Rio de Janeiro

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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

domingo, 16 de maio de 2010

Alice, a moderna.

Eva moderna, Alice, de carro, estudiosa, trabalhadora, moça que adiava todas as suas vontades pessoais para o dia de amanhã. O tempo ia passando e ela pensando nas obrigações, até que um dia, num semáforo da esquina perto da sua casa , ao lado do seu carro, parou uma carroça, dessas que recolhem tralhas e objetos recicláveis. À frente da carroça estava um cavalo, como de costume. Tudo normal numa cidade grande como a de São Paulo, não fosse o cavalo virar-se para ela e lhe dar um bom dia todo sorridente. Ela achou graça de já haver chegado ao ponto de dar bom dia ao cavalo. Era meio-dia de uma segunda-feira, o que significava hora da corrida do almoço. Almoço de bandeja, saudável, fruta de sobremesa e tudo para ser comido em meia hora. Almoço, faculdade, janelas vagas no horário. Era hora de se dirigir à biblioteca para estudar. Termina o dia, volta para casa na zona norte, Casa Verde. Sua mãe a espera para um ajantarado, como costuma fazer para reunir os três filhos, dois rapazes, Alice e o marido José.
Depois da janta, Alice corre para terminar o trabalho da faculdade. Dez horas da noite ela se deita e dorme.
Na terça-feira tudo igual: de manhã estágio, à tarde aulas e noite de estudos. No Sábado ela acorda tarde, almoça, se arruma, ajeita o cabelo na vizinha que é cabeleireira e faz as mãos e os pés para ficar ajeitada pelo menos até a próxima Quarta-feira. Depois da  beleza, ela liga a televisão e acaba dormindo de novo. Domingo de missa para renovar a fé no seu esforço, afinal uma proteção extra cai bem. À tarde fica na varanda observando as novidades do bairro, conversa com algumas amigas e pronto. Essa é a sua semana.
Só que nessa noite de Domingo , enquanto dorme ela sonha com o cavalo, o cavalo que lhe cumprimentou. No sonho o cavalo é bem tratado, de pelo lustroso, corre nos campos livremente e a olha e relincha insistentemente. Ela de súbito acorda de madrugada e pensa na vida que ela e o cavalo levam. Ela se sente uma égua vestida para a carga que carrega. Concluiu que o animal a cumprimentou porque reconheceu uma semelhante. Percebe que também é responsável pela carroça na qual a vida dela se transformou.
No dia seguinte, no mesmo horário e no mesmo lugar tenta se encontrar com o cavalo, mas que nada, nem cavalo nem carroceiro estão na rua. Repete a operação a semana inteira. Na Sexta-feira, sua última esperança de rever o cavalo, ela avista a carroça e emparelha o carro com a carroça. Desta vez, ela mexe com o cavalo:
_Bom dia cavalo.

E o cavalo responde:
_Bom dia moça. A moça quis me ver de  novo, não foi?
_Foi. Sonhei muito com você e quis te ver mais uma vez. É muito pesada a carroça?, perguntou ela ao animal verificando que o carroceiro nada perceberia de diferente.
_É o meu serviço, moça. Sem a carroça, a minha vida aqui na cidade seria muito triste.
_Mas, e no campo? Você não seria livre?
_Sim, livre. Essa é a idéia. Liberdade.
_Cavalo, por quê você fala comigo?
_Porque o seu cavalo de lata não trabalha como deveria.
_O quê! Não entendi.
_O ofício do cavalo é levar o dono para onde ele quiser e isso não acontece.
_Continuo não entendendo.
_A moça tem que mandar no cavalo e o cavalo está dentro de você. Desculpe, é égua. Entendeu agora?
_Será, cavalo?
De repente, aparece um carro branco, desses importados, cheio de enfeites, com o  vidro escurecido, pára ao lado e desfere dois tiros no cavalo. O cavalo tomba morto. O carroceiro se desespera e grita :
_Não! Não é possível ! Meu Deus! Em que mundo eu vivo?
A moça desmaia, o carro dela fica parado com o motor ligado e o freio de mão acionado.
A polícia é chamada pelas testemunhas do crime.  Eles atendem a moça e o carroceiro. Tomam depoimentos. Investigam. Descobrem o assassino, que é uma colega de faculdade que, de tanta raiva, a seguia desde que ela havia entrado na faculdade porque a moça não se misturava com a barra pesada, a colega jurou fazer a moça sofrer. A polícia comentou:
_Jovens que se destroem por prazer. Que pena!

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