O Urso
Maria perguntou à mãe se ela se encaixava em algum personagem dos livros infantis.
_Não, minha filha.
Maria perguntou se ela poderia ser uma das princesas das histórias infantis.
_Não, minha filha. Eu a criei para ser uma princesa napolitana e não existem princesas napolitanas nos livros infantis.
Maria insistiu mais uma vez e perguntou se ela poderia ser ao menos do tipo cachinhos dourados.
_Não, minha filha.
Maria citou história por história e a resposta voltava com um não.
Maria, desanimada, perguntou o que ela, a sua mãe, queria dizer com uma princesa napolitana.
A mãe, orgulhosa da sua criação, respondeu:
_A princesa napolitana não deixa cair lenços perfumados ou sapatos. Quando o príncipe a incomoda, ela joga o sapato na porta e a fecha, fazendo com que o príncipe entenda que ela precisa do tempo dela. Cinderela você não é, estou correta?
Maria, envergonhada, disse que infelizmente era verdade, mas que esse tempo havia passado.
A mãe a corrigiu dizendo para que ela não tivesse vergonha de jogar sapato em quem fosse acordá-la e não fosse ela. Mandou que Maria agisse desse jeito sempre que fosse importunada.
A mãe continuou a sua exposição sobre a princesa napolitana:
_Na porta da princesa napolitana não batem sete anões porque ela tem família. Branca de Neve você também não.
Maria concordou com a mãe.
A mãe, divertindo-se com a princesa napolitana, disse:
_Para a Pequena Sereia você não dará certo. O seu pai não suporta peixe e, ele gosta de você.
Maria sorriu, sentindo-se amada pelo pai e pela mãe.
Faça-se um parêntesis, porque a mãe de Maria sabia muito de psicologia e discorria sobre as personagens femininas das histórias infantis com sabedoria.
Maria brincava com a mãe, perguntando sobre as diversas personagens:
_Mãe, que tal a Chapeuzinho Vermelho?
A mãe respondeu:
_Nunca! Essa é a minha favorita, mas eu não quero que você seja igual a ninguém.
Não tendo mais o que inventar, numa última tentativa de conseguir convencer a mãe, ela disse, provocativa:
_Mãe, e a Cachinhos Dourados?
A, mãe, rindo muito, respondeu:
_A princesa napolitana não é desobediente e não vive na floresta. Se ela encontrar o urso, é bem capaz que ela traga o urso para o sítio que ela mesma comprou e o alojar comodamente, fazendo dele um urso amigo.
Maria perguntou quais eram as qualidades da princesa napolitana.
A mãe da Maria era esperta e tinha todas as respostas na ponta da língua.
_Eu sei como te criei e o motivo pelo qual eu te criei assim. Ao mundo não interessa saber.
Maria ficou desconsolada com a resposta, mas a mãe sorriu e pediu a ela que fizesse um bolo daqueles que somente Maria fazia ficar tão gostoso.
Não sobrou nenhum pedaço de bolo após o lanche da tarde.
3 comentários:
Mem podia sobrar mesmo.Que amor! bjs,chica
Adorei o conto sábio e terno...!
Bjs
Maria
Acho que muitas das maninas de hoje em dia lesem esse conto, para ver se apendem mais e tirassem proveitos com os contos de fadas.
Muito bom.
Abraço
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