Vontade, não se deixe levar!
Não agora que te sei planejada
De encanto na folha a flanar.
Demora nesse imenso girar
Enquanto não clareia a madrugada,
A fim da vibração não pausar.
Zelando por mim nessa invernada,
Perfeita nesse arcano do lar.
É um blog com artes e contos, crônicas, comentários, imagens e, arteiros em geral
Vontade, não se deixe levar!
Não agora que te sei planejada
De encanto na folha a flanar.
Demora nesse imenso girar
Enquanto não clareia a madrugada,
A fim da vibração não pausar.
Zelando por mim nessa invernada,
Perfeita nesse arcano do lar.
A Terceira Reportagem
Nota da autora: Para quem não leu as duas primeiras, e ficarem com vontade de ler as reportagens, elas se encontram no arquivo do blog.
O repórter chama-se Edson Prado e agora tem alguns anos de experiência, comete menos gafes e vamos à história:
Pensando no setor de microempresários, o jornal pede ao repórter que vá ao Bairro da Moca, São Paulo, para entrevistar o dono de uma padaria.
Edson se dirige até a Moca e pergunta entre os comerciantes qual a história mais interessante daquele lugar entre os microempresários. Conta da reportagem a ser feita e da necessidade da história chamar a atenção do público leitor para o lugar comum, que todos conhecem, mas que pode ser diferente em algum aspecto e valha a pena ser lida.
Os comerciantes indicam a panificadora do Lisandro e pedem ao repórter que ele mesmo ouça o que o outro tem a dizer. Eles desejam o retorno do leitor, seja ele quem for, porque é um fato que acontece a alguns comerciantes e parte deles abre falência; até hoje não se descobriu o motivo.
Edson se apresenta a Lisandro e pede o resumo da sua vida como panificador.
_De fato, a minha história é curiosa. Eu tive uma padaria em um Bairro de moradores pobres e, embora os meus pães fossem muito saborosos, os habitantes do lugar preferiam comprar os pães no supermercado porque o dinheiro deles era justo e os cinquenta centavos a mais cobrados pelo quilo de pão pesava no orçamento. O que eu fiz? Aprimorei as minhas habilidades se confeiteiro, nas massas de pão e salgados. Confiante na qualidade de tudo o que poderia produzir, passei o ponto comercial a outro comerciante que vendia frutas e verduras diretamente do produtor e a preços acessíveis a eles, aluguei um ponto comercial perto do Pacaembu por dois anos e montei a padaria que eu desejava com doces crocantes e recheios cremosos, salgados assados de alto padrão, etc. Aconteceu que a panificadora foi tão bem que o lucro pagou o investimento em quatro meses. Filas se formavam desde a frente da porta de entrada do estabelecimento e os consumidores não se importavam de pagar mais vinte ou cinquenta centavos a mais levando em consideração a qualidade do sabor dos produtos ofertados a eles. Eu sorria de orelha a orelha e levantava-me às quatro da manhã com alegria, mesmo em dia de chuva. Parecia que tinha feito o negócio perfeito. Passaram-se dois anos e chegou a hora de renovar o contrato de locação. O dono morava próximo ao local e via o meu negócio bem sucedido. Foi aí que decidiu dobrar o valor do aluguel. Eu tentei negociar com ele e disse que as vendas iam bem, mas o aluguel em dobro comeria o negócio. Eu vendia pães, não ouro. Nesse ínterim apareceram moradores da região reclamando que a fila era grande e que os carros dos fornecedores de farinha, de refrigerantes e de produtos resfriados estacionavam em local apreciado pelos moradores e que atrapalhavam a livre movimentação no lugar. Eu tentei negociar com o locatário e disse aos moradores que poderíamos rever os locais do estacionamento dos fornecedores, mas foi em vão.
O repórter interveio e perguntou se ele ao invés de reclamar, havia se retirado do Bairro e perdido o negócio.
_Bom, foi um decisão difícil. Com o dinheiro que eu ganhei e que não era pouco para o ramo, eu poderia comprar uma loja em outro local menos valorizado. No entanto, se eu pagasse o aluguel desejado, eu perderia o lucro futuro e veria o meu negócio em franca decadência, fazendo do meu comércio a fortuna do proprietário do lugar. Dinheiro, em si mesmo, não serve para nada, então avaliei sobre a quantia armazenada no banco que serviria para realizar melhoria das instalações originais tendo em vista o público crescente e exigente. Eu me retirei do lugar bastante aborrecido quando comprei esta loja. Logicamente dei folhetos de propaganda com o novo local da panificadora, mas no fundo eu sabia que ninguém se deslocaria de um bairro a outro para comprar pães.
Edson pediu a ele que concluísse a sua experiência.
_Certo dia, antes de fechar a loja definitivamente, apareceu um freguês e me perguntou o porquê da minha decisão. Eu desabafei e conversei com ele sobre os problemas do Bairro. Disse que não me arrependia de ter me instalado ali, mas que eu saia magoado com o final do relacionamento. Era comércio, mas até então eu não havia presenciado tamanha mesquinharia. O freguês aproveitou e se queixou do lugar, mas era proprietário de apartamento residencial naquele lugar e também pagava caro por comportamentos que não eram os seus. Pão se faz com carinho, mesmo com as máquinas que possuo. Este lugar é bom para os negócios, talvez porque eu seja o proprietário do espaço físico que ocupo. Fazer sucesso rápido sem a infraestrutura necessária para aguentar a pressão da demanda não é bom. Devagar se consegue fazer melhor.
O repórter, fascinado, o cumprimenta e deseja sucesso a nova panificadora. Promete que irá fazer o possível para conseguir informações e orientações a todos que conseguem atingir o sucesso dos lucros antes do desenvolvimento profissional adequado a situação. Compra alguns pães e ganha alguns doces para levar à redação do jornal, gentileza do homem que sabia o que produzia. Conseguira pauta e matéria para uma semana.
Ninguém se segura na hora da investigação
SOBRE A CURITIBA DOS BONS TEMPOS
Março 2012
PARA QUEM É DE CURITIBA OU MOROU NAQUELES BONS TEMPOS....
MUITO BOM, FANTÁSTICO.....
A gurizada de hoje não sabe o que é.
Fechou a Curitiba onde eu vivi
Só não fechou este meu tempo de guri.Viu, guria !
Saudade da Curitiba dos meus tempos de guri.
Das partidas do “bete-ombro”.
Do jogo de tique.
De pular corda e amarelinha riscada de giz na calçada.
Do jogo de búrico ( bolinhas de gude, de vidro…)
Fidusca em pó, Maria Bodó.
Dos treinos no campinho com as bolas de “capotão” da Casa Walter.
Saudade do jogo do bafo com as Balas Zequinha.
Tinha Zequinha Médico.
Zequinha Radialista.
Zequinha Motorista.
Zequinha Papai Noel ( a mais difícil, quase não saía ) .
Tinha até Zequinha Ladrão.
As figurinhas embrulhavam aquelas balas ruins, que ninguém chupava,mas que divertiram muito a piazada.
No jogo do bafo era proibido cuspir na mão.Dos balões de São João que iluminavam as noites frias da Curitiba
dos meus tempos de guri.
Era Balão Caixa, Balão Mimosa, Balão Cruz.
De todos os tamanhos e de todas as formas.
Tinha uns grandes,tão grandes que até os bombeiros vinham ajudar na hora de acender a tocha.
Os soldados vinham, erguiam a escada, seguravam a copa,
o baloeiro acendia a tocha, o fogo ardia e o balão subia,
espargindo parafina incandescente sobre a Curitiba dos meus tempos de guri
( nunca ouvi falar que um balão tivesse provocado incêndio! ).
Das raias ( pipas, pandorgas ) que esvoaçam pelos campos da Galícia.
Éramos felizes os piás de Curitiba.
Espremidos nas calças curtas os piás e as meninasnas suas saias de sarja azul marinho,
toda pregueada, como mandava o uniforme escolar,
levavam para a escola um punhado de bolachas Duchen e meia garrafa de Capilé.
Às vezes, Crush ou Mirinda.
Quando não, um suco de uva Grapete.
Ou gasosa de framboesa da Cini.
Prá variar, Minuano.
Tinha uns que levavam Bidu-Cola ou Guaraná Caçulinha, com bolacha Maria.Aos domingos, faceiros, no terninho de marinheiro da Maison Blanche,
iam à matinada
do Cine Ópera para ver Tom e Jerry.
As meninas, gabolas, enfeitadas em suas saias godê,da Joclena,
e blusinhas da Mazer,
uma loja infantil ao lado da Gomel, na Praça Tiradentes.
A Maison Blanche era de meninos.
A Joclena e a Mazer, de meninas.
Para os sapatos tinha a Cirandinha.
Piá nenhum admitia vestir o tal de brim coringa não encolhe,aquele tecido azulão grosso,
especialmente para macacão de mecânico,
que hoje chamam de jeans.
As meninas vestiam tafetá ou veludo, também em festas,os vestidos godê ponche feitos de organdi suíço.
Os meninos, terninhos de casemira.
Quando muito, camisa Volta ao Mundo e calça de Tergal.
Piás felizes chutando bola,descalços,
sobre as rosetas dos campinhos por todos os lados.
Esse tempo acabou,assim como acabou a Modelar,
a Casa Rosa,
a Casa Vermelha,
a Casa Sade.
Não tem mais a Casa da Sogra do Aron Ceranko, presidente do Ferroviário
(que também não existe mais).
Não tem mais a Casa da Pechincha.
Desapareceu o Louvre do Kalluf .
Cadê seu Jamil e seu Miguel e a Capital das Modas?
Não tem mais a Casa das Meias do telefone 66-6666,
nem o 444 da Barão.
A Casa Edith, acredite, ainda tem, mas os chapéus Prada não vende mais.
E a Três Coelhos, em que cartola se meteu?
Não tem mais Móveis Cimo.
Já não se ouve mais o apito da Fábrica Lucinda.
Mudou a Casa Feres, pequena por fora e grande por dentro .
As Casas Lorusso, suba que o preço desce , também desapareceram.
Fechou a Casa Dico – Fique Rico comprando na Dico -
A Joalheria Pérola, do Kaminski,
a Importadora Americana, do Marcos Salomão Axelrud,que vendia o Simca Chambord e o Simca Rally.
E as casas da Uda e da Otília ?
Desapareceram o Frischmann´s Magazine,
assim como o Chocolate Basgal, da Tiradentes.
Não tem mais a Tarobá, do Pedro Stier,em cujas vitrines o pioneiro Nagib Chede exibiu o primeiro programa de TV do Paraná,
projetado diretamente do último andar do Edifício Tijucas.
E o povo encantado via o Jamur em preto e branco, contando as notícias do dia.Não tem mais o Cine Curitiba
onde os piás trocavam gibis do Capitão Marvel, pelos X-9 do Monte Hale.
Cadê o Cine América,o Palácio,
o Broadway,
o Avenida,
o Ribalta,
o Oásis,
o Rívoli,
o Vitória,
o Curitiba,
o Marabá,
o Luz,
o Arlequim,
o Ritz.
Até os filmes do Morguenau e do Guarani chegaram ao fim.
Acabaram as matinês do domingo à tarde.
Se você aprontava durante a semana lá se ia a matinê de domingo.
Era ficar na janela vendo os amigos irem, com um monte de gibis embaixo do braço.
Lembram que quando o mocinho beijava a mocinhatodo mundo fazia barulho com os pés no assoalho de madeira do cinema?
Não tem mais o bar Pigalle
Nem o Massalândia Roma, do seu Francesco D'Angelis, ali na praça OsórioE o Lá no Luhm, da Barão?
E a Charutaria Liberty, na esquina da XV com Monsenhor Celso, para onde se mudou?
O Hermes Macedo – do Rio Grande ao Grande Rio – que rumo tomou ?
E o Prosdócimo ?
Não vejo mais as Óticas Curitiba, dos Irmãos Barbosa.
Onde foi parar a Casa Nickel, que vendia Chevrolet ?
Desapareceram a Casa Londres e a Ottoni.
O Lord Magazine,onde se comprava o esporte-fino para ser exibido
nos chás-dançantes de Medicina e Engenharia.
A Slopper também acabou.
Mesmo fim levaram Calçados Clark, Lojas Ika e Pugsley.
Acabou-se o Café Alvorada do Senadinho.
Fechou o Ouro Verde, onde nasceu a Boca Maldita.
Nem Café Marumby, nem Café Piraquara tem mais.Apagou-se o neon da Caixa Econômica, na Praça Zacarias,
com as moedinhas correndo e caindo no cofrinho.
E a Farmácia Minerva,que vendia Zig e Mercúrio-Cromo
e também pasta Kolynos, creme dental Eucalol e sabonete Lifebuoy.
Será que ainda existe o Talco Ross ?
E o Rum Creosotado ?
E Auricedina?
E a Pomada Minâncora?
E o Vinho Reconstituinte Silva Araújo?
E o Regulador Xavier :
número 1 excesso
número 2 escassez
E Antissardina( o segredo da beleza feminina ).
E o Creme Rugol.
E as Pílulas de Vida do Doutor Ross – fazem bem ao fígado de todos nós – ?
Nem a Stellfeld, do relógio de sol sobrou,com suas prateleiras repletas de Cibalena, Varamon e Cafiaspirina, Glostora e Gumex.
Só o relógio de sol resistiu, como a testemunhar os meus tempos de guri.Saudades do time infanto-juvenil do Juventus
o moleque do Batel
do técnico Tuca , do Sabá, dos Cava, do Tonico, do Paulinho,
dos irmãos Popadiuk, do Roberto italiano ...
No Edifício Azulay ficava a Musical .
Ali também ficava a loja de calçados Pisar Firme.
A Clark também ficava lá,assim como a Farmácia Colombo.
Eo curso W.Abreu, preparatório para Direito ?
E o Curso 19 de Dezembro que não pagava ninguém ?
Fechou o Banco de Curitiba, quebrou o Banestado.
E o Bamerindus ?
Cadê o Colégio Parthenon,o Iguassu ( pagou, passou! ) da Praça Rui Barbosa?
E o Colégio Cajuru ?Por onde andarão as suas alunas, tão bonitas e invejadas ?
E as meninas do Sion com suas saias cor de vinho?
E as normalistas do Instituto de Educação por onde andarão?
Acabaram-se as empadinhas da Cometa e os queijos da Casa da Manteiga.
No Mercado Municipal tinha o Manquinho, da Mercearia Sulina.
Só vendia o que era de primeira .Ele mesmo dizia, aqui presunto, se quer mortadela vai em outro.
A coalhada da Schaffer, servida pelo seu Milton,o Toddy da Leiteria Viana,
e o pão sovado da Berberi, em que forno se enfornou ?
Por que não tem mais Milo para beber com leite, era tão gostoso !
E a pastelaria Ton Jan, da Marechal ?Tinha pastel de carne e de palmito. E também o especial, com ovo e azeitona
Fechou a Churrascaria Bambu, a Tupã.Até a Caça e Pesca fechou.
Alguém se lembra do Mitóca ?
Não tem mais o açougue Garmatter e nem o Francês.
E o piá de pedra fazendo xixi na frente do Posto Garoto, cresceu?
E a pérgola na Travessa Oliveira Belo que os Bombeiros mandaram retirar ?Acabou-se o rabo-de-galo do Bar Americano
e não tem mais a carne de onça do Buraco do Tatu.
Nem o filé completo da Tingui.
Nem a dobradinha do Restaurante Rio Branco.
Do pastelzinho do Pasquale,nas manhãs dos sábados no Passeio Público,
restou a saudade.
O Locanda Suíça desapareceu.
Até o Gruta Azul sumiu.
O Jatão, em Santa Felicidade, travou a turbina e caiu.Desmoronou.
Nem a Maria do Cavaquinho,nem a Gilda,
nem o Esmaga
nem o Osvaldinho da Praça Osório,
perambulam pelas portas da Velha Adega, na Cruz Machado,
ou pela frente da Gogó da Ema na Comendador.
Por ali onde andava o Saca-Rolha,nas tardes de sol,
com o seu guarda chuva sempre fechado.
O Bataclã não desfila mais com o seu terno brancoe cravo vermelho na lapela,
pela frente do Fontana Di Trevi
ou da Guairacá, na João Pessoa que virou Luiz Xavier.
Fechou a Curitiba onde vivi.Só não fechou este meu tempo de guri.
Não tem mais Leminski,
nem Kolody.
Dele, resta o lamento:
Esta vida é uma viagem;pena eu estar só de passagem
Dela, um alento:
Para quem viaja ao encontro do sol é sempre madrugada.
De mim, o consolo:
Saudade
és a ressonância de uma cantiga sentida
Que
embalando a nossa infância
Nos segue por toda a vida .
Curitiba querida DOS BONS TEMPOS, que bom que eu te vivi !
autor anônimo
Mensagem enviada pelo sistema e-mail Pro - Powered By Onda Empresas
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Depois digam que eu não comemorei o Aniversário de Curitiba
Este é o poema que se encontra em vários emails, poema comemorativo ao aniversário de Curitiba, cidade onde vivo, a ser festejado no dia de amanhã, dia 29 de março de 2.012.
O autor é desconhecido e pretendo com esta publicação pedir ao elegante poeta que se apresente e não se envergonhe de sentir saudades, ao mesmo tempo que mostro a cidade através do seu poema com suas curiosidades:
SOBRE A CURITIBA DOS BONS TEMPOS
Março 2012
PARA QUEM É DE CURITIBA OU MOROU NAQUELES BONS TEMPOS....
MUITO BOM, FANTÁSTICO.....devidamente copiado.
A gurizada de hoje não sabe o que é.
Fechou a Curitiba onde eu vivi
Só não fechou este meu tempo de guri.Viu, guria !
Saudade da Curitiba dos meus tempos de guri.
Das partidas do “bete-ombro”.
Do jogo de tique.
De pular corda e amarelinha riscada de giz na calçada.
Do jogo de búrico ( bolinhas de gude, de vidro…)
Fidusca em pó, Maria Bodó.
Dos treinos no campinho com as bolas de “capotão” da Casa Walter.
Saudade do jogo do bafo com as Balas Zequinha.
Tinha Zequinha Médico.
Zequinha Radialista.
Zequinha Motorista.
Zequinha Papai Noel ( a mais difícil, quase não saía ) .
Tinha até Zequinha Ladrão.
As figurinhas embrulhavam aquelas balas ruins, que ninguém chupava,mas que divertiram muito a piazada.
No jogo do bafo era proibido cuspir na mão.Dos balões de São João que iluminavam as noites frias da Curitiba
dos meus tempos de guri.
Era Balão Caixa, Balão Mimosa, Balão Cruz.
De todos os tamanhos e de todas as formas.
Tinha uns grandes,tão grandes que até os bombeiros vinham ajudar na hora de acender a tocha.
Os soldados vinham, erguiam a escada, seguravam a copa,
o baloeiro acendia a tocha, o fogo ardia e o balão subia,
espargindo parafina incandescente sobre a Curitiba dos meus tempos de guri
( nunca ouvi falar que um balão tivesse provocado incêndio! ).
Das raias ( pipas, pandorgas ) que esvoaçam pelos campos da Galícia.
Éramos felizes os piás de Curitiba.
Espremidos nas calças curtas os piás e as meninasnas suas saias de sarja azul marinho,
toda pregueada, como mandava o uniforme escolar,
levavam para a escola um punhado de bolachas Duchen e meia garrafa de Capilé.
Às vezes, Crush ou Mirinda.
Quando não, um suco de uva Grapete.
Ou gasosa de framboesa da Cini.
Prá variar, Minuano.
Tinha uns que levavam Bidu-Cola ou Guaraná Caçulinha, com bolacha Maria.Aos domingos, faceiros, no terninho de marinheiro da Maison Blanche,
iam à matinada
do Cine Ópera para ver Tom e Jerry.
As meninas, gabolas, enfeitadas em suas saias godê,da Joclena,
e blusinhas da Mazer,
uma loja infantil ao lado da Gomel, na Praça Tiradentes.
A Maison Blanche era de meninos.
A Joclena e a Mazer, de meninas.
Para os sapatos tinha a Cirandinha.
Piá nenhum admitia vestir o tal de brim coringa não encolhe,aquele tecido azulão grosso,
especialmente para macacão de mecânico,
que hoje chamam de jeans.
As meninas vestiam tafetá ou veludo, também em festas,os vestidos godê ponche feitos de organdi suíço.
Os meninos, terninhos de casemira.
Quando muito, camisa Volta ao Mundo e calça de Tergal.
Piás felizes chutando bola,descalços,
sobre as rosetas dos campinhos por todos os lados.
Esse tempo acabou,assim como acabou a Modelar,
a Casa Rosa,
a Casa Vermelha,
a Casa Sade.
Não tem mais a Casa da Sogra do Aron Ceranko, presidente do Ferroviário
(que também não existe mais).
Não tem mais a Casa da Pechincha.
Desapareceu o Louvre do Kalluf .
Cadê seu Jamil e seu Miguel e a Capital das Modas?
Não tem mais a Casa das Meias do telefone 66-6666,
nem o 444 da Barão.
A Casa Edith, acredite, ainda tem, mas os chapéus Prada não vende mais.
E a Três Coelhos, em que cartola se meteu?
Não tem mais Móveis Cimo.
Já não se ouve mais o apito da Fábrica Lucinda.
Mudou a Casa Feres, pequena por fora e grande por dentro .
As Casas Lorusso, suba que o preço desce , também desapareceram.
Fechou a Casa Dico – Fique Rico comprando na Dico -
A Joalheria Pérola, do Kaminski,
a Importadora Americana, do Marcos Salomão Axelrud,que vendia o Simca Chambord e o Simca Rally.
E as casas da Uda e da Otília ?
Desapareceram o Frischmann´s Magazine,
assim como o Chocolate Basgal, da Tiradentes.
Não tem mais a Tarobá, do Pedro Stier,em cujas vitrines o pioneiro Nagib Chede exibiu o primeiro programa de TV do Paraná,
projetado diretamente do último andar do Edifício Tijucas.
E o povo encantado via o Jamur em preto e branco, contando as notícias do dia.Não tem mais o Cine Curitiba
onde os piás trocavam gibis do Capitão Marvel, pelos X-9 do Monte Hale.
Cadê o Cine América,o Palácio,
o Broadway,
o Avenida,
o Ribalta,
o Oásis,
o Rívoli,
o Vitória,
o Curitiba,
o Marabá,
o Luz,
o Arlequim,
o Ritz.
Até os filmes do Morguenau e do Guarani chegaram ao fim.
Acabaram as matinês do domingo à tarde.
Se você aprontava durante a semana lá se ia a matinê de domingo.
Era ficar na janela vendo os amigos irem, com um monte de gibis embaixo do braço.
Lembram que quando o mocinho beijava a mocinhatodo mundo fazia barulho com os pés no assoalho de madeira do cinema?
Não tem mais o bar Pigalle
Nem o Massalândia Roma, do seu Francesco D'Angelis, ali na praça OsórioE o Lá no Luhm, da Barão?
E a Charutaria Liberty, na esquina da XV com Monsenhor Celso, para onde se mudou?
O Hermes Macedo – do Rio Grande ao Grande Rio – que rumo tomou ?
E o Prosdócimo ?
Não vejo mais as Óticas Curitiba, dos Irmãos Barbosa.
Onde foi parar a Casa Nickel, que vendia Chevrolet ?
Desapareceram a Casa Londres e a Ottoni.
O Lord Magazine,onde se comprava o esporte-fino para ser exibido
nos chás-dançantes de Medicina e Engenharia.
A Slopper também acabou.
Mesmo fim levaram Calçados Clark, Lojas Ika e Pugsley.
Acabou-se o Café Alvorada do Senadinho.
Fechou o Ouro Verde, onde nasceu a Boca Maldita.
Nem Café Marumby, nem Café Piraquara tem mais.Apagou-se o neon da Caixa Econômica, na Praça Zacarias,
com as moedinhas correndo e caindo no cofrinho.
E a Farmácia Minerva,que vendia Zig e Mercúrio-Cromo
e também pasta Kolynos, creme dental Eucalol e sabonete Lifebuoy.
Será que ainda existe o Talco Ross ?
E o Rum Creosotado ?
E Auricedina?
E a Pomada Minâncora?
E o Vinho Reconstituinte Silva Araújo?
E o Regulador Xavier :
número 1 excesso
número 2 escassez
E Antissardina( o segredo da beleza feminina ).
E o Creme Rugol.
E as Pílulas de Vida do Doutor Ross – fazem bem ao fígado de todos nós – ?
Nem a Stellfeld, do relógio de sol sobrou,com suas prateleiras repletas de Cibalena, Varamon e Cafiaspirina, Glostora e Gumex.
Só o relógio de sol resistiu, como a testemunhar os meus tempos de guri.Saudades do time infanto-juvenil do Juventus
o moleque do Batel
do técnico Tuca , do Sabá, dos Cava, do Tonico, do Paulinho,
dos irmãos Popadiuk, do Roberto italiano ...
No Edifício Azulay ficava a Musical .
Ali também ficava a loja de calçados Pisar Firme.
A Clark também ficava lá,assim como a Farmácia Colombo.
Eo curso W.Abreu, preparatório para Direito ?
E o Curso 19 de Dezembro que não pagava ninguém ?
Fechou o Banco de Curitiba, quebrou o Banestado.
E o Bamerindus ?
Cadê o Colégio Parthenon,o Iguassu ( pagou, passou! ) da Praça Rui Barbosa?
E o Colégio Cajuru ?Por onde andarão as suas alunas, tão bonitas e invejadas ?
E as meninas do Sion com suas saias cor de vinho?
E as normalistas do Instituto de Educação por onde andarão?
Acabaram-se as empadinhas da Cometa e os queijos da Casa da Manteiga.
No Mercado Municipal tinha o Manquinho, da Mercearia Sulina.
Só vendia o que era de primeira .Ele mesmo dizia, aqui presunto, se quer mortadela vai em outro.
A coalhada da Schaffer, servida pelo seu Milton,o Toddy da Leiteria Viana,
e o pão sovado da Berberi, em que forno se enfornou ?
Por que não tem mais Milo para beber com leite, era tão gostoso !
E a pastelaria Ton Jan, da Marechal ?Tinha pastel de carne e de palmito. E também o especial, com ovo e azeitona
Fechou a Churrascaria Bambu, a Tupã.Até a Caça e Pesca fechou.
Alguém se lembra do Mitóca ?
Não tem mais o açougue Garmatter e nem o Francês.
E o piá de pedra fazendo xixi na frente do Posto Garoto, cresceu?
E a pérgola na Travessa Oliveira Belo que os Bombeiros mandaram retirar ?Acabou-se o rabo-de-galo do Bar Americano
e não tem mais a carne de onça do Buraco do Tatu.
Nem o filé completo da Tingui.
Nem a dobradinha do Restaurante Rio Branco.
Do pastelzinho do Pasquale,nas manhãs dos sábados no Passeio Público,
restou a saudade.
O Locanda Suíça desapareceu.
Até o Gruta Azul sumiu.
O Jatão, em Santa Felicidade, travou a turbina e caiu.Desmoronou.
Nem a Maria do Cavaquinho,nem a Gilda,
nem o Esmaga
nem o Osvaldinho da Praça Osório,
perambulam pelas portas da Velha Adega, na Cruz Machado,
ou pela frente da Gogó da Ema na Comendador.
Por ali onde andava o Saca-Rolha,nas tardes de sol,
com o seu guarda chuva sempre fechado.
O Bataclã não desfila mais com o seu terno brancoe cravo vermelho na lapela,
pela frente do Fontana Di Trevi
ou da Guairacá, na João Pessoa que virou Luiz Xavier.
Fechou a Curitiba onde vivi.Só não fechou este meu tempo de guri.
Não tem mais Leminski,
nem Kolody.
Dele, resta o lamento:
Esta vida é uma viagem;pena eu estar só de passagem
Dela, um alento:
Para quem viaja ao encontro do sol é sempre madrugada.
De mim, o consolo:
Saudade
és a ressonância de uma cantiga sentida
Que
embalando a nossa infância
Nos segue por toda a vida .
Curitiba querida DOS BONS TEMPOS, que bom que eu te vivi !
Não é que a cópia ficou verde?! Uéh
Muxoxo
Descanso no abraço
Amigo do tempo
De vento e mormaço.
E deito e relaxo,
Dormindo ao lamento
Do rio que amordaço.
Ao sonho ultrapasso
O meu sentimento
Consciente e cansado.
E quero este sábado,
Pomada de unguento
E o seu esparadrapo.
O espírito lasso
Permite o contento
Ao sono, regaço.
Sexo Estranho
As folhas estão em seu lugar,
Esperam o frio da nevada
Aos sonhos do inverno somar,
Se a morte não for apressada.
Esperam deitar, colchão de ar,
Rolar e dizer da chegada
Do outono de fato, e o branquear
Das nuvens diversas selar.
Renovam o ciclo ao secar
No cio e sede de húmus, amada
Na Terra de um sexo estelar
Estranho, sofrido e polar.
Difícil missão é presenciar
Tal fato sem alma, ceifada
De sonhos, da planta a chorar
Na perda da triste folhada.
Poema Naturalista de Outono
Se o sonho não sonha,
O que é do seu sono?
Abraço de fronha
Ou sono de pronto?
Se o brilho enfadonha
De tédio medonho
Na empada e azeitona;
No estômago, o arroto...
O poema que imponha
O ideal nesse dono
De boca glutona
Amável assopro.
Que o sonho que sonda
A noite de outono
Se faça quinoa,
Semente do irônico.
Alecrim
Nem todos os grampos,
Nem todas as tintas
Farão com que eu minta;
Canção do meu trapo.
A todos os santos
Que tantas feridas
Secaram: há vida,
Há mal e há destrato.
Em todos os campos
Das idas e vindas,
Pincel sarapinta
Dirá meu cansaço.
Agarro os meus trampos
E faço as corridas,
Transformo a venida
Em belo retrato.
De lenços com antos
Espero a pedida,
Aguardo a guarida
De sonho e recato.
Ô de Lá
Um homem, bastante ingênuo, foi chamado a fazer um curso de atualização. O mestre pregou peças aos alunos.
A primeira delas foi ao primeiro dia de aula. Com os alunos sentados, com o material sobre as mesas, o Sr. Rud entra,senta-se à mesa do professor e abre o jornal sem cumprimentar a classe.
Passam-se dez minutos, a classe esperando a aula, e nada.
Um dos colegas de Humberto se levanta e diz bom dia ao mestre. Ele finge que não ouve. Outro colega levanta-se e diz bom dia e o mestre continua indiferente à classe. Outro, mais exaltado, levanta-se e pergunta se o professor tem dificuldades de audição, mas o mestre vira a página do livro e não se importa.
De repente toda a sala conversa e o mestre ignora o burburinho.
De repente a perturbação é geral e ainda outro aluno se levanta, vai até a mesa do professor e vocifera:
_Nós estamos aqui para nos atualizar, pagamos por este curso e o senhor senta-se e ignora a turma? Que espécie de espelunca é esta? Estamos sendo furtados no nosso propósito! O senhor pensa que é quem para nos tratar desta forma.
Os outros alunos se levantam e apoiam o colega.
Quando todos estão exaltados, o mestre fecha o livro e se levanta:
_Esta é a primeira lição: quero que prestem atenção ao que eu tenho para ensinar. A desatenção ofende quem está do lado de cá. Na vida prática, os fatos se dão da mesma maneira.
Pela maneira que começou, encerrou o curso.
Depois que o curso terminou, Humberto desabafou:
_Se, para ensinar eu tiver que magoar e ofender e, se para aprender eu tiver que sofrer para saber que eu devo esperar a falta de compreensão, que todos estão dispostos a se divertirem com o meu dinheiro e que a falta de compromisso é a palavra do mais forte; prefiro procurar outros objetivos. Objetivos onde eu possa usar o meu lado bom e humano, objetivos melhores que o lucro. Não sei quanto aos meus colegas, mas eu quero acreditar que é possível usar de menos estupidez para alcançar muitas das minhas vontades, que afinal são acessíveis a quase toda a população. Se este homem encontra algum sofredor de fato, ele o derruba para o resto dos seus dias, ele foi perigoso na sua didática.
Nem todos concordaram, mas Humberto desabafou.
Passaram-se alguns anos e a pergunta esperada veio até Humberto:
_Como é que o senhor conseguiu esta vida de burguês? Comprou uma balança para vender a granel?
Humberto disse que não era vendedor, mas tinha bom coração.
Insegurança
Este seu medo me apavora,
Dicotomia que te entristece,
Nesse negar confiança agora
Quando a mostrar desinteresse
Segue dormindo a sua aurora.
Conta o relógio que te acorda
Desse minuto que acontece,
Algo diverso te incomoda
Nesse respeito que enternece;
Dobram-se sedas com espora.
Nestes bordados de senhora,
Ao desconfiar do que se tece,
Perdem-se os fios, vai-se esta escolha,
Como um vintém no fog que pede
Juro ao chuvisco sem demora.
Enfeites
Enfeitando esta vida
Te libertas de algemas,
Desatadas na escrita,
Gracejada nas têmperas.
Se a janela te ensina
A colher tais licenças,
Ao sonhar-te uma orquídea,
Sem querer te é mecenas.
O luar não se encilha
Como brilho às estrelas,
Nos jardins de Manila
Florescentes são Helenas.
Murmúrios
Ouço rumores ecléticos
Nesta manhã de euforia,
Fazem rimar, dizem versos;
Brindam o dia na poesia.
Ouço sonidos herméticos,
Silvos de surda alegria
Vindos do nada e sintéticos,
Todos em santa harmonia.
Ouço o silêncio dos céticos
Soltos a pena vigília,
Pródiga em zelos poéticos,
Que ora se deitam à pira.
Musas de encantos diversos,
Sopram a brisa e arrelias
Nesse cismar dos incertos
Plúmbeos aos limbos das vistas.
O Trauma
Dizem que a preguiça faz crônica, mas me lembrei do fato e vamos à crônica. Parece que ainda o vejo.
Ele é o professor de inglês que foi engraxate em Nova York durante dois anos.
Todas as aulas eram compostas por detalhes dessa sua experiência. Lá, ele teve automóvel, morava no Brooklin, ganhava gorjetas generosas e conseguiu um visto provisório de moradia para poder se estabelecer comercialmente, engraxar sapatos é ter uma microempresa.
Mas, se os negócios eram bons pelos lados de lá, o que ele fazia cá ministrando aulas e sabidamente ganhando pouco comparando com o padrão de vida que ele obteve por lá?
_Eu ganhava bem, é fato. Imaginem o que é ganhar bem e não conseguir comer o que se deseja. O cardápio não combinava com o paladar que fora treinado aqui, até o hambúrguer tem o sabor diferente, os temperos são outros e se estranha à primeira mordida.
Aqui o engraxate conversa, faz graça e procura ser agradável ao cliente. Lá, o cliente chega, senta-se na cadeira, e, naturalmente ignora o prestador de serviços, no caso, eu. Mas, quando os sapatos estão prontos e brilhantes, eles abrem a carteira e dão até dez dólares de gorjeta, mesmo eu cobrando um dólar e meio pelo serviço. Deixam o dinheiro ao lado da caixa de polimentos, levantam-se e saem sem uma palavra.
Os lucros são bons e eu me adaptei ao sistema deles.
Certo dia, enquanto eu atravessava a ponte de Manhattan para ir ao Brooklin, no meu carro usado, que aqui vale uma fortuna, enorme e confortável, pensei em comprar arroz e feijão para cozer no meu apartamento. Ah! Foi pensar e deixar que a saudade se sentasse no banco de passageiros ao meu lado. Pensei na vida do interior, onde a minha mãe e dois irmãos moram, e não comprei nem o arroz e nem o feijão. Mandei a saudade se retirar do automóvel.
Passados alguns meses, como era o meu costume, peguei o carro no estacionamento ao final do expediente, passei no aeroporto e comprei as passagens de volta ao Brasil. Enquanto dou aulas reflito sobre esses momentos intensos que me trouxeram dois dias depois ao lugar onde nasci.
Aqui ando de ônibus e não tenho como manter um automóvel, mas como o que eu compro com o sabor que eu espero. Não posso negar que Nova York foi a grande paixão da minha vida.
Nenhum dos alunos supunha que a aula seguinte talvez fosse a pior aula de inglês de todos os tempos. O retrato das torres gêmeas que ocupavam meia parede na sala de entrada ainda estava no lugar. O professor havia avisado que sairia da escola para dar aulas na sua cidade natal a trezentos e cinquenta quilômetros da capital do estado, queria estar ao lado deles nesta hora. Não mais voltaria naquela escola. A direção da escola teve que pagar um pintor para retirar o retrato e lixar a parede antes de pintar com a bandeira americana.
O resto vocês sabem...
Causo Estranho
Tubão para ela era uma garrafa de dois litros de refrigerante de groselha com uma dose de cachaça, para mim, um vestido justo e reto, com uma fenda ao lado. Eu nunca experimentei o tubão dela e ela não experimentou o meu tubinho cor de uva.
Onde ela trabalhava, eu era amiga do dono, não existem amizades onde moram os negócios. Mas, nos respeitávamos e fazíamos o bom relacionamento.
Mas parecia que havia um feitiço, tudo o que acontecia na vida dela, acontecia na minha. Ela, assaltada no ônibus, eu na esquina pela vidraça do automóvel. Ela se divertia do jeito dela, barzinho, e eu do meu, ia ao cinema. Trocávamos ideias superficiais e interessantes.
Houve um problema desagradável com um familiar dela. Puxa vida! Houve um problema desagradável com um familiar meu. Nós duas tristes pelo mesmo motivo e pelo mesmo grau de parentesco.
Quando ela me disse que estava doente, eu corri para o médico. Por sorte, evitei o tumor. Benigno, o meu e o dela.
As coincidências foram tantas e tão severas que eu decidi por fim a elas. Como? Afastando-me dela. Éramos boas colegas, mas o inferno parecia querer nos unir de uma forma terrivelmente triste.
Nunca mais soube dela, mas jamais a esquecerei. Seria um eufemismo dizer que eu vi nela um anjo, um anjo que tomava tubão aos finais de semana, mas eu jamais vi criatura tão inocente apesar de todos os contrassensos indicados nas nossas conversas.
Se eu tenho uma vontade, é saber desses mistérios. Mas o contato foi perdido, melhor assim para nós duas e para as nossas coincidências ruins. Obviamente que se fossem coincidências boas, eu não cortaria. Foram passagens tristes e idênticas.
Outro dia me perguntaram sobre um objeto dela, que ainda estava comigo. Eu contei a história por cima, para não impressionar a interlocutora.
Percebi que o período havia sido difícil e joguei fora o tal objeto, um chaveiro velho.
_Você vai jogar o objeto por que eu vi?
Que engano na pergunta; joguei o chaveiro fora como forma de libertar-me do sofrimento. Fiz uma prece por ela... Não, não estou pregando e não sou missionária. É que os fatos eram de arrepiar. Pensando melhor, vou deixar para trás. E se as coincidências retornam? Cruz credo! Deixa assim mesmo, que esse espelho era mau e é melhor que tenha se quebrado.
Enviado pela Sweet Melody,
Quando a realidade é mais bonita que o sonho…
Todos merecem a felicidade, inclusive você…
Presente da Maria Alice Cerqueira
Do Amor Exemplo
As gentes simples se riem das dores
À sorte, negam o seu querer,
Não sabem desta vida os amores.
Insiste o açoite dos seus temores
Nas juras a se contradizer,
E à dor seguida esvaem-se os valores.
Quem ama, sonha todas as cores.
Quem sofre, livra esse padecer.
Presente da Maria Selma
Estilos
A mulher e o seu vestido
Emocionam-se no espelho,
O vestir tem seu segredo
E revela o seu sentido.
Elegância é quase um rito
De passagem. Muito cedo
Aprendemos que o vermelho
Ou, é sutil, ou, então, proibido.
A mulher e o seu libido
Não dispensam o seu cetro
E discretas passam reto
A mostrarem o escondido.
Femininas, são do estilo
Novo conto de mistério,
Relicário de aconchego
Vem de ouvir um assovio.

Crônicas de Rezar
1- Não é que conheci um idólatra...
Estava eu no caixa eletrônico quando alguém, que esperava a vez, na fila ao lado, comentou:
_Amigo, o seu dinheiro é sagrado? O meu é sagrado. Eu me ajoelho diante desta máquina para agradecer.
Ao ouvir esta frase me aproximei da máquina onde eu estava para tentar esconder a tela e aquilo que eu digitava. Mas o homem continuava:
_Quem criou o dinheiro? Se Deus criou o homem e ele inventou o dinheiro, o dinheiro é sagrado porque foi inventado por uma criatura criada por Deus.
O homem ao lado passou a não responder, emitindo sons como “hã e hum”. Eu estava desconfiada e nem olhei para os dois, embora achasse que o idólatra queria o dinheiro de quem estava fazendo o saque no caixa ao lado.
Não tirei um centavo para mim e fui tratando de parar com as operações. Sei que o homem entrou no caixa eletrônico e pediu ao outro que o esperasse.
_Deixe-me fazer a minha prece e vamos juntos.
O outro homem disse que estava com pressa, pediu desculpas quase entre dentes e saiu rapidamente do local.
Não sei se agi certo, mas baixei a cabeça e me retirei também tão rápido o quanto pude. Não queria conversa com nenhum estranho naquele lugar. Mas ouvi o monólogo entre o homem e a máquina:
_Você é tudo de sagrado que eu conheço...
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2 – Enquanto isto, a Boa Vontade
Irmãos, todos oramos e vigiamos porque o inimigo não descansa. Essa é uma história do Deus interior de cada um de nós. A mãe ora todos os dias para que os seus filhos sejam amigos entre eles, mas um dos seis irmãos, o menos culto, é alvo fácil de críticas porque não as consegue rebater com elegância e palavras sutis. Este filho, o Norberto, responde às críticas com expressões como:
“_Dane-se, não como na casa de ninguém, é gente que não tem o que fazer e tem o rei na barriga. Se cada um cuidasse da sua vida e não infernizasse a vida do outro o mundo seria melhor. O povo gosta é de fofoca, mesquinharia e se realiza mais vendo o outro aborrecido do que fazendo algo bom para ele. Se estas pessoas construíssem um brinquedo de papel e o dessem a uma criança que não conhece brinquedo, seria bom. Mas não, querem aporrinhar aquele que ao menos tenta fazer tudo certo.”
A mãe do Norberto sofre com estas críticas e cai em tristeza. Ela não tem condições de mudar toda a educação que deu ao filho, a mesma educação que fez do filho um homem de bem, que não passa necessidades, embora criticado pelo jeito tosco de ser. Esse é o jeito dele, aceito no ambiente dos caminhoneiros, cuja preocupação maior está na maneira de fazer o frete e ajudarem-se mutuamente durante as viagens.
Peço agora que prestem atenção na pergunta que vou lhes fazer: a quem o inimigo (os cristãos sabem o significado desta palavra) quer atingir? Norberto não para em casa, a atingida é a mãe dele. Essa é uma história de uma das nossas irmãs de igreja, que recebeu apoio das outras irmãs e que agora enfrenta os comentários dizendo aos críticos que eles não fizeram por merecer um filho como o Norberto. Ela o educou e ele é bom naquilo que faz e que ela tem orgulho do filho que tem, sem vícios e cumpridor dos seus deveres.
O inimigo é perigoso, ele fala de um, mas atinge o outro, a sua língua é de serpente. Contei essa história para que nós, cristãos, não sejamos ingênuos a ponto de dar ouvidos a tais histórias porque é a chance que o mal tem para entrar em nossas vidas. Amem irmãos.
Porcelana
Que o engano seja porcelana,
Quebrando-se em desfaçatez
Naquele que a si mesmo engana
Com máscaras de insensatez.
Fingir vem de quem não se ganha,
E trai o brilho à polidez;
Mantém o espírito sem gana,
Transforma essa luz num talvez.
Quem nega a si, a si desengana
E, à sombra voga em palidez;
É pássaro de sebe urbana
Que chega ao voo e nega a vez.
Caridade
Às vezes é manutenção
Do que se quer, do que se tem,
Do que se cria ou uma obrigação,
De quem se faz como convém.
Às vezes, é argumentação,
Filosofia ou tese ou vaivém
Que se convida para a ação
Beneficente de armazém.
Às vezes é a chamada união
Do sofrimento e não vê quem,
Nessa vontade de aflição,
Receberá este seu aberém.
No entanto dói essa obstinação
De amor gratuito que se obtém
Ao retornar em comoção
Do resgatar um sem vintém.
Compartilhar não é compaixão
Embora tenha algo a desdém;
Mesmo a pobreza ajuda a quem
Desse favor jamais se abstém.
A Palavra
O Seu texto é comunhão
De vontades e intenções;
Nesse espírito a oração
É conduta de aptidões.
Através da compreensão
E extinção das ilusões
Enganosas há a cisão
Entre o digno e as tentações.
A Palavra é redenção
Das humanas condições;
Na Promessa há proteção,
Liberdade e direção.