Rio de Janeiro

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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

domingo, 31 de julho de 2011

Dona Assunta

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Provavelmente muitos de vocês conhecem a Assunta, nascida no Bráz, na cidade de São Paulo. Ela mora no coração de muitos; simples, falante e generosa. Ela tem respostas na ponta da língua para se defender e ninguém passa impunemente à sua presença. Um tanto quanto exagerada, ela diverte e comove os amigos. Os adversários dizem que ela não tem uma educação conveniente e ela dá de ombros:

_A mal educada sou eu, por que você se preocupa?

Certa vez um homem resolveu provocá-la para ouvir as respostas dela.

_Assunta, você se comporta como macho. Não venha me dizer que você é feminina para o seu marido que você não me convence. Será que você é assim porque não teve pai?

Ela estufou o peito e pôs uma das mãos na cintura e respondeu:

_Eu não tive pai? Mas eu sou sua irmã amada! Se não foi o teu pai que me fez, foi o meu que te fez. O meu não deixava um rabo de saia sossegado.

O homem desatou a rir e foi embora do Bráz. Assunta é amada no bairro. Quem vê de fora, pensa que os seus amigos se aproveitam da sua simplicidade. Uma vez por mês ela serve um talharim aos quatro queijos para cinqüenta pessoas. A casa não é grande, mas os convidados pegam os pratos e se sentam na garagem, na varanda, na cozinha e assim por diante.

Certa vez, duas senhoras ficaram penalizadas ao verem a boa vontade da mulher para com todos os seus conhecidos e forem conversar com ela. Perguntaram o que ela ganhava com esses almoços, além da quantidade de pratos para lavar e guardar. Para pressioná-la contra aquilo que elas consideravam errado, disseram que ela queria se mostrar como generosa perante um possível teatro de amigos interesseiros.

Assunta não teve dúvidas e respondeu:

_Para aparecer eu tenho as melancias no quintal. Eu reúno os meus amigos porque eu não sou fofoqueira e não sei quem passa fome ou quem perdeu o marido para a amante. Eu faço o talharim e convido todo o mundo que eu conheço e ninguém tem nada a ver com isso. Eu faço a massa e eu pago o gaiteiro, portanto o problema é meu! Eu me sinto bem e, se eu estou bem, a alegria é minha.

Perguntaram se ela não se cansava.

_Cansar? Sofrer é da vida, mas amenizar o sofrimento pode ser tarefa da gente. Não nasci para remoer problemas, nasci para fazer as pessoas um pouco menos infelizes neste vale de lágrimas. Graças a Deus eu posso fazer esses almoços.

Aqueles que vão ao almoço da Assunta, comem pêssegos e figos em calda com creme de leite de sobremesa. O gaiteiro toca a tarantela para a dança ajudar a digestão. A festa encerra com pão de queijo, rocambole de goiabada e café com leite.

Quem não conhece a Assunta, precisa saber que ela existe e que ela não faz política com festa, ela se diverte quando os outros se divertem, não à custa dela, mas junto a ela. Assunta não machuca, cicatriza a alma.

sábado, 30 de julho de 2011

Uma História de Amor - Sahrãzãd

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Sahrãzãd

A literatura estrangeira propicia o conhecimento de outras culturas, mas essa alegria em particular, é proporcionada pelos 3 volumes da obra LIVRO DAS MIL E UMA NOITES, com a tradução feita pelo professor da USP Mamede Mustafa Jarouche para a língua portuguesa, livros da Editora Globo.

Essas edições são acompanhadas por anotações nas laterais das páginas explicando as diferenças entre o ramo sírio e egípcio nas histórias. Verifica-se um imenso cuidado dos estudiosos das culturas com os manuscritos originais e à sua compilação. O cuidado em não modificar palavras e intenções é de uma delicadeza que comove o leitor antes mesmo da leitura.

Esse é um livro de amor e quero ressaltar o que ainda não foi dito, apenas sentido. Sahrãzãd (Sherazad) conheceu um grande amor desinteressado e dedicado, talvez o maior amor de todos os tempos entre duas irmãs. O apoio de Dinãrzãd foi especial e, embora não dito, mostrava-se em presença, audiência e constância. Foram mil e uma noites dedicadas à vida da irmã, incansável e fiel a todas as histórias. Tenhamos a certeza que, sem Dinãrzãd, Sahrãzãd não seria tão criativa e talvez não tivesse suportado a incerteza da sua sobrevivência todos os dias e noites.

Com o apoio da irmã é que adentramos esse mundo mágico com califas, mercadores, dançarinas, bandos de ladrões, esconderijos e Ifrits (a personificação das entidades místicas).

Imaginem um lugar onde a salvação seja convencer o algoz do contrário senso arrazoado por ele mesmo. Além disso, a humanidade é questionada em suas enganações e artimanhas. A maldade se impõe nesse “mundo” como um fato a ser aceito e resta às vítimas fugirem ou se socorrerem com algum artifício, ou contar com a ajuda do invisível (Ifrits), quando essa ajuda invisível não seja a causa das dificuldades, o que ocorre inúmeras vezes.

A generosidade também existe porque quer e ninguém obriga o ser humano a ser bom. A generosidade nasce espontaneamente pelo amor entre os seres.

Em suma, são histórias que sugerem a vida como uma saída para a prática do próprio bem. O amor homem-mulher, curiosamente é colocado num patamar inferior ao amor pela humanidade, de fazer o bem graciosamente, ou por se irritar com o mal.

Guardemos dessa obra o carinho e a dedicação dos autores anônimos, do tradutor dedicado, da confiança entre as irmãs, confiança essa que salva.

Quem puder ler que leia com tempo para se resgatar e se renovar de todos os sofrimentos, com tempo para compreender que o diálogo sempre é possível, mesmo quando em lugares absurdos.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Canto de Fado

Canto de Fado

Quero calar-me das dores sofridas,

Guardo em segredo o que marca esse peito.

Nesse vagar de tratar as feridas

Canto esses versos de amor rarefeito.

 

Dores, feitiços de intrigas vividas,

Laços em nós de algum falso preceito,

Solto os queixumes e mágoas ouvidas

Numa canção que desfaz o mal feito.

 

Canto que conta da atroz vilania

Feita a rancor sem razão, sem motivo

Para vingar a poção nesse dia.

 

Dados expostos de amostra à porfia

Deixa o meu canto sem nexo e furtivo

Para quem queira, um sorriso é meia vida.

Pingos de Notícia

  • A escritora Isabel Furini, que iniciará no dia 3 de agosto uma Oficina Literária COMO ESCREVER ROMANCES no Solar do Rosário – Curitiba, muito me honrou com a publicação de um texto meu no Bonde :

http://www.bonde.com.br/?id_bonde=1-31-3

  • Noris Roberts, membro da Universal Ambassador of Peace, enviou-me  um vídeo com um poema seu, traduzido em francês. Compartilho-o com vocês:

 

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Perdão Mútuo

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Alexia se sentia mal ao se dirigir ao ponto de ônibus e saber que se encontraria com Noêmia, conhecida que morava a algumas quadras da sua casa. Elas se cumprimentam e não dizem uma palavra uma à outra durante o trajeto que as leva para o bairro onde moram. Ambas têm a mesma idade, 22 anos e se conhecem desde pequenas e, no entanto, nunca se falaram. Hoje ela acaba com qualquer mal entendido que possa haver. Chega ao ponto de ônibus e puxa conversa com a Noêmia:

_Oi, Noêmia. Eu te conheço há tanto tempo, mas nunca conversamos. Eu preciso conversar com você, eu preciso descobrir o porquê não somos amigas e mal nos falamos se jamais houve nenhuma discórdia entre a gente. Somos semelhantes em alguns aspectos e, sinceramente, eu não entendo o que há e me sinto mal com isso.

Noêmia disse que sabia e perguntou se poderia dizer sem que ela se magoasse. Disse que também se sentia mal por não revelar o que a incomodava.

Alexia disse a Noêmia para que dissesse.

_Está bem. Somos bonitas, cada uma ao seu modo. Somos corretas, somos sinceras e temos famílias estruturadas.

Alexia concordou com Noêmia e ela continuou a explanação:

_Mas eu sou competitiva e você é cooperativa; eu faço o tipo conectada e você, desligada. Eu não consigo conviver com toda essa cooperação e união para atingir um objetivo. Geralmente, eu alcanço o meu objetivo e depois o compartilho; eu prefiro o antagonismo e você, o protagonismo. Eu descubro sobre você e o que você faz; eu me importo com tudo o que acontece a minha volta e, você com o seu jeito pacifista, que respeita a minha atitude e as minhas decisões, e não procura saber de mim, a menos que eu esteja precisando de ajuda para você providenciar essa ajuda.

Alexia disse nesse momento que o comportamento da outra não era da sua conta e não a irritava não saber da rotina dela.

_Essa sua boa disposição com o próximo, digo e peço desculpa antes de o dizer, é insuportável. Sou sincera e até gosto de algumas das suas qualidades, mas não consigo conviver e não quero mais me sentir culpada por isso.

Alexia concordou:

_Gostei de saber. Pensava que não éramos amigas porque éramos muito iguais. Agora sei que, embora tenhamos pontos de vista comuns, seremos mais felizes distantes uma da outra.

Tanto Alexia quanto Noêmia, se sentem mais leves e seguem felizes por não serem amigas, mas pegam o mesmo ônibus e não puxam conversa.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Bumerangue

Bumerangue

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Que a lua seja um bumerangue

De amores raros e bem feitos

Na curva tênue que se exangue.

 

E traga ao mar a luz galane,

À areia, os símbolos desfeitos;

Distante e mansa, diamante

 

De versos plenos de um instante,

 

Seja lua cheia ou meia; minguante.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Literatura Científica: Música, Neurociência e Memória

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Música, Neurociência e Memória

A literatura científica, apresentada em trabalhos para revistas técnicas, ou defesas de teses pode ser utilizada em vários campos do conhecimento humano e não somente com o propósito para o qual foi escrita. Falta, porém um intercâmbio de estudos que possam interessar a outras áreas da ciência. São estudos que estão disponíveis em bibliotecas quando poderiam ter a sua divulgação ampliada e, então, dependemos destes professores que realizaram os estudos, que nos enviam a cópia ou que distribuam aos seus alunos para a sua divulgação entre os colegas.

Os estudos que apresentarei são na área de música, mas têm a sua importância relacionada a áreas de estudos e pesquisas neurológicas.

Os musicólogos a analisam o sistema musical dentro do contexto específico da cultura e muitos neurocientistas analisam a música como um produto de uma organização cerebral. Dentro dessa percepção temos que “a música é distribuída universalmente, e apresenta universalidades cognitivas; ela é encontrada em alguns membros imaturos da espécie e apresenta algum grau de automação (pássaros, ratos e macacos reconhecem sons consonantes e dissonantes)”.

A compreensão da música e o seu processo cerebral produzem esclarecimentos sobre o funcionamento do córtex auditivo, e assim, abre as portas para a compreensão do funcionamento das funções cerebrais superiores. Há evidências que a música envolve a memória, a atenção e a imaginação da coordenação motora.

As memórias utilizadas na música são:

1) A memória muscular e tátil é a memória automática, executa movimentos rápidos e complicados, sem a necessidade que se pense neles.

2) A memória visual é aquela que a vista capta: imagens como uma projeção fotográfica e, mesmo fechando os olhos, a imagem permanece.

3) A memória auditiva é a impregnação da música como uma teia sonora da imaginação.

4) A memória nominal ou verbal é a que dita o som certo à medida que se o diz. O solfejo e o canto dinamizam as três memórias sensoriais.

5) A memória rítmica é de ordem fisiológica e apela para a memória dos movimentos baseada no automatismo muscular. É dificilmente isolável e interliga as diversas memórias.

6) A memória analítica ou lógica é a memória intelectual; é o estudo da ordem do pensamento.

7) A memória emotiva ou interior atua de forma estética ou sentimental, a música inspira estados de espírito.

A música e o seu desenvolvimento são motivos para muitos estudos. Apresentei estes resumos retirados dos trabalhos dos professores Paulo Estevão Andrade “Uma Abordagem Evolucionária e Científica da Música” e Ana Portes “Considerações Sobre o estudo Diário Do Piano E Sua Importância Na Execução Pianística”.

Essa é uma literatura científica e eu não vou me aprofundar, tendo em vista que as sugestões foram feitas e a importância da troca de conhecimentos está subentendida.

domingo, 24 de julho de 2011

Bom Dia

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Repor a energia

Perdida e tirada

Da pedra aquecida

Molhada na água.

 

Sossego e magia,

Descanso calada

Pensando a folia

Sem versos de mágoa.

 

E penso na vida,

E sonho acordada,

Esqueço da lida

E venho inovada.

 

Quem sabe eu divida

Contigo a salada

De manga partida

Na alface enfeitada.

 

Entrada pedida,

Saúde almoçada,

Capricho que avia

A alegre mesada.

sábado, 23 de julho de 2011

História de Ninar

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Dona Safira comprava um vestido novo para ir a uma festa, quando houve um princípio de incêndio na loja ao lado e as chamas adentraram a loja onde ela estava. As vendedoras chamaram o gerente que estava em seu escritório.

Lúcio, o gerente, saiu do escritório, viu as chamas invadindo a loja e os vários fregueses que faziam as suas compras no local. Acionou o Corpo de Bombeiros, viu a dona Safira e a pegou no colo. Retirou-a da loja e a colocou no outro lado da rua sentada em uma cadeira da loja, levada pela vendedora que ficou de companhia. Pediu à senhora que não fosse sozinha para casa porque certamente estava nervosa com o susto.

_Chame um familiar, eu me sentirei melhor assim.

Diante de toda essa gentileza, Safira ligou para casa e a filha atendeu:

_Filha, venha me buscar. A loja está pegando fogo e o gerente prefere que eu saia daqui acompanhada. Eu não entendo tanta gentileza para comigo quando ele deveria estar apagando o fogo junto com as funcionárias. É um jovem bonito e eu prefiro mesmo que você venha antes que ele queira me levar.

Esmeralda, a filha corre até a loja e se encontra com a mãe.

_Mãe, que bom que você está bem!

Nesse instante, a vendedora pede que a aguarde enquanto avisará o gerente que a filha dela chegou.

_Mãe, o gerente é bonito mesmo, bem que você falou.

O gerente chega com certo ar de autoridade e proteção e pede para conversar com Esmeralda na lanchonete da esquina.

Desconfiada e séria, a moça segue com o gerente até a esquina.

_Pois não, senhor. Há algum problema com a minha mãe?

_Não é sobre a sua mãe, é sobre você.

Esmeralda não comprava naquela loja e não entendeu.

_Você não é a Esmeralda que comprava pipoca duas vezes por semana em frente ao cinema?

_Sim, quem é você?

Lúcio era o filho do pipoqueiro com o qual ela conversava sempre que ia ao cinema. Ele, de um jeito infantil, cobra a dívida:

_Será que você lembra que marcou um encontro comigo antes de se mudar? Eu te esperei o dia inteiro e você não apareceu. Você contou que iria embora, por que faltou à última pipoca?

Ela lembrou, era verdade o que ele dizia.

_O meu pai foi transferido para arrumar a ponte que partiu, ele foi um dos engenheiros da ponte. Ele precisava do mapa para ir até lá. Recebemos os mapas naquele dia e fiquei em casa com mamãe para recepcionar bem as visitas.

Depois da dívida paga, Lúcio contou que tinha uma namorada há seis anos e que era namoro sério, mas que aquele desencontro o magoava ainda.

Esmeralda corou, mas aceitou conversar com ele em outras oportunidades.

_Não se apegue a mim, disse Esmeralda.

_ Não se apegue a mim, disse Lúcio.

_Não se aproxime de mim, você tem namorada.

_Você tem razão, disse Lúcio.

_Adeus e seja feliz, disse Esmeralda.

_Adeus e seja feliz, disse Lúcio.

Como se fosse à despedida da infância, eles se despediram. Alguns maus espíritos não suportaram tanta pureza e ingenuidade e começaram a sussurrar através das paredes até que, algum tempo depois, os espíritos maus criam um reencontro forçado, na intenção de observar alguma ferida, algum indício de triângulo amoroso. Os espíritos maus não achavam graça nesse final.

Esmeralda se dirige à saída de uma confeitaria e vê o Lúcio e a Mariane entrando pela porta. Ele entra aborrecido e ela com um ar de superioridade e enfrentamento, embora desconhecesse a fisionomia de Esmeralda.

Esmeralda passa por Lúcio e sorri para Mariane.

_O lanche desta confeitaria é delicioso, entrem e provem o que estou dizendo.

Lúcio avisa com o olhar quem era a Esmeralda e sorri. Mariane o pega pelas mãos e também sorri.

Esmeralda segue feliz por desfazer qualquer mal entendido, segue feliz nesse desencontro que o fogo causou, segue só em busca da sua felicidade.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Humildade–indrisos cômicos

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I

Quanta luz nas avenidas,

Quanta gente nesse dia,

Passo eu nesse formigueiro.

 

Levo o passo, dou varrida,

Tiro o pó, dona Maria;

Meço o metro por inteiro.

 

Sem vergonha dessa lida,

 

Tomo o banho no chuveiro.

II

Chego a casa com a vida

Ganha - pão dessa guarida,

Sol e sombra do canteiro.

 

Com a janta esbaforida

Deito e durmo na corrida,

Sonho um sonho sobranceiro.

 

Levo a lida e a alegria,

 

Sou bom homem o ano inteiro.

III

Essa luz que me irradia

Não me deixa à vadia,

Levo Deus no meu dinheiro.

 

Simples vida de coxia,

Anjo meu nessa alforria,

Nessas asas de mosteiro.

 

Anjo dê-me a fantasia

 

Dessas asas, e o roteiro.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Aprendendo a Ler com Fiódor Dostoiévski

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Com Fiódor Dostoiévski

A menos que seja obrigatória a matéria de literatura estrangeira, o leitor comum adquire um livro sem saber exatamente como vai ler, ele compra por motivos outros que de estudo.

Suponhamos que eu tenha comprado o livro Notas de Subsolo de Fiódor Dostoiévisk. Quais foram os meus critérios de compra? Considerei a respeitabilidade e o nome da editora na tradução do texto. Ora, eu não falo russo. Verifiquei a edição e se o texto integral constava do conteúdo e não era uma edição facilitada com cortes. Não levei em consideração a capa do livro e sim, o preço e o texto.

Antes de abrir o livro para ler, leio as informações contidas na contracapa e percebo que a biografia do autor é reduzida para diminuir o custo. Mas como é que eu sei disso. É que primeiro eu li Crime e Castigo, com capa dura e um prefácio de algumas páginas que detalhava a biografia do autor.

Agora posso iniciar a leitura. Logo no primeiro capítulo o autor se situa no estilo literário no qual compôs o livro e no capítulo II, uma frase chama a minha atenção: ”_Quero agora contar-vos, meus senhores, quer o desejeis ou não, por que não consegui nem mesmo me tornar um inseto.” Anoto em um caderno de anotações e prossigo ao mesmo tempo em que rio ao pensar que Fiódor ironizou a barata de Kafka.

Paro para pesquisar e descubro que ele foi existencialista e, se ironizou, foi por vontade de fazê-lo. Ao pesquisar, descubro que tanto ele, quanto Aurélio Agostinho de Hipona ou Santo Agostinho combinam com alguns dos meus pontos de vista. Pelo visto a leitura será prazerosa agora que me aproximei e me identifiquei dentro do existencialismo em alguns aspectos.

Esse existencialismo busca o “belo e o sublime” e não rejeita o ridículo e a inteligência. Ou seja, a lógica aliada à estética e aos costumes. O ridículo não existe sem que esteja no plano dos costumes sociais. A proposta de Dostoiévski é tida como uma das melhores propostas para esse movimento literário do qual é o fundador com o livro Notas de Subsolo. Aprendi algo.

A conexão e o porquê da citação da leitura anterior de Crime e Castigo vêm “A Propósito da Neve Fundida”, capítulo de O Subsolo, onde um crime premeditado deixa de acontecer e a vítima é salva por si mesma. Diga-se um capítulo belíssimo onde a alma humana é posta em prova e, o personagem ao sobreviver demonstra que a vida é o patrimônio dela mesma e, que apesar dos sofrimentos ao qual o homem possa passar, é a vida o que se tem por desejar. Pela vida desprezam-se interesses e conveniências que não se sabe de onde surgem e se alguém as sugeriu.

Curiosamente, em diversas passagens do livro, o autor se acusa de romântico e afirma que o existencialismo nada mais é do que um romantismo prático, ele precisa dos seus mimos e pensa com inteligência a respeito disso enquanto o homem estúpido não percebe a própria estupidez ao voltar os seus interesses ao mal, sem se dar conta que a vida é um bem palpável.

O melhor desse capítulo é que o autor brinda o leitor com um poema humanitário do poeta Nekrássov para que o leitor se demore ao ler o texto:

“Quando o ardor da minha palavra persuasiva

Do abismo obscuro do erro retirou tua alma,

Profundamente desgraçada,

E quando, cheia de uma dor atroz,

Torcendo os braços, maldisseste o vício,

O vício que te havia fascinado,

Quando a tua consciência castigando,

À existência passada renunciaste,

E escondendo em tuas mãos teu rosto,

De repente,

Cheia de horror e de vergonha,

Tu choraste...

Ele me fez parar e refletir.

Mas refleti também o comparando com outros autores do mesmo movimento, no caso Samuel Beckett e Franz Kafka e as suas formas de pensar o mesmo movimento. Dostoiévski se diz romântico prático e tem uma elevada consideração ao humanismo enquanto Beckett insiste que existe por e para existir sem necessariamente buscar uma qualidade nesse existir, mas questionando-as uma a uma sem, no entanto, responder as questões. Kafka pensa a existência transcendendo a física, sugerindo que o pensamento é maior que a forma ou a matéria do ser. Tanto que ele se transforma em uma barata, mas pensa como homem.

Quanto a Aurélio Agostinho de Hipona, fico com a frase: “_Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser.”

Termino a leitura. Aprendi a ler.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Uma Aula de Amor – O Romantismo

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O Romantismo

Inicia-se o ano letivo e a professora se apresenta à nova turma de alunos:

_O meu nome é Maria Cristina, sou a professora de literatura brasileira. Procurarei fazer de nossas aulas algo agradável e sem matéria para decorar. O meu objetivo é que vocês aprendam através do entendimento e do questionamento. Darei ênfase ao período romântico porque penso que vocês aprenderão mais facilmente e, que vocês precisam discutir o amor.

As garotas suspiram e os meninos protestam:

_Não sei se quero assistir. Ela nem começou e avisa que a aula será “sacal!” (gíria que significa algo aborrecido e enfadonho).

Eis que começa o 2º bimestre e o capítulo Romantismo está agendado.

_Em primeiro lugar eu peço gentilmente aos homens da sala que não se retirem antes da exposição da matéria. O romantismo matou muitos jovens e foi também a época da epidemia da tuberculose. Os jovens se entusiasmavam e passavam as noites acordados ou escrevendo ou nos encontros estudantis e tomavam friagem; os jovens estavam propícios às doenças com as atitudes de desrespeito à epidemia. Foi uma barbaridade para os familiares desses jovens, um sofrimento desnecessário a toda uma geração.

Os garotos se endireitaram e mudaram a postura em relação à mestra.

_No que tange às garotas, peço que suspirem menos e prestem atenção. O romantismo começou no final do Arcadismo. Saliento que a história e os costumes de uma época são retratados em poemas e saliento tendo em vista o poeta Tomás Antonio Gonzaga.

Tomás Antonio Gonzaga foi um dos inconfidentes mineiros, conforme aprendemos na aula de história. Mas um homem não vive somente o lado prático da sua vida e, a literatura, apresenta o seu lado poético e afetivo. Antes de se tornar um inconfidente mineiro, ele se encantou com uma jovem de nome Dorotéia Joaquina de Seixas e essa jovem, era 20 anos mais jovem que ele. Para se aproximar da jovem, ele antes conquistou a confiança da sua tia, chamada Genoveva, que se encantou com ele e aceitou que ele namorasse a sobrinha. Ocorre que o casal estava às vésperas do casamento quando Tomás é preso, sendo mais tarde degredado para Moçambique. Em Moçambique, ele as casa e tem dois filhos. Acontece que Dorotéia ficou esperando que ele voltasse e, o que veio, foi a notícia do seu casamento e o livro com os poemas de amor inspirado no amor deles, com os versos de Dirceu à Marília. Dorotéia morre logo em seguida sem jamais reencontrar o amor o seu amado. Alguns versos da Lira primeira:

“Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
que viva de guardar alheio gado,
de tosco trato, de expressões grosseiro,
dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto;
dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
das brancas ovelhinhas tiro o leite,
e mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela.
graças à minha Estrela!”

Prossegue a mestra:

_Minhas queridas alunas, peço que não matem o seu Romeu, o qual eu não discuto porque ele está na literatura estrangeira e não faz parte do currículo escolar. Eu me entristeço pela Dorotéia sinceramente. Cabe a vocês evitarem esse destino, não se envolvam com homens com idade para serem o seu pai, muito menos na idade de vocês.

As garotas estão tristes pela Dorotéia e os garotos, surpresos com o desfecho da história.

Dona Maria Cristina ingressa no romantismo propriamente dito com Gonçalves de Magalhães e a exaltação à natureza:

“Baliza natural ao norte avulta
O das águas gigante caudaloso,
Que pela terra alarga-se vastíssimo;
Do oceano rival, ou rei dos rios,...”

O romantismo está presente nos nossos dias, verifiquem nos jornais e revistas se não existe uma exaltação por demais grandiosa ao tema. Literatura é para ser pensada, meus queridos.

E, de Gonçalves a Gonçalves Dias, o poeta da Canção do Exílio, que de tão bela, teve os seus versos incluídos na Canção do Expedicionário; hino pátrio, o amor à pátria se inclui num momento romântico: “Não permita Deus que eu morra sem que eu volte para lá”.

Prossegue a aula:

_Vamos falar de amor romântico novamente. Alvarez de Azevedo: Para entendê-lo temos que observar o contexto em que ele se insere. Aos dezenove anos, tuberculoso, uma doença que motiva a inspiração e atormenta o seu espírito. Nessas condições de saúde o pensamento sobre a morte é constante e se reflete na maioria dos seus poemas. Mesmo nos dias em que se sentia melhor e quando incluía outros temas à sua poética, a doença estava dentro da poesia. Ouçam vocês os versos do poema Anjinho:

“Não chorem! que não morreu!
Era um anjinho do céu
Que um outro anjinho chamou!
Era uma luz peregrina,
Era uma estrela divina
Que ao firmamento voou!”

São versos irônicos, relativos a si mesmo, eles eram anjos a voar, ele e a sua amada.

Concluo que o amor romântico entre homem e mulher não morre e, se o amor não morre, porque deveria o poeta morrer de amor? A melhor maneira de enfrentar o amor é viver de amor, esse é o amor que os poetas deveriam ter em mente. Respeitemos os contextos de cada poeta e as suas reflexões.

Para encerrar, gostaria que lessem em voz alta o poema Amar e Ser Amado, de Castro Alves, também um romântico, mas positivo:

“Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma, ter só vida
P’ra tão puro e celeste sentimento
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano,
Beijar teus labios em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante, amado
Como um anjo feliz... que pensamento!?

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Amigo

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Ele combina comigo;

Juntos, nos damos, constantes,

Senso comum nesse abrigo

Feito em ideias aos vogantes.

Cedo levanta esse amigo,

Vê-me em sorrisos andantes

Sabe por que do carinho;

Sei dos porquês verdejantes.

Ninfas do bosque bendito

Vogam em sons consonantes

Some ao vagar o pedido

Feito ao descaso de instantes.

Ninfas, amigo destino,

Temem humanos quebrantes;

Ninfas, meu santo despido,

Descem por sobre os passantes.

Amor

Amor

Falar de amor é difícil

Agora, nesse momento;

Meus versos vivem no idílio

Secreto de sentimento.

domingo, 17 de julho de 2011

Aula de Literatura–Conto

Aula de Literatura

O Alienista-Machado de Assisclip_image002

Recebidos os resumos que comprovava a leitura do livro em conjunto com as respostas do questionário de interpretação de texto, o professor pergunta aos alunos se eles gostaram da história do livro O Alienista de Machado de Assis.

Os alunos disseram que sim com um leve sorriso no rosto.

O professor Cícero olha para a parede de cor gelo nos fundos da sala de aula e o seu olhar vibra. O silêncio se faz e os alunos acompanham o olhar do professor, o olhar que congelou os sorrisos. De súbito, o mestre enfrenta a classe:

“_Gostaram do livro? O Dr. Simão Bacamarte não concedeu sequer o exílio a nenhuma das suas vítimas. Ele os aprisionou dentro da cidade como doentes mentais na malfadada Casa Verde. E, assim procedendo, proclamou os seus opositores em incapazes para o resto das suas vidas. Mesmo depois, quando forem libertos dessa casa infame, o exílio de nada servirá se, como condição de adequamento, eles precisarem de um acompanhante eterno em suas vidas para provarem que são saudáveis e que tudo não passara de um equívoco.

Dessa maneira, a cidade se manterá com o mesmo grupo no poder durante a vida do Dr. Simão e ele fará o seu sucessor em quantas eleições quiser sem ao menos um questionamento. Eu falo de eleições livres, prestem atenção ao fato.

Diletos alunos, não se permitam alienar da realidade, não se percam em fantasias que os levarão a autodestruição. Deixem a sociedade existir.

Eis aqui uma confissão, todos gostam de confissões: Combato José de Alencar e o seu romantismo, embora compreenda os motivos íntimos que o levaram a ter como motivação o amor feliz e idealizado entre homem e mulher.

Eu saí do seminário e me casei. Não, não foi uma decisão fácil, disse em tom exasperado.

Voltemos ao livro: é preciso dizer que o ser humano tende a acomodação, a aceitar pequenas fraudes no dia a dia e a ausência de troco ou o troco em forma de mercadoria, que é ilegal, mas é aceito. Mas o que não nos pertence, devolvemos, somos cidadãos exemplares. Eu nem cito o advogado das causas perdidas porque este homem escolheu advogar as causas perdidas e, honradamente, aceitou as cláusulas contratuais com o ônus e o bônus da causa e assume o que faz.

Diletos, saibam que aos poucos, nos permitimos nos alienar e quando nos damos conta, estamos em nossas residências sem poder sair e assistiremos a vida pelos meios de comunicação. Estaremos na nossa própria casa verde. E, o pior, é que de tão cansados com esse estado de absurdos tidos como normais, a vida não passará de um jogo comercial e a sua essência, o motivos de existirmos estará nas mãos do Dr. Simão bacamarte. Sentiremos-nos culpados e a nossa culpa será a preguiça que nos move, temos aqui a premissa falsa que leva a resultados enganosos. E, se não nos culparmos, não faltará um cabo eleitoral para nos acusar de auto-isolamento, de depressão, de excentricidade ou exotismo.

Depois do exposto, reflito se, Machado de Assis não escreveu este livro no verbo presente para que fosse lido pelos leitores de todos os tempos. O personagem padre Lopes, que acha perigosa a atuação do Dr. Simão Bacamarte diz textualmente: ‘Com a definição atual, que à de todos os tempos’. Não será o livro atual e interessante? O padre Lopes questiona a transposição da cerca, os limites da sanidade transpostos. Creio de coração limpo, que a cidade de Itaguaí deseja e tem como norma transpor a cerca no caminho inverso à insanidade, a cidade deseja a razão e a lucidez como fonte de todo o poder.

No livro, a revolta do barbeiro Porfino é debelada pelo destacamento. NÃO poderia ser de outra maneira, a cidade que despreza a justiça como meio de garantir a equidade, sofre a injustiça que busca. Os mecanismos legais existem para a defesa dos cidadãos; e, me digam por que motivo o cidadão teme represálias quando busca a justiça? Os cidadãos preferem a calma e o sossego da Casa Verde, o medo da ilegítima causa?

Perdoem-me queridos alunos, a exposição é complexa. Sinto-me presente ao Largo de São Francisco ao discorrer sobre este livro.

Bate o sinal. Os alunos aplaudem em pé o mestre de português,

sábado, 16 de julho de 2011

O Menino Que Queria Ser Jóquei

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Um homem elegante levava o seu filho para assistir as corridas do turfe. Durante essas corridas, o garoto desaparecia. Terminavam as corridas e o pai esperava o garoto aparecer.

_Ah, pai; eu fui ver as baias de onde os cavalos saem. Desculpe a demora.

O homem vinha embora conversando com o filho.

O garoto crescia e, aos treze anos, numa das saídas, resolveu enfrentar o pai e dizer da sua decisão.

_Pai, quero ser jóquei. A verdade é que eu tenho conversado com os tratadores, com os proprietários. Pai, você sabia que um jóquei nunca espora o cavalo? Ele é despedido na hora se, a espora fizer o cavalo correr de dor; é contra o regulamento. Pai, você sabia que um jóquei ganha bem? Pai, você sabia que a cocheira é muito limpa e os cavalos tem bastante mordomia, que até o salitre é importado, que quando eles espumam é mau sinal?

Um pai disse que, se depois de terminar os estudos, o garoto quisesse ser jóquei, ele deixaria. Mas, com treze anos a resposta era não.

O garoto ficou indignado, mas tinha que estudar e obedecer, mesmo a contragosto.

O garoto cresceu e se transformou num economista, um economista magoado por não ter sido jóquei. Casou, teve uma filha, e, doze anos depois, enviuvou.

Ivan tinha que educar a filha, sozinho. Aos finais de semana ia ao interior onde tinha um sítio. Comprou uma carroça e dois cavalos e saía com a filha durante as manhãs.

_Filha, senta ao meu lado. Temos dois comandos, um é meu e o outro é seu. Vamos levar os cavalos ao riacho beber água.

Ao ver uma reta, com o caminho plano, ele dizia.

_Filha, é hora de soltar o freio, nós os deixamos seguirem soltos.

Ao ver uma ondulação no terreno, ele dizia:

_Filha, segure o freio. Eles não podem desembestar agora. Se eles correrem, eles podem cair e nos derrubar. Um cavalo com a pata quebrada é sacrificado, e se cairmos, podemos quebrar o osso da bacia e eu não quero isso nem para você e nem para mim, muito menos para os cavalos.

A filha aprendia tudo, mas era uma menina e queria dizer palavras de menina.

_Pai, me ensina o que é ser moça.

Ivan engasgou e continuou:

_Ser moça não é difícil, é se arrumar, se comportar, namorar um moço com a permissão do pai e casar com um moço trabalhador, além de cuidar dos cavalos e manter o sítio para ter o que comer em caso de viuvez.

_Pai, como eu saberei tudo isso, sem a mãe para me ensinar?

Essa pergunta doeu. Ivan conteve a emoção e respondeu:

_Eu ensino. Você estará pronta quando os cavalos da emoção e da razão estiverem emparelhados e alimentados. Nunca use esporas nos cavalos, são cavalos especiais e merecem o seu carinho. Mantenha a carroça com toalhas brancas de renda, use chapéus bonitos para se proteger do sol e sorria para o seu futuro.

A menina entendeu e beijou-lhe o rosto.

_Falta ensinar mais, pare a carroça quando os cavalos espumarem deixe-os descansar na sombra, mantenha as ferraduras sempre em ordem e os cascos protegidos, são sapatos para os cavalos. Respeite a égua no cio e não se aproxime, esse momento é dela e ela fica muito sensível. Cuide da égua quando ela estiver prenha e depois deixe que ela amamente os potrinhos nessa paz de mãe. Os cavalos são diferentes das éguas, mas são bons, são amigos, são sensíveis, não pense que um cavalo não sente, ele sente diferente.

Nisso chegam ao riacho, desatrelam os cavalos das carroças e os deixam livres para beber água.

Marina, a filha, tira a cesta com o lanche dela e do pai, os dois sentam-se à beira do riacho.

A mocinha, pergunta ao pai como é que ele sabe tanto.

_Eu queria ser jóquei, mas o meu pai quis que eu estudasse. Ele continuou indo ao turfe, mas eu tinha que estudar. Isso agora não importa, hoje, não sei por que, estou feliz. Uma sensação de plenitude me invade, acho que é o dia bonito, o riacho, estou vendo você crescer de uma maneira saudável, não sei, hoje estou bem.

Pai, filha e cavalos em paz.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Mas acontece que eu te li e chorei! Mar de Memórias – Wesley O. Collyer

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Mar de Memórias – Wesley O. Collyer

Wesley O. Collyer trabalhou na marinha mercante e foi comandante de petroleiros, fala da vida em navios com uma clareza surpreendente.

Pelo acaso e sempre o acaso, esse livro caiu em minhas mãos. Através dele cresci, aprendi sobre os marinheiros, sobre a vida e a morte nos navios, os trotes, os inquéritos militares, que cada polícia tem a sua função e que não devem ser confundidas, que os motins acabam mal, que os navios podem afundar, que a vida e dura e que para o agiota só existe um dinheiro, o dele.

Aprendi que as mulheres de vida fácil se expõem aos piores constrangimentos e para elas, isso não é constrangimento, é ofício. Aprendi que, para um marinheiro, toda mulher é nua, eles encontram um jeito de a verem nua e que ela precisa impor o respeito mesmo sabendo que está nua, e viver a sua vida e não se prostituir se não quiser. A nudez e a prostituição são assuntos diversos. Todo o marido deveria saber que a sua honrada esposa já foi vista nua por outro homem e não há como impedir que tal fato ocorra, mesmo que ela seja pura e santa.

Aprendi que, se abrirmos a guarda, o homem covarde entra e espanca quem encontrar pela frente. Ele é covarde por natureza. A natureza muitas vezes é covarde.

Aprendi que todos fazem papéis de tolos, com ou sem a Patética de Beethoven. Aprendi a evitar o crime e aprendi a amar a marinha mercante e as suas exigências.

Um marinheiro que trabalhou 26 anos na Petrobrás, foi Magistrado Federal, Professor Universitário e advogado. Um livro firme, sem meias palavras, mas necessário.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Quadras

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Xxx

Exorciza o sofrimento

Da incerteza e confusão,

Pois a duvida é lamento

E te leva à perdição

Xxx

Desamor não chegue perto

Desse peito mui sofrido.

E não passe como incerto,

Nesse caso resolvido.

Xxx

Quem quiser que te acredite,

Oh! Sincera comoção

Em favor ao alambique

Com saudade da paixão.

Xxx

Eu compreendo esse seu ardor

E acalento essa emoção;

Da esperança faz-se andor

E se diz uma oração.

Agenda Cultural/Curitiba

A querida escritora Isabel Furini convida para o lançamento do livro Passageiros de Espelho – Editora Íthala, evento a se realizar no dia 26 de julho, a partir das 19:00 horas, no Palacete dos Leões, Av. João Gualberto, 530, Curitiba. Entrada franca.

A obra “Passageiros do Espelho” foi organizada pela escritora e educadora Isabel Furini. Ela convidou os participantes da oficina “Como Escrever um Livro” que orienta no Solar do Rosário para publicar um livro. Alguns aceitaram o desafio e aprimoram os trabalhos. Miguel Sanches Neto, convidado especial, participa com o conto “Viagem de Volta”.

O resultado são contos com estilos diferentes que vão da ironia ao drama, das descobertas de uma criança às lembranças de uma idosa. Foi respeitada a abordagem de cada um dos autores, são eles: a advogada Alessandra Magalhães, a jornalista e professora Alessandra Pajolla, o jornalista Bruno Camargo, a advogada Elayne Sampaio o mestrando na área de história Fernando Scaff Moura, o professor e escritor Fernando Botto, a poeta Maria Edna Holer de Oliveira, a professora e escritora Natália Bueno, o publicitário Ricardo Manzo, a escritora Sonia Cardoso, e a poeta e contista Zeltia G.

No lançamento a Dra. Regina Casillo, diretora do Solar do Rosário, será homenageada com uma placa comemorativa e a atriz, escritora e radialista Angela Reale realizará a leitura dois contos que fazem parte da Antologia.

Desde já agradeço o convite e convido os amigos leitores do blog com a permissão da amiga Isabel. Farei o possível para comparecer, mas a escritora sabe dos meus compromissos.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Se eu fosse simbólica, seria ininteligível

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A fada apareceu e a menina não viu. A mãe dela disse:

_Filha, olhe a fada.

Mas a menina deu de ombros.

_Filha, olhe a fada, repetiu a mãe.

A menina disse que a fada a olhava com raiva.

_Pois então vá lá e tire a raiva que a fada tem de você. Seja educada!

A menina foi e a fada disse que não conversaria com a menina:

_Eu sabia, você não gosta de mim.

A fada chamou o duende e mandou-o dizer o que acontecia,

_Você não é do nosso reino e a fada não pode falar com você senão ela vira humana.

A menina respondeu:

_E você pode, duende? Quem te permitiu?

_Um duende não é obediente, ele faz o que ele quer.

E a fada não falou com a menina, mas ela saiu falando umas palavras mineiras “trem bom” e com vontade de “comer torresmo frito”.

A mãe deu risada da arte da fada e disse que tinha sido proveitosa a prosa.

_A fada não me quer lá! Disse a menina arrepiada.

_Não vá, ué.

A mãe acabara de ensinar a menina a acreditar em fadas.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Refletindo a Honestidade

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No meu conceito, “a honestidade é a sinceridade de propósitos consigo mesmo respeitando os valores filosóficos do outro e as determinações impostas pela regulamentação legal para a boa e justa convivência em sociedade”.

Sendo assim, o caráter de tudo o que é honesto não se reflete em temer a regulamentação, quando esta é feita em caráter democrático e que respeita as diversas condições sociais. O caráter do que é honesto teme, entretanto, tudo o que transgride as condições determinantes da honestidade, porque essa transgressão faz perecer a sociedade transformando o que é tragédia em um cotidiano normal. E, quando a tragédia sai do seu estado natural, que é a vulgarização da transgressão em um determinado momento inadequado, os partícipes dessa mesma sociedade entram em conflito de ideias e valores partindo para uma reação de instinto e não de raciocínio criando a sensação de permanente tensão.

O honesto pode ser considerado um simples, mas nesta indicação de simplicidade se verifica e constata a previsão de um comportamento regular e aceitável perante a sociedade em que este vive. E, numa sociedade onde esse comportamento regular e honesto se encontra, as possibilidades de progresso surgem da própria condição do agir em conformidade de padrões. O honesto, pela própria simplicidade de propósitos, o que também é uma verdade relativa, exclui a vilania dos seus labores, nos seus favores e no amor às coisas da natureza humana.

Por outro ponto de vista do que é o honesto, é preciso dizer que o vil é abominável porque é a desonestidade para com a integridade física e psicológica do outro. O que é vil teme a descoberta da sua vilania muito mais do que a dos seus costumes.

Vale dizer que a honestidade é antes uma condição espiritual do que material tendo em vista que honestos e desonestos permeiam todas as esferas sociais e que, enquanto condição espiritual, a honestidade pode ser difundida como um valor, uma virtude, mas enquanto condição da matéria, a honestidade é uma condição sine qua non à sociedade e à sua regulamentação.

E, para concluir se pode dizer que este conceito aplicado pode produzir o desenvolvimento de um padrão de qualidade de vida minimamente aceitável nas diferentes condições de adversidades, sejam estas adversidades espirituais, naturais ou vindas de falhas humanas.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Paciência

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Sem querer, descobri um segredo;

O novelo da moça ao tear

Em silêncio recria o desejo

E a vontade do belo fiar.

 

À quietude obrigada e, tendo

Um casaco de lã a montar;

Tricotando da essência, o zelo

Do capricho, e esse nó atar.

 

Com um gato ao seu lado a miar,

Ou, um cachorro que morde um dedo

Desatento ao novelo, a espiar

A rodilha que encaixa ao enredo.

 

A paciência do tempo a airar,

Sem sequer apressar um triedro

Por vontade, um ensaio ao se guiar

A confiança na malha ao quedo.

domingo, 10 de julho de 2011

Fraternidade–Somos irmãos

Fraternidadeclip_image002Somos Irmãos

 

Quando aqui todos se amam

Cala a guerra e o rancor,

Luzes brilham e clamam

Nessa estrela de apor,

Pela cura a Xamã.

Tira d’alma essa dor

Dessas glebas que tramam

Contra o ingênuo favor.

Nesse caso, os que flanam

Rumo ao infindo Senhor.

Nesse encanto, o amanhã

Canta um novo hino ao ardor

Dessa fé assim pagã

E abre o laço ao candor,

Doce laço de irmã.

sábado, 9 de julho de 2011

Ideal de Bolhas de Sabão

Idealclip_image002de Bolhas de Sabão

As bolhas de sabão desaparecem,

São sonhos pequeninos, pensamentos

Perdidos; são premissas que merecem

Subir nessa garoa de passatempos.

 

São ideias que vem e logo se evanescem

Voltando à condição de alguns momentos

Inúteis de lazer que se parecem

Iguais e sem sentido no ar, fragmentos.

 

A bolha enquanto idéia que se ilumina

E deixa de ser bolha de sabão,

Transforma-se em objeto que fascina.

 

Conquista esse querer que determina

A ação e, se concorrer com a emoção,

Rateia com a razão e se predestina.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Meteorito

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Caiu uma pedra sobre o telhado

Nessa noite que se alongou;

Pedra vinda do extenso espaço

Nobre; espaço que se passou.

 

O homem segue um tanto encantado;

Troca a telha que se quebrou,

Chama o amigo meio desconfiado,

Conta e conta o que o céu causou.

 

O ouro em pedra a si destinado,

Luz e brilho que se encostou

Nesse medo do improvisado,

Nessa sorte se desgastou.

 

Vibra a Terra nesse versado

Nessa sorte que se pleiteou,

Gira o tempo nesse riscado

Via do tempo que se findou.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Há remédio Para Tudo

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Nanci tinha uma tristeza, não conseguia engravidar. O médico pedia a ela que esquecesse porque o problema dela não se resolveria com remédios, mas vontade de ser mãe não se esquece.

Durante o trabalho na clínica de fisioterapia, ela deixava escapar esse desejo inalcançado com alguns pacientes, que a consolavam.

_Não se preocupe, quando for o tempo de acontecer, acontece.

Nanci concordava.

Mônica, esportista, torceu o pé. Ela encaminhou para o colega especialista em fisioterapia desportiva. O colega Norberto pediu a Mônica que fosse ao médico novamente porque ele estava desconfiado que a Mônica tivesse outros problemas musculares além da torção. Descobriu que ela tinha algumas inflamações advindas da artrose e os seus músculos estavam encurtados e mal trabalhados, havia também má postura e desvio na coluna lombar. Em conjunto com as ordens médicas, começaram o tratamento.

Nanci tomou conhecimento da situação e soube que haveria um tratamento prolongado.

_Mônica, sinto muito pela artrose. Faremos o melhor que pudermos.

Passa-se um mês, dois meses e o tratamento é levado com bom humor. Passam-se três meses e Nanci pergunta quando é que o tratamento terminará ao Dr. Norberto. Diz também que ela não segura paciente e não aumenta o tratamento de ninguém e que a clínica mantém o conceito com seriedade há mais de oito anos.

O Dr. Norberto se aborrece com a dúvida sobre ele. O médico acompanha todos os exercícios e tratamentos através de um relatório de planejamento.

Nanci controla o tratamento da Mônica, há algo estranho nisso tudo. Chega mesmo a perguntar se a Mônica está acompanhada ou procurando um namorado e magoa deliberadamente a paciente.

De repente, todos criticam a fisioterapeuta, e dizem que a Mônica está visivelmente melhor. Mônica pede que não comentem na frente dela, diz que não é o caso e, se for necessário, o Dr. Norberto que indique outro lugar para concluir o tratamento.

_De jeito nenhum, eu tenho autonomia, eu pago aluguel.

Mônica pensava em desistir de se tratar e procurava locais com referências boas para os últimos dois meses de tratamento.

Aquele dia Mônica chegou para dizer que terminaria o tratamento em outro lugar. Mas naquele dia, Nanci a abraçou e disse que estava grávida e, ambas olharam em direção a linha do horizonte, emocionadas.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Menção Honrosa/ Carta Literária/Editora Guemanisse

Carta da psicóloga.

Curitiba, 04 de setembro de 2010.

Prezado casal Vicentino e Celeste,

Aonde o mundo vai com tanta pressa? Ao trabalho, trabalho e mais trabalho. É tocar o despertador bem cedo, arrumar as camas enquanto a cafeteira faz o café, tomar uma ducha, levar os filhos à escola e ir ao trabalho. O ambiente de trabalho às vezes é competitivo e é melhor mostrar a competência e o serviço. É preciso também que o ambiente seja cordial entre os colegas e controlar o celular evitando os assuntos particulares. Casa é casa e trabalho é trabalho.

Terminar o dia de trabalho e, ao voltar para casa, depois de pegar as crianças na casa da mãe ou da sogra, preparar algo para comer e depois colocar a louça na máquina de lavar louças. Colocar as crianças para dormir. Reveza-se um dia para conversar com as crianças e outro com o marido.

Terminado o dia é vestir o pijama e cair na cama para dormir como uma pedra. Os lençóis e o cobertor amanhecerão intactos. O cansaço é tanto que você dorme e não se mexe. O casamento acabará no ano que vem, mas por enquanto vocês dormem juntos, ou melhor, roncam de mãos dadas.

Chega o fim do mês. Vocês, o casal não conversou. Ela comprou um creme anti-rugas de uma vizinha e ele comprou uns pneus esportivos para o carro. O marido fica pálido e a mulher financia no cartão de crédito. Confraternização entre pais, professores e alunos na escola. No mesmo dia do aniversário da mãe dele. Ela vai ao salão, ele cuida das crianças. Ela se sente culpada porque gostaria de dar mais atenção aos filhos. Ele se sente ausente da família. Eles crescem e vocês não vêem. Não tem importância, daqui a pouco a correria será da família inteira.

O pai dela fica doente, doença não tem hora. Quando o casal volta para casa, o filho, que ficou assistindo televisão enquanto os pais saíram, conta que encontrou uma mancha de mofo nos armários. Como foi que o seu filho encontrou uma mancha de mofo no armário de madrugada? Vocês descobrem pulgas atrás das orelhas. Vocês se dão conta que o apartamento não está arejado e será necessária uma limpeza profunda para arejar o ambiente. A tarefa fica para o próximo fim de semana.

Vocês transformariam a sua casa em uma linha de montagem japonesa com padrão de excelência máxima se, o menino não continuasse assistindo a televisão até altas horas da noite e em conseqüência disso, não estivesse em recuperação. Nada aborrece mais do que filhos em recuperação escolar. O creme e os pneus já estão pagos e nada mais correto do que pagar uma professora particular e ajudar o filho nos estudos. Agora vocês estão exaustos e começam a discutir.

Ele reclama do churrasco que não comeu e ela da confeitaria, do cinema. Se vocês não fizeram sexo até agora, esqueçam! Formem um lar sem sexo. Isso não existe? Pensaram na separação?

Enquanto redijo, penso que eu também preciso descansar. Venham ao meu consultório e façam uma terapia de casais. Eu ajeito a situação de vocês. Pensem naquilo que vocês passaram durante o ano. Ninguém traiu ninguém? O cansaço não deixou? Ótimo.

A essa altura vocês já estão com raiva de mim. Como eu sei? Cansados, irritados, com uma agenda de lazer obrigatória, as conversas se resumindo em contas, compras e ajustes financeiros.

Eu nem sei como é que vocês se agüentam! Vocês se cobram demais. Não há dinheiro que pague esta dívida. Uma dívida de uma vida coerente e mal vivida.

Uma família que vai ao jardim zoológico e pára a fim de tomar um sorvete vive melhor do que vocês. É uma sensação enganosa essa a de que tudo está bem e vocês é que estão mal.

Eu não posso julgar a organização que vocês criaram, mas uma família não é uma empresa. É lógico que as contas têm que ser pagas e, o estudo é o maior patrimônio que os filhos recebem. Uma casa limpa dá prazer de morar.

Pela análise que eu faço agora, parece-me que vocês dão prioridade às coisas, quando a prioridade deveria ser o bem estar de vocês. O trabalho é necessário e as regras da empresa devem ser seguidas. O fim de tarde é que pode ser mais bonito. Se as crianças estão com uma das sogras, por que motivo vocês não pagam um cinema ou um lanche para a mãe ou a sogra e os filhos? Saiam para namorar à tardinha! A impressão é que vocês conseguiram, com muito esforço e dedicação, fazer do estresse uma norma de vida.

O estresse desestrutura, cria doenças e, por fim, tira o emprego.

Estou dizendo inconveniências? Eu cuido da vida dos outros e não cuido da minha? Lamento dizer, mas o raciocínio de vocês está errado. Uma psicóloga também se estressa. Vocês sabem o que é lidar com pessoas com problemas emocionais o dia inteiro? Estudar e se aprimorar para melhor atender os pacientes?

Vou contar uma experiência particular. Houve uma época em que estudei e trabalhei, e dei o melhor de mim. Venci! Num primeiro momento, eu venci. Depois os fatos se sucederam como digo. Fui ao banco e, já na agência, percebi que havia deixado o cartão do banco em casa. Voltei para casa e lembrei-me da comida congelada que eu havia comprado pela manhã. O cartão do banco estava no congelador. Tirei o cartão do congelador e o coloquei em cima da cama pensando que o havia colocado na bolsa. Fui ao banheiro e saí. Cheguei ao banco sem cartão novamente. Fingi que fazia uma operação sem cartão. Sorri para o funcionário e saí.

Esqueci o comprovante do estacionamento junto ao caixa eletrônico, mas não voltei ao banco para pegá-lo. Tive que mostrar os meus documentos e os documentos do veículo para pegar o automóvel. Voltei para casa, descongelei o almoço e senti que algo estava errado. A minha secretária, que sempre me avisava da agenda vespertina à uma hora da tarde, naquele dia não me ligou.

Almocei, escovei os dentes e, pronta para sair, fui verificar se o meu telefone celular estava com a bateria carregada. O meu celular não estava na bolsa. Eu o tinha esquecido no carro. Desesperada, eu me apliquei alguns testes de coordenação motora pensando que talvez eu estivesse próxima a uma crise isquêmica. Mas, se eu estivesse com uma crise isquêmica, eu teria passado mal e não teria chamado ninguém porque eu estava sem telefone. Foi nesse momento que eu me permiti sentar no sofá e me perguntar onde errava. Não era erro, era estresse. Eu, psicóloga, estressada e sem condições de atender ninguém. Tirei férias e transferi os meus pacientes para um colega durante um prazo determinado. Fiz passeios simples e ocupei o meu tempo com o bom ócio, ou seja, li livros e visitei pastelarias, comi frutas com calma, saboreando cada mordida e deitei na hora em que o sono vinha independente das marcas do relógio.

Espero ter respondido às suas indagações. Aguardo a sua visita.

Respeitosamente, Dra. Rejane kalos.

Carta Literária Publicada pela Editora Guemanisse

Carta de irmã para irmã.

Curitiba, 08 de agosto de 2009

Querida irmã Alessandra,

Eu jamais deixaria de te dizer o motivo pelo qual me afastei de toda a família. Eu precisava respirar querida. Estava sufocada com tantas punições exemplares para que eu fosse adaptada a um mundo frívolo de uma sociedade sem princípios éticos e respeito à dignidade humana. Você sabe o que eu passei e, assim, você sabe que eu tomei conta de casa da melhor maneira. Eles gostariam que eu fosse médica, mas a enfermagem me realiza. Pagamos uma cirurgia com a minha enfermagem, lembra-se?

Não posso me envergonhar de cuidar dos pacientes quando constato que todos estão bem de saúde. Eu fiz a minha vida com os meus braços, literalmente falando. Veio à tona na memória quando papai entrou em concordata e quase faliu. A casa cheia de pessoas ditas “finas” todos os dias. Você não presenciou a diversão delas enquanto a mamãe servia o chá. Convidavam mamãe para viajar e ofereciam hotéis de alto nível para o casal. Diziam à mamãe o quanto estavam penalizadas e o quanto poderiam ajudar comprando a loja. Uma delas me ofereceu um emprego e eu perguntei qual seria a ocupação e ela me ofereceu o emprego de servir cafezinhos. Ela se divertiu sem saber que aquele emprego poderia de fato me auxiliar.

E aquele amigo do papai? Eu vi os sinais obscenos que ele fazia enquanto o papai ficou de costas para ele e se dirigiu ao caixa da agência bancária. Os demais clientes o acharam de mau gosto. Eu estava afastada pegando um extrato no caixa eletrônico e, infelizmente vi a cena.

Toda essa gente dura, que perdeu a capacidade de se emocionar, que tem lições e mais lições a ensinar, regulamentos e normas para descumprirem às escondidas, é a gente que eu não mais quero conviver. É a gente que corrobora a minha intenção de continuar fora desse meio ambiente social. São pessoas que não fazem falta na minha vida, mas fazem falta na vida empresarial.

Alguns deles evitam a exploração do homem pelo homem. Eles compram, vendem e regulam a sociedade empresarial. O comércio foi o nosso berço, o nosso pão de cada dia. Preferia não ter nascido em berço tão distinto e tão culto. As nossas amigas contrataram psicólogas para me convencer do impossível. Usaram diversas escolas de psicanálise na tentativa de reverter a minha decisão. São moças humildes, tiveram uma infância sofrida e não hesitaram em aceitar algum dinheiro para me dissuadir do grave crime que é deixar de freqüentar a sociedade. Pelo menos elas ganharam o dinheiro delas, não é mesmo? Pensando em praticar o bem, elas me magoaram enquanto eu precisava apenas de apoio. Senti o que é ser só de fato. Você, minha irmã, foi e é o meu conforto. Quem sabe se essa vida social que temos não seria um lugar desconhecido que elas visitariam como se fosse um doce com sabor de encanto? Será que elas se esqueceram que as enfermeiras também trabalham com psicólogas?

Você sabe o que eu vivi e, por mais que a saudade seja difícil, você me compreenderá. Eu poderia te telefonar, mas eu quero guardar esse momento para sempre. Os homens de bem dizem que vale o que está escrito. Deixe-me brincar com você. Eu nunca te disse, mas eu te amo minha irmã.

As pessoas mais simples não têm a menor idéia das pressões que sofremos. Aquela empresária no shopping, que pediu licença para chorar em um vestiário de uma loja de departamentos antes de abrir a loja dela. Ela me disse que no momento em que as amigas a vissem, iriam atrás dela como moscas ao açúcar. Ela tinha dores e estava doente, mas a maquiagem estava pronta e o cabelo e as jóias também. Se as amigas dela soubessem que ela estava mal, iriam noticiar na coluna social e ela sequer se recuperaria da doença. Ela, conhecida nossa de vista, olhou para os meus olhos e sorriu com ternura. Ela já sabia da minha posição, os ouvidos dela sabiam de mim. Ela não tinha saída, eu tenho.

Como eu posso me interessar por amigos de sociedade? Eles amam os negócios e as amigas são parte de um jogo social, um relacionamento entre os melhores. Fui dura neste comentário, mas estou decepcionada com eles. Conheço profissionais de saúde, motoristas de caminhão e mecânicos mais sensíveis que eles. Um motorista de caminhão carregou a minha sacola de compras outro dia por mera gentileza. Eu agradeci e ele disse “de nada, querida”. Eu preciso de gente assim ao meu lado.

Querida irmã, enquanto eu me desabafo com você, interrompi a carta três vezes. Algumas das nossas conhecidas telefonaram e perguntaram o que eu vou fazer com os objetos que eu não vou levar para a minha nova residência. Elas não estão preocupadas comigo, mas com o meu computador, com as minhas bolsas e bijuterias (guarde o segredo, nunca diga a ninguém que eu não uso jóias). Pergunto-me se é assim mesmo em todos os lugares. Eu preciso descobrir sob as ordens de quem, aquele delegado subornou um policial para levantar o meu passado. Como é que eu soube? Nós temos a coleção dos melhores livros policiais na sala do plantão. E ele, o policial, me contou para ver como é que eu reagiria. Eu não tenho vocação para policial e disse isso a ele, entre outras coisas não publicáveis. Sabe o que eu penso disso? É melhor não escrever. Eu sou uma pessoa responsável. Ele que vá para Brasília. Eu amo a minha profissão. O meu meio de trabalho é diferente do dele, mas tão honrado quanto o dele. Não sei se ele me entendeu.

Querida, eu sei que não me livrarei tão facilmente desse ambiente, que para mim é nefasto. Mas, se permanecer nesse ambiente, que é errado sob o meu ponto de vista, eu estarei doente e não auxiliarei mais ninguém. Sou adulta o bastante para cuidar de mim e sou ajuizada até demais. Eu avisei a todos da minha mudança de vida e quem quiser que me ame desse jeito. Eu não suporto mais esse ambiente de desamor e frieza disfarçado em cuidados, em lições de vida e aconselhamentos que muitas vezes têm o intuito de me acorrentar. Eu me sinto mal aqui. O mundo lá fora não será um mar de rosas, mas a minha vontade é tanta de encontrar um caminho sem comportamentos obrigatórios e, eu estou tão feliz em tentar me realizar, que vou. O meu trabalho inclui tarefas simples tais como levar os doentes ao banheiro, dar banho, mas são serviços que ajudam a recuperação dos enfermos.

Vou ser livre e só, pelo menos por enquanto. Ninguém me conhece e eu só conheço os meus colegas. Você, que se adapta bem no meio, é uma lojista e convive bem com todo o público, está bem. Amor não faltou nem a mim e nem a você. Foram agradáveis quase todos os almoços em família. Temos um bom pai e uma boa mãe. Sorte a nossa que eles nos compreendem. Agora, os compromissos sociais são tão aborrecidos, que eu vou me arrumar como se estivesse empurrando o armário para limpar o chão. As especulações sobre quem está doente e a data do ponto final me irritam muito. Enquanto eu ajudo a adiar o fim de um paciente, tem gente que sente prazer na conversa doença. É de uma morbidez repugnante fazer apostas com dinheiro para ver qual dos amigos vai-se embora deste mundo antes.

O meu canto e esta carta têm a alegria da manhã, o perfume das flores, cheiro de um recomeço de vida. Ninguém abrirá ou fechará a porta para mim e, seu eu não me cuidar, a casa vira uma bagunça. Aos poucos, eu a enfeito. Na minha casa, essa gente não se sente bem. Eu quero é me sentir bem. Eu quero contar com você.

Eu poderia ser médica. Eu passei em segundo lugar no vestibular de enfermagem. Eu passaria em medicina. Eu não quis. O status, sozinho, não me satisfaz, eu preciso de gente. O meu “eu” não nasceu para os negócios. Conto com você nos momentos difíceis, porque eu sei que eles virão. Eu ainda terei que enfrentar algumas novas lições, eu e você sabemos disso.

Guarde esta carta para que possamos a ler em conjunto daqui a alguns anos. Vamos nos divertir com ela.

Um abraço e um beijo para você (dá-los-ei aqui em casa antes de arrumar as malas).

Com todo o carinho da sua irmã, Irene.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Deixe-me agradecer à Madeira de Cetim

Volto jáRindoSmiley sarcásticoMande um beijoPazPresente com laçoAlegreGarota paquerandoSmiley contando um segredoGargalhando

 

A Bete postou o meu nome em letras imensas no blog dela. Mostro para vocês:

"Yayá"

Não tenho pena de ti, teu nome foi consagrado,

Teu samba desafia o Senhor com canção de Bomfim.

Coração, esse Ioiô, tamborim de couro rasgado.

Bete - Sita

POSTADO POR MADEIRA DE CETIM ÀS 11:06

2 COMENTÁRIOS:

Artes e escritas disse...

Sinceramente, não dá para ter pena de mim. Amo esse nome com tantos significados, mas que faz parte do samba também. Contam que o meu pediatra me colocava sobre os ombros e saía cantando pelos corredores do hospital(o consultório era no hospital): No bico da chaleira (Juca Storoni)
Iaiá / me deixa subir esta ladeira / Eu sou do bloco / Mas não pego na chaleira / Na casa do Seu Tomaz / Quem grita / é que manda mais / Que vem de lá / Bela Iaiá / Ó abre alas / Que eu quero passar / Sou Democrata / Águia de Prata / Vem cá mulata / Que me faz chorar" e eu não chorava, eu ficava toda feliz montada no pescoço dele mesmo com dor de garganta. Obrigada pela gentileza e um abraço, Yayá.

4 DE JULHO DE 2011 15:34

Madeira de Cetim disse...

Fico feliz que tenhas gostado, um nome tão belo destes, veio assim, de estalo e inteiro, como tudo que escrevo. Abçs.

4 DE JULHO DE 2011 16:47

Ainda inseriu link:

http://www.youtube.com/watch?v=LJ1koPHdZCI&feature=player_embedded

Os Antigos Diziam a Sério

Os Antigos Diziam a Sérioclip_image002

Mas não explicavam porque o diziam, vamos lá àquilo que eu consegui saber:

Deixe as portas do armário fechadas depois de pegar alguma roupa”

Motivo: gavetas e portas mal fechadas facilitam a vida dos insetos, e provavelmente o mais velho iria ser picado por algum destes insetos, com conseqüências imprevisíveis.

“Futebol, política e religião não se discutem”

Seria uma falta de educação, mas é muito mais que isso: Se você é de uma religião e o seu noivo de outra, case-se em uma terceira igreja e não complique o resto da sua vida e a dos seus filhos.

Motivo: Essa eu ouvi de um religioso, que disse que o amor vem de Deus aos homens e mulheres e a benção de Deus ao casal virá da mesma maneira sem disputas de poder.

“Não brinque com o cachorro”, muito menos se ele estiver na hora da refeição.

Motivo: Você perderá o seu amigo para sempre.

“Mestiça é toda a criança que ao nascer quebra parâmetros” arraigados nos costumes familiares e não importando a raça, um dia ela será identificada como mestiça por alguém.

Motivo: Pizza mezzo_a_mezzo.

Essa é repetitiva: “Aceite a vida como ela é”, é o óbvio, para que perder tempo em discussões inúteis?

Motivo: Cada madeira tem o seu tino e o seu destino, até mesmo aquelas que jamais serão tocadas porque são especiais e precisam da preservação para perpetuar a espécie.

“Não se costura no dia de domingo” porque a semana não rende.

Motivo: Se você passar o domingo em uma atividade, chegará à segunda-feira cansada e terá uma semana que renderá menos porque você está cansado. Por outro lado existem pessoas que precisam fazer o seu domingo porque trabalham aos finais de semana e aí, vale qualquer outro dia da semana para transformar em domingo.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Hiperativo

O Hiperativoclip_image002

Cinema, fim de tarde, bom para relaxar. Peguei uma comédia. Ao meu lado sentou-se um jovem e a namorada. O filme começou.

O jovem começou a mandar mensagens pelo celular e para que a namorada não o visse, virava o celular para o meu lado e digitava. Tirou a minha concentração uma, duas e, na terceira vez, eu tive a impressão que as mensagens do celular estavam mais interessantes que o filme.

Aproveitando-me que o jovem não saberia que eu não conseguia ler as mensagens, estiquei o rosto e o pescoço para fingir que conseguia ler todas as mensagens. Ele tampou o celular com a mão. Voltei à visão para assistir o filme. Ufa!

O jovem deu um beijo saca-rolha na namorada, problema dele. Pelo visto ele gostou, porque a japona de nylon que ele usava extrapolou os limites da poltrona dele e invadiu a minha enquanto ele se espichava para aconchegar à namorada. Com jeito, empurrei a jaqueta dele para a poltrona dele, que seria o lugar onde ele deveria estar sentado, mas ele estava mais para lá de que para o centro.

Voltei ao filme. Não é que o jovem ficou agitado e queria tudo ao mesmo tempo! Ele alternava o celular com o filme, o copo de refrigerante e a namorada.

Eu queria assistir o filme e não a atuação do jovem ao meu lado. A namorada cochichou perguntando se tinha alguma mensagem importante no celular. Ele disse que não e ligava o celular no lado da jaqueta que quase estava na minha poltrona. Depois ele virava e beijava a namorada e tomava um gole de refrigerante, olhava para a tela e ria como se estivesse assistindo o filme. Por incrível que pareça o filme era bom e eu assisti como se a luz estivesse acesa e o telefone tocando. Gastei toda a minha concentração no filme.

Ele bem que viu que eu estava de olho no comportamento dele e digitou olhando para os meus olhos para ver se eu conseguia ou não ler o que ele digitava escondido da namorada.

O filme acaba bem, eu paguei para me divertir e o filme acabou conforme o combinado. Quando aparecem os letreiros finais eu me levanto um tanto cansada e fico em pé para ir embora pelo lado do casal.

Ela disse que gostava de assistir até a última letra. Eu olhei para ele com ar de leitura do tipo “estou sabendo tudo”. Ele disse que também gostava do letreiro, mas que precisava ir ao banheiro devido à quantidade de refrigerante tomado e levantou-se para sair. Ela disse que o letreiro ficaria para a próxima vez: “Não é, amor”.

Agora eu sei o que é hiperatividade. Da próxima vez, troco de lugar...

domingo, 3 de julho de 2011

Samba Acompanhado

Samba Acompanhado

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O sambista deu o tom,

O compasso e a canção,

Desse arranjo sai o som

Sincopado e o batidão.

 

Participam o gongo

O pandeiro e o violão,

Mãos no surdo e ao ribombo;

Sincronia nessa ação.

 

Acrescentam o adorno

Ao que afina essa nação,

A cuíca e o seu ronco

Que não perde a emoção.

 

Agitado o frisson,

Encabeça a reunião

Dirigindo a esse ponto

Em perfeita comoção.

sábado, 2 de julho de 2011

História de Ninar a Chuva

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Pouca gente hoje em dia sabe o que viver no mato, em casa de chão batido, e o povo não sabe mais se defender dos perigos. No mato tem perigo e muito para a gente da cidade.

Eu cuidava da plantas da dona Emerenciana. Ela visitava as terras nos fins de semana e levava todos os seus parentes. Chegava lá, fazia uma vistoria na casa, abria o fogão de lenha para ver se estava limpo, olhava o chão batido de terra varrido pela minha mulher. Ela era bondosa e sempre trazia umas latarias para a gente experimentar. Rio até hoje do enorme vidro de azeitonas que ela deu para nós e a gente procurando saber onde colocar de modo que ela ficasse contente. Bons tempos da couve fresca no pé, da alface limpa.

Ela chamava o capataz, que vinha logo com o facão para defender a criançada das cobras. Ele levava toda a turma de crianças para conhecer o mato, onde ainda não havia plantação.

_Olhem para cima e se virem algo parecido com cipó entre os galhos, me avisem. É cobra e elas são traiçoeiras. Prestem atenção, se uma cobra te morde perto da cabeça é morte certa. E se tiver cobra é porque tem rato no chão, não mexam em buracos na terra porque vocês não sabem qual o bicho que o fez.

Ele ia à frente agitando o facão por entre as folhas das árvores. A aventura demorava a tarde e depois as crianças eram recolhidas para o lanche de pão caseiro, café, leite de vaca tirado fervido na hora. Nem pensar em leite sem ferver, naquela época o povo morria de febre aftosa, não tinha vacina fácil de comprar e a gente dependia da visita do veterinário para aplicar a injeção nas vacas.

Todos tomavam o café da tarde, os adultos ficavam proseando na sala, os meninos jogando bola lá fora e as mocinhas ficavam no quarto, sempre com a janela fechada e o lampião aceso mesmo de dia, segredando bobagens, sentadas nas camas com colchão de palha e travesseiros de penas de ganso. Naquele tempo a mulher, fosse adulta ou fosse criança, não sabia se defender dos bichos do mato. Era aparecer uma taturana e a gritaria começava para deleite dos meninos que se sentiam mais fortes e confiantes à maneira das meninas medrarem.

Quando o céu ficava cinzento, a dona Emerenciana dispensava o café e comandava a volta dela e dos seus parentes para a cidade.

_Tenho receio que o carro atole e sejamos obrigados a passar a noite aqui. Criança e banheiro lá fora dão muito trabalho à noite. Tem que levar, esperar e trazer para a casa. E o banheiro é um pouco distante e a curiosidade deles é imensa.

Eu fazia a sacola com as galinhas vivas e o porco salgado na banha, todo o preparo para a comida não estragar na viagem. As verduras, ela mesma colhia, pois gostava de escolher aquelas que ela achava que estavam no ponto. Depois que eles se iam, a casa ficava no barulho dos bichos lá fora, que se faziam grandes e tomavam conta da imaginação da gente.

Está quase na minha hora de dormir e estou na cidade e, às vezes me pergunto onde é que eu encontro tudo aquilo de novo.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Ingenuidade

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O moço do amendoim

Avisa que a fornada

Está chegando ao fim

Aos ares da animada.

 

A malta foi mesclada

Nas voltas do carmim,

De versos encantada,

Que iludem a ti e a mim.

 

Passou suave esse ínterim

E foi-se o trem na esteada;

Na turba do alecrim

Não sobra um na passada.

 

Os fogos de festim

Enfeitam a encerrada

De luzes ao jardim

Na chuva iluminada.