A atriz iniciante recebe o convite para representar em uma peça de teatro, lê a sinopse, pensa se aceita e se o papel lhe convém. Fecha o contrato e as participações das vendas dos ingressos na bilheteria. Estuda, decora, ensaia, dorme de dia, não vê a família no fim de semana, chora de saudade. E na segunda-feira liga para eles.
A vida é sofrida, mas foi ela que escolheu a carreira.
Ensaio geral e abertura. Bate a ansiedade, espia pelas cortinas o público que irá assisti-la, é hora de entrar no palco. Põe a alma no personagem que diz aquilo que não é dela, que faz e desfaz e arrebata essa platéia. Esgota-se interpretando e dando o seu melhor suor.
Acaba a encenação, o público aplaude. Comemora com a trupe, a sua companhia.
Amanhece quando chega a sua casa. Deita-se e dorme como um sapo morto nas cobertas desarrumadas e intactas nessa desarrumação. Acorda à tarde, tem mais um espetáculo à noite. Passa um, dois, três meses vivendo a vida de outra.
Acaba a temporada. Acaba a encenação dessa peça. Descansa na casa vazia, no palco de luzes apagadas, come arroz e ovo frito. De repente, falta tudo. A casa precisa de uma vida sem personagens, da vida real. Arruma a casa, a família, os amigos e a rotina.
Vem outro convite, tudo se repete. Indefinidamente tudo se repete peça após peça, na vida da atriz. Ela não tem mais nome, ela vive dos nomes das personagens. Ela envelhece com o nome das outras e as suas plásticas. O sucesso foi a sua escolha, o sonho de muitos, a realidade de poucos.
“Foi uma vida difícil, mas ela era tão generosa. Ninguém soube o que ela passou, dos meses de desespero para pagar o aluguel, os meses que comíamos da horta. Ela não era bonita, glamorosa, ela tinha talento. Quantas vezes ela odiava as personagens que fazia e nos ensinava a não repetir nem em brincadeira o papel da megera.”
_É tão bom te encontrar, posso conversar sem provocações, disse a moça. Ela tinha um bom raciocínio e assim se aguentou na razão. Quantas jovens não suportam o que ela passou e, não suportando a dificuldade, se refugiam na escuridão das suas vidas. Gosto de quem pensa, porque sabe que todos nós enfrentamos dificuldades.
Quem falou foi Júlia, quem ouviu foi Fabrício e a artista procura a próxima atração.
7 comentários:
Vida de artista, cada um escolhe a sua.
Um beijo
Olá Yayá... fiquei aqui pensando o quanto nós também desempenhamos papéis! É um pouco diferente, pois nossa plateia é menor que a de um artista, nosso palco é o nosso trabalho, o nosso lar e, também passamos nossos sufocos, ansiedades e desilusões... Sei lá... talvez é a magia da vocação? Ou a submissão ainda que camuflada? Ótimo o seu texto! Levou-me a profunda meditação!
Abraço, Célia.
Nossa escolhas, definem o tipo de vida que teremos. A fama é dura e efêmera e traz solidão pra dentro da pessoa.
Belo conto Yayá.
Beijokas doces
Yaya..papeis escolhidos..td bem..
triste sao os papeis impostos ..
beijo..saudades
Se a Célia não se importa, faço meu o seu comentário!
Felicidades para ambas.
Yayá,
Sua crônica me lembrou de imediato o DVD que vi ontem, o Cisne Negro. É incrível e triste como incorporar a personagem traz tantas mazelas a esses artistas. Como disse o Paulo Francisco, cada um escolhe a vida que quer...
Excelente texto!
Bjkas com muito carinho!
Olá linda amiga!
Gosto desse seu jeitinho de postar esses textos,ficamos a meditar dentro desse contexto...
bjsssssssssss
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