Sobre “ser o que se é”.
Ninguém deixa de ser o que é, e a razão dessa afirmação é a impossibilidade de alguém ser outro que não ele mesmo. O ser não é cópia, mas um ser único dentro do contexto ao qual se insere.
Para que o ser tente ser uma cópia do outro seria necessário que ele se abandonasse e, ao se abandonar, deixar de ser quem é. Há os que desejam transformar o outro para que o outro seja o que não é em si, e o mesmo é feito para torná-lo semelhante de si. Se fosse possível que o outro deixasse de ser quem é, um espaço vazio se abriria no ser transformador sem que houvesse uma reversão identificada em ser. O vazio exigiria um ser substituto, jamais aquele ser que deixou de ser. Em conseqüência, haveria uma ausência de troca, de síntese e da unidade da diferença.
A negação do que se é por interesses diversos, levaria à dicotomia entre o ser e o feito, dividindo e o tornando apenas metade de si mesmo.
Por outro lado, o que se é, de fato, modifica-se à medida das experiências vividas, mas vividas por um ponto de vista do ser que é. Essas experiências acrescem comportamentos sem modificar o “ser o que se é”.
“Ser o que se é” é tudo o que o ser possui. O ser não possui o outro e nem é possuído pelo outro sem que haja graves prejuízos mútuos. Negociar o que se é significa perdas e danos contínuos para o ser. Pode significar um acréscimo ineficaz para o ser que possui.
A contrapartida do parágrafo acima é o lucro do “ser o que se é” para a sociedade, o ser coletivo, que respeitando a individualidade do ser individual, cria uma identidade de capital humano convivendo em harmonia na diversidade da estratificação econômica, cultural e social. O “ser o que se é” produz uma sociedade que tem um conteúdo sério e respeitado.
“Ser o que se é”, é um caminho a se percorrer todos os dias, desprezando-se e concorrendo contra as tentativas de se construir uma sociedade uniforme e disforme na ausência do que se é, o caminho para o qual o ser existe.
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