Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

http://frasesemcompromisso.blogs.sapo.pt/

O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Rumo de Todo Dia

Rumo de Todo Dia


Mudo de rumo
Quando me aprumo
Para não sair,
Mas sem fingir


Que me mudo;
Um dia de estudo
A conferir,
E descontrair,


Extrair o sumo
Desse meu rumo
E conseguir
Talvez, sentir.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Dê Uma Chance para a Ciência / Reflexão

Dê Uma Chance para a Ciência / Reflexão

     Quando apareceu o telefone celular, eu me perguntava por que motivo compraria aquele telefone de bolsa que pesava quase meio quilo?
     Se eu não tivesse comprado, ainda estaria no século passado irremediavelmente, sem internet móvel e mapas móveis, e inúmeras facilidades que o celular proporciona.
     O apego ao que já existe não justifica a recusa de se adaptar ao que é novidade.
     O progresso depende da metabolização cultural, exige um tempo de aceitação, avaliação daquilo ao que se tem apego, escolhas entre os objetos tecnológicos mais velhos e os mais novos.
     Nesse caso, estão válidos os vinis, os cds, os cdplayers portáteis de estimação, e outros utensílios como o rádio de pilha cuja bateria é interna e é preciso deixar ligado na tomada para ouvir que não são tão úteis assim.
     Esses motivos cotidianos nos levam a refletir que boa parte da população mundial ainda não acredita que o homem foi à lua, e no entanto vive com o celular como ferramenta indispensável.
     O progresso tecnológico existe de fato, a ciência de modo geral, também.
     Entre ouvir cds e um pen drive carregado de músicas, posso preferir o cd, sem desconsiderar que o pen drive carregado de música pode ser bom, mas exige que haja capacitação para navegar no pen drive, e nesse caso reconheço que não sei navegar um pen drive e que o cd é melhor para essa ausência de capacidade para lidar com o pen drive.
     Com esse raciocínio, e comentando o exposto acima, em tese, é possível que alguém prefira o celular à ideia de que o ser humano pisou na lua.
     O problema é negar que o homem foi até a lua, pelo simples fato de não se ter ido ou ter conhecido que viajou para a lua.
     As viagens orbitais em torno da Terra começarão daqui a aproximadamente um ano, mas eu não quero fazer essa viagem.
     O fato de que não se quer algo não impede o outro de ir. Pensar no progresso mesmo que não nos atinja, pode ser fator de descobrimento para o bem estar de todos, indepente de se ir ou não fazer esse turismo fantástico.
     O progresso não pode impedir a arte, e esse ponto é fundamental.
     Diferente da conservação do que existe e é bom, do conhecimento da ciência, é a criação da arte.
     A arte e a tecnologia digital ainda não se entrosam como deveriam. Ouvimos o que já conhecemos, e o espaço de criação está restrito dentre a regulamentação e a criação numa plataforma digital, e precisa ser repensada.
     As formas de se apresentar a criação precisam de reinvenção.
     Permitam-me contar como foi que tomei conhecimento da Banda Blindagem, aqui na cidade de Curitiba: houve um anúncio de que uma banda se apresentaria às dezenove horas na praça do bairro. Era um sábado e não havia nada para fazer. Fui à praça, ouvi e me diverti.
     Observem que o acontecimento faz muito tempo. Tudo dentro do regulamento da época: hora para começar e para acabar, vendedores ambulantes credenciados e população de bairro.
     A tecnologia não pode tomar conta da cultura como se ela fosse exclusivamente digital.
     Sinceramente, penso que, depois da pandemia, a arte merecerá atenção e carinho sob os aspectos criacionais e de sua apresentação ao público.
     Enfim, dê uma chance para o desenvolvimento, dê uma chance para a conservação e, dê uma chance para a criação.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Depois da Pandemia / Idealização

Depois da pandemia / Idealização

     Depois da pandemia,
Que apareça a alegria,
Que cesse esse chover
E o excesso de se abster,

Porque hoje é todo dia
Do que não se temia,
E nem se havia de ter
Que é o medo de não ser.

Depois da pandemia,
Que reste esse bom dia;
Que se possa dizer,
Que valeu se conter.

terça-feira, 28 de julho de 2020

Crônica Minimalista

Crônica Minimalista

     Papel voa.
     O vento puxou das mãos.
     Atravessou a rua. O vento o levou para debaixo de um carro antigo.
     Volta, vento! Do lado de cá da rua pedia eu.
     Abriu o sinal, e os carros passaram.
     Fechou o sinal, atravessei.
     O vento o tinha levado para a grama em frente do carro antigo.
     Peguei.
     Vento amigo, papel que voa, é a sutileza essa surpresa.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Cesto de Vime

Cesto de Vime


Sentir-se livre
Sem mais porquê,
 É de quem vive,


Sem que se prive
Do amanhecer
Sem que o convide;


Cesto de vime


A se fazer.

domingo, 26 de julho de 2020

Avoado Pensamento

Avoado Pensamento



Esse tempo
Ocupado
De um momento,


Pensa vento,
Avoado
Adiamento;


Muito tempo


Esvaziado.

sábado, 25 de julho de 2020

Coronavírus e Medicina / Reflexão

Coronavírus e Medicina / Reflexão

     Escrevo bastante sobre coronavírus e pouco sobre a medicina, ou seja, o tratamento, nem mesmo discuto as pesquisas, porque o meu dia a dia prefere ser prevenido do que, bem desculpem a palavra: leiga.
     Diagnóstico, quando muda, é porque estava errado, mas geralmente é o mesmo perante qualquer médico.
     Tratamento é variável, e dificilmente um paciente receberá a mesma medicação quando muda de médico.
     Infelizmente, doenças como a que o coronavírus causa não permite a escolha de médico, e nem mesmo existe a conversa sobre quais remédios são os que já foram tomados pelo médico.
     O paciente, quando encontra um médico que trabalha com os remédios aos quais o paciente já sabe que o organismo aceita sem efeitos colaterais, tem grande sorte.
     O diálogo médico-paciente é de suma importância para o bom desenvolvimento da recuperação.
     A equipe do médico também é levada em consideração.
     Enfermeiras estressadas podem causar estresse na família do paciente e interferir no ambiente de tratamento.
     Os diálogos são intensos, mas quando possíveis.
     Assuntos usuais e discussões não usuais são discutidos, desde o antibiótico combinado com um antiinflamatório não esteróide ao antibiótico combinado com cortisona, até o motivo da escolha de um antibiótico em detrimento de outro mais aconselhável segundo o ponto de vista de um colega.
     É uma vida a ser preservada a vida do paciente e a única discussão é como evitar a morte, mas as pessoas acabam elevando o tom da conversa.
     A hora do estresse é a mais temerosa.
     Infelizmente, já tive que decidir sobre a sedação ideal, se seria com a sedação x ou com a sedação y. Uma das sedações causava hipotensão arterial e a outra já havia sido tomada pela paciente. Escolhi.
     E agora?
     _E agora ela ficará em coma induzido.
     Por quanto tempo?
     Eu te chamo quando for ressuscitá-la.
     Ressuscitou. A médica se informou sobre a medicação e ressuscitou.
     Tem médicos que não perguntam e medicam, mas são as situações de emergência, ou médicos que dependem das medicações disponíveis naquele estabelecimento e, oferecem uma segunda opção, caso o paciente prefira comprar outra medicação que não a disponível, por conhecer melhor.
     Acreditem-me este texto é suave. Existem situações piores.
     Pelo menos, o coronavírus não permite discussão, mas intubação, que, sem anestesia, é melhor que fique como puder, e esta é uma discussão interminável.
     O que eu gostaria mesmo, com esse texto, seria desestressar as equipes que cuidam dos pacientes com coronavírus, lembrando a eles que pacientes, nem enfermeiras e nem médicos ficam surdos durante o tratamento.
     Melhor mesmo é ficar em casa sem conversar sobre médicos e remédios, enfermeiras e prontuários, e todo a tensão que o coronavírus ocasiona.
     Nessa divagação é necessário frisar de as famílias tenham consigo um papel anotado previamente as medicações já tomadas, os seus efeitos colaterais e as alergias de cada membro da família antes de ir ao médico caso seja necessário. Isso ajuda muito.
     Bom final de semana!   

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Délia - A Compreensão / Conto

Délia - A Compreensão / Conto


     O que dizer de Délia? Délia e o seu sorriso seco.
     Délia não aceitava afeto. Estava presente, às vezes, melhor que não estivesse.
     Cibele, para quem a vida era recheada de sentimentos, reparava, implicava, mas se magoava com as atitudes de Délia.
     Cibele tinha um caráter peculiar, guardava perguntas ao tempo, quando não as escrevia, para que jamais as esquecesse, a associava com algum presente de aniversário.
     Délia, sarcástica, gostava de dizer que era observadora.
     Cibele sentiu o que isso significava. Significava que Délia conhecia a sua crítica.
     Por uma daquelas coincidências que ninguém explica, ambas adoeceram, foram para quartos de enfermaria conjugados no mesmo hospital.
     Por terem uma à outra como companheiras de medicações, eram obrigadas a conversar.
     _Délia, se eu me for antes que você, olhe aquela fotografia.
     Cibele, até mesmo levantou-se um pouco da cama hospitalar, e perguntou:
     _Qual fotografia?
     A fotografia da festa.
     Cibele não deixaou para depois. No horário de visitas, pediu ao marido que procurasse a fotografia descrita por Délia e a trouxesse ao hospital.
     No dia seguinte, Cibele recebeu a fotografia descrita por Délia.
     No que acabou o horário das visitas, Cibele pediu a Délia o que continha aquela fotografia de tão especial.
     _O meu olhar.
     Cibele olhou para a fotografia e viu o olhar enfadado, como quem diz que a festa estava feita e terminada. Disse à Délia que ela estava aborrecida, e que não deveria ter se ocupado com festa caso não quisesse.
     _Deveria, respondeu Délia.
     Cibele questionou se, por acaso, tinha aquele dever.
     _Tinha. Olhe o meu olhar de novo.
     Cibele, mais solta na linguagem, comentou:
     _O seu olhar olha para um lugar onde não tem convidados, mas afirmativamente.
     Délia replicou:
     _Exatamente.
     Cibele perguntou o que é que ela queria dizer com isso.
     Délia respondeu:
     _Esta fotografia te salva de ter um destino igual ao meu.
     Cibele perguntou, se ela, Délia, acreditava que ela, Cibele, pudesse se tornar igual a ela.
     _ Completamente. Essa fotografia aponta para onde você possa não estar.
     Cibele marcou o local exato de não estar. Poderia implicar com Délia, mas era melhor não estar no lugar marcado na fotografia, uma bancada de madeira onde os caminhantes paravam para tomar água.
     As duas se recuperaram e foram para as suas casas. 
     Algum tempo se passou, e Cibele conheceu algumas pessoas na sua aula de ginástica, e essas pessoas frequentavam aquele lugar.
     Cibele conversava com as colegas de ginástica, sabia que elas caminhavam e, depois descansavam e tomavam água naquele lugar. Lembrava-se da Délia e da fotografia, mas quem frequentava o lugar eram as suas colegas, mesmo porque ela não era adepta de caminhadas.
     Em todas as aulas de ginástica, mesmo sabendo que Cibele não gostava de ir àquele lugar, as colegas comentavam, que naquela bancada havia uma sensação de paz espiritual, que a luz atravessava as árvores frondosas, e que o único incoveniente eram as pombas arrulhando por todo o lugar.
     Em todas as aulas, Cibele tinha que se negar a ir até a praça, embora não soubesse o motivo da fotografia que Délia havia lhe mostrado no hospital.
     Essa conversa do lugar onde tinha água para os caminhantes era repetida todas as semanas.
     Cibele começou a não suportar mais ouvir falar da bancada, onde tinha um lugar para beber água durante uma caminhada.
     Aos poucos, começou a se sentir cansada sem motivo. A ginástica se transformava numa obrigação terrível, achou mesmo que estava ficando doente.
     Assistia as aulas esperando o momento de ouvir da bancada onde os caminhantes paravam para beber água.
     Cibele começou a se dessensibilizar, e quase nenhum assunto a afligia.
     Até que chegou o dia em que Cibele se perdeu dos seus problemas, e seu único pensamento era evitar a bancada onde os caminhantes paravam para beber água.
      Cibele telefonou para Délia, com a qual conversava regularmente de tempos em tempos.
     Perguntou à Délia qual era o significado daquilo pelo qual passava.
     Délia semtransformou. Riu-se com tal despojamento de espírito com o qual Cibele não se lembrava de ter visto.
     _Você me compreendeu, você me compreendeu, exclamava Délia. Você se encontra em estado hipnótico! Pare já com isso! Depois eu te digo sobre esse depois. Evite tudo relacionado com isso, mas depois eu te explico.
     Cibele, muito surpresa com a reação de Délia, sentiu-se como que se estivesse acordando, mas foi ao médico verificar se estava bem de saúde. Estava!
     Passados alguns dias, Délia ligou para Cibele.
     _Cibele, você perdeu as aulas de ginástica. Você encontra outra! Há muitos anos que eu não sorrio, a não ser o meu sorriso enigmático. Agora eu posso sorrir.
     Nesse ínterim, Cibele percebeu que estava acorrentada sem que fosse de fato, saída de um lodo e não de uma bancada de água, a qual ainda doía-lhe imensamente aos ouvidos.
     Cibele compreendera Délia para toda a vida.
       
      
     
       

quinta-feira, 23 de julho de 2020

A Vontade é de Deus / Reflexão

A Vontade é de Deus / Reflrexão

     Ou do destino? Qual seria a sua opinião, leitor?
     Existem cabelos com vontade própria? Não os meus.
     Alternaram-se entre lisos e crespos sem que nada fosse feito. Finalmente, agora, na terceira idade, aprendo a lidar com eles.
     Devem ter sidos os choques culturais pelos quais passaram, afinal debaixo deles tem uma cabeça, que idealiza e faz.
     Essa cabeça que foi capaz de deixar os pais deseperados por resolver emagrecer 15 quilos em dois meses, nadando, caminhando, indo à pé para a escola, e mudando um único pensamento, embora a mania por chocolates jamais tenha desaparecido.
     E os amigos, então? Eles gostavam de mim de qualquer jeito.
     _Pare com isso!
     __Não paro. Já me decidi!
     Aquele único pensamento de que tinha o resto da vida para comer chocolates se não os comesse todos de uma vez só.
     A única decisão tomada que deixasse o penteado de fora.
     Cabelos, não os domino, aprendi a dar jeito; agora, verdade seja dita.
     Dizer como se fosse vaidade? Jamais.
     Alisamento? Duas vezes. Eles são mais jeitosos do jeito que são.
     Modinha? De cabelo? A vida inteira.
     Em casa e sem assunto.      
     Um penteado bem que distrai, não é meu novo penteado momentâneo?
     Precisava desse descanso. Dia puxado.
     Cabelos são aqueles que Deus planejou para a gente pentear.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Tempo Recriado

Tempo Recriado
Tempo Recriado

Partituras diversas
Nesse momemto dispersas,
Contam, somam e acrescentam
Aos calos por onde assentam,


Descortinam as conversas,
E pisam tapetes persas;
São melodias que dispensam,
São metrônomos que pensam


E preenchem de forma inversa
A sinfonia que a alicerça,
Números que representam
Para o tempo que apascentam. 




terça-feira, 21 de julho de 2020

Lá Vem o Asfalto/ Miniconto

Lá Vem o Asfalto

     Ruas de saibro e paralelipípido ainda são comuns no Brasil. Avenidas principais e estradas vicinais com chácaras e fazendas completam a paisagem.
     O horizonte distinto e longínquo descansa a vista, mas por aqui se veem quilômetros de distância e noites muito belas.
     Os que não são ouvidos, são esquecidos na maioria das vezes.
     O progresso vem em todo lugar. Às vezes é bom, como o saneamento com água encanada e a luz elétrica, mas às vezes é a linha divisória entre o antes e o depois.
     Uma residência em frente a chácara marcou o fim daquele lugar.
     De um lado da rua a casa da chácara e, do outro lado da rua, a residência de campo muito bem construída, com os engenheiros cuidando de todos os detalhes.
     Ouve-se a voz da dona da chácara:
     Lá vem o asfalto.
     A senhora olhou distante e em volta, e disse aos presentes:
     _Compraram a terra como terreno, construíram uma casa de campo. A rua está com muitas pessoas trabalhando, os carros começam a passar e as betoneiras trazem o cimento. Não mando mais as crianças comprarem pães sozinhas, pois elas não estão acostumadas a andar sozinhas no trânsito. Os automóveis não transitarão bem nos dias de chuva, quando os buracos se abrem na terra. Lá vem o asfalto.
      

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Vacina Espiritual / Reflexão

Vacina Espiritual / Reflexão

     Estamos tomando os cuidados com o coronavírus, portanto, boa parte do tempo em casa.
     A diferença é estar vacinada espiritualmente.
     Na igreja há ensinamentos vários, e nunca são demais porque os temas dizem respeito ao nosso comportamento cristão diante dos problemas.
     Para ser direta, eu não tenho habilidades para ensinar sobre a Bíblia. No entanto, indico os canais conhecidos da internet para que outras pessoas possam assistir os cultos, os ensinamentos, as boas novas, enfim, mas garanto que na hora em que se aprende algo, passa-se a ser alguém adicionado de algo positivo, a Bíblia.
     As pessoas geralmente pensam que as pessoas aderem a uma doutrina porque eram ruins e precisam ser boas.
     Esse termo ruim, é uma ideia mirabolante, porque todos viemos do nada, portanto de Deus.
     Outro dia, ao telefone, eu disse que é preciso combater a credulidade. Nós, os crentes, em boa parte, somos crentes, mas não crédulos.
     Hoje, digo especialmente o quão importante é cuidar em seguir o que está no Novo Testamento, mas digo conforme aprendi, e ao mesmo tempo, de certa forma, ensino.
     Os pastores da igreja estudam diariamente e se esforçam para contar aos ouvintes o que de fato está na Bíblia, dentro do contexto bíblico.
     Volta e meia, aparece nas televisões, fatos tristes e verdadeiros de algumas igrejas.
     Um dos ensinamentos da doutrina batista é básico contra toda e qualquer credulidade:
     "Ninguém salva ninguém, por princípio. A salvação pertence a Deus e é nele que se deve confiar. A alma é cheia de pensamentos e está dentro da pessoa para se desenvolver. A alma não só precisa, como se alegra com a palavra divina, pois a palavra divina dá um caminho espiritual a seguir, e quantas vezes a alma se sente confusa e em dúvida num mesmo dia? Nessa vida estamos sujeitos a uma espiritualidade que não é boa, e por não ser boa, não encaminha a alma para esse desenvolvimento. Quem gosta de ver a alma progredindo é Deus, que também é o bom pastor espiritual."
     Há um livro que li, muito interessante, cristão, que diz que o mal pode representar o bem com o intuito de enganar a pessoa sobre os propósitos divinos para os ensinamentos da alma dessa pessoa.
     Não quero me ater a um único dogma, e também se faz necessário algum discernimento para conseguir exemplificar.
     Algumas religiões repetem mantras para purificar o espírito com a finalidade de que a alma se comunique com Deus de forma pura.
     Os cristãos são ensinados a boicotarem os pensamentos maus mantendo uma comunicação diária e direta com Deus durante todas as atividades do dia.
     Os batistas ensinam mais, ensinam que se pode conversar com Deus na hora em que se quiser, mas isso não garante que Ele resolva todas as preocupações no momento da conversa, mas ele pode dar a persistência e a perseverança para que as suas preocupações sejam resolvidas. O tempo sempre é de Deus.
     Enfim, não é necessário ouvir hinos o dia inteiro e não é necessário ouvir pregações o dia inteiro,  porque a verdadeira realidade espiritual exige que se mantenha a conexão com Deus, o que é possível quando se sabe um pouco a mais sobre Deus do que se sabia antes.
     Pelo menos para a alma, já há uma vacina.
     Com fé seguimos, pelo amor de Deus nos cuidamos, pela fraternidade é que fazemos algumas doações.
     Eu não tenho o dom da palavra, mas faço sugestões.
     Meus leitores, no Youtube temos mensagens bíblicas da denominação batista de excelente teor. Sintam-se à vontade para pesquisar. Obrigada pela leitura.     

domingo, 19 de julho de 2020

Olhares Curvos

Olhares Curvos


Gosto de caminhos retos,
Mas os sei quase impossíveis
Além dos meus comuns tetos
Lógicos, óbvios, possíveis,


Planos quadrados completos
Ridículos e risíveis,
Que, geralmente discretos,
A mim, parecem incríveis,


Em si, porque são diretos,
Quantas vezes invisíveis
Aos meus olhares inquietos,
Dispersos, mas perceptíveis. 

sábado, 18 de julho de 2020

Café com Leite

Café com Leite


Se está repleto de gente
Vem o medo inconsistente,
E como isso é natural,
Não passamos nada igual.


O isolamento consciente
Neste momento é prudente,
E não há porque ser social
Com esse ambiente banal,


Anormal e descontente.
Beber café e leite quente
É melhor. Sensacional
É o medo, se racional. 

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Não Aconteceu / Reflexão

Não Aconteceu / Reflexão

     O fato é que não aconteceu. Nós, eu, você, ela, e mais alguns outros estamos quase sexagenários.
     E a questão é a de que nenhum de nós está com sintomas de velhice. Só existe uma velhice, é o tédio de não podermos nos reunir para nos distrair, mas estamos esperando a oportunidade para tanto.
     A obrigação é uma alegria, quando estamos em ambiente seguro.
     Segurança biológica!
     Dizem que velhice é uma questão de mentalidade, mas não é, estar de bem consigo mesmo pode ser motivo para se sentir bem.
     Fiquei gratificada quando soube que alguns jovens assistiram o Feitiço do Tempo e que sorriram. Não conheço os outros conceitos dos jovens, mas que assistam um filme e ficarei feliz.
     O bom de ter alguma vivência é a compreensão que se adquire dos outros.
     Esse tempo em casa deixa todos reflexivos. Outro dia pensei numa comparação entre o que teria feito nesses meses dentro de casa e não fiz.
     Teria conversado ao menos com umas tantas pessoas, teria trocado ideias, comido broas de milho, e outras roupas.
     Tenho conversado com outras pessoas, rido com outras pessoas, chorado por pessoas que não imaginava querer bem, mas também tenho refletido que está valendo cada dia.
     Tenho ouvido outras pessoas. Visto outras pessoas, as sem máscara, e reparado nelas.
     Reparei que convivo com a minha geração, isto me faz bem.
     Nessa época em que todas as nossas vontades são ruins, porque envolvem o convívio, os pontos de vista são outros. Obrigatoriamente outros, independente da vontade da gente.
     Até março de 2020, o futuro era um, depois de março, o futuro deu uma parada, e deve-se aproveitar o conhecimento que tivemos até março deste ano.
     Há dois anos aprendi a fazer Arroz de Pato, que pode ser feito com frango mesmo, mas é o nome do prato. Até então não havia comido risoto pior que o feito por mim. Acertei o Arroz de Pato.
     Acertei o passo. A minha bota coturno, que iriam ficar no armário, estão começando a ficar gastas. Levanto pensando no vírus e sei que o dia exigirá mais esforço com o desinfetante. As minhas coturnos impedem que os pés se molhem no desinfetante. Saio e volto e coloco-as sobre o desinfetante, com frio, e fico com os pés secos.
     Estamos aprendendo a ficar em casa e respeitar os silêncios e as vontades dos outros.
     Por outro ponto de vista, penso que estamos distantes do nosso jeito normal de ser, e sentimos falta desse jeito normal.
     As reflexões surgem volta e meia, sejam em forma de vontades, saudades, e até mesmo de alegrias, pois estamos livres para pensar nas melhores ideias sem que nos censurem por elas. O pensamento é mais livre com a pandemia do que sem a pandemia, principalmente os pensamentos idealizados, se bem que a ideação leve para a frustração, há que se considerar esse detalhe.
     As atividades são obrigatórias, e as recomendações estão nos sites.
     Antes de março eu terminaria o texto desejando um bom final de semana para todos.
     Agora, eu desejo um final de semana consciente e responsável, agradável na medida do possível, e para todos!  
         
     

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Ah, Paciência Minha! Crônica

Ah, Paciência Minha! Crônica


     Cabelo engelizado com creme de pentear, porque o gel me causa rinite, vamos às obrigações!
     Oficina mecânica-troca de óleo.
     Cortesia na entrada:
     Com aquele sorriso de médico, o recepcionista logo diz:
     _Bom dia, senhora. Como está?
     Respondo bom dia e digo que estou bem através da máscara.
     Ele continua, com aquele sorriso de médico:
     _A senhora pode, por favor, aproximar o seu rosto para que eu possa medir a sua temperatura?
     _Pois não.
     Ele olha para mim e para o termômetro digital:
     A feição dele meio esquisita, em dúvida.
     Eu abro os olhos e pergunto?
     _A minha temperatura está baixa, não está?
     Ele, em dúvida, responde:
     _Confira, senhora: 34,7 C Isso é normal?
     Eu disse a ele que é normal, pelo menos para mim. Estava com a janela aberta e estávamos com onze graus e meio de temperatura ambiente. Confirmei a temperatura. Outras vezes, mesmo em casa, a minha temperatura fica em torno dos 35 C (centígrados).
     Consegui entrar na oficina mecânica. Aprovada para cliente.
     Perguntei onde deixaria o meu automóvel, sem dizer que eu estava precisando mais do que o "Ximbica", carinhoso apelido do automóvel.
     _Para a troca de óleo basta posicionar - bom ele disse o nome técnico- mas eu chamos de aquele negócio que levanta o carro para a troca de óleo.
     Com todo o cuidado e bem devagarinho fui ultrapassar aquela rampinha do elevador de automóvel.
     Com os dois pneus da frente em cima daquela tira que fica nos chão de pequena elevação, o motor morreu.
     Será que eu tirei o pé da embreagem?
     Não liga mais! E agora?
     _Sem bateria.
     Coitado do mecânico.
     O que foi que eu fiz, questionei-o:
     _Tente outra resposta mais adequada. Diga que é o frio, diga que o combustível é ruim, tente outras alternativas, por favor.
     _Não. É a bateria que está sem carga.
     Insisti mais um pouco:
     _Tem certeza?
     _Quanto tempo faz que a senhora não sai de carro?
     Ah, lá se vão quatro meses de quarentena.
     Tentei ser prudente:
     _A gente tem que se cuidar. Quanto tempo?
     Lá se foram três horas, agradáveis porque saí para andar um pouco.
     Álcool gel de brinde e fizemos um teste.
     O que? Acharam que eu iria voltar para casa sem pedir para que ele colocasse as rodas da frente em cima da barra? Nunca! Não sou crédula.
     Ele fez o que eu pedi e desligou e ligou o motor várias vezes e, com ar de superioridade, me ensinou a utilizar o pisca-alerta especialmente nos casos em que a bateria pifa na rua.
     _Agora, a senhora sabe como agir em caso de bateria fraca!
     Entenderam o título do texto? Ah, Paciência Minha! 
       
     

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Fatos do Coronavírus / Conto Musical

Fatos do Coronavírus / Conto Musical

     Joana ouviu a sinceridade do homem que a atendia ao telefone, dizendo que não tinha dinheiro e que ela precisava esperar para receber a quantia devida em relação ao estoque comprado pela loja.
     Seguiram-se os fatos comuns desse 2020, todos os lugares fechados e poucos clientes.
     Joana, ao final, riu-se. Ela, a fabricante dos produtos, lidava com a capacidade mínima para manter a venda aos comerciantes.
     Restou dizer que estava bem assim, pois produtos devolvidos não a ajudariam na fabricação de novos produtos.
     Despediram-se desejando saúde.
     Joana desligou o telefone, e ligou o rádio para se distrair de tanta tragédia, essa específica que a humanidade estava enfrentando.
     A música sugere à memória duas memória, a memória de um momento de saudade lembrado pela música que agora tocava na rádio.
     "Era uma tarde chuvosa, abafada que dava preguiça de sair. Havia comprado o cd de John Denver e o colocado para ouvir.
     A música a fez lembrar de um momento especial. Era um seriado antigo, em preto e branco, onde ele, John Denver, fazia uma participação especial.
     O seriado era dublado em português, ele contava a história da família dele, e ao final disse palavras muito úteis para a vida de todos.
     Ao olhar a chuva, podia ver a televisão com chuvisco, com gulodices e O imenso silêncio deixado pelos conselhos dados pelo John Denver.
     Alguém perto dela havia dito que, se algum dia encontrasse um disco daquele cantor, compraria, pois não havia nada a ser retirado dos conselhos dele.
     O seriado chamava-se ""Nós e O Fantasma"" em português e em inglês chamava-se ""The Ghost and Mrs. Muir"".
     Lembrou que assistira as reprises daquele episódio para tentar gravar a mensagem, pois o gravador não existia, pelo menos para ela.
     Sentiu-se confortável com aquela canção e a chuva.
     Não gravara a mensagem na memória, e por mais que tentasse se lembrar, não conseguia. Lembrava o motivo de ter comprado o cd de John Denver. Para lembrar que tudo o que acontece na existência é transitório e que pode-se usufruir dos momentos que não são tão bons como se queria que fosse.
     Voltou a olhar a chuva e, por fim, ouviu o cd inteiro e se distraiu."
     Pensou na situação difícil do comerciante e na sua situação difícil de fabricante.
     Ninguém imaginou que a pandemia pudesse acontecer.
     Tocou o telefone e era o gerente do banco dizendo que ela conseguiu o financiamento que precisava para tocar a fábrica.
     Levantou-se e disse: Deixa rolar.
     Colocou o cd no som:
     
     Terminar com música, pode?  

     

terça-feira, 14 de julho de 2020

Universos Paralelos / Minicontos

Universos Paralelos / Minicontos

     1
  
     Entre ruínas e verdades, deslocados no tempo e no espaço, encontram-se dois personagens numa paisagem de paz.


     2

     Num momento musical perfeito, dois personagens, agradecem à contracena.

    
    3

     O dia a dia, não precisa ser mesquinho, mas uma ordem alheia ao caos.

     4

     A testemunha dos universos paralelos e os seus momentos de fé, tido como exemplo de alhures.

     5

     O inverossímil se faz realidade.

     
      De todos os minicontos, o mistério está nas ruínas da verdade e na paisagem de paz. 

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Volta à Bíblia / Reflexão

Volta à Bíblia / Reflexão

     A Bíblia volta em flashes, algo normal, tendo em vista que a li inteira.
     Ler a Bíblia inteira não é um conselho, pois para o entendimento e um bom resumo de todos os livros, os Evangelhos, os Atos dos Apóstolos e até o surreal Apocalipse são suficientes.
     Quanto ao Apocalipse, fico com a frase de um livro que li,e este não guardei o nome, mas essa frase não é minha:
     "Quando forem ler, observem que ele já pode ter acontecido e ninguém percebeu."
     Levando-se em consideração tudo o que se vê nesse mundo, é bem capaz que já tenha acontecido e que agora não passe de uma peça de ficção científica."
     Antes de pensarem que a frase possa ser uma blasfêmia, a frase não é minha, mas é interessante.
     As diversas cartas aos povos são muito agradáveis de se ler.
     Tenho uma observação sobre o Novo Testamento:
     "Não faça nada que seja contra o que está escrito ali."
     No Novo Testamento encontra-se uma forma de pensar cheia de amor e sabedoria, com hipérboles e metáforas essenciais."
     Importante é comentar sobre a hipérbole. Porque o livro Atos dos Apóstolos complementa os Evangelhos.
     Para quem não sabe, e esse é o motivo pelo qual eu presenteei algumas pessoas com o livro O Evangelho Perdido, de Wilton Barnhardt, uma ficção fundamentada pela teologia, Paulo é considerado o décimo terceiro apóstolo.
     Depois que o apóstolo traidor morreu, para completar o número de apóstolos, a escolha ficou entre Matias e Paulo.
     Os apóstolos escolheram Paulo, ao verificar que Matias não dispunha de tempo integral para a causa cristã.
     Os evangelistas precisaram de Paulo.
     Muitos livros da literatura referem-se a textos bíblicos e se tornam muito melhores quando se sabe sobre o motivo ao qual se refere.
     Pode-se fazer uma síntese sobre o Novo Testamento:
     Não se arranja motivo para sofrer, porque a própria existência é repleta de desafios e superações dos sofrimentos não causados por ninguém, mas pela natureza da existência.
     As Cartas da Bíblia, inseridas no Novo Testamento, essas são fundamentais.
     Quanto ao Velho Testamento, os filmes é que são imperdíveis. Os títulos são óbvios, mas as visões diferem de cineasta a cineasta.
     Sugere-se A Arca de Noé, Jonas e a Baleia, Gênesis, e outras escolhas sob o critério do leitor.
     Com esse texto, o leitor escolhe o seu contato com a Bíblia.
     Deus não diferencia as pessoas boas, mas a Bíblia foi escrita para todos os que quiserem saber de Deus.
     Boa semana para todos.
      
     

domingo, 12 de julho de 2020

Repórter Edson Prado no Plantão de Polícia

Repórter Edson Prado no Plantão de Polícia

     Edson Prado é um repórter praticamente amigo do blog, já fez reportagens na Festa da Uva e é um personagem que aparece, principalmente quando acha necessário.
     Hoje é domingo, Edson Prado, não posso inventar nenhuma reportagem para você, mal saio de casa, olha a pandemia!
     Ele me disse que era cado de polícia.
     Perguntei o que foi que aconteceu.
     _O que foi que aconteceu? Uma mensagem por volta da meia noite. Enviando aplicativo falso de cartão de crédito.
     Disse a ele que bastava excluir a mensagem.
     _Pesquisei a origem do telefone.
     Acordei. Perguntei se ele conhecia o número.
     _Moça casada, filhos pequenos, profissional bem sucedida, e pessoa bastante séria.
     Pedi para que me dissesse mais sobre ela.
     _Pessoalmente, ela não fala. murmura.
      Disse a ele que , se ele tivesse acessado o link obviamente falso, ele teria perdido dinheiro. Teria que ir à polícia e denunciar a mensagem, e ao mostrar a mensagem com o número do telefone ela seria localizada.
     _É isso o que me intriga! E se ela estiver mandando uma mensagem de pedido de auxílio? Querendo ser encontrada pela polícia porque precisa de ajuda?
     Essa moça terá que encontrar outra maneira de pedir auxílio à polícia, foi o que eu disse. Basta a tentativa de golpe pelo celular e ela já cometeu o delito, mas se ela estiver sob a tutela de bandidos, e te conhecendo pessoalmente, os bandidos vem atrás de você, e se forem bandidos, estão ocultos. Se ela não pode ir à polícia para denunciar uma situação ruim, é porque a situação dela é grave. Você disse que ela tem filhos pequenos!
     _O problema é que ela mal conversa comigo. Disseram a ela que é feio mulher casada ficar conversando com amigos e que o marido poderia se sentir humilhado.
     Edson Prado, pediu para que escrevesse a situação dele.
     Concordei e abri esse espaço para o repórter.    
      

sábado, 11 de julho de 2020

Aromas Singelos

Aromas Singelos


Um bom dia está bem feito
Quando se tem proveito
Ao vê-lo terminado
Pronto e nele espelhado


Naquele som perfeito,
Num descansado jeito
Descolado a seu lado,
De ar aromatizado


À janela, sujeito
De oração por preceito
Inteiro e realizado
Com algum predicado. 

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Rede de Peixe / Miniconto

Rede de Peixe / Miniconto

     Avistaram os pescadores trazendo a rede para a areia da praia.
     Karina olha esperançosa para a mãe:
     _Mãe, faz peixe frito hoje?
     A mãe, dizendo-se sem ter que se preocupar com o cheiro da fritura, e com disposição para, segundo ela, deixar a cozinha muito limpa  e com tempo para não deixar vestígio da fritura na casa, concordou.
     Esperaram os pescadores abrirem a rede e a mãe pediu peixe com poucos espinhos  porque era a menina quem mais gostava de peixe na casa.
     O pescador oferece do cação à tainha, sem escamas e se fosse o caso, cortado.
     Karina observa a rede, os peixes, e de repente, questiona:
     _Sr. pescador, o senhor pode me dizer se as sereias existem de verdade? Contam tantas histórias, mas eu não sei se é verdade?
     O pescador se espanta e se dirige à mãe da menina:
     _As sereias são perigosíssimas. Existem. A senhora permite que eu conte uma história?
     A mãe, sem graça, e com ar muito sério, disse que sim. Segurou a mão da filha com firmeza, e esperou a história.
     O pescador sorriu.
     _As sereias são nossas assassinas. É preciso saber lidar com elas. Elas não aparecem no mar. Até me faz bem contar essa história:
     "Eu sou pescador e faz tempo que sou pescador. Horário bom de pesca é de madrugada. Às quatro horas da manhã a rede pega os peixes. Foi em noite de lua nova, lua ruim de pescaria, mas é o meu ofício de pescador sair todos os dias para a pesca. Eu estava com a canoa em alto mar e não tinha outro barco próximo ao meu.
     De um nada, começou a cantaria. Música sem letra, num som mais doce que a flauta, feminino. No começo da cantoria, eu não liguei, mas quando eu ouvi a voz da mulher que cantava, eu me apavorei:
     _Hoje não é dia de peixe, Netuno não quer que os peixes saiam da água.
     Quando eu percebi, e não sei se foi cansaço ou solidão, eu respondi àquela voz:
     _Quem é você? Por que canta?
     A voz respondeu que era Netuno em forma de mulher e que me levaria para conhecer Netuno. Disse que eu precisava metgulhar para encontrá-la, pois fora da água, ela não poderia existir.
     E essa voz começou a cantar e repetir para que eu fosse com ela ao fundo do mar.
     Eu fiquei muito nervoso ao perceber que essa "coisa de sereia" existia e que teria que voltar para a praia. O mar começou a ondular de vazante, em direção ao alto e eu tive que remar contra a maré. Veio também o vento e com ele a voz dela a me buscar para Netuno.
     Eu remava e o mar puxava, eu remava e o mar puxava. Avistei a areia e fui em direção à praia.
     Cheguei à praia exausto e acabei adormecendo ali mesmo.
     Quando o sol apareceu, eu olhei em volta e não conhecia muito do lugar.
     Deixei o barco preso na areia e fui procurar a cidade.
     Encontrei a cidade. É uma cidade que dista cinquenta quilômetros daqui. E eu sem dinheiro para ligar para cá.
     Avistei uma mangueira numa praça e peguei algumas mangas, as quais descasquei com o meu canivete de pescador.
     Esperei a maré subir e, depois de algumas horas e à remo, cheguei de volta a essa praia.
     Ela não desapareceu. De vez em quando, quando saio para pescar ouço ela cantar. Quando começa aquele som doce e suave, eu volto à terra o mais depressa que consigo.
     Dizem, depois que eu contei essa história, que ela já levou alguns pescadores até Netuno.
     Não se pode ouvir esse canto. Aqui todos sabem que esse canto em forma de silvo é mortal."
     O pescador ainda lacrimejou e agradeceu por estar vivo para contar essa história.
     Karina ficou com os olhos arregalados e surpresos com o perigo.
     A mãe:
     _Obrigada pela história. Meio quilo de cação em postas.
     Lá se foram mãe e filha para casa, com peixe e história. 

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Mulher não Pesca / Miniconto

Mulher não Pesca / Miniconto

     Petúnia, moça-criança, foi com a família pescar.
     Quando voltaram do passeio a mulher do pescador chamou mãe e filha:
     _A senhora não venha pescar e não deixe a Petúnia vir, quando os homens forem pescar.
     A reação da mãe de Petúnia foi instintiva e disse que não havia nada de errado em ir pescar, quando a família sai para pescar.
     _Se não está errado, por que é que eu não devo e a Petúnia não pode pescar?
     A mulher do pescador sorriu como se visse alguém que nada sabe, e pediu calma e disse que iria contar a história.
     "Há muitos anos atrás foi que aconteceu o sucedido. Os jovens, os rapazes e as moças saiam para pescar. Eles pescavam em grupos, seguros de si, onde um cuidava do outro e eram todos de família de pescadores. Ninguém se preocupava porque, se precisassem, não faltaria um nadador para ir ajudar.
     Um dia, os jovens resolveram sair separados para pescar. Os rapazes queriam conversar entre eles e as moças queriam conversar entre ela. As moças até levaram toalhas e lanche. Cada grupo foi para uma ponta do mar para não atrapalhar o outro grupo.
     Entre linhas e carretéis de varas de pescaria, as moças pescavam, e a água parecia não cansar de lhes dar peixes. Elas zombariam dos rapazes depois, era o que combinavam.
     De repente, um anzol puxou a linha e parecia peixe grande. As moças todas se reuniram para puxar o peixe para fora da água.
     Com muito esforço foram andando para trás até que caíram no chão. Gritaram contente de que o peixe haveria de estar ali.
     Nesse momento avistaram um bonito jovem com a boca aberta e pedindo ajuda.
     As moças correram para ajudar o jovem.
     Ele tirou o anzol da boca e agradeceu a elas por terem o salvado.
     Todas as moças o ajudaram e deram a ele bochecho com água salgada para melhorar a dor do anzol. Depois, mesmo não o conhecendo, permitiram que el secasse ao sol, e depois ainda serviram o lanche que elas tinham levado para que ele se alimentasse.
     Perguntado sobre de onde vinha, ele respondeu que era de uma ilha um pouco distante dali, que havia saído para nadar, mas que estava na hora de voltar para a ilha.
     A moça que o havia pescado, sentindo-se culpada pela pesca, deu-lhe os peixes que havia pescado e os colocou numa sacola para que ele tivesse comida quando chegasse na ilha onde vivia.
     O moço, disse que traria para ela algumas pitangas da sua casa porque queria mostrar, que, ao invés de magoado, estava agradecido a ela.
     No dia seguinte, a pescadora foi até o lugar da pescaria e o avistou vindo à nado, e ele ergueu o braço e mostrou a sacola onde ela havia colocado os peixes.
     Ele saiu da água e ofereceu as pitangas para ela.
     A pescadora, contente, chegou à sua morada e dividiu as pitangas com as moças que foram pescar junto com ela.
     As moças perguntaram para a pescadora se por acaso ele voltaria ali.
     A pescadora não sabia se ele voltaria ou não, mas ela passearia por aquele lugar mais vezes e, se ele aparecesse, ela contaria.
     Passaram-se seis meses e ele não voltou e todas esqueceram do assunto. Quando todos esqueceram do assunto, a pescadora estava naquele lugar e avistou de longe, alguém entrando no mar, vindo da ilha.
     A pescadora ficou esperando ali e era o moço do anzol. Ele trazia mais pitangas para ela.
     Iam peixes e vinham pitangas. Todos sabiam e ficaram desconfiados do moço, pois não sabiam nada sobre ele.
     Até que um dia, ao invés de levar os peixes para a ilha, ele a convidou para nadar até a ilha.
     Ela foi avistada rindo e nadando ao lado dele.
     No lugar, sobraram os peixes.
     A pescadora não voltou.
     Os pescadores se reuniram e foram até a ilha procurar pela pescadora.
     Encontraram a pescadora e ela parecia feliz.
     Disse que a sua família, agora eram aqueles botos que pulavam sobre a água e que não mais voltaria ao lugar de onde viera.
     O final da história é que a pescadora viveu desse jeito até chegar ao fim dos seus dias, bastante idosa."
     Terminou a história e nunca mais Petúnia e sua mãe foram a uma pescaria.           

quarta-feira, 8 de julho de 2020

O Senhor do Gelo / Conto

O Senhor do Gelo / Conto

     Abro a geladeira e o congelador, e da geladeira sai vapor, e do vapor da geladeira em dia frio, aparece o Senhor do Gelo.
     Ele é congelado e vive se derretendo em busca de calor.
     _Olá senhor do Gelo, sinto muito, mas eu preciso de uma bebida quente, seja café ou chocolate com canela e leite fervente.
     Ele responde:
     _Certamente, depois vai tomar água e eu nem preciso sair da geladeira para que você saiba de mim.
      Vou tomar o café.
      O senhor do gelo se diverte com alguma ironia:
     _Em causa pela pandemia, em casa pela saúde, com dentes sensíveis pela mistura de frio e quente, sem conversar, e temos isto, estou aqui.
     Desde quando gelo fala, devo estar precisando de café, pois até os meus neurônios estão congelando.
     O senhor do gelo toma forma e se transforma numa nuvem de vapor de geladeira, enquanto o vapor ao lado é do fogão, da água quente para passar café.
     _Quem pensa em voz alta, conversa sozinho, ou sozinha, mas por quê você está conversando sozinha quando estou aqui para te ouvir.
     Olhei em volta e perguntei ao senhor do Gelo:
     _Afinal, quem é você?
     Aconteceu que a neblina do congelador parece ter olhos, e pior, fala:
     _Eu sou algo, já que não sou ninguém, que te diz a verdade.
     Ora essa, que absurdo:
     _Que verdade, senhor do Gelo?
     Ele respondeu:
     _A verdade que a geladeira é uma realidade, e é boa, útil, aceita frutas, verduras, legumes, carnes, massas, ovos, doces e salgados para você comer no dia seguinte.
     Esse senhor do Gelo parece cínico, reflito.
     _Pareço sozinho, mas sempre tem alguém abrindo e fechando a porta da geladeira, por conseguinte, isto é uma afirmação falsa.
     O que mais o senhor tem para dizer, s-e-n-h-o-r do G-e-l-o, pergunto.
     _Que a senhora é burra e não mais poderei conversar com a senhora, porque a senhora é burra!
     Está certo, o meu tom de voz não tinha sido gentil. Fico aborrecida.
     _Ora, não fique triste! Eu gosto de gente burra, os inteligentes me menosprezam. Somente pessoas consideradas burras abrem e fecham a porta da geladeira muitas vezes ao dia.
     Sou obrigada a perguntar:
     _Senhor do Gelo, o senhor me considera "burra"?
     Pareceu esboçar um sorriso, mas humilde, respondeu:
     _Eu que vivo na geladeira e sei o que é uma geladeira, preciso de uma pizza a ser descongelada, gente de bom humor, boa fé e boa vontade.
     Com essa boa vontade por parte dele, perguntei o que poderia fazer por ele e ele pediu, com sinceridade, que eu mantivesse um ou duas pizzas a serem descongeladas, mas com boa fé e realmente pensando em comer uma pizza de vez em quando, não porque fosse desperdício, mas para sentir que existe lugares mais frios e menos habitáveis.
     Fechei a geladeira, mas para abrir de novo.  

       

terça-feira, 7 de julho de 2020

A Doutrina é Diferente / Reflexão

A Doutrina é Diferente / Reflexão

     Às vezes é preciso esclarecer.
     A dotrina da denominação batista não pratica a Maria idolatria porque, embora seja a mãe de Deus, mantida toda a sua história perfeita enquanto mãe de Deus, ela não é Deus, mas sim seu filho Jesus que é a mesma pessoa de Deus, e ao qual se adora.
     É uma questão de doutrina, mas não de vida pessoal, pois cada um tem a sua família do jeito que Deus quis, e com os propósitos para que seja em fé.
     As pessoas não devem confundir a doutrina com a vida pessoal do cristão, pois a doutrina é uma opção a ser seguida para se chegar até Jesus Cristo, o seu filho amado.
     Quanto à Maria, a mãe de Deus, nada se pode acrescentar além da própria palavra bíblica, não se discute uma possível alteração na história de Maria, porque a história dela é a dela. Dentre as aparições dela na Bíblia, está a festa na qual ela percebe que pode faltar a bebida e pede ao filho para providenciar, e uma na qual ela pede para Jesus atender as visitas e ele diz que tem algo mais importante do que conversar com as visitas. Esteve presente na hora da crucificação, e foi a mãe perfeita da hora da dor.
     Quanto à Jose, seu esposo, também merece respeito. Os batistas não cultuam santos, mas estuda a vida dos santos, e pronto.
     A família deles tem história própria e excepcional, pois educaram Deus.
     Cada cristão tem a sua história, e essa história é respeitada, porque toda história merece respeito, seja a da humanidade, a da música, o do seu país de nascimento, enfim a história é para ser contada.
     Por que é que estou escrevendo sobre isso?
     Porque estou tentando traduzir a história de Huchaldo e as modificações na música que aconteceram sob a influência dele.
     Até ontem eu não sabia da existência de Huchaldo, hoje eu sei.
     Agora que já vos apresentei a Jesus Cristo, pesquisem.·
     Sobre a doutrina batista, igualmente, pesquisem, e se gostarem, podem aderir.
      

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Momento de Simplicidade

Momento de Simplicidade


Essa necessidade
De estar em movimento
É humana e sem vaidade,
Mas triste é o sofrimento


De quem fica à metade
Pelo simples momento
Contrário a realidade,
De um tal divertimento;


Corresponde a vontade
A criação de um tormento,
Quando é a simplicidade
Que se impõe ao passatempo.
  

domingo, 5 de julho de 2020

Um Filme / Conto

Um filme

     Soraia e Sofia foram assistir ao filme "cult".
     Afinal, o filme não era tão "cult", mas elas queriam comentar sobre o filme.
     _Escuta, Sofia, que tipo de mulher era aquela?
     Sofia respondeu:
     _Ora, conforme você ouviu o decorador dizer, ela era o tipo de mulher que falava o que queria conseguir e conseguia.
     Soraia disse:
     _Sim, porque a outra é um clichê, é o tipo de personagem ao qual estamos acostumados.
     Sofia refletia:
     _Sim, mas se eu encontrar aquele tipo de mulher, eu fujo. Afinal o que é que ela queria, que até agora eu não entendi.
     Soraia ria:
     _Ela queria casar a única das filhas que estava solteira.
     Sofia:
     _Hum? Você acha que é daquele jeito que as coisas acontecem?
     Soraia:
     _Ela é prática.
     Sofia:
     _Você se enquadraria em qual das personagens: a clichê ou a prática?
     Soraia:
     _Nenhuma das duas.
     Sofia:
     _Eu tambem não. Por que ela estavam sempre na mesma cena, se uma queria casar a filha e a outra comprar o vaso de porcelana do decorador de ambientes?
     Soraia:
     _Esse é o motivo do filme ser "cult".
     Sofia:
     _Sim. O decorador deixou a casa da primeira aconchegante e vendeu o vaso à outra pelo triplo do preço.
     Soraia:
     _É fato, mas a mulher conseguiu casar a filha e a outra conseguiu o vaso para colocar no Hall de entrada.
     Sofia:
     _Como as vontades pessoais diferem de pessoa para pessoa, que coisa absurda!
     Soraia:
     _Muitas pessoas conseguem o que querem.
     Sofia:
     _Genial foi o cineasta que colocou esses clichês como tema e fez um filme cult, com a maldade nada caricata da Lauren e a vontade de resolver a vida de pronto da Meg, junto a um decorador, que não era um decorador, mas um diplomata.
     Soraia:
     _Há jeito melhor de se viver.
     Sofia:
     _Para quem pensa, ah, quem não pensa como nós.
     Soraia:
     _Café com bolo?
     Sofia:
     _Confeitaria?
     Soraia:
     _Uma vez em cada seis meses?
     Sofia:
     _Combinado.
     Ambas seguiram felizes, com a estranha sensação de serem intelectuais.       

sábado, 4 de julho de 2020

Amenizante

Amenizante


É final de semana,
Quanto a isso ninguém se engana,
E é a gente que o difere
Conforme se prefere,


E o pássaro já flana
Ao céu azul que se ufana,
Pois a ele se refere
Um sol que nele infere


A alegria que se irmana
Ao frio de uma semana,
Com gelo; caractere
Ameno se sugere. 

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Calor de Tecido

Calor de Tecido


Média constante
De bom cansaço,
Frio congelante
Ao passo a passo


De cada instante
Ao fixo espaço,
Algo falante
De um mesmo traço;


Ponto restante,
Linha que faço
Sem ser errante,
E a blusa abraço.  

 

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Outro Sonho / Conto

Outro Sonho / Conto

     Joaquim também sonha. Sonhou.
     _O que você acha desse sonho? Eu achei que era algo caro, mas ele disse, enquanto dirigia o carro pequeno e usado, que iria de mudança para a Itália. Além de tudo, o que significa sonhar com gente que já morreu? Devem ser as notícias que andam me influenciando.
     Passaram-se trinta e seis horas do sonho, e surge o problema.
     Veio o ciclone e destruiu a casa.
     _Agora, quem está a pé sou eu, disse Joaquim. Não posso mudar os fatos.
     Enquanto ele constatava a realidade, percebeu que alguém estava mudando
a realidade do falecido. O falecido tinha vendido a casa por causa de um temporal que se repetia e se repetia, e ele nada mais fazia do que consertat o estrago do temporal.
     Joaquim queria consertar a casa, e pensou no prejuízo e levantar o dinheiro do conserto. Foi ao banco e descobriu que tinha recebido a quadra da quina que estava acumulada e que o conserto não seria dispendioso.
     De novo, o sonho.
     Joaquim não estava mais a pé. Ele sabia o que deveria fazer.
     Joaquim deveria simplesmente reafirmar que há casos em que não há culpa nem crítica, porque pertence à realidade fática do indivíduo. O falecido tinha vendido a casa por motivo certo e justo e a história não poderia ser modificada.
     Nisso toca o telefone:
     _Joaquim a seu dispor, por favor.
     Do outro lado da linha, um amigo pedindo para que ele evitasse sons baixos e repetidos, pois as fakes news estavam usando mensagens subliminares hipnóticas para fazer com que as pessoas acreditassem como realidade o que não era tido como realidade pessoal, uma espécie de hipnose coletiva, mas com o fim de dominar as mentes desprevenidas. 
     Joaquim desligou o telefone e pensou em voz alta:
     _Que sonho!
     Joaquim olhou para a casa e pensou de novo:
     _E vai acontecer de novo. E pode acontecer comigo.
     A essa altura, o vizinho vem reclamar da bagunça.
     Joaquim, conhecendo o vizinho há mais de quarenta anos, responde:
     _O senhor sabe quantas vezes o senhor me telefonou para comprar esta casa?
     O vizinho responde:
     _Eu não lembro de ter interesse na sua casa.
     Joaquim respondeu que ele lembrava do tempo que a casa havia sido recém-pintada, quando recebeu a ligação para comprar a casa.
     _Desculpe perguntar, o senhor ainda tem aquela loja?
     O vizinho, enfezado com a resposta, respondeu:
     _Como é que o senhor sabe que eu tenho loja noutra cidade?
     _Porque o senhor me telefonou da loja.
     Joaquim refletiu que a realidade não pode ser mudada com projetos pretéritos.
     O vizinho estava zangado, e Joaquim entrou no cômodo que não havia sido danificado e resolveu assistir as notícias ao celular.
     Ele ouve sobre o discurso do ódio e desliga o noticiário. Reclama em voz alta:
     _Nessa situação pandêmica, com consertos, eu lá quero saber de discurso de ódio.
     Nesse íterim passava alguém na rua que, ao olhar para a casa, ouviu a reclamação. 
     Ele chama o Joaquim:
     _O senhor Joaquim, estou passando na rua e ouvi o senhor reclamar do discurso do ódio, mas há um vizinho que usa de maledicência contra o senhor há mais de vinte anos. Suponha que eu lhe chamasse para reclamar da bagunça porque alguém se queixa do senhor. O discurso do ódio é mais ou menos isso: alguém fica atiçando o cachorro até que o cachorro morde. Permita lhe contar uma história:
     "Era uma vez uma casa com um cachorro para fazer companhia e barulho se chegasse gente estranha no portão da casa. A dona da casa tinha hora para sair e pegar os filhos dela na escola. Todos os dias, enquanto ela não estava, alguns moleques, na saída da escola próxima à casa dela, atiravam pedras no cachorro, mas do lado de fora do portão. O cachorro latia contra os moleques, mas acabava machucado com as pedras. Um dia, ao receber visitas, outra senhora entrou com o filho, que estava com o mesmo uniforme dos moleques, e o cachorro, ao ver o portão aberto e o garoto com uniforme, atacou ferozmente o garoto, e por sorte, apesar de ferido, não morreu."
     O homem perguntou ao Joaquim:
     _O que o senhor acha dessa história?
     _Eu sei dessa história e esse é o discurso do ódio, mas o que é que eu posso fazer?
     O homem respondeu que o discurso do ódio precisava ser tipificado no Código Penal.
     A conversa com o passante acabou por distrair Joaquim.
     O dia acabou e Joaquim tinha muito a fazer, inclusive se cuidar com a pandemia. Lembrou-se da pandemia e sentia-se bem por ter usado a máscara e a distância social ao conversar.