Mudança de Vida
Marta era uma profissional competente, exigente e solícita com os seus subordinados da mesma forma com a qual respeitava os seus superiores.
Sem perceber adquiriu manias e, sem perceber igualmente, as manias dela se transformaram em exigências.
Assim, o fichário dos clientes tinha que se posicionar dentro do quadrado imaginário que foi ligeiramente marcado com o marcador de textos colorido. O marcador de texto amarelo era o seu preferido e cada ponto posto à sua escrivaninha referia-se a um objeto de trabalho.
A senhora da limpeza obedecia às determinações dela com presteza, todos os seus objetos de trabalho estavam dispostos de acordo com a vontade dela.
Marta tinha algumas colegas, todas menos exigentes que ela. Para as colegas bastava que os seus objetos estivessem arrumados de maneira funcional, que o dia correria bem para a função.
O primeiro desabafo ocorreu naquele dia de trabalho normal, com todas as colegas nas suas funções e todo o mecanismo do organograma empresarial funcionando adequadamente.
Foi durante o lanche.
_Com toda a consideração que vocês merecem chegou o momento de ser sincera: quem mais trabalha nesse escritório sou eu.
As colegas se entreolhavam quando uma delas perguntou como ela havia chegado a essa conclusão.
_Como eu cheguei a essa conclusão? Simples. A minha mesa é a única organizada nesta sala.
As colegas estranharam a resposta. Todas mantinham as suas mesas em perfeita funcionalidade com cada coisa no seu lugar.
Marta, no entanto, continuou a conversa:
_Eu demarco o lugar de cada objeto presente em minha mesa. Quando eu chego à mesa de vocês percebo que as canetas e os lápis não estão em lugar adequado. Uma coloca o porta-lápis bem à frente da mesa, outra coloca o porta-lápis na lateral da mesa, outra não exigiu um porta-lápis novo da gerência e tem um estojo escolar de canetas e lápis que fica no canto. Não sei como é que vocês trabalham!
As colegas não levaram muito à sério a conversa, porque o notebook era a principal ferramenta de trabalho naquela empresa.
Saíram todas aborrecidas com o comportamento da Marta naquele dia, mas desculparam, pois talvez ela estivesse com algum problema pessoal naquele dia.
Não se passou mais que uma semana e a Marta apresentou o mesmo comportamento:
_Vocês não usaram álcool gel após atenderem os fregueses. Estão todas contaminadas com alguma bactéria. Chega a ser insuportável essa falta de cuidados.
Uma colega disse que ali não era uma empresa de saúde, era um escritório. Foi além e disse que toda a vez que lavava as mãos no lavabo, passava álcool gel antes de voltar à sua mesa.
Dessa vez Marta chateou bastante as suas colegas. Ainda assim decidiram não levar o caso adiante.
Na terceira vez o problema começou na hora em que a empresa abria as portas.
Marta chegou aflita ao emprego naquele dia. Bateu o ponto de entrada e não poupou ninguém:
_Vocês não se incomodam com o jeito que as mesas estão. Eu disse a alguns dias que vocês precisavam delimitar a mesa para que a senhora da limpeza colocasse os objetos na ordem correta. Vocês estão prejudicando a empresa e por culpa de vocês todas nós perderemos o emprego.
Uma colega se irritou e perguntou para a Marta o que estava acontecendo.
_O que está acontecendo? Chego a sonhar com vocês nessa absoluta falta de compreensão pelas coisas que eu digo. Os meus pesadelos me fazem acordar para lavar as mãos e passar álcool gel. Tenho a nítida impressão que pegarei a gripe A, ou a cólera, ou alguma doença psiquiátrica por culpa de vocês.
As colegas chegaram a conclusão de que ela não pegaria nada ali, mas que estava com problemas.
Outra colega perguntou o que ela pensava do emprego.
_Eu levanto às cinco da manhã e às noves estou aqui. Trabalho durante o dia e à noite estudo. Chego a casa à meia noite. Tomo banho, durmo e venho trabalhar.
Mais uma se arriscou a perguntar sobre os finais de semana dela.
_Aos sábados eu limpo a casa e durante os domingos faço os deveres escolares e durmo para chegar à segunda-feira bem disposta.
A colega que fez a primeira pergunta fez mais uma:
_Há quanto tempo você está levando essa vida?
Marta disse que fazia três anos.
A colega respondeu que, daquele jeito, ela não teria pesadelos, ela fazia a sua vida em pesadelos. Disse a ela que desistir de uma das suas atividades poderia fazer bem.
Marta estava na sua gota d’água.
_Você quer que eu vá embora? Eu vou! Veja se, ao menos, avisa o chefe, que nunca me disse nada de desagradável.
Em prantos, pegou a bolsa e saiu, parecendo muito magoada.
As colegas chegaram a cogitar de que a atitude inicial de implicância com as colegas teria esse objetivo, o de sair da empresa.
Passaram-se alguns anos e Marta aparece na empresa e corre para ver qual das colegas estava lá.
Todas as colegas continuavam lá e ficaram boquiabertas ao verem Marta por lá.
Todas esperavam alguma atitude diferente por parte dela, afinal, ela não escolheu o melhor jeito de sair da empresa.
Marta estava com um sorriso encantador. Com a voz doce tirou da bolsa, coincidentemente a mesma bolsa, da qual pegou alguns envelopes.
_Eu vim trazer o meu convite de formatura para vocês. Eu sou professora de geografia agora. Não quero que vocês fiquem com aquela lembrança de mim. De fato, eu não tinha nada a ver com a empresa. Eu tinha medo de não ter emprego e não conseguir arcar com os custos dos estudos, mas na faculdade, uma senhora me ajudou. Trabalhei menos, ganhei menos, mas consegui vencer os desafios que pareciam intransponíveis naquela época.
As colegas a convidaram para o lanche e acabaram todas por darem boas risadas daquelas atitudes da Marta.
Todas as colegas compareceram às cerimônias para as quais tinham sido convidadas.
3 comentários:
Com muito carinho
e imensa saudades venho
desejar um abençoado e feliz Domingo.
Que a paz e a esperança habite no seu coração.
Com muito carinho deixei um presente
para recordar sempre de mim
que um dia fiz parte de um cantinho no seu
coração.
Dentro do meu coração guardo você com
muito amor.
Beijos com afeto e infinita ternura.
gracias querida amiga por tu compañia y tu comentario
te deseo un feliz dmingo y feliz semana
besossss
Marina
Mi querida Yayá, el relato que nos traes es el propio de una mujer maniática del orden y muy poco considerada con sus compañeros.Decir que ella es la más trabajadora de todos, es propio de la falta de humildad y su poca tolerancia con sus compañeros la hacen que nadie la tome en serio, aunque su comportamiento molesta a todos.Algo no anda bien en su cabeza y por desgracia hay muchos con ese comportamiento.
Gracias
Te dejo un beso de ternura
Sor.Cecilia
Postar um comentário