O Ranário / Crônica do Cotidiano
Certa época, alguns anos atrás, foi moda nos restaurantes da cidade servir carne de rã. Os cozinheiros a preparavam e ofereciam aos clientes para provar.
Edinei, conhecido da família, comprou terras numa cidade próxima ao litoral para montar o seu ranário. Despediu-se dos amigos e conhecidos e se mandou para a sua chácara localizada entre Morretes e Porto de Cima, no Paraná.
Os conhecidos perguntavam por ele aqui e acolá e ninguém tinha notícias. As ligações telefônicas caíam e, à medida da dificuldade, poucas notícias tinham de Edinei.
Passaram dois anos e eis que Edinei aparece na cidade, caminhando no centro da cidade à procura dos amigos.
Em Curitiba não tem erro: sobe a pé pela rua XV de Novembro e volta pela Av. Marechal Deodoro, e quem não encontrar um conhecido, deve duvidar que ainda esteja vivo.
Curitiba não é uma cidade violenta, mas costuma-se dizer que se está bem por enquanto, sempre “por enquanto”, para não contar com absolutamente nada como prognóstico de futuro.
Pouco se conversa, mas quando os conhecidos se encontram, logo perguntam:
_Há quanto tempo, esqueceu-se dos amigos? Outro dia perguntávamos sobre você e ninguém soube responder. E o ranário, como vai? Deu lucro?
Edinei, taciturno, contou aos amigos sobre o ranário.
_A chácara está lá e não faltam rãs. Rãs que ninguém compra porque ninguém come rãs. A moda passou seis meses após a montagem do ranário. Muita gente se tornou vegetariana após o nojo que sentiram pelo prato de rãs empanadas. Disseram que nunca serviram sapos para as suas visitas. Os donos de restaurantes deixaram de comprar. Parece que há ainda um ou dois ranários em funcionamento, mas produzem para a exportação e com mercado garantido. Perdi todo o investimento.
Um amigo, preocupado, perguntou se ele gostaria de vender a chácara, pois ele conhecia uma imobiliária de confiança.
_A chácara eu conservarei. Parece que há mercado para bananas. Estou aqui para aprender os processos de cultivo e fabricação de bananas-passas, doces e conservas à base de bananas.
O amigo se tranquilizou ao perceber que a situação do outro amigo não era tão caótica quanto dava a entender.
A chácara alimenta Edinei até hoje.
Foi uma moda. Não se sabe até hoje de onde veio à ideia da carne de rã como saudável. Grande parte da classe média curitibana teve o desprazer de ver chegar o prato de rãs à milanesa com pedaços de limão para acompanhar, além do arroz e das tradicionais batatas palito. A propaganda foi intensa e as emissoras de televisão filmavam as pessoas felizes se direcionando ao prato de rãs. Propaganda. Interesses outros para forçar o preço da carne bovina para baixo.
Vale a pena contar essa história. Edinei não tem volta.
4 comentários:
Oi Yayá,
Eu nunca comi Carne de Rã e estou certa que jamais provarei. Sou chata pra certas novidades.rs
Amei o texto.
PS. Minha querida, nao sei se ja o fiz mas como nunca é demais, quero agradecer por sua presença em minha participação no Prosas Poéticas e também, parabenizá-la por sua linda participação.
Beijos
Carne de rã? Sabor bem semelhante ao de frango. Agora, bananas? Acredito que será a melhor pedida!
Abraço.
interessante.
Embora eu nunca tenha comido e nunca vou comer rã, tenho muitos conhecidos que o fazem, e com prazer!
beijo.
Acreditar em certas coisas, às vezes dá nisso: frustração!
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