Carta do Tempo para uma Jovem
Curitiba, três de julho de 2014
Senhorita,
Você escreve uma carta pedindo-me respostas para tudo o que não sabe. Eu sei que você a escreveu e rasgou desejando que ninguém a lesse, mas eu sou o Tempo e estava com você, junto ao seu tempo enquanto você a escrevia.
Para você, talvez essa carta seja extemporânea, apenas demorei-me a responder para que ela chegasse no tempo do seu entendimento.
São respostas sensíveis, como não poderiam deixar de ser, pois ao tempo da escrita a jovem olhava a tudo e a todos com a admiração de quem percebe a estação das flores, tudo é novo e as perguntas são curiosas e cheias de disposição, também ingênuas.
Não consegue ser amigo quem trai, então, sou seu amigo porque a ti não trai, contando da carta sobre o futuro e a respondo como sendo segredo nosso.
Amor não é bobagem da juventude, é conduta de vida, o amor tem qualidades de vida inexoráveis e eternas, conduzir a vida com o amor implica em atitudes que produzem o entendimento.
Não consegue falar de amor quem só te previne a respeito dele e, mesmo os médicos, ao prevenirem qualquer doença, amam o que fazem, sentem imenso prazer ao te perceberem sã.
Somente eu, o Tempo, na terceira pessoa do tempo de um verbo, pode dizer que tudo o que te furtam é o que te sobrará dali a pouco. O Tempo devolve todas as condições espirituais furtadas, mas das quais, você precisa usufruir sem se importar com o que foi desviado de ti.
O perdão do Tempo é esse, não vive com mágoa, aquele que, através do Tempo, compreende a distância no espaço necessário e benigno para que o amor seja realidade.
Ao tempo desta carta você estava distante de todo e qualquer relacionamento anterior com o amor passado, mas agora você tem todo o tempo passado unido ao tempo afastado, como se jamais tivesse havido a descontinuidade que houve, porque não existe descontinuidade do tempo em que se quer e deseja o bem.
Ao contrário, para o mal, existe a descontinuidade necessária para terminar um sofrimento. Essa descontinuidade pode ser abrupta e inesperada, mas sendo boa, acrescenta novos entendimentos de amor.
Para o Tempo, não importa onde, quando e como, importa é você saber que alguém percebeu que você amou com sinceridade. O quem, menos ainda. No dia em que alguém virar-se para você e dizer que viu, em várias ocasiões, você amando desinteressadamente, esse é o dia do meu presente.
Pode parecer estranho o Tempo, nesse espaço, falando tanto de amor. É que o Tempo é eterno e nenhuma outra experimentação dura para sempre, apenas o amor é presente ao espaço do Tempo indefinidamente.
Não são respostas juvenis, mas conservam o frescor da expectativa. Uma das qualidades do tempo é preservar a expectativa do amor por tempo indeterminado. Ene é igual ao infinito (N=00). Nem a matemática contesta o Tempo nesse seu tempo.
Nem todas as respostas estão dadas, haverá perguntas e haverá respostas, haverá entendimento a ser acrescido para sempre. Esse é o mistério do Tempo.
Por enquanto, são essas as respostas. Podem existir outras, mas essa carta está respondida.
Peço-te, no entanto, um favor. Não jogue fora as cartas de amor. Porque eu te respondo, mas você não pode ler novamente o que rasgou.
Todo tempo é tempo de amor.
Cordialmente e, a seu dispor
Tempo.
Um comentário:
"...apenas o amor é presente ao espaço do Tempo indefinidamente..." Belo teor do Tempo e do Amor!
Abraço.
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