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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Motorista Pé no Chão / Crônica do Cotidiano

Motorista Pé no Chão / Crônica do Cotidiano

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Motorista também pensa. Ele estava concentrado no volante e falando como se ninguém estivesse ouvindo.

Comentávamos sobre pontes e passarelas, as construções da cidade.

Entre pontes, passarelas e viadutos, ele divagou, numa divagação tão sincera e correta de raciocínio que estou pensando até agora.

Dizia ele que, no Brasil, as construções acontecem e os melhoramentos também, mas tudo é pensado para o curto prazo.

_Como as nossas obras são pensadas para a execução em curto prazo, acabam por serem mais caras. Se tivéssemos obras com prazos maiores e a certeza de que as eleições não interromperiam as obras, poderíamos escolher os projetos com cuidado e atenção aos detalhes e estabelecer um prazo razoável para a conclusão das obras. Em consequência de que tudo deve ficar pronto em dois, ou no máximo, em três anos, a quantidade de projetos arquitetônicos é menor, as escolhas são rápidas e os custos ficam entre os cinco ou seis projetos cujas empresas possuem condições de realizar as obras em menos tempo.

Foi dito a ele que o prazo longo facilita a prorrogação do prazo por tempo indeterminado.

_Eu não digo de adiar a solução de um problema como a construção de uma passarela para pedestres ou uma ponte necessária. Existem obras que precisam de tempo para a execução. Ninguém pode construir, por exemplo, uma hidrelétrica, em poucos anos, sem onerar demais os outros investimentos necessários à população. O país teve que correr contra o tempo para aprontar as obras para a Copa do Mundo quando o correto seria que tivéssemos a infraestrutura necessária antes de sediarmos as competições. O custo foi muito alto e poderíamos assumir que o custo para a Copa foi pesado e tomarmos outras posições em relação aos investimentos necessários para que haja progresso continuado.

Foi dito a ele que, pelo menos, o que se sabe, é que não há continuidade de obras de governos formados por políticos de partidos contrários.

_Possivelmente poderíamos criar uma legislação que obrigasse a continuidade da construção de uma ponte, independentemente do partido que elaborou a ideia para a construção dessa ponte. Estamos nos atrasando em relação aos países desenvolvidos e a falta de investimento em longo prazo se fará sentir daqui a alguns anos. Quando houver a necessidade inadiável de algum melhoramento, os custos cairão sobre a população. Os interesses são tantos que nem mesmo se discutem obras para daqui a dez ou quinze anos. As pontes, as passarelas, os asfaltamentos e alargamentos de avenidas são obras caras e se quisermos fazer em dois ou três anos, certamente a população será penalizada de alguma maneira, enfim, o custo social pode se tornar insuportável.

Foi perguntado a ele, como ele resolveria essa situação.

_Se fosse eu, os novos colégios seriam planejados com dez anos de antecedência e haveria mais colégios do tamanho e qualidade do Colégio Estadual do Paraná. As universidades estaduais teriam seus departamentos de pesquisas pensados em termos de compras de equipamentos com mais antecedência. Eu faria um concurso nas universidades de engenharia para os projetos de pontes e passarelas com valores artísticos no desenho arquitetônico com custo estimado avaliado pelos professores dessas universidades. O valor do custo-benefício de toda e qualquer obra estaria sujeito ao prazo necessário para que não fosse necessário repassar esse custo à população.

Houve silêncio.

_Mas, se ninguém pensar nisso, daqui a alguns anos haverá ruínas onde tínhamos necessidades. A gente tem que pensar a política de um jeito diferente. A política não pode ser desculpa para o atraso do desenvolvimento e muito menos da miséria. Temos ciência de que podemos fazer melhor e mais barato. Não sou a favor de tudo novo ou de reformas constantes no sistema, mas sim a favor do planejamento e da análise constante desse planejamento sem mudanças traumáticas conforme já aconteceram em governos anteriores. Acho que eu penso demais, desculpem.

Não precisa se desculpar, está bem compreendido.

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