Caso Contrário / Crônica do Cotidiano
Cabe observar, antes de contar a crônica, que os textos nascem das observações e dos momentos espontâneos das pessoas nas filas, onde, as minhas reações também são espontâneas, porque não sei que história virá antes de entrar em alguma fila.
Hoje eu estava para as delicadezas e procurei algo barato e feminino que coubesse no meu bolso.
Eram nove ou dez pessoas na fila e um único caixa. Estava pensando em pedir para que a loja abrisse um segundo caixa para receber o pagamento, quando observei um grupo de moças na minha frente. Apenas uma delas havia comprado algo, as outras estavam juntas para saberem das novidades que a moça tinha para contar.
Eu não pedi, mas a gerência abriu outro caixa. A fila iria andar.
À minha frente, as garotas incomodavam a garota, querendo saber se ela estava namorando ou não.
Ela disse que não. As outras moças usaram de subterfúgios e disseram o nome de alguns rapazes e contaram dos seus namoros.
A moça em questão aparentava uns vinte e dois anos e estava séria até ouvir o nome do Luiz Francisco, sobre o qual as outras quiseram saber por onde ele andava. Ela sorriu, e disse:
_O Luiz Francisco é uma graça. Ele está trabalhando na empresa H Construções Civis (nomes fictícios). Vocês não imaginam o quanto eu acho ele querido.
As outras, curiosas, observavam o olhar dela com desconfiança de que ela estava apaixonada.
Eu, que estava atrás, na fila, observei as peripécias que ela fazia com a coluna enquanto falava dele.
Que situação constrangedora! Se as moças tirassem os olhos dos olhos da amiga e observassem os gestos físicos da coluna vertebral, saberiam mais do que poderiam supor.
Não tive dúvidas: olhei para os olhos da moça com ar respeitoso e sério por alguns segundos, depois olhei para os saltos dos sapatos dela e para a coluna.
Na posição em que a moça se encontrava eu não diria nada além de:
_Contenha-se!
Não disse nada, mas ela entendeu o recado e voltou à postura normal, com a coluna endireitada. Observou que eu vi e, como ela não me conhecia e nem eu a ela, ela ficou sossegada.
As amigas dela me olharam e eu olhei firme para os saltos dos sapatos da moça, como que criticando os saltos altos.
Ela ficou mais sossegada ainda.
E eu, por acaso, quero que a moça venha a ter problemas de coluna mais tarde? Não.
No entanto, desejo felicidades para ela. Que aquele olhar dela, enquanto pensava no Luiz Francisco, seja eterno.
Um comentário:
Um dia ela vai usar apenas "sapatilhas"... e o Luiz Francisco... onde será que foi parar? Boa reflexão! Gostei e muito!
Abraço,
Célia.
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