O Cafezinho / Crônica do Cotidiano
Dos melhores entre os melhores, parar para tomar um cafezinho num ambiente aconchegante, é uma delícia. Encontramos com gente disposta a relaxar e jogar conversa fora.
Parei e pedi um café. A moça do meu lado pediu café e bolo de milho.
Conversamos sobre receitas de bolo e sobre quem tem mãos boas para os doces.
Eu tomava o café e ela olhava para a rua, distraída.
De repente, como se as palavras viessem do mais profundo da sua alma, ela contou a sua história:
_A rua está movimentada. Cada vez que o ônibus passa, no meu coração bate saudade.
Todas nós, a moça que nos serviu, a gerente e eu paramos em atenção ao que ela iria nos revelar.
Ela, percebendo a nossa atenção, continuou, com o olhar teimando em não lacrimejar na frente da gente.
_Vocês não sabem a saudade que eu sinto quando vejo o ônibus passar. Eu fui cobradora de ônibus. Esse foi o tempo onde todos os meus objetivos deram certo. Eu estudei, eu progredi, eu fiz amigos, eu me distraí conversando com as minhas colegas e com os motoristas. Todos éramos amigos e, com algumas pessoas dessa turma, eu ainda mantenho contato.
A atendente, surpresa, repetiu a exclamação, dizendo a palavra cobradora de ônibus como se ela tivesse sido física nuclear.
Aos nossos ouvidos, ela complementava a sua história:
_É interessante como quem nos vê, pensa na nossa vida sofrida com horários a cumprir e contas a fazer. Ninguém imagina que sejamos felizes. Talvez fosse a minha linha de ônibus que fosse especial, onde todos foram generosos em bondade e compreensão.
A atendente perguntou a ela sobre o seu hoje.
A moça pediu mais uma fatia de bolo de milho e mais uma xícara de café.
A atendente a serviu e ela continuou o seu passeio cor-de-rosa.
_Hoje eu posso pagar pelas duas fatias de bolo de oito reais e duas xícaras de café de quatro reais, eu estou bem empregada e me tornei uma pessoa de confiança para o meu chefe atual. Estou bem. Mas, quando o dia é de poucos serviços e, eu fico à janela do escritório, eu fico observando o ônibus passar. Eu poderia dizer que não sou ingrata e que valorizo o começo da minha vida profissional, mas não é isso. Todos os ônibus que passam e são da linha onde eu trabalhei me fazem lembrar aquele tempo, onde eu imaginava algo bom e esse algo bom acontecia. A minha vida foi um sonho realizado dentro daquele ônibus.
Ela estava emocionada e parou de falar, apontando para o ônibus que passava na rua.
A conversa dela deixou-nos todas olhando para a rua movimentada, com o olhar absorto, e emocionado por ela, a quem conhecíamos naquele momento.
4 comentários:
Que lindo esses encontros assim, por acaso e que podem nos surpreender. Ouvir, escutar os outros com interesse faz bem pra ambos! E ela e sua lida saudade! beijos,chica
Momentos ou passagens da nossa vida que nos ajudaram a crescer e a aprender a palavra responsabilidade.
Geralmente as pessoas que começam a viver com dificuldades mas com luta e preserverança conseguem alguma coisa melhor não se envergonham do seu passado e engrandecem o presente como um premio.
Estes são os melhores encontros com o dialogo e os outros.
Bom dia com alegria!
Bom fim de semana e prosperidade
Saúde, paz, carinho e amor, de noite e de dia.
Das minhas para as tuas mãos delicadas
Pega na chave da porta da nossa amizade
Por Deus com carinho e amor abençoadas
Mantém a porta do teu coração, aberta à felicidade.
Para ti, amiga Yayá,
um abraço,
Eduardo.
A cada encontro nasce sempre uma nova oportunidade de aprendizado!
Bela crônica, Yayá.
Abraço.
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