A Falta Que o Diálogo Faz / Crônica do Cotidiano
Cumprindo obrigações entrei na fila. À minha frente estava um senhor aparentando quarenta anos.
Ele pedia para pagar com cheque e a norma da empresa era não aceitar cheques para a retirada imediata do produto.
A empresa não aceita cheques. Acontece que o senhor era advogado e pediu para falar com a gerente. Ela não estava. Ninguém aceitou o seu cheque.
Conversou com os demais da fila e, todos, nós, que não conhecemos os nossos direitos, não levamos cheques para efetuar o pagamento.
A cada olhar uma resposta eficiente e inadequada:
_Eu sabia que eles não aceitavam cheques.
_Eu telefonei antes de vir para me certificar sobre a forma de pagamento.
O advogado engoliu em seco. Estava profundamente irritado e com razão.
Nessa interação involuntária, nós, da fila, observamos o comportamento dele.
Ele estava olhando fixamente para a atendente com olhar severo, mas não disse uma palavra. Depois olhou para a fila com desprezo.
O senhor que estava à minha frente comentou que o sujeito era difícil de lidar.
Concordei, mas em termos. Ao advogado cabe a palavra e boa oratória. O fato de ele engolir em seco indicava a contrariedade dele.
Poderíamos até apoiá-lo na sua argumentação, porque ele saberia dizer o que precisava ser dito. Nós não sabíamos o que dizer e, numa atitude sofrível, tínhamos perguntado sobre as formas de pagamento.
Aprender a argumentar e contra-argumentar é tarefa para todos nós que estávamos presentes à fila.
Precisamos aprender a conversar. Quem foi que inventou a máxima de que as reclamações cabem aos inconvenientes?
Onde se viu tal coisa: um advogado com medo de ser considerado mal educado perante uma fila.
Nessas horas é que se percebe que com esse comportamento acabamos por concordar com algumas práticas comerciais descabidas. Desculpem, não sei o termo correto para a situação.
Também não colocarei toda a responsabilidade sobre o senhor que se calou, quando deveria ter dito algo. Essa é a nossa cultura e os tempos não são amáveis para os questionadores.
Resumo do acontecido, precisamos todos aprender a dialogar, sem nos deixarmos levar pelas emoções ou pressões e comentários. Precisamos aprender a autenticidade.
3 comentários:
ótimo texto!
bem refletido e conduzido...
E isso acontece com milhares de pessoas em nosso país. E, não podemos fazer absolutamente nada. Estamos de pés e mão atadas perante a arrogância alheia.
agradecemos por compartilhar.
Abraço
Nossos direitos! Onde estão? Nós mesmos que os delegamos para segundo plano... Como cordeirinhos seguimos a ordem implantada por alguns... Você tem toda razão quando cita a importância do diálogo: - ferramenta um tanto em desuso atualmente!
Bj. Célia.
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