A Chuva, A Fila e o Show / Crônica de Supermercado
Quando os dias estão movimentados a gente muda de assunto rapidamente.
O céu escureceu e anunciou a chuva. Olho para cima e penso na chuva e nos pães para o lanche. Melhor não perder tempo e entrar no primeiro supermercado no meio do caminho.
Supermercado diferente e passeio rapidamente entre as fileiras antes de ir à padaria, a chuva era de pingos contados, não tardaria a cair.
Todos os caixas tinham filas e, logo entrei numa delas para me apressar.
À frente, no corredor de entrada, um jovem adulto perguntava às filas se queriam que ele cantasse.
Ele parecia um vagalume naqueles coletes na cor amarelo-ouro e de plástico.
Alguns fregueses se entreolharam, com receio, o que não deixa de ser uma pena da vida moderna.
De repente, o jovem adulto de coletes na cor amarelo-ouro de plástico soltou a voz numa moda sertaneja.
Que voz!
À minha frente havia um senhor grisalho que desconfiou ter ouvido aquela voz em algum lugar.
Os meus ouvidos estavam afinados e, embora eu não pudesse ver com exatidão a fisionomia do homem, os meus ouvidos me diziam da voz clara, limpa, sonora, afinada e talentosa.
Ele cantou um trecho de música sertaneja e caiu na risada.
Todas as filas olhavam para ele como que encantadas com a voz.
Aquela afinação própria das terças, perfeita para as músicas sertanejas, não enganava a ninguém. Era algum cantor incógnito a fim de zoar com os fregueses.
O que sei é que a se ver tão observado, ele saiu do supermercado.
Antes de sair disse num som audível a todas as filas que, se quisessem pedir que ele cantasse alguma canção que ficassem à vontade.
Todos o olhavam com admiração tentando adivinhar qual cantor sertanejo seria ele.
Ele sorriu à porta do supermercado e disse até breve.
Saiu calmamente cantando corredor afora até que não mais o pudéssemos ouvir.
Não sei quem era, ou, se realmente, era algum cantor conhecido. Talento tinha para dar e vender.
Entrei no supermercado pensando em chuva, pensei em música, ganhei o tempo, mas tomei chuva de granizo.
Conto a história da chuva.
_Granizo! E você na rua? Que susto!
Susto nada. Surpresa.
Moedas de emoção. Satisfação.
Nem sei como explicar...
Um comentário:
Yayámiga
Já saiu o Crónicas das minhas teclas e até já tenho o primeiro exemplar. Estou feliz; depois da trabalheira e confusões, o parto foi sem dor…
Qjs
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