Toda Semana é Recomeço
Não adianta a pressa
Sem a esperança,
Qualquer confiança
N'alma é promessa.
Não que se impeça
A boa lembrança
Que gira e dança
Sobre a travessa,
Mas que se peça
A paz, bonança
De quem descansa
E recomeça.
É um blog com artes e contos, crônicas, comentários, imagens e, arteiros em geral
Toda Semana é Recomeço
Não adianta a pressa
Sem a esperança,
Qualquer confiança
N'alma é promessa.
Não que se impeça
A boa lembrança
Que gira e dança
Sobre a travessa,
Mas que se peça
A paz, bonança
De quem descansa
E recomeça.
Lenitivos
Cuidados redobrados
Devem ser objetivos,
Caminhos respeitados
São abrigos e motivos
Nesses dias continuados
E iguais, convidativos,
Cativos e isolados,
Mas também gradativos;
São essas cores, os dados,
E somos fugitivos
Da tristeza, ocupados
Ao dia a dia, lenitivos.
Evanescente
Hoje caminhei pela praça, queria conversar com uma árvore e me sentir um grão de areia entre tantos os que formam o espaço de esportes.
Senti o perfume que estava pelo ar, silvestre, respirei com calma, pensei ou não pensei, que me importava o pensamento nessa manhã de sol.
Apenas deixei fluir a energia que pairava entre eu e o universo, esse desconhecido.
Era eu quem devolvia à natureza a beleza que ela inspira; às crianças, aos jovens, algo inusitado, um sorriso solto e leve, como se me libertasse de todo o peso, como se fosse eu a terra que não pertenço, e a areia que passeia conforme o vento deseja, sem vontade, sem preguiça, longe das atribulações que o dia a dia provoca.
Caminhar pela praça, pisar na grama, volver a areia, olhar para os pássaros infinitamente companheiros nesse dia.
Cheguei em casa como se tivesse caminhado quilômetros, ou alguma espécie de caminho santo.
Depois do almoço, um sono irrecusável apareceu.
Acordei quase na hora de tomar mais um café.
Entendi o dia, a vida e a espiritualidade, o imaterial, o transcendente, mas também da necessidade dessa experiência chamada realidade, porque é ela que nos faz perceber que existe o não palpável, o desejável, essa outra realidade abstrata que, por ser desconhecida, chamamos de divina.
Qualquer palavra não descreverá as sensações desse dia, que eu não queira, de forma alguma, organizá-lo, sistematizá-lo, enquadrá-lo em alguma realidade conhecida e palpável.
Um bem-te-vi chegou à janela agora mesmo, e parecendo sorrir, me disse para voltar outras vezes nesse lugar, parece que ele é o dono da praça, e ficou feliz.
Coisas da Internet / Crônica
Quem não gosta de poesia, não tem luz de emergência. Gostei da vizinha. Eu gosto deles por perto.
A rede de internet tem um alcance inimaginável.
Outra vizinha veio e disse que não liga a mínima para o que eu faço, desde que ela esteja bem e eu também. Gosto de vocês também.
Tem aqueles que odeiam o lado lúdico das coisas e só apreciam quando estou limpando a casa?! Eu os escuto igualmente desde que com respeito.
Onde se viu a literatura perturbando o sossego dos moradores.
Vamos ter reformas, mas só no ano que vem e, depois da pandemia.
Uma vizinha, postou uma imagem do edifício no meio da literatura? Postou. Beijo para ela. A tarde foi repleta de atenções com os meus vizinhos e com outras pessoas do edifício.
Estou exausta, mas por que?
Qual é o problema de se gostar de literatura?
A função da literatura não é a de dar sorte, a de enriquecer, a de trazer fama, ou qualquer outro fato similar.
A função da literatura é trazer novas ideias à vida das pessoas, tirar a falta de conhecimento quando o assunto é a experiência vivida, pois os personagens têm vida própria e nos contam das suas experiências nas mais diversas áreas da existência.
Querer que as pessoas sejam ausentes da leitura, é instrumento de dominação e manipulação praticada pelo ser humano desde que o ser humano existe.
A literatura é uma atitude solitária, concordo, mas a arte, não.
Independente da condição da estratificação social, acredito que todos têm acesso à cultura, seja através dos livros, dos filmes, das músicas, das pinturas artísticas permitidas nos muros da cidade.
Negar o acesso a essa cultura, é negar o direito à alfabetização.
Até aviso ouvi:
"A senhora se cuide porque vão aprontar uma coisa feia."
Agradeço os avisos, mas penso ser da mais absoluta estupidez tentar impedir que alguém leia José de Alencar, ou Eça de Queiróz.
Parece que o único objetivo é para poder chamar o outro de analfabeto, quando o analfabeto é aquele que precisa muito de ajuda, pois não consegue ler a placa constante do ônibus que indica a rota que precisa para chegar em algum lugar.
Quem nada sabe, não pode ajudar a essa pessoa que sente prazer em chamá-lo de analfabeto.
Eu, no entanto, feliz de saber que um jovem escritor foi criado em meio aos evangélicos, porque os evangélicos precisam ler mais, conforme conversa tida na igreja.
Depois, essas mesmas pessoas que sentem tal prazer abjeto se queixam das situações do cotidiano sem preceberem que elas são parte da causa da situação.
O que se deseja é que todos tenham acesso à cultura sem se sentirem não merecedores desse acesso.
Acreditem que existem pessoas que proibem a cultura. Não, não estou falando de governo nenhum. Nem daqui e nem de nenhum outro lugar do planeta. Estou constatando uma realidade, que é a de considerar a cultura algo somente para quem a possa ter, como se não fosse possível a qualquer pessoa que saiba ler e escrever, abrir um livro e saber o que está escrito dentro dele.
Estamos em meio a uma pandemia, um caminho difícil para a humandade.
Continuem a ler! continuem a ler! Sejam os leitores quem forem, pois a troca de ideias, de culturas e experiências é o que traz o desenvolvimento ao ser humano.
Grata ao blog por desabafar.
Intuição
Essa intuição
Me leva a crer,
Minha razão
Sem poder ver,
Que é vocação
Servir e ser
Toda a intenção
De se entreter
O coração,
Quando a querer
Faz da oração
O seu saber;
É uma doação
A se escrever
Numa canção,
E derreter.
Placidez
Pensei que a curiosidade
Tivesse se ido de vez
Junto com a mocidade,
Que hoje não é senão talvez,
Mas sinto a preciosidade
Que é, quando sorriu e se fez
Bela atemporalidade
De mim, querendo outra vez
Descobrir felicidade,
Porque vivi de um a dez
Mimos, nessa suavidade
Que veio e trouxe a placidez.
O Meu Segundo Livro / Reflexão
Depois de conseguir que a torta de carne caísse inteira dentro da pia da cozinha, e enquanto isso a panela de pressão extrapolar-se e sujar todo o fogão, mereço assuntos amenos.
Pensei no segundo livro significativo: O Pequeno Príncipe, de Saint Exupery.
O primeiro livro foi Reinações de Narizinho, porque eu queria ter um nariz arrebitado, embora me dissessem que não seria possível fazer a modificação porque ele era pequeno para modificações, e eu fui a Narizinho de nariz pequeno e não arrebitado, mas li o livro inteiro.
Houve um festa lá em casa, e nem era o meu aniversário.
Uma parente de minha mãe levou o livro de presente para mim. Professora de Educação Artística.
Eu exultei: tenho o meu segundo livro!
Exultei porque não queria mais ler nenhum outro livro tão complicado como Reinações de Narizinho, ele era muito complicado de ler aos oito anos.
Esse foi o livro que também li inteiro, mas até hoje acho que não entendi, porque eu achava a professora de matemática muito mais iteligente do que aquele homem que vivia num planeta fazendo contas. Eu também achava o pequeno príncipe meio sem-noção, porque ele gostava de uma rosa numa redoma, e as rosas em redoma, que usualmente eu ganhava, ficavam em cima do balcão e nunca gostei delas mais do o tempo que elas duravam.
Anos depois, fui ao cinema assistir o Pequeno Príncipe. Como as amigas achavam que provavelmente seria um filme para misses, eu tive que convencer.
Meio Tempo
Meditação
Sobre esse tempo
Que é a imprecisão,
É a introspecção
De algum meio tempo,
E a decisão
Por convicção,
Leva-se ao vento.
Online
Não consigo acompanhar
Meus grupos de celular,
Mas gostaria de dizer
Que passo aqui e ali e por perto,
E me deixo a desejar
Em tela que é de envesgar
Aos óculos para ler
Outro tanto, e não saber
Do muito que ficou no ar,
E que não posso embarcar
Porque esse desconhecer
É a busca a não se perder.
Uma Canção
Frio aconchegante,
Leve, de outono,
Que vai, galante,
Longe do dono,
Um retirante
Que não tem sono
Porque é vacante,
Conhece o crono;
Esse migrante
Que vem autônomo,
Sério e constante
E deixa um tono.
Maria Eustáquia / Miniconto
Era amigas de colégio. Leilane foi passar as férias na casa de Maria Eustáquia.
O pai de Maria Eustáquia convidou pessoalmente Leilane para passar as férias na sua mansão.
Houve um consenso dos que souberam dessas férias: não deveriam ter sido do jeito que foram.
Leilane era de uma inteligência ímpar, pois não era dela, tinha facilidades que até parecem mentira. Leilane tinha um telefone público ao lado dela na hora que quisesse, o que, considerando a infância, era um absurdo de se ver. Emprestava o telefone público que ficava dentro do quarto para quem quisesse ligar para outra pessoa, pois nenhum adulto ficaria sabendo.
Maria Eustáquia não era tão esperta quanto Leilane, e possuía mais de dez telefones, mas todos constavam da lista telefônica como seus.
Ninguém nunca perguntou dessas férias. Ninguém queria saber. Ambas tinham pai e mãe, e era da conta deles tanto o convite quanto a permissão.
O que se sabe é que Leilane até hoje é atrevida, inteligente, quase feroz sem ser selvagem.
O que se sabe é que Maria Eustáquia é introvertida, anda acompanhada de duas amigas quase sempre.
Essa história acaba assim, mas se puder deixar um bom conselho para vocês é que fiquem sem querer saber dessa história, pois é um bom conselho.
Esse é o tipo de história que não é para pessoas comuns, como e e você, leitor ou leitora.
Folhas de Outono
Particularidades minhas
Que caminham meio que sozinhas,
Mas não mais desacompanhadas,
Porque permanecem estradas
Por onde passam ribeirinhas
Aves recitando adivinhas
Das prosas já desconversadas,
Das singelas às engraçadas,
Mas que seguem as mesmas linhas,
Dias, meses, anos de folhinhas
Pardas, pelo outono secadas,
Que enfeitam o dia, pois são aladas.
Desgaste
Por certo é esse desgaste
Que envolve a humanidade,
Sem tempo que se gaste
Sem tensão, à boa vontade,
Nem há tempo que baste,
E exigida é a humildade
Para que não se arraste
Ao sabor da vaidade,
Que parece um guindaste
Da autoestima em acuidade,
Mas que é apenas desbaste,
Com rotina e saudade.
Distanciamentos
Não peça pensamentos,
Encontre-os sem querer
Nos quintais dos momentos
Que passam sem se ver;
Que já se foram, lentos,
Ou insistem por conter
A verdade dos ventos,
Leves a percorrer
Esses distanciamentos
Convenientes por ser
Desses temperamentos
Onde não há o que dizer.
Cartão-Postal
Daqui a pouco, o quase normal
Mascarado, nesse resumo
Cansativo, cartão-postal
D'uma viagem que é ficcional,
Essa imagem, esse consumo
De visita ao alcance virtual
Que faz vista, mas que é especial,
Porque nela, há o tempo que arrumo.
Mitológica
Volto à mitologia,
É minha companhia,
Mas não só minha, agora,
É boa amiga, diria,
Consciente todo dia,
E nunca se demora;
É a grega koinonia
Céu brilhante lá fora.
Ser e Não Ser / Reflexão
Ser e não ser ao mesmo tempo, questão relevante que a filosofia pode explicar.
Existe esse lugar onde não se é e não se foi, mas se faz como se fosse.
Esse lugar é real, quem é irreal é quem é e não é ao mesmo tempo.
Não é porque não tem o conhecimento necessário, mas faz porque ilumina o caminho dos demais em situações controversas ou difíceis.
Esse é o limiar da filosofia quando trata do ser temporal e do ser espiritual.
A questão é exata na vida de algumas pessoas:
_Isso eu faço, mais não posso porque não consigo._
O que não consigo pode ser que um dia, no futuro, consiga, mas e o futuro sabe disso?
Pode haver situação em que seja necessário exatamente isso, que é ser e não ser ao mesmo tempo, mas no entanto se vive em função desse limite invisível como uma obrigação, parece que a humanidade aprecia esse estágio atemporal, parece que fornece a sensação de futuro, e o futuro depende do tempo, e o tempo desconhece o futuro.
Foge à razão o compreender de toda a atividade compreendida nesse parâmetro, que é real e passível de causar sensações espirituais na existência dos demais.
A existência física compreende muito além do se sabe, mas o fato é que as teorias não conseguem explicitar com exatidão do que se trata, e como elaborar uma definição sobre isso.
Não é questão de teologia, porque é uma experiência física e sensitiva, sobre a qual não se tem domínio, não importando os conhecidos e vulgares amor e poder, que até lembra aquela canção pixada como "brega", que muita gente ouvia e gostava.
Talvez esse limite exista para demonstrar a teoria ainda não definida com exatidão pelos matemáticos.
Talvez essa exatidão esteja necessariamente na luz que não se conhece, mas que é necessária que venha a ser sentida, que esteja no universo das sensações humanas de forma racional.
Grata pela leitura.
Troca de Conhecimento
A pandemia não deve impedir a troca de conhecimento, o que é diferente das diversas informações úteis que os meios de comunicação trazem à população.
Conhecimentos de várias áreas foram observados, mas em resumo, posso compartilhar.
Sobre comportamento, foi observado que não importam as palavras quando elas especificam um sofrimento de quem não se sente bem em dizer, pois as palavras críticas duras ditas por boca alheia contam melhor de uma dificuldade. Em resumo: deixe que a ofensa seja impessoal, porque é uma propaganda a favor de quem passa pelo problema, e expõe o problema publicamente com menor constrangimento. Pergunto: existe discriminação positiva?
Outra constatação comportamental é a de que as outras pessoas esperam coerência umas das outras. É relativamente simples de ser coerente. É muito melhor lidar com quem é desse ou daquele jeito, com algumas variações para mais ou para menos, aceitáveis.
Há questões que não são puramente comportamentais, mas espirituais, a missão espiritual deve ser continuada. Digo por mim, pois não sei que missão musical é essa descrita por muitos como a erudição dos pequenos ouvintes. Só se percebe que a interrupção de uma missão espiritual é inconveniente quando começam a surgir oe entraves, ou seja, surge a necessidade de que essa missão espiritual seja cumprida. Não existe a intervenção humana nesses entraves, mas existe uma necessidade de intervenção por parte de quem deve cumprir a missão, onde os valores espirituais devem ser mostrados. É tão complicado explicar quanto o entendimento do que está de maneira conceitual ao ser.
A troca de conhecimento racional e relativa ao meio ambiente, às vezes precisa de um momento para ser feita, mas necessária. São conhecimentos de tipo se é isto, foi aquilo; se há isso, é por este motivo; se pode ser relativizado, não se deve ser exato, e assim por diante.
A pandemia não pode impedir a troca de conhecimentos, técnicos, científicos e tecnológicos. O conhecimento melhora a qualidade de vida.
Havia uma teia de aranha sobre uma das portas aqui em casa. Não vi, mas avisada, retirei com o auxílio do aspirador de pó, e o pior é que cuidei tanto de outras higienizações, que me aborreci ao ver a teia de aranha, mas é problema do distanciamento social.
Distanciamento social que traz pensamentos e muitas trocas de conhecimento.
Espero que possam aproveitar estes pensamentos.
Reverberação Sobre um Trecho de Texto de Clarice
Não se desfaça,
Apenas faça,
E se aprimore,
Orações? Ore
Pelo que passa,
Tanta desgraça,
Mas colabore.
Se quiser chore
Quando em desgraça,
E coma a traça
Que descolore
A cor, decore.
Tantas Questões / Crônica de Supermercado
Foi o que contaram. Um homem perdeu o emprego no ano passado, e foi convidado a trabalhar noutro estado, longe do Paraná.
Saiu daqui entusiasmado, iria começar de novo, tinha promessa de emprego feita por gente séria.
Chegou no outro estado e era tudo verdade. O emprego estava garantido, o fim de ano foi repleto de culturas e pratos típicos. Era feliz.
Veio a pandemia. Em abril deste ano perdeu o emprego porque a empresa faliu.
Viu-se obrigado a viver de trabalhos rápidos. Ele iria comprar uma casa, mas é obrigado a morar nos arredores e comer o que consegue.
Pede aos conhecidos daqui da cidade que arranjem um emprego para ele, mas que consigam a passagem de volta à Curitiba.
Uma vida destruída, em termos, porque os amigos estão providenciando a passagem de volta.
O que esse amigo do homem que está fora, ponderou, é que as pessoas devem procurar melhorias, mas com cuidado.
O supermercado colocou na entrada uma árvore de Natal grande, mas os personagens de Papai e Mamãe Noel em miniaturas, e Jesus na árvore, no berço encaixado e preso sobre os galhos, numa cena tocante, mas que espelha a visão de 2021 sob o ponto de vista de quem percebe a realidade com a rudeza do que pode vir a ser 2021.
Ir ao supermercado faz parte da minha realidade, e de tomar conhecimento da realidade das pessoas.
Este texto não comento, espero que cada leitor que o leia, possa reflitir sobre a realidade de hoje.
Crônica de Lixo Reciclável
Ele foi pegar a lista dos colegas para o jantar anual de fim de ano.
Chegou em casa pouco depois com a lista.
No verso da lista tinha um poema.
_Que poema é esse? Perguntei.
_Que poema? Aonde é que você está vendo um poema?
Respondi que ele lia o verso da folha, que aliás estava pela metade, e eu lia o poema do inverso daquela folha.
_Hum?
_É verdade! Que poema é esse? Você ganhou um poema?
Ele virou a página ao contrário e viu que havia um poema nela.
_Ah, eu pedi um pedaço de papel para anotar quem estaria na reunião e ela me deu este pedaço de folha, dizendo que era lixo. Até sorriu um sorriso esquisito, como se estivesse se livrando de alguma coisa.
Perguntado sobre quem era a moça que havia dado o papel, ele disse que era uma funcionária nova, que não a conhecia, pois havia alguns anos que não se dirigia àquele lugar.
_Você fica com a lista, e eu fico com o poema, que tal?
Olhou e disse:
_Isto é lixo, não tem valor cultural, tanto que foi me dado como rascunho.
A lista do jantar vai para o lixo, mas o poema fica.
Digitalizo o poema que deveria estar no lixo, que não sei quem escreveu, e nem porque alguém ficou com tanta raiva do poema.
Se alguém souber da autoria, passa aqui no blog, que eu dou os parabéns e até retiro o poema do blog, se for o caso.
Toda reciclagem é necessária, e a espiritual também. O poema tem mais de trinta anos e estava guardado comigo. Liberto o poema, que não é meu, nem seu, e nem sei de quem, como parte de um momento especial, por aqui, para mim, e agora para vocês.
Indefinição
Essa indefinição
De futuro o dia inteiro,
Obriga o dia à razão,
Mas certo e alvissareiro.
Em todo o casarão,
Que é duvidoso e inteiro
Ao futuro e à ideação
Com nanquim e tinteiro,
Mas com mata-borrão,
Vem o medo ligeiro
Que tende a interação
Nesse amanhã parceiro.
Irrestrito
Meus livros e minhas criações,
Amigos de tantas razões.
Porque leio, vejo um infinito,
Amostra de vida, e medito
Ao tipo, ao sabor das canções
Sopradas nessas sensações
Escritas com motivo estrito,
Fixadas no plano erudito;
Histórias e composições,
Que juntas, são as ambientações
Propícias de um lugar bonito
Por onde passeio, algo irrestrito.
Rabiscado
Fazer o melhor possível,
Quando tudo é imprevisível;
Não se vai, nem fica, e é ao lado
Este ano destrambelhado,
Onde o futuro é invisível,
E o dia a dia é que faz o incrível,
Mas não chove, ressecado;
Pingo d'água controlado.
Ao menos, ao ser sensível,
A alma contínua e factível,
Elabora um rabiscado,
Suscetível ao traçado.
No Zoológico/ Miniconto
Crianças, adultos e idosos estavam no zoológico.
Todos distraídos, quando houve-se um barulho, um impacto forte e até parece que a terra tremeu naquele momento.
Aparecem os guardas e avisam que daquele ponto ninguém passa. Era para seguirem sem se aproximarem daquele lugar.
Manuela, curiosa, deu uma espiadinha antes de seguir.
O rinoceronte se jogou no chão, como se fosse um cachorro que se esbalda na terra para fazer folia.
_O que é isso?
Crianças gostam de atenção, e a paciente guarda do zoológico respondeu que o rinoceronte é um brincalhão, mas quando ele está em festa até mesmo os veterinários tomam cuidado.
Havia chegado um outro rinoceronte para o lugar e eles estavam se conhecendo.
Não se pode chegar perto de um rinoceronte quando há um momento especial para ele.
Manuela perguntou de poderia tirar um foto dele se espojando no chão feito cachorro.
_Não pode. É muito perigoso, porque ele se joga para brincar e pode machucar alguém.
Não pode, não pode.
No entanto, ninguém poderá apagar a foto que não foi tirada da sua imaginação, nem aquele barulhão e o susto que fez todos pararem a se perguntar do que se tratava.
Assim, Manuela tem consigo um rinoceronte sem foto, que tanto brinca, mas que é mesmo um rinoceronte.
Um rinoceronte amável, mas um rinoceronte.
Trovador
São duas principais
E outras três vicinais,
São as ruas do interior,
Sem escolha e sem dor.
São paisagens iguais,
Distantes, desiguais,
Que seguem aonde for
Um chão de unguento à dor.
Na estrada, os milharais;
Bem longe, alguns varais;
Mas vê o céu um trovador
Que espanta o dissabor.
Buscando Livros
Ler e escapar
D'uma rotina,
E se contar
Quando termina
Esse folhear,
Que determina
Outro buscar,
Distrái e ensina
A caminhar;
Mesma rotina
Noutro pensar
Não contamina.
À Benedita
Quem acredita,
Segue o caminho,
Ora sozinho,
Também medita;
Palavra escrita
Sobre o escaninho,
É pergaminho
De Deus, bendita.
Livro é visita
De torvelinho,
Um desalinho
À Benedita.
Vaga-lume
Se me estranho
São os costumes
Desse antanho,
Sou rebanho
Sem queixumes
Nesse banho,
E me apanho
Vaga-lume.