O Sabotador
Certa vez, um poeta inconformado pegou o microfone da sala de leituras poéticas e todos os presentes esperavam silenciosos que ele iniciasse a declamação.
_ Você ouviram os últimos poemas? Todos os poemas até agora trouxeram identificações e resistências emocionais aos ouvintes. A poesia tocou a sensibilidade de todos vocês e alguns de vocês pensaram que ele foi escrito pensando na história pessoal de vocês. Concordam?
Os ouvintes concordaram meneando a cabeça e mais uma vez aguardaram a leitura do poema pelo poeta.
_O correto é que vocês sintam a poesia tocando no mais oculto da sua alma e que ela produza transformações a partir da leitura. Quero parabenizar os poetas, que me antecederam e que fizeram a emoção presente nesse local culto e de bom gosto.
A sala de reunião era de porte médio e os ouvintes se entreolharam, sorriram ao poeta e fizeram sinal para que ele prosseguisse.
_Eu estou muito feliz em participar de grupo tão seleto e distinto de pessoas com berço para a cultura...
A platéia educadamente nomeou um representante e ele pediu para que o poeta lesse o poema porque além dele, haveria mais três declamações.
_Vocês querem que eu leia um poema? Eu vim aqui para levar o microfone embora. Quando eu declamo, ninguém presta a atenção devida.
Ele não poderia levar o microfone embora, o representante não deixaria que ele tomasse tal atitude.
_Então ninguém mais declama hoje!
Todos os presentes se levantaram e tentaram acalmar o poeta. Todos leram os seus poemas ao mesmo tempo de maneira que ninguém soube o que foi conversado entre o representante e o poeta.
O poeta pegou o microfone novamente:
_Peço desculpas aos ouvintes, eu me comportei mal. Se eu mostrasse o meu poema, uma melhor acolhida teria recebido.
Os ouvintes estavam contentes com a educação do poeta, mas ele colocou o microfone dentro do bolso da jaqueta e fugiu deixando a platéia atônita.
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