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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Daiane e a escola

Garibaldo se sentiu feliz ao aderir o plano de demissão voluntária na indústria onde trabalhava. Por sorte, ele já havia conseguido um emprego no almoxarifado em outra montadora de automóveis e não precisaria usar esse dinheiro para se manter até conseguir uma nova colocação.

Chegou em casa, conversou com a Janete, sua mulher e, juntos planejaram o futuro de Daiane, a filha única do casal.

_Finalmente podemos pagar um colégio particular. Vamos parar com todo esse medo que sofremos enquanto ela está na aula. Os professores de colégio particular são disciplinados, planejam melhor as aulas, não estão sujeitos a tantas transferências e mudanças como os professores aqui do nosso bairro.

Janete se emocionou com a novidade. No dia seguinte foi providenciar a transferência da Daiane para o colégio “O Maximo”, que era próximo a casa deles. Faltavam três meses para o fim do ano letivo e no próximo ano a Daiane estudaria o segundo ano do primeiro grau nesse colégio.

Começa o ano letivo. Daiane vai às aulas.

Uma coleguinha de carteira pede a borracha colorida dela emprestada e não devolve. No final da aula Daiane pede a borracha emprestada de volta para a coleguinha.

_Sua borracha? A sua eu já devolvi, essa é a minha, que é igual à sua. Você se enganou. Quer que eu pergunte de carteira em carteira? Será que alguma colega pegou a borracha? Se alguém pegou e não devolveu, é porque esqueceu. Aqui nós somos todas boas meninas. Até amanhã Daiane. Que feio duvidar das colegas! Até amanhã.

Daiane falou com a coleguinha sentada à sua frente e às suas costas. Elas garantiram que a Maria Bela tinha uma borracha colorida igual à sua.

Na saída Daiane vê a sua mãe, a Janete, conversando com a mãe da Maria Rainha. Daiane pensou que era uma boa ideia ser amiga da Maria Rainha.

Daiane e Maria Rainha brincaram juntas duas semanas inteirinhas. Na sexta-feira a sua mãe, a Janete, se atrasou e a menina resolveu conversar um pouco com a mãe da sua coleguinha. A mãe da coleguinha sorriu para as meninas e deu conselhos à sua filha:

_Maria Rainha, eu não quero que você seja amiga de pessoas que não estão à nossa altura.

Daiane conta para a mãe da borracha e da mãe da Maria Rainha. A borracha agora tem etiqueta com o nome da menina. Janete espera alguns dias e convida mãe e filha para irem até a sua casa.

_Sinto muito Janete. Eu e a Maria Rainha temos muitos compromissos. Eu tenho trabalho, festa, empregados, a minha vida é uma correria. A Maria Rainha tem que aprender a comandar e eu a ensino. Tenho a absoluta certeza que a Daiane tem a sua roda social, as suas amiguinhas de bairro, as vizinhas e não sentirá a nossa falta.

Daiane cresce e aparecem as festinhas do colégio.

Enquanto a Daiane passava em direção ao carrinho de cachorro-quente ouve duas mães de alunas conversando:

_A caridade consiste em aceitar bolsistas na escola, conviver socialmente com eles definitivamente não.

_Mantenhamos o nosso padrão. Logo as meninas terminam essa fase escolar e se esquecem dessa gente. Preste um pouco de atenção na mocinha, nessa que usa uma roupa que até é bonitinha, mas sem grife. Ela é um mau exemplo às nossas filhas que podem pensar que se viverão bem longe do meio em que vivemos.

Janete foi conversar com a secretária da escola, que a levou até a diretora:

_A convivência entre elas poderia ser melhor, mas meninas são competitivas. A senhora não percebe o problema dentro de casa porque a Daiane é filha única. Ela tem que se acostumar, a vida profissional é assim mesmo.

Acaba o primeiro grau e Daiane se veste de punk. A antiga professora do segundo ano do primeiro grau repara no jeito de Daiane e pergunta:

_O que houve com você, Daiane?

_Posso ser sincera professora? Se não puder, me avise. Porém não me recrimine.

_Diga o que quiser querida.

_Falam da agressividade dos alunos e, muitos alunos acabam passando dos limites e se acabam em confusões. Sei de cada coisa professora, mas por outro lado, a escola finge que não vê e não ouve a violência nos diálogos que acontecem muito, mas muito antes da agressividade começar. Não existem regras de convivência social nas escolas, ou, se existe, está escondida em alguma sala porque ninguém sabe de nada a respeito disso. Eu achei o meu modelo de adulto ideal. Quero seguir esse estilo.

_Estilo punk?

_ Não. Estilo grunge.

A mestra colocou os seus braços nos ombros de Daiane e ajudou além da moça, a Janete e o Garibaldo.

Daiane encontrou o seu futuro. Vendedora de automóveis de uma concessionária de automóveis importados.

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