História do Papagaio
Era uma vez uma menina que gostava de ouvir histórias. Nem sempre havia quem quisesse contar histórias, mas ela procurava quem lhe contasse histórias.
Um dia, após muito insistir com todos os que estavam a sua volta que lhe contasse uma história, acharam por bem lhe dar um papagaio de presente.
Criança precisa se distrair, não pode se comportar como adulta.
Ela amava o papagaio e ensinava ao papagaio a pedir que contassem uma história para ele.
O papagaio não aprendeu a frase, mas, ao invés disso, ele mesmo contava uma história.
Papagaio que é papagaio se repete e a menina acabou por decorar a história sem jamais entendê-la.
_No caminho de casa havia duas casas iguais.
A menina perguntou se as casas eram casas de meia parede ou sobrados.
_No caminho de casa havia duas casas iguais.
A menina perguntou o que eram casas iguais.
_No caminho de casa havia duas casas iguais com mesas de comidas iguais: café da manhã, almoço e jantar. Iguais.
A menina disse ao papagaio para continuar.
_A visita nas duas casas iguais era obrigatória para se chegar a casa onde eu morava.
A menina perguntou por que era obrigatória a visita nessas duas casas iguais antes de chegar a casa dele.
_Até hoje não sei.
A menina ficou curiosa e perguntou com certa rapidez:
_Eram bandidos?
O papagaio disse que jamais almoçaria com bandidos.
_Eram policiais?
O papagaio disse que o seu dono era amigo do delegado da cidade e conversavam quando se encontravam, mas que nunca chegaram a se visitar.
_Eram empresários?
O papagaio disse que os empresários da cidade eram fazendeiros e moravam longe em belíssimas casas de campo. Viam-se de vez em quando.
_Eram políticos?
O papagaio disse que o seu dono, que era muito amoroso, evitava deixá-lo perto de políticos.
A menina, cansada de tentar adivinhar, perguntou quem eram.
_Eram pequenos comerciantes.
A menina disse que o motivo eram as compras.
_Nunca compramos nada deles.
A menina mudou a pergunta e perguntou o motivo dessas visitas.
_Para que não houvesse briga.
A menina quis saber quem brigaria com quem.
_Eram duas casas iguais, das quais se sabia que se não houvesse a visita, eles brigariam entre si e toda a cidade seria envolvida na briga deles.
A menina disse que as casas eram más.
_Não eram más, não eram. Eles brigavam entre si para mostrarem um ao outro qual deles era mais generoso. A mesa era imensa e os comes e bebes também. Para todos os visitantes.
A menina perguntou sobre o que conversavam nas visitas.
_Amenidades.
A menina não se conformava com as respostas. Queria saber da visita obrigatória nas casas iguais.
_Eu não sei.
A menina pensou e pensou e disse ao papagaio que o motivo era para que eles não brigassem. Brigar é coisa feia, coisa que não se faz.
O papagaio disse à menina que talvez ela tivesse razão.
_Dizem que eles brigam de maneira diferente.
A menina quis saber o que era brigar de maneira diferente.
_Eu não sei. É uma briga que só eles entendem.
A menina parou de fazer perguntas ao papagaio. Afinal se é feio se meter em brigas, se meter com quem briga de maneira diferente do jeito que a gente entende o que é brigar é mais perigoso.
Em todo caso, ela amou ouvir essa história do papagaio.
Um comentário:
A sabedoria do papagaio plagiando factos da vida real...
Uma abraco, Yaya.
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