Fala Enquanto o Chefe se Atrasa
Os rapazes, 21 anos de idade ambos, colegas de serviço, conversam na hora do lanche.
_O chefe vem comer o sanduíche? Amarildo pergunta com jeito de quem está ansioso para dividir a novidade.
Wanderlei diz que sim, mas que atrasou alguns minutos explicando os detalhes do serviço ao cliente. Pede ao colega que conte. Ele estava curioso.
_Ontem, eu saía da danceteria quando vi um homem chegar numa motocicleta velha e emparelhar com um carro. Quando vi, ele tirou uma arma e assaltou o motorista do carro. Eu me escondi atrás da pilastra da igreja. Fiquei até com medo de pegar o ônibus no ponto. Peguei o ônibus dois pontos acima. Quando você for lá, não pegue o ônibus naquele ponto que fica na rua da frente. Ande e veja se não tem perigo.
Os dois conversavam quando o chefe chegou junto a eles.
_Onde foi isso? Que absurdo essa violência!
Amarildo olhou para o colega e contou de novo o fato, mas de forma a ficar bem perante o chefe.
_Não sei se o senhor sabe, mas eu sou muito religioso. Ontem à noite, depois de sair do expediente, fui à igreja. Na saída, quando fui pegar o ônibus, vi um assalto. A situação foi perigosa.
Wanderlei emendou o assunto porque a danceteria era para os dois frequentarem. E, se o chefe resolvesse ir com eles para confirmar o índice de boas relações sociais com os empregados?
_Volta e meia eu vou com ele até a igreja. Ele é o meu bom amigo. Quando o senhor quiser ir conosco orar, por favor, nos avise.
Amarildo não gostou nada da proposta que o Wanderlei fez ao chefe e mostrou na fisionomia a sua contrariedade.
Wanderlei, com jeito sonso, disse ao amigo:
_Não dá nada. Ensinamos a maneira com a qual oramos.
O chefe, desconfiado, perguntou qual era a igreja.
Amarildo, sem titubear, disse:
_Vamos à Igreja do Bispo Edir Macedo.
O chefe percebeu o que era trigo e o que era joio na conversa e começou a se divertir dizendo:
_Amarildo, você contou aos fiéis o que aconteceu? Por que não pediu carona para um deles?
_Eu tinha colocado o boné e não estava apropriado para entrar lá. A minha mãe frequenta lá e ela sabe que eu sou homem de bem. Domingo teremos almoço de família, a minha mãe está comprando os alimentos e eu não quis incomodá-la contando de assaltante. Ele estava armado, o senhor acha que eu não fiquei com medo? Eu, que não sou besta, fiquei escondido até acabar o assalto.
Wanderlei concordou com o amigo:
_A gente não pode se meter com essa gente. Eles são bandidos e, nós, gente de bem.
O chefe perguntou se alguém tinha avisado a polícia e Amarildo respondeu que, talvez, o homem que foi assaltado tivesse avisado.
_Se bem que, se fosse eu, não diria nada. No dia seguinte eu pego o ônibus.
O chefe perguntou para o Amarildo os detalhes sobre o que ele tinha visto e disse que ele contaria o fato a um amigo policial, dizendo:
_Não se preocupe Amarildo, não direi que você viu o fato. Pode pegar o seu ônibus e deixar a sua família sossegada. Eu sou contra a cultura do medo, mas forçosamente sou obrigado a aceitar a sua resposta.
Wanderlei sentiu-se aliviado pelo amigo. Querendo ser gentil perguntou ao chefe se ele gostaria de ir à igreja com eles.
O chefe disse que agradecia o convite, mas frequentava outra igreja.
Os rapazes ajeitaram os bonés e comeram o lanche.
4 comentários:
Ande e veja se não tem perigo
Dizia um para o outro, conte
Não pegue o ônibus naquele ponto
Anda por aí um tonto, assaltante!
Boa noite para você
´amiga Yayá, um abraço
Eduardo.
Na onda dos acontecimentos..."Cadê o Amarildo?"
[ ] Célia.
Célia, é noite e ele está pegando o ônibus. Que autor não conhece o seu personagem? Um abraço, Yayá.
Uma triste onda de violência afetando as relações humanas, acirrando o individualismo e o medo. Enquanto isso, as autoridades que deveriam ser "competentes", fazem "cara de paisagem". Nada sabem, nada veem...
Um abração e bom fim de semana.
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