Mal dos Nervos
Naquele tempo criança era criança e não se intrometia com os adultos, mas o caso chamou atenção.
Era uma reunião de senhoras e o garoto adolescente estava lá.
Criança não se mete, mas pergunta: por que é que ele veio?
Responderam que ele sofria dos nervos.
_Como assim, sofre dos nervos? Ele é maluco?
Responderam que ele não era maluco. Explicaram que ele estava com a estranha mania de arrancar os fios de cabelos da cabeça e a mãe dele achou por bem não deixá-lo sozinho em casa enquanto a família não soubesse o motivo dessa atitude.
Enquanto as mulheres conversavam, ele lia um livro da escola.
Maria criança, foi até lá e perguntou que livro era aquele e ele respondeu que era de matemática.
Maria saiu de perto dele e foi até a cozinha pegar um doce antes que a mesa fosse servida. Ela podia, ela era filha da dona da casa.
O garoto ficou sozinho na sala com o livro, equidistante das mulheres, que estavam distraídas com seus assuntos. Enquanto comia o doce, da porta da cozinha, Maria viu o garoto arrancando alguns fios de cabelo.
Engoliu o doce com pressa e tomou um copo com água. Voltou à sala onde estavam as mulheres conversando entre si e o garoto estudando. Pé ante pé, foi até ele e perguntou:
_Por que você está arrancando esses fios de cabelo?
O garoto, sem se importar com a idade da menina, que tinha mais ou menos sete anos de idade, respondeu com sinceridade:
_Eu sinto dor, e cada fio de cabelo que eu arranco é um pedaço da minha dor que eu ponho para fora. É um alívio! A minha mãe já me deu remédio para tirar a dor de cabeça, mas não adiantou. Dói muito e esse jeito que eu arranjei parece que está dando certo.
Maria perguntou se ele não tinha medo de ficar careca.
O garoto deu risada e disse que, se ficasse careca, ficaria igual ao pai dele e quem sai aos seus, não é ninguém estranho.
As senhoras se calaram e a mãe do garoto mandou que ele parasse de arrancar os cabelos.
Maria ficou quieta e arranjou o que fazer, não queria arranjar confusão para si mesma.
Passaram-se meses e houve outra reunião de senhoras. Uma delas foi trazida e levada pelo filho, devidamente cabeludo e cheio de pose. Disse às outras mulheres que tinham descoberto o mal do garoto, era mal dos nervos.
Aqueles anos eram conservadores e discretos, e nunca ninguém ficou sabendo que mal era aquele. A última vez que fora avistado tinha feito família e estava bem disposto continuando cabeludo.
Mais uma história com final feliz.
2 comentários:
Que bom que teve um final feliz!
Era assim mesmo, antigamente as pessoas sofriam e não sabiam os porquês, crianças não podiam fazer parte das vidas dos adultos. hoje elas sabem mais do que os adultos né mesmo?
Abraços e tenhas um lindo dia amiga Yayá!
Muito legal, interessante, diferente!
Grande abraço, sucesso e ótimo final de semana!
Postar um comentário