona sobre o porquê do nome de jacaré engomado.

_Um jacaré se mostra à medida que você precisa se defender dele. No caso, você sente que existe algo de errado com a sua amiga, mas não sabe o que é. À primeira vista, ela é trabalhadora, amiga, interessada em progredir com uma competição moderada. Depois ela te come e você fica sem um braço. Aí é tarde.

Orlando sabia da dor antes de estar ao lado de Sônia. A idade ensina e vê longe o suficiente para ajudar o próximo sem medo. Envelhecer pode ser bom.

sábado, 16 de outubro de 2010

Crônica A cidade fantasma.

imagem de quadro A cidade fantasma.

Eu não sou afeita a lugares misteriosos e, embora essa cidade se localize próxima à capital do estado, eu não a visitei e não tive vontade de estudar a sua história. Eu adoto a praticidade como estilo pessoal e não combino com alegorias fantasmagóricas. No meu ponto de vista, os mistérios muitas vezes não passam de crendices populares, oriundos da falta de cultura aliada a alguns truques usados por “coronéis de mato” para manter a população sob o seu comando.

Por estes dias, a falta de sorte com uns amendoins torradinhos me fez quebrar um dente e eu fui a um consultório de dentistas plantonistas para emergências odontológicas. Enquanto aguardava na fila de espera, sentei-me no sofá e ao meu lado estava uma senhora com o rosto inchado. Conversamos e ela me disse que era “cidade fantasma”. Pensei na minha praticidade, na minha dor de dente e na ausência de boa vontade com os moradores de lá. Ela se chamava Anita e viera morar na capital depois que a filha casou. Ela tinha vontade de morar em uma cidade grande e realizava o seu desejo. Com o rosto inchado, ela estava feliz de contar com um dentista de uma cidade grande.

Eu disse a ela que não conhecia a cidade de onde ela viera e, para negar ou confirmar expectativas, pedi a ela que me contasse sobre a cidade onde ela passou os sessenta e dois anos da sua vida.

_São muitos os mistérios na minha cidade, eis um fato. O cemitério é o símbolo da praça principal e o povo acende velas para os seus mortos na praça. Os enterros são uma festa com bolos e cafés durante o velório. É uma praça igual a todas as outras, com bancos para as pessoas se sentarem e carrinhos de pipoca. A diferença é que ao invés de uma fonte de água e um jardim, nós temos um túmulo no meio da praça.

Eu disse que a idéia era de mau gosto do prefeito responsável pela obra e perguntei o motivo pelo qual a população não reclamava para modificar o visual da praça.

_A população, ou seja, nós tememos pelos nossos filhos. A senhora preste atenção no que eu vou lhe contar: eu ouvia falar na pedra azul que rolava do alto da igreja e aumentava de tamanho até que passava por cima de quem duvidasse dos poderes ocultos presentes na cidade. Eu não acreditei e pedi a companhia do meu marido para ficar próxima a igreja durante a noite de sábado. Lá, por volta das nove horas da noite, nós vimos uma pedra azul clara e brilhante saindo pela porta da igreja que vinha em nossa direção. Corremos até chegar a nossa casa e juramos nunca mais desafiar o que os mortos da praça desejavam.

À medida que a dona Anita contava a história fantástica, mais eu tinha vontade de saber. Perguntei se esse era o grande mistério da cidade ou se haviam mais fatos estranhos a serem contados. Aticei a vontade dela e ela me contou sobre a caverna santa.

_Contam que alguns jovens, garotos e garotas, foram fazer um piquenique no campo e entraram na caverna. Quando o último jovem entrou na caverna, ela se fechou sozinha. As famílias dos jovens ao perceberem a demora do retorno deles às suas casas avisaram o Corpo de Bombeiros. Os bombeiros demoraram uma semana para abrir a caverna com britadeiras, mas salvaram os jovens. Apenas uma das moças ficou seriamente perturbada e foi direto para o sanatório e de lá não mais saiu. Eu não deixei a minha filha sequer passar perto da caverna.

Eu ouvia os relatos daquela senhora com espanto. Mudei de assunto e falei das vantagens de se morar em uma cidade pequena.

Ela me disse que a vantagem era para as mulheres casadas e que as moças solteiras sofriam muito.

Eu pedi que ela explicasse mais esse seu conceito.

_Uma moça solteira que morava com a irmã e o cunhado arranjou um namorado. Depois de um ano de namoro, ele fugiu com a filha do dono do hotel. Falaram que a moça estava perdida. Eu, na época, pensei que ela, a moça rejeitada, estava perdida em sofrimentos, mas a versão era outra. Não sei onde surgiu o boato, mas disseram que o namorado fugiu com a outra porque descobriu que a namorada era uma moça perdida. O falatório foi tanto, que o meu marido, assim como todos os homens ditos de “bem” naquela cidade, proibiu-me de pisar a calçada em frente à casa da moça. Assim, as mulheres atravessavam a rua para mostrarem umas as outras que não andavam em caminhos errados. Fizemos procissão em frente à casa da moça e atravessamos para o outro lado da rua para que ela nos visse e se arrependesse do que nem sabíamos se era verdade. Não pisamos na calçada onde ela pisava. Pobrezinha, fiquei com pena, mas eu era uma boa esposa e as boas esposas tinham que provar à cidade e ao prefeito que eram boas esposas.

Finalmente chegou a minha vez de ser atendida e a enfermeira estava à porta chamando o próximo e o próximo. Eu e a dona Anita fomos atendidas em consultórios diferentes. Enquanto o meu dente era refeito, eu pensava sobre aquela cidade que eu não quis visitar e, mesmo não a conhecendo e não vendo graça nas festas fúnebres, sabia que nela habitavam os desmandos dos coronéis do mato, uma praga difícil de controlar.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Crônica Um dia Mágico!

pardal Um dia mágico: com Paulo Valença, Miriam de Sales e um pardal na janela.

Esse dia doze de outubro de 2010 ficará na minha memória, um dia sossegado no qual tive tempo de ler o livro Tatuagens da aflição, de Paulo Valença, colega do Portal Literal. Um livro realista que fala das pessoas práticas, da violência e do cotidiano que nos deixa a alma tatuada.

Termino a leitura do livro e o porteiro me avisa da chegada de um sedex. Maktub, um livro digital da escritora Miriam de Sales. Que grata surpresa foi colocar o cd no computador e ouvir Beethoven. Folheei com prazer digital o livro da também colega e escritora do Portal. Um livro suave, que me aconchegou ao sofá e me estimulou a ter fé na vida, nas pessoas e a me manter otimista.

Além do prazer em ler os meus colegas em leituras diferentes, vi um formato adequado para um livro digital.

Terminei as leituras e fui para o sofá, conforme disse antes. Ligaria o meu aparelho de mp3 e refletiria sobre as leituras. Enquanto pegava o mp3, ouço um piado muito próximo à janela. Um pequeno pardal me chamava pela fresta aberta. Quando fui abrir a janela, ele voou.

A felicidade voa. Um dia mágico!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Crônica Tensão e Relaxamento

cadeira

Estava tensa e sem um minuto para descansar. Imaginei-me uma maratonista e programei as horas, as tarefas e dei-me um tempo exato para executar cada tarefa.

Levantar cedo e mãos a obra. Um mês inteiro nessa rotina de fazer inveja aos atletas profissionais. Pensei que podia e fiz tudo o que precisava ser feito.

Esqueci-me que não sou tão jovem assim, mas agi dentro dos meus limites. Quando terminei o que tinha me proposto a fazer, pensei em relaxar, assistir um filme, passear no shopping e comprar um livro.

Assim fiz. Passei o domingo descansando. A segunda-feira veio bem e eu me senti apta a fazer tudo de novo não fosse aquele torcicolo que me obrigou a deitar como estátua na cama e tirar o dia procurando uma posição que amenizasse a dor.

Um dia perdido para qualquer tarefa séria. A concentração e o pensamento lógico se afastaram de mim como se eu fosse uma adversária. O corpo pedia repouso. Verifico as contas a pagar e descubro que paguei com quinze dias de antecedência a conta que vence na semana que vem, errei quatro vezes e risquei e rabisquei a agenda onde eu anoto os compromissos. Almoço batatas fritas de pacote e me pergunto onde estão escondidos os tomates na geladeira. Deito e repouso.

A minha consciência me critica e eu a mando embora. Fecho os olhos e penso em algum motivo para os mendigos entrarem em greve em apoio à greve dos bancários. Por que quando as agências estavam fechadas os mendigos desapareceram e qual seria o motivo de voltarem lá quando a greve foi suspensa? São questionamentos do cansaço. O meu corpo mendigando cama e tirando-me a possibilidade de qualquer atividade. Os meus músculos doem.

Uma tarde parada sem vontade de me mexer. O refrigerante gelado me chama e eu não consigo ir até a cozinha. O lado positivo foi comparecer às provas, bem sucedidas, os compromissos sociais a contento, tudo no seu devido lugar.

Lembrei-me da juventude e das aulas de ginástica feminina.

_O resultado da ginástica aparece quando você descansa e sente as dores musculares dentro dos padrões esperados. Daí vem uma vantagem, a de se trabalhar a musculatura em dias alternados porque se percebe o ganho da tonicidade e firmeza muscular.

Em um mês eu caminhei, fiz levantamentos de sombrinha, agachamentos de supermercado, corrida com desvio de obstáculos na calçada, tive quedas sem joelheiras e me virei para fazer o que tinha que ser feito. Entrei no ritmo que inventei e agora esse descanso forçado e fora de hora. Ainda aguento, ainda consigo, disse a minha vaidade. O torcicolo me avisa que se eu fizer isso de novo, ele compra um colete protetor para o meu pescoço. Um momento precioso para avaliações pessoais e para fazer novos planos para quando a dor passar.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Marido & Mulher

 

 

flores de casamento

Marido & Mulher

João e Maria, casados na igreja e no cartório, pais, padrinhos, bolo e valsa. Uma leve resistência do pai e da mãe de João ao casamento, mas João tinha vinte e cinco anos e queria se casar.

Tiveram dois filhos e João fez a vasectomia. Empregos bons, colégios bons, casa própria e férias uma vez por ano.

Vinte anos de casados. Maria passa mal e vai ao médico. Gravidez.

_Doutor, eu tenho quarenta anos e o meu marido fez vasectomia quando o Tarquínio nasceu. O senhor está enganado.

O médico pede exames. Diagnóstico confirmado.

Maria sente-se atordoada e ainda mais tonta do que estava antes. Custa a acreditar que gera um filho a esta altura da vida. Esconde os exames na gaveta do escritório onde trabalha. Recusa qualquer afago do marido. Ele insiste em saber o motivo. Ela tem medo da reação dele e o deseja com ardor. Sentindo-se pressionada, em conflito e absolutamente sensível ao cotidiano, ela não suporta mais omitir do marido a situação.

_Estou grávida.

_Como?

As lágrimas rolam em seu rosto, ela jura que o ama e é fiel a ele.

_Calma, Maria. Se você está grávida é preciso calma. Eu me lembro dos nossos dias em Campos do Jordão.

Ele a abraça e no dia seguinte corre para fazer uma consulta com o médico que o operou. O médico solicita um espermograma.

Gravidez não se esconde e logo, os parentes da Maria e os parentes do João, ficaram sabendo da novidade. As brincadeiras começaram. A palavra “Traição” aparecia nas entrelinhas. Os pais dele, incomodados com as pilhérias, chegaram a exigir que ele se separasse. Os filhos disseram que a mãe poderia ter chamado a cegonha antes e que ela se atrasou para trazer mais um bebê para dentro de casa. As roupas de bebê entravam todos os meses naquela casa.

_Mãe, nós somos homens. Você poderia colocar as fraldas no seu armário? As fraldas nos humilham.

João não permite mais brincadeiras ou reclamações com a Maria. Um homem sensato, um marido cúmplice do bebê. Gravidez de risco, todo o cuidado é necessário. Aos cinco meses da gestação de Maria, João chora. É menina que vem por aí.

Maria quer que a menina faça exame de DNA antes de sair do hospital. O exame será uma segunda certidão de nascimento para a Joaninha. Maria e João querem esfregar o exame nos olhos dos brincalhões.

Joaninha vem ao mundo. Um mundo construído por Joaninha antes mesmo de nascer. Enternece os irmãos mais velhos e casa novamente João e Maria.