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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

domingo, 23 de março de 2014

Conto Sem Fadas

Conto Sem Fadas

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Era uma vez uma rainha má. Tanto quanto os reis, as rainhas podem ser boas ou más. Gigi gostava de ser má, matava quem a olhasse com jeito de quem comeu e não gostou.

Um dia descobriu que havia no reino uma moça casadoira chamada Jasmim, suave e romântica, com bons modos, bonita e singela.

Chamou o guarda real e ordenou:

_Mate aquela moça, ela é a vergonha do reino, dá maus exemplos às demais moças. Resumindo, não gosto dela. Mate-a!

O guarda real, obediente, mas sem querer se meter em complicações, disse à rainha que a obedeceria, mas usaria os seus próprios métodos. O guarda real era amante de um esteticista real, às escondidas da rainha.

À noite, durante o encontro com o seu amante, pediu a ele que fizesse um cárcere invisível para Jasmim.

O amante, de nome Dido, em princípio, recusou-se, mas convenceu-se após receber da rainha uma mansão próxima ao castelo.

_É um pedido irrecusável, ajudarei a deixar a moça presa nessa prisão invisível.

De nada adiantava Jasmim ser do jeito que era. Ela era cuidada dia e noite para que não tivesse ninguém a seu lado. Eram guardas, mulheres maliciosas e alguns meio-homens, os gigolôs, a manterem essa situação.

Enquanto ninguém percebeu a situação, as ordens da rainha eram cumpridas rigorosamente.

Como se sabe, todos os reis e rainhas têm os seus opositores e, um dia, Astor, um jovem forte, viu que Jasmim chorava à beira do rio.

Astor se aproximou de Jasmim e perguntou por que ela chorava:

_Choro por algo que você não sabe e não vê. Penso mesmo que, se eu te contar, será difícil para você entender.

Astor pediu a Jasmim que contasse a ele, pelo menos ela desabafaria com alguém.

A moça parou de chorar e quis conversar com ele.

O reino soube.

O guarda real tomou as providências:

_Deixe o rapaz sem mulheres e sem diversão. Não a tempo de deixá-lo enfurecido, nada disso. Quando ele começar a se zangar, nós mostraremos a ele as nossas garotas.

Os planos da rainha foram bem sucedidos.

O tempo passa. Houve uma invasão das forças de Fifo. Houve o corre-corre de todos os súditos para ficarem em suas casas com as suas famílias.

Jasmim estava na beira do rio. Não mais chorava, apreciava as águas e molhava os pés fazendo barulho e se divertindo com os seus gestos. Estava adaptada a vida que levava, ciente de que o que a rainha mandava, estava feito.

Ao perceber o corre-corre, quis também correr para a sua casa.

Astor, ao contrário, ao perceber o corre-corre, foi ao encontro dele.

Nenhum dos dois fez o que planejava. Tropeçaram, um no outro enquanto corriam, caindo na grama e dando risadas. Naquele instante, o tempo para eles, parou.

Alguns sábios perceberam que eles tinham tropeçado. Os sábios possuem um conhecimento maior do que os filósofos e tomam atitudes para auxiliar os que deles precisam. A grama era de propriedade de um conde muito poderoso e ele amaldiçoava quem nela pisasse.

Naquele momento em que tropeçaram e caíram na grama, os jovens conseguiram reunir tantos problemas em volta deles que, sozinhos, estariam mortos.

Junto a eles, de agora em diante estariam o conde, o amante do guarda real, a rainha e, as suas vidas particulares, que estavam à mercê de se desestruturarem a qualquer momento.

Os sábios chamaram os jovens para conversar:

Disseram a eles que eles não tinham mais do que o conhecimento justo que as suas juventudes permitiram, mas eles tinham o conhecimento dos milênios da humanidade.

Pediram para que Jasmim prestasse mais atenção no lado negativo das histórias que lia e que se cuidasse. De fato, Jasmim era um caso irremediável de boa vontade. Ela reconheceu e disse que tentaria ser mais cautelosa, principalmente com aqueles que viessem a conviver dali em diante, o que seria uma posição dura para quem está acostumada a conviver com as brincadeiras das águas do rio. Apresentaram a ela possíveis amigos para o Astor, em caso de necessidade.

Disseram que Astor também enfrentaria dificuldades e pediram a ela que fosse ao rio da mesma maneira como costumava, mas com uma diferença. Astor iria conversar com ela todos os dias. Para os sábio era imprescindível esse diálogo diário, porque uma rainha má não deixa de ser má porque dois jovens tropeçam na grama do castelo do conde.

Astor prestava atenção, mas somente após algumas conversas com os sábios é que a situação seria precisa ao entendimento do jovem.

Advertiram ambos sobre alguns dos problemas que enfrentariam como o moralismo, que em excesso oprime e desvirtua a virtude, o naturalismo, o qual é leniente com todas as situações humanas como se todas as ações fossem naturais e não pudessem ser modificadas para melhor e, a promiscuidade individual lembrando que os animais copulam, mas os seres humanos fazem amor.

Eram tantos os conselhos que para guardá-los seria preciso papel e caneta.

Referiram-se novamente ao Astor, dizendo que a ele caberia dizer não quando Jasmim pudesse agir de modo que o aborrecesse, ele era mais experiente que ela; pediram que ela aceitasse as intervenções do Astor com bons modos.

Jasmim perguntou se ela não poderia discordar dele.

Os sábios disseram que as discussões movidas com respeito eram necessárias, uma hora ou outra haveriam de discordar e que encontrassem o caminho para o fim dessa discussão voltando ao bom entendimento.

Astor e Jasmim estavam atônitos com tantas informações de sabedoria de uma só vez.

Astor questionou por que eles aconselhavam tanto se, depois, não dariam suporte.

Ao questionar foi respondido que o suporte existiria, mas para que fosse possível alguma espécie de suporte, que tinha por finalidade o bom relacionamento, essa conversa era necessária.

Saberiam os jovens, de antemão, que o conde viria atacá-los com o naturalismo, o amante do guarda real com toda a lascívia digna da cobra do paraíso e, a rainha gostaria de servi-los grelhados ao molho pardo em algum banquete de aniversário.

Os sábios terminaram a conversa dizendo que o melhor suporte com o qual eles poderiam contar seria o fornecido de um ao outro e vice-versa, porque as trocas de vivências, quando somadas, multiplicam-se a favor daqueles que a precisam e lembraram o pedido de que eles convivessem em conversas para que observasse os pontos fortes e fracos do outro para esse auxílio mútuo dentro dessa amizade, a qual os sábios se surpreenderam pelo bom ânimo que a movia.

Por último, mas não menos importante, eles ofereceram oportunidades em outros reinos, caso houvesse alguma condição extrema que assim exigisse uma oportunidade modesta, porém valiosa para ambos, em princípio rejeitada por eles.

Saíram do lugar ainda falando, que o futuro ninguém pode prever, mas se pode estabelecer algumas diretrizes e metas para que os prejuízos sejam menores.

Astor e Jasmim se sentiram sobrecarregados, mas pensariam sobre tudo o que foi dito.

Enquanto isso, a rainha comprou aranhas procedentes do jardim do conde, que por sua vez, montou um cabaré onde o amante do guarda real seria o gerente.

Um comentário:

Manuel Luis disse...

É bom conversar, aqui limito-me a ler e agradecer o conto.
Bj