Rede de Peixe / Miniconto
Avistaram os pescadores trazendo a rede para a areia da praia.
Karina olha esperançosa para a mãe:
_Mãe, faz peixe frito hoje?
A mãe, dizendo-se sem ter que se preocupar com o cheiro da fritura, e com disposição para, segundo ela, deixar a cozinha muito limpa e com tempo para não deixar vestígio da fritura na casa, concordou.
Esperaram os pescadores abrirem a rede e a mãe pediu peixe com poucos espinhos porque era a menina quem mais gostava de peixe na casa.
O pescador oferece do cação à tainha, sem escamas e se fosse o caso, cortado.
Karina observa a rede, os peixes, e de repente, questiona:
_Sr. pescador, o senhor pode me dizer se as sereias existem de verdade? Contam tantas histórias, mas eu não sei se é verdade?
O pescador se espanta e se dirige à mãe da menina:
_As sereias são perigosíssimas. Existem. A senhora permite que eu conte uma história?
A mãe, sem graça, e com ar muito sério, disse que sim. Segurou a mão da filha com firmeza, e esperou a história.
O pescador sorriu.
_As sereias são nossas assassinas. É preciso saber lidar com elas. Elas não aparecem no mar. Até me faz bem contar essa história:
"Eu sou pescador e faz tempo que sou pescador. Horário bom de pesca é de madrugada. Às quatro horas da manhã a rede pega os peixes. Foi em noite de lua nova, lua ruim de pescaria, mas é o meu ofício de pescador sair todos os dias para a pesca. Eu estava com a canoa em alto mar e não tinha outro barco próximo ao meu.
De um nada, começou a cantaria. Música sem letra, num som mais doce que a flauta, feminino. No começo da cantoria, eu não liguei, mas quando eu ouvi a voz da mulher que cantava, eu me apavorei:
_Hoje não é dia de peixe, Netuno não quer que os peixes saiam da água.
Quando eu percebi, e não sei se foi cansaço ou solidão, eu respondi àquela voz:
_Quem é você? Por que canta?
A voz respondeu que era Netuno em forma de mulher e que me levaria para conhecer Netuno. Disse que eu precisava metgulhar para encontrá-la, pois fora da água, ela não poderia existir.
E essa voz começou a cantar e repetir para que eu fosse com ela ao fundo do mar.
Eu fiquei muito nervoso ao perceber que essa "coisa de sereia" existia e que teria que voltar para a praia. O mar começou a ondular de vazante, em direção ao alto e eu tive que remar contra a maré. Veio também o vento e com ele a voz dela a me buscar para Netuno.
Eu remava e o mar puxava, eu remava e o mar puxava. Avistei a areia e fui em direção à praia.
Cheguei à praia exausto e acabei adormecendo ali mesmo.
Quando o sol apareceu, eu olhei em volta e não conhecia muito do lugar.
Deixei o barco preso na areia e fui procurar a cidade.
Encontrei a cidade. É uma cidade que dista cinquenta quilômetros daqui. E eu sem dinheiro para ligar para cá.
Avistei uma mangueira numa praça e peguei algumas mangas, as quais descasquei com o meu canivete de pescador.
Esperei a maré subir e, depois de algumas horas e à remo, cheguei de volta a essa praia.
Ela não desapareceu. De vez em quando, quando saio para pescar ouço ela cantar. Quando começa aquele som doce e suave, eu volto à terra o mais depressa que consigo.
Dizem, depois que eu contei essa história, que ela já levou alguns pescadores até Netuno.
Não se pode ouvir esse canto. Aqui todos sabem que esse canto em forma de silvo é mortal."
O pescador ainda lacrimejou e agradeceu por estar vivo para contar essa história.
Karina ficou com os olhos arregalados e surpresos com o perigo.
A mãe:
_Obrigada pela história. Meio quilo de cação em postas.
Lá se foram mãe e filha para casa, com peixe e história.
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