A Professora e o Giz / Crônica de Supermercado
Esses
dias eu saí para comprar pães na hora em que o supermercado está cheio. Eu
sabia que iria enfrentar uma fila maior que a de costume, mas para isso existe
a paciência.
Atrás de
mim, uma senhora, mais ou menos da mesma idade.
Foi ela
quem puxou conversa.
_Eu não
estou suportando o barulho.
A fila
estava normal, com os barulhos típicos de burburinho de pessoas, cestas e
carrinhos. Eu disse a ela que estava esperando pela fila e que naquela hora era
normal o burburinho.
_Eu não
estou suportando o barulho do giz.
Eu vi que
o assunto era outra e esperei pela continuação da questão dizendo que eu não
ouvi o barulho do giz.
Ela
explicou:
_Para
mim, o barulho da cesta, quando empurrada ao chão para o andamento da fila
contém o barulho do giz.
Olhei
para ver o que se passava atrás dela. Era um garoto de mais ou menos doze anos,
com a feição mostrando a criancice, que empurrava ao chão a sua cesta de
compras, a qual continha um pacote de cinco quilos de arroz e mais alguns
alimentos básicos. Era pouca coisa, mas estava bastante pesada.
A senhora
não disse nada ao garoto. Olhou para mim e disse:
_Por que
é que quando compram itens pesados não pegam o carrinho?
Eu não
respondi por que àquela altura havia mais vinte pessoas atrás do garoto e, se
ele saísse da fila, iria demorar muito tempo para entrar na fila de novo. É
garoto, mas é criança e tem mãe esperando em casa por ele.
Eu
resolvi conversar com ela e perguntei se ela era professora.
_Sou
professora aposentada e, o problema começou enquanto eu ainda dava aulas. Eu me
aposentei e o problema está aqui. Eu passo mal com o barulho de giz.
Eu olhava
os dois atrás de mim: a professora de estatura por volta de um metro e sessenta
centímetros de altura e o garoto com mais ou menos um metro e setenta e cinco de
altura. Ele estava assustado com o jeito dela, mas curioso para saber o caso.
Ela falou
do mal estar, colocou o segundo dedo com as juntas do tarso e metatarso na boca
para morder. Mordeu até sentir dor. Ela disse que precisava morder alguma coisa
para não gritar porque parecia que a dor de cabeça aumentava a cada instante.
O garoto
tomou cuidado para não empurrar a cesta de modo barulhento, mas de nada
adiantou.
A
situação foi dramática ao ponto dela dizer:
_Tomara
que chegue logo a minha vez. Preciso correr para me livrar desse barulho de
giz.
De fato,
ela correu para o caixa quando chegou a vez dela. Estava com a testa franzida e
pálida e, segundo ela, estava com muita dor. Foi o barulho que lembrava o giz
na lousa que despertou o mal estar.
Quando
ela correu ao caixa, na minha frente, pois eu dei a vez a ela, o garoto olhou
para mim. Ele queria dizer que não teve culpa dela passar mal e mostrou a cesta
que ele levaria para casa.
Eu não
disse nada ao garoto e me mostrei tão surpresa quanto ele.
Tenho a
impressão que voltamos os três para nossas casas com o giz, a lousa, a
professora e a escola, sem saber o fator gerador desse problema.
Tem horas
que a gente não sabe o que dizer.
Um comentário:
Ah! o que o magistério não faz com algumas de nós, hein...
Ri da situação...
Abraço.
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