Praia / Reflexão
Um assunto chama o outro e hoje, por motivos nem tão óbvios assim, lembrei-me de um dia em que eu procurei um lugar para ficar sozinha na beira da praia.
Queria orar, parece que a oração silenciosa é a maior dádiva que o bom Deus nos deu. Através da oração vem o conforto, a paz e presencia-se o amor divino.
Naquele dia eu andei por toda a praia procurando um lugar ermo e achei, pois é buscando que a gente encontra.
Fiz as minhas orações e repirava profundamente aquele ar salgado na brisa morna que me aconchegava naquele momento de quietude.
A praia, porém, é para todos aqueles que gostem de estar lá. Nem todo mundo gosta e há mesmo gente que sente essa paz de espírito nas montanhas, de onde avistam as plantações e as planícies cultivadas.
Chegaram naquele momento uma senhora aparentando oitenta anos e a sua dama de companhia.
Observei-as sentadas na primeira onda que chegava à areia. A senhora brincava com as ondas pequenas e ria feliz. A dama de companhia estava ao lado dela.
A senhora trajava um maiô preto antigo, com aquilo que se chamava antigamente de maiô de perninhas. A dama de companhia usava algo discreto, o maiô de duas peças, hoje chamado de sunquíni.
Passou algum tempo e a dama de companhia ficou preocupada porque era hora de almoço e ela não terminara de preparar o almoço antes de sair de casa.
A senhora disse para a dama de companhia que naquele dia poderiam almoçar depois do meio dia porque almoçariam sozinhas e não precisavam dizer a ninguém que se atrasavam para o almoço.
A dama de companhia disse que naquele dia faria uma concessão e não contaria à família sobre o atraso do almoço, mas aquele era o emprego dela e ela não poderia fazer esse programa que atrasava o almoço, a senhora tinha que se alimentar direito.
Sei que a senhora não quis se levantar antes de combinarem outra tarde morna para ali estarem. Ela não gostaria que ninguém a visse de maiô, achava que era saliência e exibicionismo. Afinal, o que iriam pensar dela, uma bisavó, de maiô na beira da praia.
Eu pensei que ninguém deveria pensar nada a respeito dela, ao contrário, ela bem poderia frequentar a praia com os seus filhos e por que não com a bisneta.
Eu não estava mais naquele estado de oração e saí para caminhar. Sentei-me novamente à beira da praia para observar um barco pesqueiro que vinha em direção à praia, o arrastão cheio de peixes, ao canto dos pescadores, é um dos mais belos movimentos das areias do Brasil.
Estava sentada e pareceu-me cair um pedaço de folhagem seca que corria com o vento, também me senti idosa e brinquei de esconder os meus pés daquela folhagem seca.
Dali a pouco mais um e mais outro e eu percebi que não eram pedaços de galhos secos, mas ouriços do mar, brincalhões. Fazia tempo que não me divertia como criança.
Todos nós temos algo de criança e de idoso nessa condição madura. Se nós, podemos conviver com crianças e idosos que habitam o nosso ser, podemos conviver com avós, pais, mães, filhos e netos, correria e bolas de plástico, jovens adolescentes e quem mais aparecer, desde que seja de bem; até mesmos os pequenos ouriços que animam o ambiente.
Ambientes exclusivos são especiais e até eu mesma aprendi a ir à igreja para orar, é o lugar indicado.
Praia é praia e é para quem gostar dela sem preconceitos.
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