Detalhes de Uma Conversa Italiana
Se um dia você tiver dinheiro que sobre, que não sirva para nada, pegue um navio e chegue ao Rio de Janeiro à noite. Veja a baía de Guanabara iluminada.
Eu desejo muito que vocês possam ver o Rio de Janeiro do ponto de vista de um navio porque sei que vocês jamais sentirão o que eu senti.
A viagem durou um mês da Itália até aqui. Água e mais água sem saber o que era esse país chamado Brasil. Vocês não conseguirão imaginar o que é uma viagem de imigração no século dezenove.
Eu também não quero que vocês saibam o que é ter um padrão de vida onde se almoça pasta com trufas negras e cordeiro assado e ver tudo destruído por um vulcão.
Eu quero que vocês tenham, no entanto, a coragem para recomeçar, aconteça o que acontecer.
Quando o capitão do navio avisou que avistava o Rio de Janeiro, estávamos angustiados, numa expectativa de que não fosse mais uma desgraça nas nossas vidas. Corremos todos para fora das cabines. O que vimos pareceu-nos o paraíso.
O Rio de Janeiro era uma cidade com a orla iluminada. Uma cidade! Vocês imaginam ir para um país do qual pouco se sabe? Diziam que no Brasil não faltaria comida, mas ninguém nos dizia ao certo se havia alguma espécie de civilização urbana.
Para nós, de dentro do navio, pareceu um pinheirinho. Até dos morros via-se luzes. Eu chorei. Logo eu que sou de tez dura como homem tem que ser, imagine!
Eu era alguém saído do inferno. Sim, um inferno. O vulcão entrou em erupção e devorava com as suas línguas de fogo a todos e a tudo o que tínhamos. Tínhamos recursos, porque sem recursos eu não conseguiria cruzar o Atlântico. Criado como homem polido, voltado à cultura, eu não teria a força necessária para suportar uma viagem dolorosa como essa. Tudo o que eu pude fazer durante a viagem foi ajudar a acomodar as famílias enquanto pensava na família que eu perdi para a lava.
Dentro daquele navio tinha todo tipo de gente até mesmo gente que não tem valores. Vocês não imaginam do que falo e dou Graças a Deus por isso.
O Brasil é um país maravilhoso para mim.
De vocês não peço nada além de que cumpram as suas obrigações como cidadãos. Mas, se algum dia vocês tiverem dinheiro sobrando, cheguem ao Rio de Janeiro à noite.
Deem-me esse presente, porque o meu sonho é que vocês cheguem ao pátio do navio e vejam as luzes piscando a alguns quilômetros de distância. Eu quero que vocês vejam essa maravilha e apenas recordem o que conto hoje como algo que passou. Lembrem também que eu tive que recomeçar a vida e fui corajoso.
Depois, cheguem até a orla e caminhem fazendo os seus próprios sonhos.
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