Rio de Janeiro

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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

A Alegoria do Ano Novo

Com este conto, desejo Feliz Ano Novo a todos os que visitarem o blog neste dia. Um abraço, Yayá.

A Alegoria do Ano Novo
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Era noite de Ano Novo no Rio de Janeiro em 31 de dezembro de 1.957. A menina Deise, nos seus sete anos, com algum esforço ficou acordada até a meia noite junto com a família, para a hora da festa da virada.
_Posso ir me deitar, Mamãe? Estou com sono.
A mãe a beijou o rosto com ternura e a acompanhou até o quarto.
_Boa noite querida. Feliz Ano Novo sussurrou.
Deise, confortável com o travesseiro macio e os lençóis de algodão, pensa sobre a importância desse tal Ano Novo na vida dos adultos e adormece.
Pela Avenida Atlântica surge um carro alegórico todo cor-de-rosa, igual àqueles das escolas de samba. Na frente do carro está um palco redondo e, sobre ele, um ancião vestindo uma túnica na cor de um saco de pano não alvejado sobre uma calça molenga, sem friso, do mesmo tecido, feita com bocas largas e de comprimento na altura das canelas. Ao seu lado havia um berço cheio de purpurinas douradas, com lençóis azuis bebê. No berço um bebê sorridente com fraldas brancas. Curiosamente o bebê usava uma faixa transversal sobre o delicado peito onde estava escrito Ano Novo.
Deise corre pela avenida vazia. O público está ao lado aguardando a passagem do carro alegórico. Ninguém a segura e ela sente-se livre. Aproxima-se do veículo e estende os braços para o Ano Velho. Ele a pega no colo e a convida para ficar e conhecer os adereços enquanto ele passa.
Ele olha para o ancião e pergunta o porquê de se chamar Ano Velho.
_Eu sou velho. Tenho trezentos e sessenta e cinco dias de vida.
Deise olha para o Ano Novo. Ele é um recém-nascido e ela comenta:
_Ele é muito pequeno. Não tenho idade para pegá-lo no colo.
Ano Velho disse que o menino precisaria crescer antes que ela pudesse o pegar no colo. Deise se enternece e sorri para ele com um sorriso de criança.
Um arco-íris cobre o carro alegórico. A menina repara, olha para cima, diz as cores e vê que ele está sobre o ancião e o bebê.
_Tudo é tão lindo. Por que esse arco colorido está acima de vocês dois?
O ancião disse que o arco significava o tempo e a vida. Ele é o caminho da sabedoria para quem deseja viver uma bela vida.
Deise não sabia o que era uma bela vida e nem o que o arco-íris tinha a ver com isso. Olhou para o ancião com ar de quem não entendeu nada.
_A vida é bela para aqueles que amam. Conhecerão os caminhos da sabedoria porque amam e não porque houvesse a escolha de serem sábios. É tão difícil não permitir que a passagem dos dias corroa o amor e o transforme em nada. São tantas as dificuldades que cada um de nós atravessa em um período, as dores das mágoas por sermos bons e não sermos vistos, as doenças causadas pelas intempéries, é a falta de amizade nos momentos difíceis, a vontade de não mais acreditar no outro e o desejo de seguirmos a sós o nosso caminho sem ousar dar uma chance ao outro. O amor é uma determinação; o outro é igual a nós todos e sofremos as mesmas dificuldades durante os dias e as noites. Eu digo do outro, mas quando falo do outro, digo de mim.
O Ano Velho tinha que estar atento ao desfile e liga um antigo gramofone para que a menina se distraia enquanto o carro passa.
_Deise ouve o som musical e suave e se cala por alguns instantes. Ela olha fixamente para o Ano Velho na esperança que ele retorne o olhar e faz um jeito de quem quer perguntar.
Ano Velho percebe e fica comovido com a inocência da criança. Com ternura, sorri para a menina.
_Quando o Ano Novo crescer saberá usar esse aparelho de som ultrapassado?
O ancião responde que os aparelhos de som podem ser novos ou velhos porque o som e a música vêm do arco-íris e não tem tempo, as músicas são atemporais. Disse também que há uma fonte inesgotável de sons e combinações, ritmos, combinações de meios para tocar, das cordas, dos sopros, da percussão e da voz, um instrumento musical comum em todos os humanos.
_O ser humano tem a musicalidade na voz, um dom dos deuses que habitam o arco-íris. Os seres têm dentro de si uma fonte inesgotável de criatividade e quem cria, é bom. Mas quem copia nem sempre tem a mesma ética do criador; digo da criatividade como criadora de desajustes emocionais e fonte de lucro. Serão desajustados os criativos? Não será o egoísmo e o desamor que desajustam a criatividade? Recuso-me à amargura e escolho a música para espantar a tristeza das músicas tristes; a música dissolve a tristeza. Distribuo canções e as suas diversas emoções, me renovo diversas vezes, quantas vezes o meu arco-íris me permitir e, mais uma vez, repleto de esperança de um futuro bom em sintonia com o disco de Newton.
Essa resposta foi difícil de entender, mas a menina cantarolou o som do gramofone e sentiu o que o ancião lhe havia dito sobre a esperança. Deise queria crescer no seio de muitas esperanças.
_Será que eu vou sonhar esse sonho de novo? Sussurrou em voz baixa para que o ancião não a ouvisse.
Mas são irmãos de pensamento os velhos e as crianças e ele a ouviu.
_Deixarei um recado no arco-íris antes de sair do carro e pedirei que ele te dê de presente a possibilidade da música da maneira como você a quiser. Escreverei um bilhete à sua mãe e pedirei que ela te leve para assistir as bandas e as orquestras da sua cidade. Aqui no Rio de Janeiro, um pagode em uma noite quente é válido. Você irá descobrir a sua música e o seu som. Cada voz é um tom, cada instrumento tem o seu som, cada pandeiro o seu ritmo. Ao descobrir do que você gosta mais, terá um pedaço do mundo da música do arco-íris com você e várias respostas virão com ela, se for feita com amor.
Deise percebeu que tinha feito uma pergunta complicada. Sem saber como desfazer a pergunta anterior, fez uma pergunta descomplicada para disfarçar. Perguntou por que o carro era cor-de-rosa.
Ano velho respondeu que a cor do carro era da cor preferida de quem sonhava com ele.
_O meu irmão, por certo, sonharia azul?
_Se a cor preferida do seu irmão for azul, ele sonha azul. Os sonhos são individuais e coletivos. Nos sonhos individuais tudo é sonhado à maneira do seu sonhador. Nos sonhos coletivos o arco-íris abrange a multiplicidade dos desejos individuais transformando-o em uma só cor, o branco. O branco é paz, é o disco de Newton, é a vida girando constantemente em busca da paz. Por que Newton e nenhum filósofo pensou o disco branco além da física?
Deise olhou para o Ano Velho, encantada.
_Quanto tempo demora esse sonho?
Ano Velho respondeu que o sonho demoraria o tempo do sono daquela noite.
_Depois eu me esqueço dele?
O ancião respondeu que ela poderia se esquecer do sonho ou lembrá-lo pelo resto da sua vida. Disse que o importante era sonhar sonhos bons para sentir vontade de que ao acordar, ele fosse verdadeiro.
_Há momentos e, já houve alguns, dos meus dias, de que tudo o que tive não passaram de sonhos. Há momentos em que alguns desses sonhos se tornam realidade. Mesmo que se tenha um sonho, ele vale à pena de ser sonhado quando é bom. Basta um sonho realizado para se dizer que todo o esforço e sofrimento passados significaram pouco, ou, que não deixaram marcas na vida dos sonhadores.
Deise ficou em dúvida se era melhor envelhecer logo porque se tinha mais sonhos ou se era melhor sonhar enquanto se vivesse, crescendo devagar, não importando a quantidade de sonhos.
_O melhor é você pensar que ao menos um sonho seu será real. Você não saberá qual dos seus muitos sonhos será o verdadeiro. À medida que o sonho se torna real é que você saberá o que a junção do que você é com o que você fez mais a sorte que o rodeia terão permitido nessa concretização de algo muito desejado.
Nesse exato momento o Ano Novo ergueu os braços e pediu colo ao Ano Velho. O ancião pegou o bebê no colo.
_Preste atenção Deise. Neste momento eu e o Ano Novo estamos juntos, vivos e sonhando acordados. Uma enorme coincidência de fatos e a nossa vontade nos levaram a esse momento com o qual você compartilha. Isso não é acaso, essa é a demonstração física do arco-íris de emoções a que nos transportamos nesse momento. Um momento de renovação da vida em vida. Para isso serve o amor, uma energia da qual nem todos os viventes são possuidores ou conseguem conservar dentro de si para manter o equilíbrio das diferentes energias as quais estão sujeitos.
O carro tinha percorrido quase toda a Avenida Atlântica. Deise, que mal sabia ler, adivinhava as palavras conhecimento, sabedoria e amor nas laterais do carro.
_Amor é o que a minha família sente por mim, mas conhecimento e sabedoria são palavras diferentes? Prometo que não faço mais perguntas, disse a menina com jeito e arte.
Ano Velho estava prestes a colocar o Ano Novo no comando do carro e entrar para os bastidores do arco-íris, mas conseguiu dizer que o conhecimento vinha da escola, da formalidade do estudo e a sabedoria vinham da vivência, dos costumes e histórias passadas de geração em geração elas famílias.
Ao ouvir essa resposta, Deise sentiu uma leve coceira nas pálpebras e levou as mãos aos seus olhos um tanto cansados do desfile.
Ao esfregar os olhos viu-se novamente na sua cama, sentiu a cabeça no travesseiro e acordou com um barulho na cozinha do apartamento. Levantou-se e foi até a cozinha. A sua mãe acendia o fogão e colocava o leite para esquentar. Era de manhã.
_Bom dia, mamãe. Você viu como o Ano Novo é bonito? Você sabia que o Ano Velho estava cansado de reger os dias e as noites? O Ano Novo veio em um carro cor-de-rosa. Você me leva para assistir uma banda de música?
A mãe desligou o fogão e foi ajudar a Deise a lavar o rosto e escovar os dentes de leite. Levaria a menina assistir um evento musical para se livrar das perguntas constantes da filha.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A Sabedoria dos Humildes / Crônica do Cotidiano

A Sabedoria dos Humildes / Crônica do Cotidiano

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Eram dois jovens com mochila e pouco dinheiro. Estavam no supermercado comprando pães recheados para a viagem, além de água e alguns tira-gostos.

Um virou-se para o outro, que provavelmente seria o seu companheiro de viagem, pois andavam em direção ao ponto de ônibus que dava acesso à rodoferroviária, e disse:

_A viagem será boa para mim. Ninguém sabe a tristeza que eu sinto no Natal. Todos os anos são do mesmo jeito, fico triste. Quero ver os fogos em Caiobá e a cantoria que os segue, depois passarei o final de semana em Matinhos. Eu não gosto de ficar triste enquanto todos estão alegres e comprando presentes e comendo as suas saborosas refeições.

O amigo disse para o queixoso:

_E o que é que tem de mal ficar triste no Natal? A história do Natal é triste, muito embora traga a esperança da humanidade.

O outro se surpreendeu com a reação do amigo, fazendo com que ele continuasse a explanação da sua visão de Natal:

_Pense bem, meu amigo. Um rei imagina que será sucedido por uma criança que está para nascer e manda matar todas as crianças que estão por nascer. Numa cidade pequena uma moça sonha à noite e acorda grávida no dia seguinte. Essa gravidez acontece numa época em que a medicina é precária. Hoje tem bebê que nasce depois de se nutrir através das paredes do estômago de uma mãe que não tem útero, e os exames contam a história com todos os fatos comprovados. Naquela época, foi uma situação difícil. Naquela cidade pequena, o noivo José sabia da vida, das saídas e dos bordados que a sua noiva Maria viva. Casaram-se e fugiram para um estábulo, onde o menino de nome Jesus nasceu. A alegria reside no fato em que conseguiram fugir das ordens do rei e o filho de Maria nascer saudável. O resto da história você conhece. Esse menino cresceu e modificou a história do homem, sendo o próprio Deus.

O outro concordou com a argumentação do amigo, mas e a tristeza dele, a que se devia, perguntou, sem saber onde o amigo queria chegar.

_Tem gente que, nessa época do ano, deixa que a emoção venha à tona. São pessoas que seguram as emoções o ano inteiro e, nessa época, todas as dificuldades enfrentadas ficam aos olhos do coração. Mas, depois passa. É questão de época, eu diria mesmo que se trata de uma tristeza sazonal.

O outro concordou. Era assim que se passava com ele, passava o Natal e, pronto, o seu mal estar melhorava. Para mudar do assunto de si mesmo, perguntou o que o amigo achava daquele filósofo que disse que tudo não passava de lenda.

_É alguém que perdeu a esperança no ser humano. A história é fato e, a teoria, na prática, não pode ser confirmada.

A conversa estava boa, mas, além de ficar quieta, ouvindo cada palavra dita com um carinho inexprimível, tive que vir embora, a caixa avisava que a fila tinha que andar.

domingo, 29 de dezembro de 2013

A Fã / Crônica do Cotidiano

A Fã / Crônica do Cotidiano

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Lojas abertas hoje, domingo, somente no Shopping Center. Precisei de artigos de papelaria, cujo estoque no supermercado estava esgotado.

Não tive escolha, fui atrás do que precisava.

Poucos fregueses, pois a maioria das pessoas está em preparativos para o Ano Novo e já comprou o que queria para si e para os presenteados.

À minha frente, uma moça. Eu pensei que faria a compra em cinco minutos.

Eu até hoje não tinha visto uma fã de artista como essa moça.

O vendedor, por gentileza perguntara a ela se ela gostava da cantora, conhecida internacionalmente, porque ela queria algo com a foto da artista na capa do caderno.

Foi ele perguntar e ela iniciar a biografia da cantora.

O nome exato da cantora, eu não sei, porque é uma cantora entre vinte e cinco e trinta e cinco anos de idade.

A moça contava da sua cantora e se defendia de qualquer possível crítica sobre essa adoração, dizendo:

_ Eu sei que dizem que ela leva uma vida pouco recomendável, mas a presença dela no palco enquanto canta, compõe momentos inesquecíveis para quem a assiste.

A moça descreveu o vestido e os sapatos com os quais cantou numa festa musical do ano de 2012. Contou dos artistas que participaram da festa e que fizeram dueto com a cantora.

Continuou a história dizendo:

_Dizem que eu exagero nesse acompanhamento da vida dela, mas não é verdade. Ela é merecedora dessa minha atenção. Eu sei que ela brilha. Os retratos dela no meu quarto demonstram o meu reconhecimento ao talento dela. Agora, que as roupas que ela usa são exatamente aquelas que combinam comigo, eu não nego. Eu não me visto como ela, eu tenho coincidência de estilo. Se, eu sei sobre todos os produtos lançados no mercado com a foto, a música ou o seu estilo de vida, é admiração.

Eu tive que me conter para não rir, e, não foi tarefa fácil.

Ela quis mostrar que dominava o assunto da sua artista predileta e contou sobre todos os CDs, apresentações em festas de famosos e shows da cantora.

Hoje é domingo de pouca pressa, mas quando chegou minha vez, eu pedi papel de presente.

O vendedor disse que não tinha opções e que o estoque estava baixo. Comprei o modelo que tinha para vender e fiquei satisfeita.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Promessas de Ano Novo

Promessas de Ano Novo

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Fazer promessas para o Ano Novo? Não sei se quero.

Para o Ano Novo me preparo com o apito indígena especialmente comprado para os dias de futebol. Da Copa do Mundo sei que a Seleção Brasileira não jogará no Maracanã e que haverá dois, não acabo de ser corrigida; quatro jogos mundiais em Curitiba, Paraná.

Tenho vizinhas devidamente uniformizadas para o evento, famílias inteiras assistirão aos jogos ao vivo e em cores. Eu, não. Assistirei do jeito que gosto, pela televisão com pipoca, guaraná, e, agora, apito. Sinceramente espero conseguir sobreviver aos jogos sem nenhum peruá engasgado no apito.

Difícil mesmo é arrumar a casa com essa festa de feriados.

Mas não tem nada não. Deixo a tarefa de arrumar a casa nas promessas da campanha eleitoral.

Ano que vem teremos eleições gerais no nosso país. Carros de som nas ruas, cabos eleitorais e caixa dos correios lotada de propagandas. As eleições também são tempos de festa. As empolgações, as conversas, os comentários sobre o Horário Eleitoral na televisão.

Preciso ligar a televisão e verificar se ela ainda funciona. De acordo com a minha retrospectiva particular assisti dois filmes na televisão durante o ano de 2013. Nada mais. O que assisti a mais se deveu à sala de espera do dentista, que habilmente não nos deixa ouvir os sonidos das brocas antes de entrarmos na sala de atendimento. Vou testar a televisão e o meu apito indígena esculpido em madeira.

Mas, como nada é perfeito, tenho um tango argentino para estudar. Estudarei sem fazer barulho. Não sei por que, mas tenho a impressão que a peça musical foi escolhida movida por algum tipo de ciúme. É uma impressão que surgiu sem motivo. Tocar tango antes de jogo da Seleção é motivo justo para a indignação de quem escuta. No entanto, parafraseando a frase famosa: “O som não pode parar”. Surdina nele.

Com retrospectiva televisiva feita e o cronograma completo para o Ano que vem posso preparar algo para comer no Réveillon.

Como? Esqueci o cearense? Que cearense? Ah... Sempre aparece um cearense na programação para o Ano ficar bom.

Está bem, não posso prever tudo.

Começarei o Ano Novo com pipoca, apito, título eleitoral, televisão ligada e um jabá para o cearense.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Gato da Sorte

Gato da Sorte

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Esse gato que me rouba

Sem dizer a que me leva,

Faz sentir-me feito boba,

Nesse olhar ao que despreza.

 

Desse jeito não sou loba,

Sem saber o que me espera;

Nesse dengo visto a touca

E me faço de pantera.

 

Esse gato que me estouva,

Ao frigir minha panela

Que meu peixe, minha anchova,

Quer o prato da janela.

 

O que quer quem se afeiçoa

Por um gato à cabidela,

A não ser o que não doa,

A não ser o que revela.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Posso Ir Junto?

Posso Ir Junto?

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Era final de ano. Lúcia faria o seu curso de treinamento em "couching" em outra cidade. O futuro profissional com essa especialização poderia ser brilhante, com alto salário e reconhecimento entre os líderes da empresa onde trabalhava.

O marido ficaria com a Mônica, mas não sabia onde deixar a menina no dia da confraternização na chácara da fábrica onde trabalhava.

Lúcia pensava em deixar a filha com algum parente, mas Mônica preferia ir com o seu pai ao churrasco.

_Posso ir junto com papai? Perguntou a menina à mãe.

A mãe disse que ela não iria gostar do passeio

_Posso ir junto com você, papai? Perguntou a menina ao pai.

O pai prevendo a choradeira que iria enfrentar conversou com a mulher. Ao invés de deixar a menina na casa de alguém, ela ficaria com ele. Ambos se distrairiam e, quando chegassem a casa, provavelmente Lúcia estaria de volta. Assim o tempo passaria rápido para ambos.

Lúcia foi positiva para com o marido:

_Se você quer levar a menina, leve. Você terá que cuidar dela e não poderá ficar à vontade com os nossos amigos. Você é quem sabe.

O marido sorriu com certo ar de superioridade para a mulher:

_Meninas não incomodam. Ela leva a boneca, alguns biscoitos e suco de laranja e, eu estou resolvido. Ela irá comigo.

Lúcia também sorriu com ar de superioridade ao dizer:

_Eu te amo, mas com todo o respeito, você não sabe o que é ser mãe.

Ambos sorriram. Lúcia fez a mala e viajou.

Pai e filha comportados e cronometrados de acordo com as instruções da Lúcia.

Hora de abrir o congelador e colocar a comida no forno de micro-ondas. Hora de escovar os dentes e irem ambos cada um para o seu quarto. Hora de a Lúcia telefonar e desejar boa noite aos dois. Mônica tinha o seu celular e o pai dela também; eram dois telefonemas de um minuto para o marido e cinco minutos para a filha, que perguntava muito sobre as atividades da mãe.

Chegou o domingo da confraternização.

Boneca e biscoitos no automóvel.

Chegando à chácara, felicitações dos amigos e elogios para a menina. Wellington estava contente com a precisão do planejamento.

Mal se sentaram para conversar quando Mônica viu a aranha branca:

_Pai, olha que linda! Uma aranha branca correndo pelo campo.

Era uma aranha que trocava a casca e ninguém poderia saber se era venenosa ou não.

A esposa de um amigo disse que era melhor matar a aranha antes que a menina a colocasse nas mãos.

Meia hora de busca e, pronto, a aranha estava morta.

Voltaram-se as atenções ao churrasqueiro, com temperos e saladas e pães.

Mônica come os biscoitos e toma o suco de laranja.

Quarenta minutos depois, Mônica pergunta onde fica o banheiro.

Outra senhora amiga responde:

_O banheiro fica no lugar de sempre, a quinhentos metros daqui. Ela terá que passar pela trilha ao meio do campo das painas, que é banhado. O senhor a acompanha, ou, prefere que eu a acompanhe.

Ele disse que cuidaria da filha e acompanhou a menina até o banheiro, aguardando do lado de fora até que a garota saísse de lá.

Ele não sabia que haviam mudado o banheiro de lugar. Antes, não havia o banhado e o campo de painas no caminho do banheiro.

Voltaram para o lugar do churrasco, que estava pronto.

Havia no lugar duas bicas d’água encanadas e com torneiras. A menina pediu para pegarem os seus copos de água diretamente na bica de água.

Wellington se encantou em poder pegar água da bica e mostrar à filha o que era tomar a água fresca da nascente.

Foram os dois, pai e filha, até a bica e encheram os copos. Ele brindou com a garota e tomaram a água. Cuspiram a água, o sabor era horrível.

Wellington chegou junto aos amigos e disse que a água da bica estava estragada.

Um amigo caiu na risada e disse:

_Você pegou a água na torneira errada. Aquela é a água sulfurosa. Dizem que faz bem à saúde, mas eu não bebo aquela água. A água fresca está próxima ao churrasqueiro, mas não chegue muito próximo ao calor da brasa.

O pai ordenou à filha:

_Fique aqui que eu pego a água para nós dois. Não saia daqui e espere eu voltar.

Mônica esperou que o pai voltasse com a famosa água fresca das montanhas.

A água, de fato, era fresca, mais fria que a água da torneira de casa e, podia-se dizer saborosa, sem o gosto dos produtos que a água da torneira de casa contém.

Pães, maionese caseira, salada de tomates e cebolas, carnes.

Antes de se servirem, o pai aconselha a filha:

_Não coma maionese caseira. Eu também não vou comer a maionese.

A menina dialogava com o pai:

_Papai, eu não como cebolas. Comerei pão e bife.

O pai cortou a carne em tiras, pescou os tomates picados da salada, pegou o pão francês e disse para a menina comer o quanto quisesse. Não queria a filha usando os talheres afiados do churrasco. Depois se serviu a si mesmo, sentou-se ao lado da filha e almoçou.

Almoçaram e comeram as frutas servidas.

Eram duas horas da tarde e a conversa ficou animada.

Mônica lembrou-se que a sua mãe Lúcia, estava para chegar da viagem de treinamento, mas tinha consigo os biscoitos e nenhum telefone.

A filha pergunta ao pai:

_Mamãe estará chegando da viagem hoje. A que horas ela chegará?

Wellington sentiu saudades da mulher. Bem que a Lúcia havia avisado para ele que não seria fácil ser mãe.

_Vamos para casa esperar a sua mãe chegar de viagem!

Wellington despediu-se dos amigos e, com a filha, a boneca da filha e os biscoitos foram para casa.

Lúcia chegou meia hora depois de pai e filha terem voltado para casa. O curso foi produtivo e proveitoso. Para esperar o ônibus ela distraiu-se arrumando os cabelos e comprando o perfume novo. Entrou em casa bem arrumada e disposta.

Wellington a abraçou, feliz e disse:

_Eu fiz o melhor que pude. Veja se a Mônica precisa de alguma coisa que eu preciso tirar uma soneca. Conversamos depois que eu descansar.

Lúcia abraçou a filha, que estava contente e contou todas as novidades do churrasco. Também abriu um pacote de bombons e saboreou. Estudou tanto que não teve tempo para comer um único bombom, mas era mãe e se divertiu ao ouvir sobre os cuidados do seu marido com a pequena Mônica.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Mamãe Noel

Mamãe Noel

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A empresária quis sentir-se Mamãe Noel e, para a delícia de muitos, abriu o seu restaurante com cardápio especial no dia do Natal.

Não tardou e a emoção surgiu naquele rosto acostumado com os fregueses e o sorriso de sempre veio acompanhado de olhos levemente marejados e ternos.

Mantido o preço e a casa cheia, os fregueses contavam de si e das suas circunstâncias.

Poucas famílias inteiras, raras mesas com mais de quatro lugares. A maioria das pessoas felizes e sorrindo.

Provavelmente o motivo do sorriso era outro além da excelência e do capricho da dona do estabelecimento.

Na maioria das mesas, pedaços de famílias ou amigos solitários naquela confraternização de poucas palavras, mas de muito conforto. Aquele conforto de estar em meio a outras histórias parecidas competia de igual para igual com as iguarias sem muita sofisticação, mas de muito bom gosto nos frutos do mar e carnes variadas.

Rodízio é para o remediado a melhor opção, cada um come o que quer e respeita o bolso.

Ela, de família grande e reunida, separou-se dos fregueses para se sentir mais à vontade e deixou a emoção fluir.

A quanta gente ela adoçou o dia no dia de hoje. Gente que queria ou teve que estar com pouca companhia.

É necessário pulso firme para tomar uma decisão como essa: abrir um restaurante num dia como o de hoje, dia vinte e cinco de dezembro.

Não faltou a energia para a determinação, mas sobrou emoção dessa realidade onde o poder econômico não compra, antes oferta um momento especial, ao custo não muito maior do que uma boa oferta para a igreja seja ela de que denominação for.

Hoje o lucro dela provavelmente não foi maior que nos dias de grande movimento.

Provavelmente, hoje, ela tenha tido o melhor Natal da vida dela e a experiência mais enriquecedora dos seus talentos.

Hoje, Deus disse a ela, a empresária, o quanto o seu talento é louvável.

Hoje, Deus alimentou a fé com presença, no dia em que se comemora o aniversário do Seu filho, Jesus Cristo.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

domingo, 22 de dezembro de 2013

Deus Menino

Deus Menino

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O amor existe

Em fato e Verbo

E, vale e insiste.

 

O sol existe

Além do etéreo

E, ao céu consiste.

 

O bem persiste,

 

Jesus Perpétuo.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Um Natal Diferente

Um Natal Diferente

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Rogéria convidou uma amiga Laércia para visitar a sua cidade natal.

Ela nasceu em Natal, mas os pais, bancários, foram transferidos para São Paulo e, por circunstâncias diversas, não mais tiveram oportunidades para voltar à cidade de Natal, no Rio Grande do Norte.

As moças eram colegas de faculdade e ainda moravam com as suas respectivas famílias. O dinheiro do estágio poderia ser gasto numa viagem e, assim fizeram.

Chegando a Natal, Rogéria procurou se informar para fazer os roteiros necessários para visitar os locais da sua infância.

Ela estava no tempo da sua infância, num deslocamento absurdo do espaço.

Laércia, que não conhecia Natal, ficou surpresa ao ver o calendário.

_Rogéria, voltamos no tempo! E agora?

Rogéria foi à rua onde seus pais moravam e perguntou pela família dela.

_Eles foram para São Paulo há um mês.

Rogéria perguntou para Laércia se ela passearia com ela pela sua infância.

_Se estamos num lugar de outra época, não vou me afastar de você por nenhum minuto. Peço, no entanto, que me belisque. Eu sei que é pura precaução existencial, mas absolutamente necessária para que eu me sinta viva.

Rogéria foi à sorveteria. Conheceu as amigas e amigos do seu pai e da sua mãe. A diferença era que tinha a mesma idade que eles.

Uma senhora conversou com ela:

_A senhora vem de onde? A sua fisionomia não me é estranha.

Laércia ouviu e protegeu a amiga, protegendo-se a ela mesma, dizendo:

_Viemos de São Paulo para passar uns dias e conhecer as belezas desse lugar encantador. Hoje vamos passear de buggy e temos que nos apressar para chegar ao local com tempo para o passeio.

Todas as ruas percorridas para chegar à escola estavam iguais e Rogéria sabia todos os caminhos. Os seus amigos de infância estavam na escola e ela agradecia por não poder vê-los, o fato seria aterrorizante para ela, naquele deslocamento de tempo.

Laércia aproveitava para se divertir observando toda a moda dos tempos da sua infância. Para ela, não era tão impressionante, porque não conhecia a cidade e nem os seus habitantes. Mas não pode deixar de observar:

_Eu consigo te ver criança! Maravilhosamente criança! Eu me sinto com vontade de passear por esse tempo que se foi. As lojas e os brinquedos são iguais, nas artes das crianças e nas respectivas chamadas de atenção que elas conseguem. Que saudades desse lugar que eu não conheci de fato, mas da infância que vivi intensamente através dessa água de coco verde gelado.

Rogéria se espantou com a alegria de Laércia e pediu para que ela dissesse como era ela quando criança.

_Eu te vejo de saia rendada e blusa de lastex, sonhando ao amanhã, pulseiras de plástico alaranjada e branca combinando com os brincos de plástico de contas polidas alaranjadas e brancas.

Rogéria não disse nada. Ela teve saia rendada, blusa de lastex, pulseira e brincos alaranjados e brancos. De fato, estavam na vitrine da loja. A sua mãe os havia comprado há dois meses antes de se mudarem. Ela pediu e, como eram baratos os mimos, a sua mãe os deu de presente para ela. Eram apropriadas para meninas.

Estavam na vitrine e se poderia comprá-los a preço irrisório. Rogéria se conteve. Era adulta e estava deslocada no tempo.

Conhecia tudo de cor, fato que facilitava o passeio para Laércia. Sabia aonde ir, como ir, onde comer, onde se divertir e, o caminho da pousada, distante vinte quadras daquele lugar onde conversavam particularidades.

Os dias passaram alegres e saudosos do tempo que não volta mais. Se bem que, estar em Natal, sem ser o que se foi na infância, trazia para Rogéria uma sensação estranha.

Chegou o dia de voltarem para São Paulo. Pegaram o avião.

Rogéria sentiu um mal estar quando o serviço de bordo anunciou:

_Este é o voo 190 da aeronave. Esperamos que todos façam boa viagem.

O número da aeronave não era o mesmo do número do voo.

O avião sobe em linha reta para o alto, numa hipotenusa imensa.

Laércia estava se divertindo, mas Rogéria fechou os olhos e pensou com toda a energia que lhe vinha da mente:

“Eu sei que algo está errado. Não com o voo, mas com tudo o que aconteceu nessa viagem. Se, essa energia, é de abdução, peço que compreendam que a aeronave não suportará uma abdução física. Se, existem contatos imediatos nessas energias de luz, que se façam contatos por pensamentos, pois, a continuar a reta perpendicular, os contatos cessarão e não haverá abdução possível com êxito para essa forma de vida que se apresenta.”

O avião aterrissa em São Paulo e, Rogéria acorda porque Laércia avisa que a viagem terminou.

_Vamos descer Rogéria.

As amigas pegam táxi para se dirigirem às suas respectivas residências. O taxista puxa conversa:

_Vocês estão sabendo dos investimentos da multinacional SA na via de acesso ao aeroporto. Eles estão investindo uma fortuna em treinamento de pessoal. Se vocês conhecerem interessados, avisem, porque vem gente de todo o país para cá.

Rogéria sentiu-se aliviada. Estava em São Paulo, no tempo certo, na competição certa e mal teve tempo de acordar para recomeçar a competir pela sobrevivência.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Compras Natalinas / Crônica do Cotidiano

Compras Natalinas/ Crônica do Cotidiano

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Os detalhes tomam tempo. Faltou papel de presente e fitas para enfeitá-los.

Paro no meu ponto preferido: o café.

Dessa vez, tomei o café com pressa.

Não, não foi para comprar algo a mais; foi a conversa ao lado.

Dois homens conversavam e, um deles, disse:

_Eu gosto dessa época. Época de otários.

O homem que estava com ele não concordou e, perguntou o porquê daquela frase.

O primeiro, então respondeu:

_No Natal do ano passado eu quis passar o mês de janeiro festejando. Eu comprei uma motocicleta e paguei somente a primeira prestação.

O outro se virou e perguntou?

_E depois? O que aconteceu?

A resposta foi de estarrecer:

_Passei o mês de janeiro inteiro. Em fevereiro o dono da loja veio buscar a motocicleta por falta de pagamento. Eu entreguei a motocicleta ao dono da loja e perdi a primeira prestação. Eu sou o que as pessoas chamam de pilantras.

Tem momentos que é melhor tomar o café às pressas. Foi o que fiz.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Há Males que Vem para o Bem / Crônica de Supermercado

Há Males que Vem para o Bem / Crônica de Supermercado

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Estava na fila do supermercado, época de supermercado lotado, gente cansada e preocupada com os presentes a serem trocados com os familiares e amigos.

Maridos e esposas combinando a hora de passearem em frente às vitrines, crianças pedindo guloseimas e atentas ao Papai Noel, além dos enfeites e tantos outros motivos de distração para toda a família.

A conversa era o Natal, a ceia e os familiares.

Os repositores bem dispostos e repondo os produtos com satisfação.

Próximo à fila chegou um daqueles repositores conduzindo o seu comboio de refrigerantes.

O chão tremeu.

Pensei que fosse impressão minha, mas não; ao movimentar do comboio o chão da fila tremeu.

Não pude conversar com ninguém, todos estavam devidamente ocupados com as festas.

O senhor que estava próximo disse que o piso estava trabalhando.

Acontece que o piso é laje e, não sei se deveríamos sentir o chão do piso tremer como se fosse uma casa de madeira trepidando à passagem do caminhão na rua.

Não entendo de engenharia, mas tem muita gente dentro de um supermercado e, o fato, deveria ser averiguado.

Digo deveria, porque qual dos clientes irá sentir o chão tremer com o carregamento dos refrigerantes? E, quando algum funcionário irá notar?

Realmente foi uma situação sui generis. Eu também estava nas minhas compras natalinas. À minha frente havia por volta de cinquenta pessoas, não era o momento de falar.

Por fim, a situação ficou entre eu e o senhor que conversava com algum familiar por telefone.

Ambos nos afastamos daquele lugar no piso.

Não é bom que os fregueses se sintam numa ponte pensil dentro de um supermercado.

Saí do supermercado, preocupada. Não comigo, mas com todos os outros fregueses.

Configurar a situação pela qual eu e o senhor que estava próximo a mim não será fácil.

São situações que não nos dão a oportunidade necessária para o diálogo.

Espero que o senhor que estava à minha frente esteja com a razão.

Tomara que seja o piso trabalhando e que o fato seja possível numa estrutura construída para a frequência de milhares de pessoas e diariamente.

Estou escrevendo o acontecido, mas, na primeira oportunidade, quero demonstrar o fato para algum funcionário.

Hoje não era o dia propício, festas e animação não combinam com a necessidade de verificação do piso.

E precisa!

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A Diferença do Conhecimento / Reflexão Musical

A Diferença do Conhecimento / Reflexão Musical

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De repente, me vi implicante com uma música e pedi para que desligassem o rádio.

_ O que está acontecendo com você?

Eu não sabia o que me deixava implicante e não soube responder.

Pedi que o rádio ficasse ligado e não mais ouvi com irritação, mas procurei descobrir o motivo de tanta rabugice vindo de alguém como eu, que ama música.

A conversa continua, outros assuntos surgem tais como o trânsito, o congestionamento na rua do Shopping, as pessoas com pressa quando deveriam estar em paz pela data tão especial.

De repente, descubro o motivo. A música deu o recado. Era uma letra deprimente, talvez escatológica, mas o ritmo era bom.

A minha implicância vinha do entendimento da letra. Num ritmo alegre e positivo; de tom maior, estavam embutidos na letra da canção estímulos negativos e de baixa autoestima.

Há algum tempo a melodia era mais importante que a letra na linguagem estrangeira. A partir do momento em que comecei a ouvir a letra como se estivesse sendo cantada em português, ela me irritou.

Eu era ignorante, mas agora distingo e formo a minha opinião de acordo com o conteúdo cantado.

Irritaria a qualquer um que assim a ouvisse. Versei a música em português.

_Que nojo!

Agora, temos canções em português, igualmente aborrecidas. São canções que não escuto.

Nós, brasileiros, temos a mania de cantar no chuveiro. Quem ouvisse a letra daquela canção, cantada no chuveiro, na nossa língua, iria certamente bater à porta do recinto para perguntar se o banhista estava com algum problema.

O conhecimento modifica o gosto a partir do momento em que tomamos ciência do que está realmente acontecendo.

A diferença entre o ignorar e o saber conduz a diferentes estados de ânimo, incluindo o bem estar, porque, da mesma forma que uma determinada música pode aborrecer ao ser entendida, outra canção pode levar à compreensão mútua a partir da letra que expressa um ponto de observação positivo, como a superação de um problema.

Por outro lado, quando a letra é exageradamente dramática, traz a comicidade e a caricatura do sofrimento; esta não faz mal a ninguém.

No mais, importa o discernimento e o dial que nos permite ouvir a música que realmente queremos ouvir.

A música é para distrair, não para aborrecer. A escolha do que se quer ouvir é fundamental, salutar. Ser feliz não me obrigação, mas se chatear através de uma canção de rádio é tolice do ouvinte.

A pesquisa de audiência fará o sucesso à medida que o público escolher o cantor e a canção, independentemente do merchandising feito.

Quem faz a programação das músicas das emissoras de rádio é o ouvinte, e o ouvinte é quem, em tese, deve escolher o que quer ouvir.

Depois que me entendi, aprendi a discernir, sei desligar o rádio quando está aborrecido.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Resgate

Resgate

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Valores de vida unitários,

Completos, concisos, precisos,

Validam conceitos precários,

Desfeitos em cinzas e avisos.

 

Às telas de plasma, em seus vários

Aspectos; conceitos de risos,

Perdidos, que anota em breviários,

Ao amplexo causal de indecisos.

 

Premente é o resgate aos primários

Equívocos sóbrios, divisos,

Repleto de dores; rimários

Complexos de aplausos e bis.

domingo, 15 de dezembro de 2013

A Descoberta de Odete

A Descoberta de Odete

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Ana Augusta e Irineu George receberiam para o Ano Novo a visita da amiga, vinda de Matelandia, interior do Paraná.

As festas de Ano Novo, em Curitiba, são restritas e as comemorações são discretas e, embora contando com cardápios sofisticados, as festas mais atraentes ocorrem no litoral do estado, mais precisamente próximo à cidade litorânea de Caiobá.

Ana e Irineu estavam receosos que Odete, ao ir com eles para Caiobá, se excedesse. Moça desacostumada a festas, de rotinas comuns, de modos singelos.

Odete chegou da rodoviária, onde pegou o taxi e acertou a campainha na casa de classe média situada entre os bairros do Bacacheri e Jardim Social na Rua Fagundes Varela.

A hora do jantar foi de apreciações entre o casal e a amiga.

Ana observou que a amiga era falante, animada e estava ansiosa para ir ao litoral.

Embora não dissesse, estava com saudades da amiga e a queria bem. Resolveu aconselhar e prevenir para que Odete não se aborrecesse...

_Odete, a vida na cidade não é exatamente como a vida no interior. Nas festas de final de ano a cidade se esvazia, muita gente desce para as praias. Você está conosco e é um prazer recebê-la, mas tome cuidado.

Viajaram até Caiobá. Eles viram a queima de fogos depois da ceia composta por leitão à pururuca, arroz com castanhas e saladas.

Quando o carro de som do trio elétrico apareceu, Odete pediu licença e foi à rua. Fazia tempo que ela não se divertia. Ao vivo e em cores a realidade era melhor que aquela da sua imaginação.

Ana e Irineu ficaram aborrecidos, pois, a postura deles era outra e gostavam de ficar à janela vendo a festa.

Nenhum dos dois imaginou a amiga num trio elétrico.

Na rua da festa, alguns conhecidos do casal vieram conversar com Odete.

Contaram a ela que outro era o comportamento esperado. Uma moça do interior, tão desenvolta?

Odete disse que, no interior, as festas são boas e animadas. Sempre existem aqueles que se excedem.

No interior, a conversa vara a noite sem que as pessoas se embriaguem, a vontade de festejar é coletiva.

Esses conhecidos fizeram companhia para que ela não tivesse grandes aborrecimentos, porque aborrecimentos leves ela teria quando chegasse à residência de Ana Augusta e Irineu George.

De fato, no dia seguinte, eles levantaram cedo e foram caminhas na praia. Não a convidaram.

Quando ela acordou, eles haviam retornado do passeio.

A primeira expressão de conversa foi essa:

_Você está melhor, Odete?

Ela respondeu que melhor de como se sentia seria difícil e sorriu.

Ana disse que esperaria a ressaca passar e depois tornariam a conversar. Ainda se deu ao trabalho de justificar o comportamento da amiga, dizendo ao marido:

_A Odete é do interior e nunca tomou champagne. Eu não poderia deixar de oferecer uma taça para ela. Foi o champagne que fez mal.

Odete não se lembrava de ter tomado champagne. Por que é que ela tomaria uma bebida da qual não gostasse.

_Ana, pelo que eu me lembro, eu não tomei champagne.

Ana pediu para que Odete fizesse repouso e esperasse sentir-se melhor.

Pelo dito e pelo não dito, Odete voltou ao interior com o apelido de “Champanhete”.

Alguns anos depois, viajou novamente e era dia de Ano Novo.

À sua volta todos estranharam o comportamento dela.

O gaiato, sem timidez, ou, problemas de dicção, foi direto ao assunto e, perguntou para a moça:

_Odete, onde é que foi parar a ‘Champanhete”?

Odete, falante como de costume, contou a situação:

_A “Champanhete” ficou em Caiobá. Se o povo me colocou no papel de Champanhete, está colocado. Mas, o argumento vale para Caiobá, eles precisam da Champanhete. Eu, não. Eu estou muito bem sendo Odete.

Eles se sentiram enganados e nem precisaram do trio elétrico para se chatear.

Descobriram a legítima Odete, sem querer e, sem sonhar.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Indriso dos Festejos

Indriso dos Festejos

 

Papai Noel em Festejos;

Acabaram-se os medos,

Desdourada é a pulseira.

 

Nasce o samba de enredos,

Tamborins e brinquedos

De um domingo à jaqueira.

 

Brinca o samba em folguedos,

 

Nessa tarde, à lareira.

 

 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Subúrbio

Subúrbio

Conte o subúrbio a sua graça
Nesses mercados persas óbvios;
Feira e feirantes, sua praça,
Livre de turno, hora e relógios.

Grito é freguês e preço é caça,
Fiado ao caderno e, à vista aos novos,
Nesse comércio que ultrapassa
Custos e contas nos descontos.

Conte a farinha de linhaça,
Peso à granel aos Anos Novos,
Brinde aos  pastéis, recheios e massa,
Brilhem cordéis, papéis e enroscos.

Festa ambulante ao passa-passa,
Brincos e anéis e tantos moços,
Bolha e sabão de rua e garça,
Brinca o destino ao gosto e aos  povos .

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Durex?

Durex?

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Esse durex que não encontro

E que me falta às colagens,

Vem me contar das paisagens

Desencontradas ao estofo.

 

Onde estará esse meu logro

Nesses avisos das paragens,

Serão de fato as bobagens

Mais importantes que o pronto?

 

Não se reduz ao desaponto,

Não se nega bricolagens

E, atemporal são as roupagens.

Hã? Esse durex não vai ao forro?

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Amantes e Casados

Amantes e Casados

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O jovem adulto casado conversava com o amigo no café.

O amigo perguntou se aquela moça que estava com ele noutro dia era a sua amante.

O jovem respondeu que não. Era a sua mulher, legítima esposa, bonita do jeito que era.

O amigo perguntou a ele como era estar casado, ter uma mulher bonita, e cheia de curvas. Disse a ele que o perdoasse pelos adjetivos, mas o fato era verdade.

_Eu sei que a minha esposa é bonita. Eu sei que todos olham para ela e a admiram. Ela sabe que é bonita e sabe que eu sei que ela é bonita. Combinamos em nossa intimidade. Eu disse a ela que não iria proibi-la de olhar para quem olhasse para ela. Pode ser um parente, colega de trabalho ou, algum vizinho. Eu quero que ela me apresente os seus conhecidos.

O amigo perguntou se ele não sentia certa insegurança ou ciúmes dela.

_Como se adiantasse ter ciúme. Eu permito que ela olhe para quem a observa, mas a condição vale para mim, igualmente. Eu olho para as moças bonitas e se encontrar alguma conhecida, eu não quero que ela sinta ciúmes. Agora, se um de nós, trair a confiança que temos um no outro, nos separamos. O que eu não quero é que ela se sinta intimidada por estar comigo. Eu quero ser o homem da confiança dela e quero que ela seja a mulher em que posso confiar. Foi com esse intuito que nós nos casamos, para estarmos em intimidade. De vez em quando um chama a atenção do outro quando o olhar excede a observação, mas um sabe o que o outro faz. É importante para nós esse comportamento, e nasceu no tempo do namoro.

O amigo disse que a namorada dele também era bonita, era aquela moça que foi esperá-lo na saída do trabalho. Ele estava em dúvida se namorar uma moça bonita daquele jeito valeria a sorte de estar com ela.

_Depende do jeito como vocês se dão. A minha mulher, quando recebe um elogio que ela não gosta, se defende dizendo que, para ela, sou eu o escolhido para o resto da vida dela.

A hora do almoço acabou e, na ida para o trabalho eles presenciam um homem dos seus quarenta anos dando um abraço exagerado na mulher um pouco mais nova que ele.

Nenhum dos dois era muito bonito; barriguinhas de ambas as partes compunham o conjunto, além das roupas ajeitadas e os sapatos gastos, mas conservados.

A mulher chamou a atenção dele pelo exagero do abraço no ponto de ônibus. Ela estava contente, mas severa.

O homem respondeu na hora:

_Mulher, então tu não sabes que és um desacato para a minha autoridade?

Ela sorriu e disse:

_Sei, mas temos a nossa casa para as nossas intimidades.

Os dois caíram na risada. Ele estendeu os braços e ela disse para que ele a aguardasse.

Os amigos passaram, olharam, pensaram e, era sobre isso que eles falavam ainda há pouco.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Sabor

Sabor

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Livro-me do amargor,

Digo-o desnecessário;

Livro que causa dor

Pode ir para outro armário.

 

Limpo de traça e olor,

Cabe a outro usuário;

Meu não é esse sofredor,

Leio história, mas de amor.

 

Leio o livro sem rancor,

Mesmo sendo ordinário,

Gosto se dá ao sabor

Do meu bem solidário.

 

Deixo ao outro o seu sabor

Desse bem literário;

Fruta-pão, ou, esse cremor

Tártaro, ao seu contrário.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A Melhor Amiga da Mulher? / Crônica do Cotidiano

A Melhor Amiga da Mulher? / Crônica do Cotidiano

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Existem amigos inesperados que nos dão os melhores presentes.

Tive um compromisso a tratar e, na casa do casal de amigos, havia uma cachorra da raça Pitbul.

A cachorra ficou solta enquanto eu estava por lá e, de fato, era mansa e graciosa, se é que se pode chamar uma Pitbul de mansa e graciosa.

Confesso que não tive coragem de fazer carinho nela, não nos conhecíamos muito bem. Ela parou de latir e ficou me observando.

A conversa agradável e todos nós dividimos a atenção com a observadora cachorra que passeava em nossa volta.

Medo? Apenas ao entrar na casa. Depois, com a cachorra passeando tranquilamente entre nós, posso dizer que simpatizei com ela.

Na saída, ela chegou junto a mim, encostando a cabeça nas minhas pernas.

Mansa que deu gosto de ver.

Foi nesse momento que o dono da casa interviu:

_Saia, enquanto eu a seguro.

Se, a cachorra era mansa, para que segurar?

Eu disse que, por mim, não precisava, porque a cachorra era bastante simpática.

Ele, o dono da casa, respondeu:

_Esse é o problema: ela gostou de você. Ela é pesada e, costuma pular para fazer a festa aos visitantes. Se, você, se assusta, ela pode interpretar erradamente a sua falta de sorrisos. Eu não aguento com o peso dela quando ela está agitada. Melhor assim. Volte sempre.

Estou até agora pensando se a máxima de que o cachorro é o melhor amigo do homem vale para as mulheres. Ou será que os homens não confiam nas mulheres? Ou será que a cachorras não são as melhores amigas das mulheres? Ou será que a Pitbul, por não fazer comentários, morde?

De qualquer forma, gostei dele ter segurado a cachorra. Talvez eu agradasse a sua cabeça e me aborrecesse.

São momentos lúdicos da vida da gente que compartilho com vocês. Foi sensacional a experiência.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Respeito

Respeito
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Acorda-me o mar
Do verbo confiar,
Navega o barqueiro
De sério estaleiro.

Mergulho é amar
A rede e o pescar
Até o derradeiro
Momento ao veleiro.

Modula esse andar
O vento e o luar,
Que o medo é traiçoeiro
E o estreito é ligeiro.

Vem chuva a assustar,
Respeito ao marear,
Pois, há o passageiro,
Razão, e timoneiro.

sábado, 7 de dezembro de 2013

O Palestrante / Crônica do Cotidiano

O Palestrante / Crônica do Cotidiano

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Estava distraída, quando ouvi as vozes da mesa ao lado. Eram vozes alegres com muito carinho no modo de falar.

O homem falava e a mesa se calava, a história dele era boa. A voz dele, apropriada, de tom afável.

Aquele homem acabava de desembarcar no Brasil após uma palestra e estava reunido com a esposa e os amigos.

A esposa de mãos dadas com ele e, os amigos, festejando o fato de ele ter sido convidado a fazer uma palestra no exterior.

O homem, cansado da viagem, disse da sua experiência:

_Meus queridos, a viagem não foi a passeio. Foram doze horas de viagem até desembarcar na Europa, ir ao hotel, me arrumar e preparar a fala. Aprendi sobre os costumes e algumas curiosidades contadas pelos copeiros do hotel. Vocês sabiam que, por exemplo, na Itália, palestra se chama “Explicazione”? No hotel fiquei conhecido como “O Explicador”.

Os amigos disseram que a viagem foi divertida, mas ele disse:

_Aqui no Brasil nós costumamos pensar assim, mas a responsabilidade de se fazer uma palestra no exterior sendo um convidado brasileiro não me deixou sequer pensar em diversão. Eu tive dúvidas sobre a melhor forma de explanar e liguei para o Brasil inúmeras vezes, troquei ideias com a Laura e com o grupo que eu representava lá fora.

Os amigos dele perguntaram se ele não havia gostado da viagem e ele disse:

_É o meu jeito de ser quando assumo compromissos, eu não me tranquilizo antes de me sair bem de um desafio. Fui muito bem tratado e a palestra, modéstia à parte, foi do agrado dos ouvintes. A sala reservada para o evento também era agradável, estava lotada com uma plateia gentil, mas quem tinha que falar, era eu. Não houve perguntas durante a explanação. Eles esperaram que eu terminasse para abrir a palavra para que o público intervisse com as suas questões. Se eu pudesse explicar a sensação eu diria que foi um monólogo a respeito do conhecimento sobre o que eu me propus a dizer. Não citarei o tema para que vocês não peçam para que eu fale sobre o assunto. A questão do palestrante profissional é dura, pois exige muita pesquisa e poucas intervenções de caráter pessoal.

Os amigos ainda quiseram saber como ele se sentia naquele momento, estavam curiosos e queriam saber de tudo.

Ele, então disse:

_Estou cansado, mas contente porque tudo saiu conforme eu queria que saísse. Foram doze horas de viagem da Europa até o Brasil, quando, o avião atrasou em São Paulo. Somem quatro horas no aeroporto. A Laura foi me buscar e contou que vocês me aguardavam para o almoço. Eu tomei um banho rápido e vim vê-los.

Os amigos sorriam sonhando com a viagem que aquele homem fizera.

O homem concluiu o assunto viagem, dizendo para todos comerem. Ele estava contente de estarem almoçando juntos, mas ele precisava dormir.

Eu estava atenta, a conversa era maravilhosa, plena de sucessos. Terminei de tomar o meu guaraná e vim embora sabendo mais; eu não tinha ideia das dificuldades da vida de um palestrante. Ele explicou.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Natural

Natural

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O sonido faz-se seu amigo,

Ao conter o ronco do estômago,

Perigoso é ouvir o ruído,

E sentir-se peixe sem plancto.

 

O barulho de ti é inimigo,

Enrouquece, ou, estraga todo o âmago,

Necessário, ao perder o sentido,

Natural do ser consonântico.

 

Que sejamos ventre não ambíguo

Do universo; música ao âmbito

Cultural, de som comedido,

Afinado, físico e quântico.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Ainda Reflexões

Ainda Reflexões

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Alguns diálogos curtos que trazem reflexões sobre o nosso desconhecimento dos mistérios de Deus.

Para nós, cristãos, as regras parecem simples: cumprir os dez mandamentos e seguir o amor de Jesus, que disse: “Amai ao próximo como a ti mesmo”.

O livre-arbítrio é intenso na liberdade proposta, pois, seguindo as regras, todo o discernimento fica ao nosso critério.

Jesus Cristo libertava o ser humano de toda e qualquer forma de escravidão.

Sobreveem as questões espirituais e, pouco se sabe a respeito. No entanto, a decisão cabe a nós mesmos nessas questões.

Servimos-nos da filosofia, da psicologia, das ciências, mas o mistério divino permanece.

Não temos respostas para todas as questões e escolhemos de acordo com a nossa experiência de vida, diferente, única e particular.

E são inúmeras as decisões de ordem emocional após seguirmos as regras dadas pela Bíblia. A Palavra guia a cada um de nós, sempre diferente aos ouvidos. O entendimento da Palavra difere de pessoa para pessoa.

Há um caminho a seguir, mas o amor é quem conduz os nossos passos.

Tentarei ser prática: as vivências diferem desde a origem, desde o ventre materno. Simplificando o mais que posso, outro dia o porteiro de um edifício me disse que havia dificuldade de entendimento na conversa, porque para ele olhar um local significava cuidar e, para mim, o dicionário é específico e olhar e cuidar têm significados diferentes. Dizia ele que tínhamos um objetivo comum e a dificuldade era de linguagem. Concordei.

São visões diferentes, de momentos diferentes. De novo, um exemplo simplista: Hoje choveu e eu saí. Encontrei outra senhora que me contou dos raios e relâmpagos que ela presenciou enquanto caíam ao chão. Eu perguntei o local onde havia acontecido a chuva de raios. Ela disse o lugar e o lugar fica a poucos metros da minha casa. Eu não vi nenhuma chuva de raios. Ela viu. Fomos ao supermercado por ruas diferentes.

Por mais simples que sejam os exemplos, há neles a vasta questão do livre-arbítrio, da educação de cada um e das suas escolhas.

Nisso apareceu um senhor, mais um desses exemplos para complementar à questão. Ela viu os raios e eu não vi. Ele interviu dizendo que, em caso de raios que fiquemos abrigadas e não saiamos da condução enquanto os relâmpagos não cessarem.

Ele foi, naquele momento, uma dessas pessoas queridas, que a gente encontra pelo caminho. De boa vontade, ao ouvir a conversa, juntou-se a nós, para nos aconselhar para o momento das chuvas de verão. Ambas as mulheres, eu e ela, ficamos agradecidas pela gentileza.

Enfim, um dia para reflexões, entre amigas, desconhecidas e, da turma do café.

Fiquemos com os mandamentos e com Jesus.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Eu Te Encontro no Buffet / Crônica do Cotidiano

Eu Te Encontro no Buffet / Crônica do Cotidiano

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Os meus leitores estão ávidos por crônicas. Saí, e eles vieram ao meu encontro.

Eram quatro advogados e uma moça, os quatro numa mesa e a moça na outra. Eu, ainda, noutra mesa, próxima a eles.

Bastou que eu me sentasse para o lanche que a conversa começou.

A moça virou-se para a mesa deles e disse:

_A sua família sabe do seu cachorro Bruce?

Um dos advogados respondeu que a família não sabia por que ele não tinha cachorros e ele não inventava histórias para a família dele.

Para dizer o bem da verdade, diga-se que a moça foi convincente na sua atuação em defesa do Bruce. No entanto, o assunto não era da minha lavra, não escrevo sobre a vida dos outros, prefiro as minhas ideias inventadas a partir dos detalhes e o tema seria outro, não fosse a intervenção desse grupo.

Bruce para cá, Bruce para lá e, a moça foi embora, ainda contando do Bruce e dizendo que ela o conhecia; portanto a história era verdadeira.

Cuidei do meu lanche, pensando no homem feliz que vi pela manhã, um homem mostrando a sua felicidade é para se admirar, admirei.

Ela saiu e eles provocaram-me dizendo:

_Queremos saber se você é ou não é agente da Interpol. Se você não for, publique o que nós estamos dizendo no seu blog.

Pode ser até que algum “FBI agent” me conheça pela “daily musical playlist”, ou seja, as mesmas músicas são estudadas até que fiquem prontas e eu comece a tocar outras músicas. Quem passa na rua, e possui ouvidos apurados, pode me ouvir e se divertir com as repetições Beethovianas (nova linguagem criada por mim). Gosto não se discute e quem gosta de me ouvir, gosta e ponto final.

Provocação aceita e crônica feita.

Ficam os meus sinceros agradecimentos ao público, mas, da próxima vez, esperem eu terminar o lanche.

Um abraço do cotidiano.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Sussurro–Indriso

Sussurro

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Solidão é mar de arte,

Propaganda e encarte

Ao sossego e, ao estar.

 

Ao silêncio parte

O poeta à Marte,

Num navio a embarcar.

 

Sem querer, reparte;

 

O querer e o amar.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Alma da Gente

Alma da Gente

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Guarda contigo

Este sorriso

Leve e contente.

 

Tempo preciso,

Voa contigo,

Vento da gente.

 

Durma no abrigo,

Sonho conciso,

Sê displicente.

 

Vive sem friso,

Despe o improviso,

Luz refulgente.

 

Hoje eu te digo,

Vague comigo

Na alma excedente.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Vontade

Vontade

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Tantas vontades são nada

Diante do plano de Deus.

Maior que eu, na graça irmanada;

Tríplice União sem adeus.

 

Santo é o seu nome à pousada,

Todos são filhos, são Teus;

Fez desse mar uma enseada,

Criou e fez da vida liceus.

 

Nesse horizonte à sacada,

Surgem caminhos sem breus,

D’uma esperança calçada;

Certos são os passos de Deus.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Constatações

Constatações

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Águas de chuva, esverdeadas;

Limpas são as águas correntes

Dessas vontades rosadas;

Cingem os rios pertinentes.

 

Chamam aos sonhos floradas,

Frutos maduros, sementes;

Verdes e azuis, irrigadas,

Vindas de fontes nascentes.

 

Flores de iguais semeadas,

Brotam e são diferentes;

Águas são chuvas levadas;

Nelas, a flor em sementes.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Mais Uma / Crônica do Cotidiano

Mais Uma / Crônica do Cotidiano

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É a segunda vez que ouço a mesma queixa e o problema é real.

As mulheres que frequentam a musculação são as que sofrem do problema, que embora pareça frívolo, alteram o humor, quando não o peso, ou, ainda, os dois problemas em conjunto.

São mulheres que se cuidam e para manterem-se em forma praticam a musculação e se alimentam bem.

De repente, num dia qualquer, o médico avisa que os exercícios são excessivos.

Às vezes elas perdem peso e não percebem que estão com o corpo fora do peso.

Todas, sem exceção, dizem que se sentem mal quando não vão à academia, não fisicamente, mas, emocionalmente. Sentem-se descuidadas consigo mesmas durante o dia inteiro, quando, pela manhã, não fizeram exercícios.

Pessoalmente, parei quando me avisaram que eu precisava engordar, e quem avisou sabia daquilo que dizia.

Não é a moda que impõe essa condição, é o organismo que pede mais e mais exercícios, provavelmente pelo bem estar causado pelo mesmo.

Quando o exercício vira apoio psicológico sem limites, acontece o que se observa, principalmente, entre nós, mulheres. São mulheres adultas com o peso oscilando entre 45 e 49 quilos de peso numa altura média de um metro e setenta de altura.

Todas as observações são feitas de modo particular, sem critérios científicos, mas não se trata de anorexia. Essas mulheres comem de tudo, se bem que às vezes trocam o almoço pela festa de aniversário à tarde; a maioria de nós já fez isso alguma vez na vida.

O que eu sou contra é esse estresse por um dia de falta na academia de musculação descrito como sendo uma sensação de fracasso, de ter jogado o dia fora.

Escrevo porque recebi três convites para frequentar a academia, ginástica que está parada há anos. Prefiro caminhar tranquilamente, olhar a paisagem em volta, mesmo composta de edifícios e calçadas.

Não quero o cronômetro me dizendo a que velocidade eu estou na esteira e a velocidade máxima permitida para a minha idade e etc.

Também não digo que não valha à pena ir até a academia, vale! Desde que não seja um disfarce para problemas não resolvidos, não se resolve problemas emocionais com ginástica. A ginástica que se transforma numa ideia fixa não é boa.

Enquanto escrevo, uma diminuirá a frequência, a outra continuará correndo sabe-se lá quantos quilômetros ao dia e, a terceira, achou que era o ambiente e não a academia e simplesmente mudou de academia, não consegue ficar sem.

São conversas femininas a serem compartilhadas.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Original / Conto Cotidiano

Original

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Um homem e uma mulher, ambos moradores de rua, começam uma discussão.

Quem está no centro da cidade, cumpre algum objetivo e, os estudantes aguardavam as aulas, as senhoras faziam lanche, os transeuntes desviavam o casal.

Os estudantes, curiosos, ficaram por perto, porque o homem queria estapear a mulher.

Ambos com poucas roupas e desarmados, não metiam medo em ninguém.

De dentro da lanchonete era impossível não ouvir a discussão. A discussão não conteve nenhuma ofensa pessoal e era extravagante.

O primeiro tapa surgiu e os estudantes reclamaram com o homem. A mulher se escondeu atrás do canteiro de obras.

Todos os estudantes estavam a favor dela, quando ela saiu do canteiro, deu um tapa no homem, correndo em seguida para trás do canteiro.

Os estudantes reclamaram da atitude dela.

Um dizia de um lado:

_É hoje que te pego!

A outra, respondia dali:

_Diga o porquê é que você está brabo comigo?

Ele respondia perguntando se ela não sabia.

A gritaria continuava e, em volta, todos ficavam quietos, aguardando os acontecimentos. Os estudantes seguravam-se uns aos outros para não interferirem na discussão.

A mulher, escondida, começou a perguntar:

_O que é que você tem homem? Por acaso eu te traí?

Ele respondeu:

_Não! Eu lá sou homem de discutir com mulher que me trai?

O homem estava muito zangado, mas ninguém sabia o que ele queria com a mulher.

A mulher, de novo, perguntou:

_Por acaso eu te roubei?

Ele respondeu:

_Não! Eu não discutiria se você tivesse me roubado!

O povo, cada vez mais quieto, esperando para ver até onde iria aquela discussão.

A mulher, mais uma vez, de trás do canteiro:

_O que foi que eu te fiz? Diga logo e acabe com isso.

O homem não se aguentou e disse:

_Você é “alcagueta”! Você me dedurou para a polícia.

Ele disse nessa linguagem incorreta e partiu para cima da mulher.

A gargalhada foi geral. O que era silêncio se transformou em piada.

Um estudante disse que iria procurar um policial e pedir emprestado gás de pimenta. Se o homem tinha sido “alcaguetado” é porque merecia.

As moças, estudantes, pediam para que o estudante tomasse cuidado com o pedido.

A zoada foi tanta que dali a pouco chegou um policial e acabou com a baderna.

Dali em diante, as pessoas desejaram uma boa semana para os demais. Todos com sorriso no rosto.

Urbanos contos perdidos.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

A Ponte

A Ponte

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Em dúvida e sem ter passado pela ponte de madeira, Josefina foi até a banca de revistas e perguntou se a ponte era firme e se ela poderia passar sobre ela sossegada, pois estava arrumada para a reunião de trabalho após o almoço e calçava sapatos de salto alto.

Os frequentadores da banca ouviram a pergunta.

Conversadores, os dois senhores idosos quiseram saber onde era a ponte.

A jovem adulta, altiva, ouvia sobre a ponte com atenção.

Depois de alguns minutos de conversa sobre a ponte, a localização e a qualidade da madeira, o responsável pela banca de revistas disse que o atalho era seguro, ainda mais durante o dia, quando se pode ver qualquer defeito na construção ou alguma tábua solta.

Josefina agradeceu e rumou à ponte.

Caminhava curiosa, pensando nos seus sapatos, quando ao lado dela observou os dois senhores de idade, ainda conversando:

_Você sabe que eu passo por aqui todos os dias e não sabia que havia uma ponte.

Ao que o outro respondeu:

_Vamos experimentar a ponte, hoje ganhamos o dia. Levaremos para casa a aventura de passar sobre a ponte.

Josefina aumentou o passo e verificou que a jovem adulta passava por ela. A moça, de cabeça erguida e determinada, rumava para a ponte, como se criticasse os demais.

Josefina diminuiu o passo.

Ao diminuir o passo, os senhores de idade ficaram lado a lado com ela, felizes, feitos crianças, pela ponte sobre a qual iriam atravessar.

Josefina diminuiu o passo e fingiu observar uma loja à beira da rua.

Deixou todos os demais, que estavam presentes na banca de revistas, passarem à sua frente.

Depois que os senhores e a jovem adulta atravessaram a ponte, ela foi até a ponte.

Um homem maduro, sentado no muro de uma casa, próxima à ponte, pensou em voz alta e disse:

_É a primeira vez que vejo tantos pedestres passarem por aqui...

Josefina acelerou o passo e atravessou a ponte.

A ponte estava em perfeitas condições de uso e os seus sapatos ficaram prontos para a reunião.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Salvando à Pele

Salvando a Pele

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Jaciara estava doente. O doutor veio da cidade e a examinou, havia pouco a fazer. Deu remédios e foi-se embora.

Juraci, menina criança, ficava com a mãe.

As duas eram tristes dia e noite.

Juraci era triste pela doença da mãe. Jaciara era triste porque sabia que a filha seria enterrada viva, junto com ela.

A tribo tinha pena, mas eram as normas da tribo.

Estavam as duas na oca, quando Jaciara disse que iria planejar tudo de modo que Juraci ficasse viva e não fosse enterrada viva.

Juraci, sabendo que iria junto com a mãe, não se opôs, seria uma distração para enquanto o dia do fim não chegasse.

Jaciara pediu a tinta das flores da tribo e Juraci as pediu ao pajé

_Jaciara precisa de tintura das flores.

O pajé fez as tinturas e as deixou na oca.

Jaciara ordenou que colocasse as tintas sob a rede de dormir e Jacira as colocou pela ordem conforme a mãe ordenava.

_A tintura preta será a primeira e ficará entre a minha rede e a sua. Quando eu não mais falar e apertar a sua mão será o nosso adeus. Pinte-se de preto e fique na mina de carvão abandonada até que me enterrem sozinha. Não chore para que ninguém te encontre. Fique por lá duas luas e, depois, saia.

Embora o assunto fosse mórbido, prometia uma aventura antes de ser encontrada e enterrada viva. Juraci obedeceu às ordens da mãe no mesmo momento em que foram ditas. Afinal, a mãe seria enterrada morta, mas ela, viva.

Depois de algum tempo pensando, veio à segunda ordem:

_Misture poeira de cal às cinzas de carvão. Jogue-as ao vento e pranteie a nossa separação.

Juraci encontrou a sua dificuldade, o pajé não levou cal para a oca.

_Não temos cal.

Jaciara sorriu e explicou:

_Não temos cal porque a mina de cal fica a dois quilômetros daqui. Há frutas no caminho. Alimente-se delas até chegar ao cal. Pegue o carvão e o cal. Moa. Espalhe ao vento e chore. O meu espírito estará perto do seu coração, não tenha medo.

Juraci disse que se fizesse do jeito que a mãe mandava, ela ficaria longe da tribo.

Jaciara ficou séria e disse:

_Não volte para a tribo. Nenhum homem, mulher ou criança gostará de você. Toda a tribo tem alguma mulher enterrada com a sua criança. Eles acham que é certo. Ninguém tentou sair da tribo até hoje e esse é o nosso plano.

Juraci não sabia se conseguiria fazer tudo, mas pediu à mãe um modo de ter coragem para obedecer.

Jaciara mandou que ela pegasse a tinta vermelha e pintasse os braços.

Juraci pintou os braços conforme a mãe mandou.

A mãe então disse:

_Olhe a tinta e pense que é sangue, o seu sangue.

Juraci sentiu a coragem para prosseguir com os planos de Jaciara.

Mas, para onde iria Juraci, sem tribo, sem nada? A filha perguntou à mãe.

Jaciara, com determinação, respondeu:

_Pote de fel, pote de mel. Existe uma tribo que acolhe crianças perdidas há cinco quilômetros de distância. Há um rio no caminho, siga o rio em direção à nascente. Pegue uma folha de árvore grande e navegue sobre ela.

Juraci pensou e perguntou à mãe:

_A nossa tribo não vai atrás de mim? Se eles pensam que o certo é que eu seja enterrada com você, eles irão atrás de mim para me enterrarem, embora a essa altura do plano eu já não tenha tanta certeza de que eles me encontrarão viva.

Jaciara respondeu, amenizando a seriedade:

_Eles te encontrarão na outra tribo, mas a outra tribo não entrega crianças para nenhuma outra tribo.

Juraci, sabendo que a mãe estava doente, não discordou. Ao contrário, perguntou como deveria se comportar quando chegasse à tribo e fosse encontrada.

Jaciara percebeu a inocência da filha, conhecedora da dor da saudade antecipada. Pediu a Juraci que pegasse as tintas azul e amarela. Perguntou à filha do que diziam aquelas cores.

_O céu, o sol e a água limpa dos rios e das cascatas.

Jaciara, então disse:

_A se ver encontrada, lembre-se da tinta preta, das cinzas e da cal, também da tinta vermelha. Olhe para o céu e perceba que eu te guiei até ali. Sinta o sol brilhando no dia que nasce e respire fundo, você conseguiu chegar até lá. Sua mãe está contente com você.

O tempo passava e em meio à tristeza, a conversa prosseguia cada vez com mais pressa. Jaciara receava não conseguir terminar o seu plano para Juraci conforme queria.

O plano da vida de Juraci estava pronto, mas ainda havia palavras especiais a serem ditas e Juraci disse:

_A tribo será boa, mas ninguém será a sua mãe. Cuide-se. Seja generosa, mas não acredite em tudo. Eu cometi enganos, acreditei mais do que devia, mas sempre pensando no seu bem. Você precisa saber disso para quando for mãe. Eu te fiz feliz quando todos queriam te castigar porque você brincou com fogo e se queimou e não me arrependo disso, pois ninguém sabe o futuro. Onde se viu castigar criança queimada? Tem gente que castiga criança machucada, pense nisso quando for mãe. Mãe cuida, mas criança cega a mãe. É bom partir sabendo que a filha foi feliz, sabendo que dependeu de mim essa felicidade.

Juraci sofria com essa despedida, mas estava feliz com a conversa.

Chega a hora. Jaciara aperta a mão da filha fortemente.

Juraci pega a tinta preta e vai para a mina de carvão abandonada sem medo de bicho nenhum, pois a tinta preta cheirava mal e bicho nenhum chegaria perto dela.

Esperou passarem as duas luas e foi atrás da pedra cal, misturou-a as cinzas do carvão e jogou-as ao vento. Cansada, sentou-se e chorou até se cansar.

Correu até o rio e o seguiu em direção à nascente. Achou a árvore grande e navegou à margem para colher os frutos que encontrava no caminho por vários dias.

Um dia, ela foi encontrada por uma índia que se banhava no rio. A índia segurou as suas mãos e ela consentiu porque sabia que a tribo era aquela pela qual buscava.

Juraci olhou para a índia que a segurava e olhou para o céu e para o sol e sorriu.

A índia retribuiu o sorriso.

Juraci ainda obedecia às palavras da mãe, sendo generosa para com as crianças da tribo.

Passaram-se algumas luas e chegou o índio da sua tribo atrás dela.

O cacique disse que aquela índia não era a índia que ele caçava.

Mais duzentas luas se passaram e o pajé veio conversar com Juraci sobre as danças que ela precisaria aprender para as festas. Aproveita a conversa e pergunta:

_Você é a índia pela qual o índio caçador procurava?

Ela disse que era.

O pajé a corrigiu dizendo a ela que não mais dissesse aquilo, agora ela era daquela tribo.

Durante as festas, houve uma dança para a Lua.

Ao nascer da Lua começou a dança com Juraci. Jaciara parecia sorrir.

domingo, 24 de novembro de 2013

Predestinação

Predestinação

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Dois negociantes se encontram na cafeteria Café de Casa e a conversa fica muito agradável. Conversa vem, conversa vem eles trocam números de telefones e continuam a conversar por muito tempo.

Otaviano e Ronildo marcam encontros e apresentam as respectivas famílias, sentem como se ambos se conhecessem há muito tempo.

Um dia, enquanto conversa, Otaviano se lembra do comércio que não deu certo.

Orlandim fica atento à história, pois, coincidentemente com ele aconteceu algo muito semelhante há alguns anos atrás.

Otaviano conta que alugou uma loja sob um edifício. O preço do aluguel era razoável e o ponto promissor.

O dono do ponto comercial, ao alugar a loja, propôs o contrato por dois anos, convencendo Otaviano que a proposta era boa, pois, se o negócio não desse lucro, a multa contratual seria mínima.

Passaram-se os dois anos e o comércio caminhava bem.

Chegou a hora de renovar o contrato e o proprietário pediu o ponto, dizendo que iria vender a loja. Como praxe, ofereceu ao inquilino a compra do imóvel, mas Otaviano não tinha recursos para comprar a loja e fazer os investimentos necessários ao seu negócio.

Foram seis meses gastos na procura de outro ponto comercial, reforma das instalações e mudança de endereço, com perda de clientes, prejuízos cobertos com parte do capital que seria de investimento no incremento dos seus negócios.

Orlandim, ao ouvir a história, ficou impressionado, porque com ele se dera tudo exatamente igual como ocorrera com o amigo.

Otaviano, para desfazer as coincidências, contou o endereço onde o seu negócio estava instalado naquela época.

Orlandim ficou em pé, como que assombrado. Havia sido ele o inquilino posterior, onde o caso se sucedeu.

_Saiba amigo, que quando eu aluguei o espaço, eu ouvi falar de você, mas sem que me contassem o seu nome e o nome da sua loja de comércio. Agora percebo que foi para que eu não conversasse com você antes de alugar o ponto comercial. A minha situação não foi melhor que a sua.

Otaviano e Orlandim se ofereceram um ao outro para ajudarem-se mutuamente, no futuro, caso precisassem mudar o endereço dos seus comércios.

Otaviano, por curiosidade, quis saber se ele frequentava ainda o Café de Casa e o amigo respondeu que quando, por acaso, passava por ali, parava para tomar um café.

Orlandim lembrou-se da chuva e da rua, onde deixara o seu veículo, estar alagada em frente ao estacionamento em consequência de um reparo da energia elétrica; um pedaço de poste entupia o bueiro. Entrou no café porque consertavam o poste, cujo fio estava caído em frente ao estacionamento.

Otaviano lembrou-se então que, naquele dia, chovia. Não que ele acreditasse, mas parecia predestinação aquele encontro.