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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Carta de Esperança em Meio à Dor - Solidariedade

mãos de amor

Curitiba, 15 de janeiro de 2011

Prezado Amigo,

Jamais escreveria esta carta se não soubesse a dor que te invadiu nesse momento.

Ainda pequena, vivi algo semelhante. Lembro-me de estar sentada no degrau da escola chorando. Meu pai e a minha mãe me procuravam e eu me escondia. Junto a mim estava uma amiga que me repreendia. Ela perguntava o porquê da minha atitude. Eu respondi que não queria que eles me vissem chorando. Ela pediu-me para parar de chorar e ir ao encontro deles.

No dia seguinte, ela me perguntou por que eu chorava. Eu respondi que não tínhamos mais nada, que nos restava a vida e era “por enquanto”. Disse também que eles tinham a mim. Toda criança é egocêntrica, lembre disso. Eu pensava que se eles me vissem séria, eles sofreriam menos e eu os ajudaria. Assim me comportei.

Eles perderam toda a família deles, os pertences e quase se entregaram a desesperança.

Sem ter como brincar, as sombras produzidas na parede e as suas diversas formas eram diversão. O céu foi e ainda é uma fonte inesgotável de esperança. Quantos planetas e estrelas ainda não são conhecidos? O mundo é grande e há de existir um lugar para você e para todas as suas lembranças das perdas que não desaparecerão em um mês e, talvez, nem em um ano. Mas daqui a um ano você conviverá melhor com os fatos.

Naquele momento em que tudo foi perdido, eu ganhei um novo mundo para desbravar. O velho mundo não servia para mais nada. As crianças têm coragem para construir um novo mundo. Às vezes, mais coragem e mais vontade que os adultos. Os adultos são práticos e se esquecem que os sonhos ainda podem se realizar.

Sei que eles contavam com os meus sonhos para seguirem em frente. Os sonhos dos filhos empurram os pais ao enfrentamento das maiores adversidades. Amigo, creia nisso.

Com o meu sofrimento, aprendi a amar quem estivesse do meu lado. Deixe-me dizer melhor, abrace quem estiver ao seu lado nesse momento de dor. É um gesto simples, mas que dá forças e aumenta a solidariedade. Quando a gente sofre junto, a gente sofre do mesmo jeito, mas tem-se a impressão de que se vencem as dificuldades mais facilmente. E, por favor, pense que pelo sobrevivente você pode fazer algo, nem que seja apertar as mãos dele e dizer “sinto muito”. Mesmo que você também seja uma vítima.

Amigo, quando aconteceu comigo, lá em casa não procuramos culpados, embora não faltem culpados nessas horas. Tentar seguir em frente é muito melhor do que se queixar, por mais que doa e por mais que se tenha vontade de discutir a situação. O que importa é comer, beber água e sonhar que um dia essa dor será uma lembrança e não uma realidade, um fato acontecendo no dia de hoje.

Amigo, peço-te humildemente que aceite estas palavras que não servem e nem querem te consolar, mas te dar forças para prosseguir e construir tudo de novo.

Um abraço amigo, Carolina.

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