Não É, Mas É / Crônica do Cotidiano
Hoje, finalmente faço uma crítica! Aos outros, não, de jeito nenhum. A crítica é contra mim mesma.
Dirijo-me até a lanchonete e, logo à minha frente o sujeito.
Permitam-me descrever o sujeito: estatura mediana, camiseta de atleta sem mangas, calças jeans e, o sapato nem vi. Parece normal aos olhos dos outros? Não sei. Continuarei a descrição: no rosto um cavanhaque e um brinco no nariz (piercing), nos braços, as multicoloridas tatuagens em formatos de sei lá o que. Os braços e os ombros estavam cobertos de cores e desenhos.
Olhei para o lado e para baixo. Pensei: que coisa horrível!
Ele ali na minha frente, na fila, aguardando o sanduíche tanto quanto eu. Justo eu, que me gabo de não ter preconceitos, ficando com medo daquele tipo.
Saí de perto para não olhar e nem fazer caras e bocas (caretas). Aguardei o meu sanduíche a certa distância.
Ele ficou no balcão de vendas conversando com a moça da lanchonete.
Enquanto aguardava o chamado da atendente para pegar o meu lanche, eu disse para mim mesma que era preconceito meu, que ombros completamente tatuados e brinco (piercing) no meio das narinas não significavam que o sujeito era mau.
A moça me chamou. Fui, sem querer, ao balcão me escondendo e chegando lá, peguei o sanduíche sem que ele visse.
Mas, como eu não sei me esconder, ele viu que eu olhava as tatuagens e que trazia na feição um ar desaprovador e se afastou alguns passos para que eu pegasse o sanduíche.
Pelas costas das tatuagens a moça perguntou o que era com o olhar e eu apontei (que falta de educação a minha) para as tatuagens verdes, vermelhas, pretas, marrons, azuis, enfim, aquilo tudo.
Ela me entregou o lanche. Olhou para ele e fez sinal de que curtiu o gesto dele e as tatuagens e o piercing.
Não é preconceito, mas é que cada um sabe de si e me senti fora da minha tribo.
Não é, mas é. Eu poderia ter achado normal, mas não consegui.
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