Para Variar, O Danúbio / Crônica de Supermercado.
Eu sei desde que li o livro, que está guardado e preciso reencontrar para citar a fonte, mas a valsa Danúbio Azul, de Strauss chegou a fazer parte dos protocolos de cerimoniais de algumas embaixadas. A valsa contagia e, não raro, as gafes acontecem.
Hoje, enquanto eu saía do supermercado, o sonoplasta que coloca as músicas entre as chamadas para os produtos em oferta, colocou a valsa Danúbio Azul.
Posso não saber tocar a valsa, mas conheço o seu efeito sobre as pessoas.
Disse a mim mesma:
_Saio quando a valsa acabar.
Sentei-me para ouvir, sabendo que iria me empolgar. Teria assim a história de hoje, consegui, senti também. Vamos aos observados:
A senhora de meia idade saiu, quando o marido a chamou:
_Querida, estacionei aqui.
Fato absolutamente normal, o divertido foi ver o marido jogando beijocas para ela e ela retribuindo as beijocas pelo ar. Beijaram-se discretamente antes de colocarem as compras no carro. Um belo casal de cabelos grisalhos.
Surgiu um senhor de idade, com a sacola nas mãos e os olhos marejados. Ele não precisou dizer que a saudade apertava o peito, era uma saudade bonita.
Eu continuava sentada esperando a valsa acabar. Quem sabe, alguma oferta a interrompesse, pensei. Mas, que nada, provavelmente a emoção tomou conta do sonoplasta.
Veio então a conversa ríspida, somente compreendida por quem conhece a valsa:
_Ana, eu sou seu primo e você me deve satisfações enquanto o seu pai viaja. Eu dei a minha palavra ao tio que cuidava de você na ausência dele. Responda-me, por favor. O seu chefe não tentou te paquerar? Você tem ido à faculdade como faz quando o tio está aqui? Você tem comido na hora certa?
A garota respondeu as perguntas do primo e disse que estava com saudades do pai, mas ele viajava para sustentá-la.
Quando a valsa parou, senti-me aliviada. Poderia ir embora sossegada. Interessante foi que depois da valsa o sonoplasta parou a música e ficou aquele silêncio, as pessoas agora falavam em tom normal, sem exaltação.
E das minhas emoções, não digo nada? Digo. O livro de valsas está comigo, tenho a partitura do Danúbio, não penso em tocá-la. Em compensação, escolhi algumas músicas e saí para encaderná-las. No caminho encontrei com uma família angolana que esperava a chuva passar ao meu lado embaixo de uma marquise, eles estavam a passeio no Brasil. Sem a valsa eu não teria saído para encadernar partituras em meio à chuva de verão, teria esperado a chuva passar. Estava na chuva, estava bem por me encontrar nessa atividade, digo que foi a valsa, mas não cometi gafes. Desejei um boa estadia no país. Sabendo que o dia era propício ao sentir, senti a chuva, linda chuva da minha imaginação.
4 comentários:
Da sua valsa... das suas partituras... e da encadernação das mesmas... fui para "Raindrops keep falling on my head"... Afinal... havia a chuva!
Bj. Célia.
A esperança vive em mim,
amanhece comigo,
percorre o dia todo
e, quando anoitece, ela está ainda mais fortalecida
Desejo a você
que também tenha sempre a esperança,
que ela permaneça sempre em seus pensamentos.
Que as estrelas iluminem e guiem seus passos.
Que Deus abençoe seu final de semana.
Beijos no coração carinhos na Alma.
Evanir.
Hoje, lendo este texto como uma viagem pelo Danúbio, vivi mais intensamente a música e o aconchego dos casais.
É sempre uma forma diferente de ouvir e de ver o mundo à nossa volta.
Desejo um bom final de semana.
é...
só dançar na chuva..
beijos querida e um lindo final de semana.
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