Pano pra Manga
O colega de trabalho convidou a colega para tomarem uma cerveja.
_Eu estava pensando em sair lá fora e fumar um cigarro. Lá na empresa é proibido.
O colega disse que queria conversar sobre os negócios do dia.
A colega pensou duas vezes e ficou.
_Eu fumo quando chegar em casa. Vamos conversar.
O colega trouxe a cerveja, serviu a colega e, para surpresa dele, ela tomou meio copo.
_Nós precisamos conversar sobre os negócios do dia. Vá com calma!
A moça desabafou:
_Ao meio dia passamos pelo pedágio da rodovia, cinquenta minutos depois estávamos no litoral fazendo negócios. Sem que fôssemos avisados que iríamos viajar, sem lanche, sem nada. Fechamos o negócio.
O colega a acalmou. Mas perguntou por que é que ela não tinha fumado um cigarro depois que chegou ao litoral do estado.
_Um cigarro que eu fume e eu perco o meu emprego, o meu salário.
O colega disse que isso era proibido por lei. A rua era um lugar independente da empresa e havia o café e os outros colegas que lá frequentavam.
_É que eu ganho bem, tenho um posto bom. Onde trabalhamos não é uma empresa qualquer, é uma “monstruosidade”. Esqueça o cigarro, vamos tomar a cerveja que os 120 km por hora me deixaram mal o dia inteiro. Quando eu chegar em casa é que eu vou contar para a minha família da viagem de negócios, não quero que eles se preocupem comigo.
O colega desistiu de falar dos negócios e deu toda atenção à colega.
_Nós estamos tomando cerveja depois do expediente e todo o pessoal da empresa pode nos encontrar aqui a qualquer momento. Você não tem medo disso?
Ela disse que não. A cerveja e o vinho são bem aceitos em sociedade.
_O que você acha que aconteceria se você fosse até o café e, depois, fumasse um cigarro com os colegas?
Ela disse que seria considerada dependente e viciada e seria encaminhada ao programa de recuperação de viciados patrocinado pela empresa onde trabalhavam. Condição essencial para a manutenção do emprego.
_Para ser fumante dentro da empresa é preciso fazer parte da turma de troca de favores, ao contrário passa a ser dependente de substâncias químicas.
O colega colocou a sobra da garrafa de cerveja no copo dele e foi ao balcão buscar refrigerantes.
A colega estava visivelmente estressada.
_E o passeio foi bom? A paisagem do litoral é bonita.
A colega respondeu:
_Passeio? Eu fui colocada dentro do carro com os contratos, mais dois colegas e o motorista. Fechamos o contrato e voltamos à Curitiba. A volta durou quarenta e cinco minutos. O meu emprego está garantido: não fumo e cumpro as metas, mas eu preciso descansar.
O colega disse que dia dezenove de dezembro será feriado.
A colega perguntou se a empresa tinha aderido ao feriado.
_Foram obrigados a aderir.
A colega, mas calma e contente com o feriado que terá para se organizar, perguntou por que é que é feriado no dia dezenove de dezembro.
O colega meneou a cabeça e respondeu:
_Parece que é o dia em que se comemora a Independência do Paraná.
A colega, pós-graduada, em conformidade como descrevia as suas obrigações de apresentação e postura, perguntou se, depois da Independência do Brasil, o Paraná teve que proclamar a sua Independência.
O colega respondeu:
_Parece que sim. O Brasil ficou independente de Portugal, mas o Paraná teve que ficar independente de São Paulo.
Terminei o meu lanche e voltei para casa pensando no dia dezenove de dezembro, Dia da Emancipação Política do Estado do Paraná, que deixou, nessa data, no ano de 1.853, de ser comarca do Estado de São Paulo. Esse desmembramento foi uma punição pela participação paulista na revolução liberal de 1.842.
Mas foi um bate-papo muito interessante.
2 comentários:
E muito mais interessante ainda, esta sua crônica.
Excelente!!!
Um abração carioca.
PS.Temos postagem nova no Humor em Textos.
Tanto pano... que a manga na certa ficou comprida e cumprida!
Abraço.
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