Provavelmente muitos de vocês conhecem a Assunta, nascida no Bráz, na cidade de São Paulo. Ela mora no coração de muitos; simples, falante e generosa. Ela tem respostas na ponta da língua para se defender e ninguém passa impunemente à sua presença. Um tanto quanto exagerada, ela diverte e comove os amigos. Os adversários dizem que ela não tem uma educação conveniente e ela dá de ombros:
_A mal educada sou eu, por que você se preocupa?
Certa vez um homem resolveu provocá-la para ouvir as respostas dela.
_Assunta, você se comporta como macho. Não venha me dizer que você é feminina para o seu marido que você não me convence. Será que você é assim porque não teve pai?
Ela estufou o peito e pôs uma das mãos na cintura e respondeu:
_Eu não tive pai? Mas eu sou sua irmã amada! Se não foi o teu pai que me fez, foi o meu que te fez. O meu não deixava um rabo de saia sossegado.
O homem desatou a rir e foi embora do Bráz. Assunta é amada no bairro. Quem vê de fora, pensa que os seus amigos se aproveitam da sua simplicidade. Uma vez por mês ela serve um talharim aos quatro queijos para cinqüenta pessoas. A casa não é grande, mas os convidados pegam os pratos e se sentam na garagem, na varanda, na cozinha e assim por diante.
Certa vez, duas senhoras ficaram penalizadas ao verem a boa vontade da mulher para com todos os seus conhecidos e forem conversar com ela. Perguntaram o que ela ganhava com esses almoços, além da quantidade de pratos para lavar e guardar. Para pressioná-la contra aquilo que elas consideravam errado, disseram que ela queria se mostrar como generosa perante um possível teatro de amigos interesseiros.
Assunta não teve dúvidas e respondeu:
_Para aparecer eu tenho as melancias no quintal. Eu reúno os meus amigos porque eu não sou fofoqueira e não sei quem passa fome ou quem perdeu o marido para a amante. Eu faço o talharim e convido todo o mundo que eu conheço e ninguém tem nada a ver com isso. Eu faço a massa e eu pago o gaiteiro, portanto o problema é meu! Eu me sinto bem e, se eu estou bem, a alegria é minha.
Perguntaram se ela não se cansava.
_Cansar? Sofrer é da vida, mas amenizar o sofrimento pode ser tarefa da gente. Não nasci para remoer problemas, nasci para fazer as pessoas um pouco menos infelizes neste vale de lágrimas. Graças a Deus eu posso fazer esses almoços.
Aqueles que vão ao almoço da Assunta, comem pêssegos e figos em calda com creme de leite de sobremesa. O gaiteiro toca a tarantela para a dança ajudar a digestão. A festa encerra com pão de queijo, rocambole de goiabada e café com leite.
Quem não conhece a Assunta, precisa saber que ela existe e que ela não faz política com festa, ela se diverte quando os outros se divertem, não à custa dela, mas junto a ela. Assunta não machuca, cicatriza a alma.