A Viagem de Ana Maria, Cláudia, Célia e Francisca
As moças eram recém-formadas, todas tiveram uma educação primorosa, como característica comum de afinidade a convicção de que nenhuma mulher precisa da companhia masculina para se divertir. Eram profissionais liberais e cada uma delas tinha o seu próprio negócio.
Embora ainda não tivessem alcançado o sucesso profissional, resolveram viajar à Europa.
Somaram, diminuíram, multiplicaram e dividiram as suas economias e compraram as passagens para Paris. De lá pegariam trens e conheceriam outros países.
Para economizar nos custos dos hotéis, alugaram um apartamento na cidade luz através de um amigo comum da faculdade.
Arrumaram as malas e pegaram alguns casacos, era inverno em Paris. Apenas Cláudia falava francês fluentemente. Célia e Ana Maria falavam o que aprenderam durante o colegial no colégio particular. Francisca falava português.
Quando elas chegaram ao aeroporto Charles De Gaulle sentiram o frio de mais de oito graus centígrados abaixo de zero.
Pegaram as respectivas bagagens e um táxi até o apartamento alugado em Montemartre. Ligaram o aquecedor central e esperaram o calor, mas ele não veio. Célia ligou para o amigo comum, que agora estava em Paris, para saber como proceder para que o aquecedor fosse consertado.
_Por favor, não me leve a mal. O aluguel estava barato porque o prédio está em reformas para a colocação de um novo aquecedor central. Vocês podem alugar um aquecedor, eu tenho um vizinho de quarto que aluga. Eu posso alugar para você e, depois você me paga. Eu até me sinto bem em te ajudar.
Célia aceitou e sentou-se no sofá, coberta com uma manta de lã para esperar o amigo.
Francisca precisou ir ao banheiro, mas não o encontrou. Assustada, perguntou às amigas se o banheiro estava em reformas também.
Cláudia disse que não, que era comum em alguns edifícios haver banheiros comuns, onde a chave ficava na portaria e era entregue mediante algumas moedas. Argumentou também que elas quiseram um local de poucas despesas e conseguiram.
O apartamento era ajeitado com sala, sofá, cozinha, e jarras de água nos quartos, dois no total. Não tinha banheiro e nem aquecedor, mas seria suportável tendo em vista a linda paisagem que iriam desfrutar.
Bateram na porta e era o amigo trazendo o aquecedor. Célia agradeceu e quis pagar, mas o amigo disse que não conseguiu alugar nenhum aquecedor e trouxe o dele. Esperava que elas não se importassem se ele dormisse ali.
Ana Maria o acolheu na mesma hora. Havia tempos que ela nutria outros sentimentos por ele, mas não tinha coragem de falar, eram todas amigas e os homens andavam um tanto quanto excluídos dos seus planos, principalmente naquela aventura. Ofereceu uma manta de lã para ele e pediu que o aquecedor fosse levado para o quarto das amigas.
As amigas foram para o quarto onde colocaram três camas de solteiro.
À noite ouviam as avaliações sentimentais entre Ana Maria e o amigo.
Francisca acordou Célia e disse:
_Estou com nojo. Não fui criada desse jeito e nem com esses costumes.
Célia disse que em alguns dias ela estaria achando tudo normal.
Amanheceu e Cláudia foi às compras dos pães para o café da manhã. Voltou sorridente, aproveitou para caminhar e sentir o vento gelado no rosto. Admirava a arte vista em todos os cantos do lugar.
Depois do café todas foram caminhar, exceto o namorado de Ana Maria, que fazia curso de artes na capital francesa.
Aumentaram a caminhada visitando o Arco do Triunfo e a Torre Eiffel, ônibus e deslumbramento.
O frio estava intenso naquele dia. Cláudia sentiu que algo não estava bem com ela.
Ao anoitecer as amigas perceberam que ela estava febril e quando o namorado de Ana Maria chegou ao apartamento, levaram a moça ao médico.
Cláudia estava com pneumonia e deveria ficar alguns dias no hospital.
As amigas se revezavam para a companhia no quarto do hospital, pelo menos lá havia aquecedor central.
Francisca era a que mais sofria com a situação, pois tudo o que o médico e as enfermeiras diziam era ininteligível para ela. Ela ficava no hospital durante o período noturno e gostava desse horário por lá, era melhor do que o apartamento que tinham alugado. Porém, quando chegou a hora da folga, sentou-se num dos bancos das muitas praças que enfeitam a cidade e chorou copiosamente, com vontade de estar no Brasil.
Célia gostou das comidas do hospital, afinal eram comidas francesas e ela estava com saúde.
Agora os passeios estavam reduzidos a duas pessoas, Célia e Francisca porque Ana Maria não desgrudava do namorado.
Além disso, agora todas tinham horários a cumprir e o Louvre não foi feito com presa.
Francisca, que não tinha papas na língua disse ao sair do Louvre:
_Eu me divertiria muito mais numa loja de departamentos da minha cidade: Maringá. Eu não vejo a hora que a Cláudia fique boa para que eu possa adiantar a minha volta ao Brasil.
Célia comentou que ela tinha planos de pegar o trem para Londres, mas a doença da amiga havia atrapalhado os seus planos. O pior é que a Ana Maria não queria ajudar, queria namorar.
Enquanto isso Ana Maria e o namorado dividiram o apartamento como se fosse deles. As amigas que a desculpassem, mas o romantismo de Paris a atingiu como uma flecha de um cupido.
Cláudia teve alta e o médico prescreveu todas as recomendações para Francisca que as entregou para a Célia:
_Se for eu a interpretar essas prescrições, talvez fique em Paris para o resto da vida. Eu não consegui entender uma só receita.
Cláudia preferiu voltar ao Brasil e Francisca, alegremente fez a companhia na viagem de volta, depois que a Célia explicou todas as receitas e ela anotou em bom português para não se confundir.
Célia pediu desculpas para a Ana Maria e viajou para Londres sozinha, deixando o casal feliz e se fazendo feliz.
Em Londres ela fez algumas compras sentindo-se carente de companhia e, gastou todo o seu dinheiro. Sobraram os bilhetes de trem para a volta a Paris, trocados para pães e mais nada.
Voltou à Paris, ligou para Ana Maria e avisou que iria direto ao aeroporto, estava sem dinheiro.
Ana Maria, ao contrário, prolongou a sua viagem em um mês. Quando acabou o período para o qual as amigas haviam alugado o apartamento, ela pegou as mantas de lã que eram suas e o namorado, o seu aquecedor emprestado.
Nunca mais viajaram juntas.
3 comentários:
Puxa, que viagem conturbada! E,realmente, conheço muitos casos de viagens de amigas que terminam com a amizade. A convivência é fogo! Adorei ler! beijos,chica
Lucro para alguns e prejuízos para outros... A se pensar em aventuras assim...
Abraços.
Que viagem, heim? Apesar dos contratempos é uma história a se contar por toda a vida. Bjs.
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