Rio de Janeiro

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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Conto com o qual concorri no Site da Livraria Cultura nº2 : Edgar

Uma mulher entra na Livraria Cultura e pára estática diante daquele homem calvo com olhar misterioso. Ele lê atentamente a contracapa de um livro de Edgar Allan Poe. Ela compra um livro e passeia pela literatura universal sem perder de vista aquele homem. Ele compra Edgar e sai. A mulher o segue pelas ruas de São Paulo. Ele nota que está sendo seguido. Ela não está bonita com aqueles óculos imensos, todavia está bem vestida. Durval, o homem, entra numa banca e pede uma revista sobre automóveis. Ela entra na banca e pede umas balas de hortelã. Ele diz à mulher que também gosta dessas balas. Ele observa a reação dela. Ela o olha com frieza. Comenta sobre o livro que está nas mãos dele. _Edgar me fascina. Quem lê os livros dele carregam o mistério dentro de si. Ele a analisa. Castanha, roupa clássica, sapatos de salto alto, cabelo arrumado, bom perfume e uma bolsa discreta. O rosto era um enigma. Pediu o número do telefone dela e disse um gracejo. Ela não responde. No sábado seguinte, ele a vê quando sai do seu apartamento para almoçar. Estava com aqueles óculos. Ele finge que não a vê. Durval lê o livro e pelo sim, pelo não, sai para ver se a encontra. Ele não a descobre. Passa um mês. Ele a encontra num café. Ela fala sobre crimes. Uma conversa estranha que o incomoda. _O que você quer comigo? Ele a questiona e ela cinicamente diz que homens gordos, carecas e leitor de bons livros dão ótimos maridos, um clichê que fica muito bem na vida real. Ele pensa não ser bom nem mau. É um filósofo com qualidades e defeitos e sabe o que é. Ela quer conhecê-lo melhor. _Posso fazer o mesmo com os seus livros, se me disser quais são os livros que lê. Diz ele, Durval atento a cada palavra proferida por ela. Repentinamente ele vê a rua através das roupas daquela mulher. Nervoso, segura com firmeza os seus braços e arranca os óculos daquela mulher. Era um fantasma. Era Agatha Christie dizendo que ele tinha qualidades pessoais desconhecidas dos demais e que deveria usá-las para prever crimes e evitá-los. Ele ouviu, lembrou que não namorava há muito tempo e saiu um pouco da filosofia e foi a um salão de danças. Gordo, careca e feliz.

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