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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Hoje, Simplesmente Respeitei / Crônica de Supermercado

Hoje, Simplesmente Respeitei / Crônica de Supermercado

     Depois da Páscoa, o mercado estava vazio.
     A conversa sobre o fato de todos terem que se cuidar aconteceu, até por falta de assunto, mas distante, algo absolutamente necessário.
     -Todo o cuidado é necessário, disse eu.
     Ao fazer essa afirmação, percebi a real situação das pessoas em isolamento social.
     _Eu não me cuido. A senhora se cuida?
     Sim, eu disse que me cuidava.
     _Você não se cuida, mas e as outras pessoas?
     Que resposta difícil de ouvir.
     _Ontem eu fui visitar a minha mãe e ela disse para que eu me cuidasse., mas ela nunca cuidou de mim. Fui criado pela minha avó até aos nove anos de idade, porque ela morreu quando eu tinha nove anos de idade. A minha avó, doente, disse que um dia todo mundo iria morrer e que eu aceitasse a partida dela como parte da vida. Eu vivo sozinho, eu sou sozinho. Não deixo ninguém.
     Fui pega de surpresa, pois não esperava esse desabafo vindo de uma solidão e uma infância mal resolvida, mas ele tem apenas dezoito anos, e eu não sei se resolver-se é algo que se pode exigir de alguém que tem dezoito anos.
     Ele se mantém e consegue se virar sozinho, pelo que disse. Ser sozinho, para ele é uma condição existencial?!
     No entanto, observei que há algo de amargo e triste nessa solidão.
     _A minha avó me ensinou que a vida é assim mesmo, que a morte chega quando não se espera. Por que é que eu vou me preocupar com isso? Qual é o sentido de se cuidar.
     Eu não esperava por isso. De fato, fiquei muito surpresa.
     Quase sem ter o que dizer, eu respondi:
     _Respeito a sua história, cada um tem a própria história de vida. Mas você tem que se cuidar e a sua mãe tem razão, mesmo que a verdade, vindo dela, não te soe como algo bom, mas é. Se cuide!
     Conforme tenho observado, mas em geral, não é muito bom ficar pensando em si mesmo nessa época, porque não tem como espairecer, sair, tomar ares, até mesmo porque é desaconselhada essa atitude.
     Cadê a comunicação das rádios e das televisões, e até mesmo da internet, com alguma psicologia, discutir as sensações de se viver em clausura, ou algo semelhante?
     Programas religiosos existem, mas é preciso aceitar ouvir e assistir a esses programas. Fui ensinada que Cristo é um convite para fazer o caminho, mas nunca uma imposição.
     Cabe às psicólogas e psicólogos acostumados a lidar com públicos diversos tentar melhorar os dias fechados que as pessoas têm que enfrentar.
     Pelo menos compartilho essas histórias com vocês.   

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