Autossabotagem
Rogério Fernando era o que se chamava de bom partido: bonito, bem sucedido, amoroso, responsável, etc.
Rosana era amorosa, responsável, inteligente e empresária em início de carreira. A moça, porém, era muito bela. A fisionomia delicada no corpo esguio e curvilíneo a tornavam especial aos olhares masculinos.
De idade eles combinavam, ele três anos a mais que ela. Namoraram e se casaram para a alegria de ambas as famílias.
Na noite do casamento, num ímpeto apaixonado, o noivo, Rogério pergunta a ela como não sentir ciúmes de tão bela esposa. Ela, Rosana, igualmente apaixonada, promete a ele que jamais terá motivos para sentir ciúmes.
Passa a lua de mel e o casal inicia a vida em comum normal. Ele se mantém igual. Ela, para que ele não sinta ciúmes, procura meios de se enfear.
_Agora sou senhora, vestirei trajes de senhora.
Trajes de senhora numa jovem de vinte e dois anos a deixam desengonçada. O marido ri-se da prova de amor dela e a beija dizendo que jamais exigira tamanha severidade no se postar. Ele disse também que ela era linda de qualquer modo, com qualquer roupa, mas ela estava solene naquela saia evasê preta abaixo dos joelhos complementada com a blusa de mangas curtas no tom rosa antigo, sandálias de saltos grossos com quatro centímetros de altura. Medindo de cima a baixo, sua amada estava sóbria e elegante. Rogério sentia-se orgulhoso da escolha feita ao se casar.
Dois anos de casados e Rosana andava cabisbaixa. Extremamente chorosa, como se o mundo fosse desabar a qualquer momento. O marido a levou ao médico. Nada, ela não tinha nada errado com o organismo.
O tempo passava e Rosana continuava a se lamentar e pequenos acontecimentos eram motivos para a irritação, sentia-se indisposta e havia dias em que pedia para dormir sozinha.
O marido via a sua linda mulher se afastando sem motivo aparente.
Um dia a mãe a chamou e perguntou o que havia de errado. Nada, ele era carinhoso, responsável, e ela gostava de estar com ele.
_Se está tão feliz por que você não se arruma? Os cabelos são tratados, mas você se comporta como se fosse a minha mãe. Nem eu recém-casada vesti-me deste seu jeito! Nos anos 50 eu saía de saia lápis, blusa com bordados e maquiagem. O que está acontecendo com você? Para quem você mente?
Rosana conta que prometeu na noite de núpcias que Rogério jamais teria motivos para ter ciúmes dela. Quem tem ciúmes nesses modos de se comportar?
A mãe respondeu:
_Ciúmes ele não tem. Eu tenho medo é que ele encontre alguém mais simpática que você, o que não será difícil nessas circunstâncias. A que ponto chega a sua insegurança em se assumir como mulher madura e bem resolvida! É o seu comportamento perante os homens avulsos, o que impõe respeito, a roupa não diz muito. A menos que você use uma minissaia fúcsia com o par de meias rendadas pretas, sandálias de saltos altos e regata prateada. Se usar me avise antes, sou sua mãe e irei junto com você na festa.
Rosana disse que tinha prometido, cumprido e que ele ficou feliz no dia em que se vestiu pela primeira vez desse jeito.
A mãe disse que agora, ele agradeceria se ela mudasse. A filha se sentiu confusa e a mãe a levou para comprar umas roupas novas adequadas a ela, casuais ou citadinas, eram roupas jovens.
Deixou a filha em casa, mas antes pediu uns pastéis para o jantar do casal.
No dia seguinte a mãe de Rosana recebeu um lindo buquê de rosas vermelhas e um cartão com o agradecimento do genro.