Verso Escrito
O poeta o verso escreve,
Mas não é o autor ou o porquê escreve,
Posto que a si se derrete
Ao espírito que compete,
Que lê e relê e não se atreve
Em palavra que se deve,
E assim volta e se repete
Retornável a ser Pet,
Garrafa plástica breve
Gaseificada, água leve
A ser lida por topete
Como se fosse um bilhete.
Espelho D'água
Muda o lugar,
Muda-se o texto
Pelo contexto
De se admirar
A água a gelar
Por outro nexo
O ser complexo
Sem se notar,
Que a se pensar
Vira reflexo.
Pensamento Disperso
Dizia mais do que queria
Ao ignorar o que dizia,
Situação que se repete
Quando o sono não dormia
O bastante e já era dia,
Numa luz que se reflete
Em verdade luzidia
Porque a luz também deflete.
Ajeitado
Dá-se um jeito,
Bom amigo
Que é meu livro,
Se perfeito,
Já não digo;
Não me privo,
É um conceito
E um abrigo.
Feriado Mudado
O tempo otimizado,
Mas não customizado,
É ao feriado o lazer
Do tempo improvisado
E por certo suado,
Embora vá chover,
Derretido e molhado
Da manhã ao anoitecer.
Evolução
Até mesmo a evolução vem da experiência pessoal, e independe das finanças, mas exige que o bom senso seja racionalizado.
Exemplifico com as minhas vassouras elétricas, as quais são auxiliares na limpeza de casa.
Por que é que eu tenho duas vassouras elétricas, quando uma bastaria?
A primeira vassoura elétrica foi comprada num supermercado que tinha uma exposição de vassouras elétricas.
Gostei da ideia e escolhi pela marca, pelo design, e pela funcionalidade e praticidade., e a que tinha um preço razoável com todos os parâmetros citados.
Cheguei em casa, abri a embalagem da vassoura elétrica, e fui à limpeza. Ela prometia limpar os cantos dos cômodos no modo portátil, ou seja segurada pelas mãos.
Eu pensei que tivesse comprado algo genial, mas no modo portátil, a vassoura elétrica pesava quatro quilos, e era como se os braços estivessem segurando um pacote de cinco quilos de arroz o tempo todo.
Com todos este peso, refleti e percebi que a vassoura elétrica servia apenas para limpezas rápidas e no modo vassoura ao chão, e que os pesos ficariam para as academias.
Passados dois anos, num outro supermercado, a mesma exposição de vassouras elétricas, a qual olhei e disse a mim mesma que não queria nem ouvir falar em vassouras elétricas, mas em letras grandes estava aquela que dizia pesar um quilo e meio montada e menos de um quilo no modo portátil.
Observei que era de marca conhecida e popular, com um design simples, e pedi uma demonstração.
Esta vassoura elétrica era leve, e tinha mais acessórios, com um cabo de comprimento razoável, especialmente planejada para ambientes menores, para não diminuir o espaço de ambientes pequenos como cozinhas e áreas de serviço.
Além de ter gostado da apresentação, gostei do preço, que era a metade da primeira vassoura elétrica adquirida.
Esta segunda vassoura elétrica é usada frequentemente.
Quantos paradigmas e conceitos foram revistos pela nova vassoura elétrica, o que foi muito útil para o cotidiano.
Neste ponto cabe separar a experimentação da evolução.
Experimentação foi a vassoura elétrica de quatro quilos que comprei porque não conseguia encontrar aquela vassoura antiga, também montável, a qual armazenava a sujeira entre as escovas que ficavam em contato com o piso a ser limpo.
Evolução é a vassoura elétrica de um quilo e meio, montada, agora à venda em diversas cores, e muito prática, com mais acessórios, além de barata e de marca popular.
Evoluir é bom.
Para terminar, preciso dizer que a vassoura elétrica, que pesa quatro quilos, continua à venda, e que pesa quatro quilos quando usada sem o acessório vassoura, e que continua sendo mais cara que a vassoura mais leve, e que tem um design muito bonito e que é pouco prática quando usada no dia a dia.
Hiato da Alma
Pensamento que é abstrato,
Por ser paradoxal,
Não contém o que é exato,
Palavra ou o seu substrato,
Pois à alma é universal
E usual como um hiato
Nascido estupefato,
Porque é atemporal.
A Blusa Extrassensorial / Crônica do Cotidiano
Assim aconteceu. Comprei uma blusa em promoção através da internet, mas por inúmeras escolhar do dia a dia, não pude ir pegar no dia avisado.
Os sonhos, por vezes, são demontrações do subconsciente ao consciente, e não é a primeira vez que acontece.
Sonhei que estava ao telefone, e ela, alguém que não vem ao caso, discutia severamente, mas sobre a blusa.
"_Aquela blusa é como se fosse minha, se estivesse viva. Aquela blusa sou eu. Se você usar a blusa que você comprou, você será transformada no que fui e nas minhas representações sociais."
Respondia eu, em sonho, que eu tinha comprado a blusa porque estava num preço muito mais baixo que de costume, e que precisava pegar a blusa.
Ela me advertia que a blusa não me significava e que eu trocasse por outra peça qualquer em promoção.
Respondia eu, que se a blusa ficasse boa, conforme a internet mostrava, eu iria usar a blusa, parecendo-me ou não com ela.
Ela disse que poderia usar de truques, mas se eu decidisse a ficar com a blusa, que soubesse que jamais voltaria a ser eu mesma.
Pois bem, depois do almoço, fui buscar a blusa comprada, com a consciência preocupada, mas sonho é sonho, um ilusão do inconsciente.
Cheguei à loja e tinha um jovem na minha frente, que se demorou um pouco porque tinha dúvidas sobre trocas e meios de pagamento, e eu esperei com calma, pois faz parte da juventude aprender a fazer compras de maneira certa.
Quando ele saiu, a atendente perguntou sobre o que eu queria, e disse que estava ali para retirar uma blusa comprada pela internet. Ela atendeu rapidamente, mas disse:
_A senhora me desculpe, mas eram tantas as dúvidas do moço que quase me irritei, e não posso me irritat no atendimento ao público.
Ela sabia do dever dela, e eu concordei, mas mal disfarçava a impaciência.
Entregou-me o pacote com a blusa, abriu o pacote e eu achei um pouco maior do que eu esperava que fosse.
Ela disse que em outra loja, há mais ou menos seis quilômetros de distância, tinha a blusa do tamanho que eu queria, com a mesma e igual qualidade oferecida pela loja.
A blusa estava à venda na loja que ela frequentava enquanto viva.
Tive a lívida impressão de que ela me deu uma escolha, ou me transformaria nela, ou escolheria outra blusa.
Nada que uns vinte reais e alguns trocados não resolvesse.
Em pensamento disse a ela e a mim mesma que não, que não queria ser ninguém que não fosse eu mesma.
Demorei meia hora, mas escolhi outra blusa, e deixei aquela blusa, que era muito bonita, ali mesmo.
Não quero nenhuma blusa extrassensorial comigo.
Pé-de-Pato Mangalô três vezes! Fique com Deus!
A Chuva
A máscara tem preço,
Mas visto o que não peço
Por gostar da saúde,
Necessário começo
Que exige o recomeço
Todo dia, e que eu me cuide;
A chuva que não impeço,
Me diverte amiúde.
Destrocas
Trocar ideias,
Viver medeias,
Dizer potocas,
Dúzia de meias;
Contadas areias
Nessas destrocas
Entre as aldeias
De poucas ocas.
Vai e Volta
Passeio paisagem,
Reflito à imagem
Do passatempo
Feito roupagem,
E esta engrenagem
De um mesmo alento
Diz que é a mensagem
Que espelha o tempo.
O Comercial
Ser natural,
Porque apesar
Do desigual
Livro a pesar,
Vem o jornal
A nos contar
De tanto mal
A contrariar
O que é habitual;
Necessário é o ar,
E o comercial
A continuar.
Balanço
Peneiro o grão,
Vou balanceando
O trigo e o pão.
Calor ao chão,
E ao sol, queimando,
Sem chuva, não,
E vou levando
Numa canção.
Alma à Rotina
Sem ter o que dizer,
A rotina se segue
Sem que perca o afazer,
E o relógio a correr
Querendo que se agregue
Uma frase a nascer,
Porque a alma está no ser,
E a ela que não se negue.
Planos Possíveis
Logo o verão se vai
Para voltar, quem sabe
Em maio, ao dia de onde sai
O sol sem nuvens que abre
O tempo, e logo vai
Chamar a geada que arde
Ao gelo do chão, e cai
E fica até mais tarde,
Mas devagar se esvai
Ao frio, que não se evade
Ao ritmo que distrai,
Exercício que cabe.
Tempo de Sexta
Tempo de sexta,
De se cansar
E descansar;
Preciosa sesta,
Que deixa estar
A semana ao ar,
Áudio é celesta
A celebrar.
Cuidados
Planeja este tempo
Mudado em movimento
Sem desafiar o espaço
Que se dá em cada passo
Com cuidado e vai lento
Enquanto pensamento,
Mas o lápis e o traço
Fino inovam o abraço
Que vai em direção ao vento,
Que é ânimo ao contratempo
Da vontade num lapso
De instante do dia escasso.
O Que Será Isso? Minicrônica do Cotidiano
Um maltrapilho com uma placa pedindo auxílio no semáforo.
O sinal abre, mas no entanto a motorista chama a atenção de todos os que estão na rua pelo gesto.
Era um carro médio, e provavelmente com poucos anos de uso.
Ela, a motorista, saiu do veículo dela, deixando as janelas abertas, foi até a parte de trás do veículo, abriu o porta-malas, e retirou uma cesta básica embrulhada em plástico transparente e deu ao homem, de chinelos de dedos muito gastos, e ele ficou atônito com a sacola de alimentos.
O homem ergueu um pouco a cesta básica e viu o que todos viram: arroz, feijão, café, etecétera.
Ele andava como que procurando uma maneira de sair do meio dos veículos sem conseguir atravessar a rua.
A essa altura, todos observavam a cena.
Um outro veículo, que observava a cena, e que tinha um homem no banco do passageiro, abriu a janela e chamou o homem.
Este homem do banco de passageiros, deu ao maltrapilho algumas moedas e disse a ele que seguisse em paz e que Deus o abençoasse.
Não, a mulher nem olhou para o passageiro do outro veículo, e provavelmente não o conhecia.
O homem pareceu sair do estado de choque em que se encontrava, por ter ganhado a cesta básica e saiu do meio da rua, agora com uma cesta básica e algumas moedas.
Enquanto isso, o semáforo fechou e abriu novamente.
A partir daí foi que houve a necessidade de todos continuarem os seus destinos normalmente, mas com a impressão de que o mundo é bom e que Deus existe.
Autoconhecimento
O que é essencial
Não desportiva,
Mas ser normal;
Parada e ativa
E meio casual,
Mas emotiva;
Se espiritual,
Muito auditiva
E desigual;
Também criativa
Nesse quintal
Que me motiva.
Sobre a Mesa
Todo dia
É surpresa;
Quem diria
Na alegoria
Da certeza
Ao que é um dia,
O dia a dia
Sobre a mesa.
Refrão
Multidão
E experiência,
Cantação
De um refrão;
É a impaciência
A vazão
De um bordão
Sem dormência.
Discernimento
Acorde ao tempo,
Discernimento
Deste bom dia,
E sopre o vento
Do entendimento
Com fidalguia,
Ao seu momento,
Suado dia.
Desenvolvimento
Viver em paz
É colorir
Livros demais;
Saber que faz
De cor florir
Num tom fugaz
Que se desfaz
Ao que há de vir.
Pela Palavra
O padrão que justifica
Jó é a argumentação
Perante Deus, que ouve e fica
Convencido da intenção
Benévola, e a ela credita
Uma certa redenção
Vívida, e desmistifica
A fé sem compensação
A quem nela dignifica
A mais bela convicção,
Que é um Deus que se significa
Vivo, e de bom coração.
Excesso / Crônica Reflexiva
Estávamos num grupo de prática de idiomas, quando uma das alunas, desabafou, mas em inglês, e disse que trabalhava doze horas por dia, estudava à noite e tinha uma filha pequena para cuidar, e que dormia com a menina com medo de não escutar um pedido de água ou para ir ao banheiro durante a madrugada.
Ficamos calados, em respeito.
Ela não é daqui, e nem vou me preocupar em dizer a localização geográfica da jovem senhora, mas por quê?
Porque parece que há uma segunda onda viral por aqui, é a de que temos que dizer e ensinar os outros a serem melhores.
Alguns conselhos ou até uma aula de matéria diversa faz bem, mas se bobeamos, ficamos dezoito horas ouvindo lições de não sei o quê.
O fato é que a primeira lição a ser dita, é aquela que nós mesmos ouvimos, quando agimos, e de nós mesmos.
Não é possível ter mal humor, quando fazemos a nós mesmos coisas que nos dizem sobre nós.
Comprei algumas utilidades, e elas não combinaram com nada, mas comentei que comprei, que servem, que são bonitas e confortáveis, e que não usarei, ao menos por enquanto.
Acontece, que devido à pandemia, gastei a minha última inutilidade, mas uma que pensava jamais usar, e usei tanto que estragou.
Agora, pensei mais leve, algo descolado e barato, sem obrigação de uso, mas com a certeza de que usarei num dia leve, menos pandêmico e infectado.
São os cuidados diários uma obrigação, e os cremes suavizantes para as mãos para serem usados antes de deitar, também.
Virão dias mais suaves, ou eles têm que vir, ou o mundo se transformará num estresse global.
Conversa não é questionário, mas está se formando uma filosofia de questionamentos para se saber do outro, o que é um absurdo.
Uma filosofia barata, de vez em quando, é boa pedida.
Olhando para as quinquilharias, as quais colocarei numa prateleira, posto que desejo um dia mais suave para todos, sem contradizer os seus dogmas de vida, nem dos meus, mas que repriso em outras postagens, e deixo os leitores com a decisão sobre ler ou não ler, afinal é provável que transpareça o que realmente acredito de qualquer maneira.
Interessa é ser capaz de me surpreender e dizer a mim mesma para suavizar o que puder ser suavizado.
Com isso, não quero ensinar nada grandioso a ninguém, muito menos questionar sobre a situação a que a pandemia nos supõe, objetos virais.
Grata aos leitores e leitoras.
