Estava eu a preparar o arroz, com pouco óleo, um alho frito e pouco sal como é do meu costume, quando, na espera dos vinte minutos essenciais, no qual o arroz fica solto e apetitoso, olhei uma das cadeiras da cozinha.
Sem óculos, pensei ter visto uma lasca de pão francês sobre a cadeira. Pensei em quem teria deixado aquela lasca de pão ali, mas não me fiz de rogada e com a mão direita fui tirar aquilo que não era mais migalha e devia ir ao lixo.
Quando peguei, senti que era um bicho que se mexia entre os meus dedos. Aproximei-o para perto dos meus olhos. Era esbranquiçado, media 1,5cm, pegajoso, da largura de uma minhoca e parecia aflito. Coloquei-o sobre um guardanapo de papel. Ele não gostou. Disse-me que era um bicho que comia pinhão. Que tinha saído da sacola para dar uma volta e conhecer o ambiente.
Eu respondi que ele tinha tomado uma decisão errada. Justo na minha cozinha e na hora em que eu preparo o arroz com todo o amor e carinho.
Pediu-me para que eu o levasse de novo para o pinhão.
Disse a ele que não. O pinhão era meu e eu gostava de comer um pinhão cozido com um pouco de sal. Disse a ele que pinhão no arroz é um prato especial e que dá um trabalhão para fazer. Fica bem bonito e é gostoso.
Olhei para a sacola transparente e observei que o bicho tinha apetite. A sacola continha bastante farelo.
Vinte minutos e eu conversando com ele, enquanto a água quente cozia o arroz.
Nesse momento ele sai do guardanapo.
Agora eu já estava ciente que ele era bicho e não tinha mais coragem de colocar os meus dedos nele. Procurei uma caixa de fósforos. Lembrei que o fogão tem acendimento automático.
Lembrei-me que sempre tenho uma caixa de fósforos no armário, mas se eu fosse até o armário, eu perderia o bicho de vista e ele ficaria na minha cozinha por um tempo indeterminado até que eu o avistasse novamente.
Eu tinha que atender o arroz para não queimar, não podia pegar o fósforo e tinha que dar um jeito naquele ser pegajoso sem as mãos.
Olhei para a sacola onde estava o pinhão. Olhei para o bicho fixamente e com a outra mão esticada, esticada e esticada, alcancei a sacola. Setecentos gramas de pinhão, que eu não havia cozinhado. O pinhão demora cerca de uma hora na panela de pressão. A chuva lá fora e o vapor dentro da cozinha fizeram com que eu deixasse para depois o pinhão. Nesse meio tempo o bicho nasceu, se criou e estava me enervando.
Olhei o fundo da sacola mais uma vez. Farelo de bicho de pinhão. Então eu estava naquele dilema se matava o bicho ou não e depois cozinhava o pinhão com chuva, vapor e tudo mais...
De repente, olhando a sacola e pensei que poderia existir uma família inteira daquele bicho lá dentro se fartando com o meu pinhão.
Foi aí que tomei a decisão: peguei a sacola com o pinhão esfarelado, coloquei com o guardanapo aquele ser esbranquiçado, que não me disse o nome, pus ambos em um saco de lixo, amarrei bem e joguei fora.
Lavei as mãos, mexi o arroz. Soltinho e no ponto. Antes do almoço fui ao supermercado e comprei mais pinhão. Sem bichos, fresquinho e apetitoso. É junho. Sem pinhão e doce de amendoim junho não existe. O bicho me convenceu. Será?
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