“Financês” de Supermercado / Crônica de Supermercado
Vamos às filas. Estava no supermercado, noutro supermercado, mas na fila.
Três jovens em início de carreira comentavam as suas vidas.
Quando alguém faz algo diferente, é difícil não prestar atenção.
Uma das moças contou dos seus estudos de pós-graduação no exterior, elogiou a confiança que a família teve nela, pois quando viajou tinha vinte e um anos. Arrumou emprego lá fora, estudou. Comportou-se como pessoa mais madura e enfim, a história estava boa até quando ela disse que amou voltar ao Brasil e reencontrar as amigas, sair aos finais de semana e, admirem-se: ler.
As outras moças ouviam atentas todas as experiências de morar sozinha no exterior.
Exaltando o Brasil, ela disse que agora consegui ler três livros por mês.
Eu ouvindo e pensando na boa ideia da moça quando ela contou que leu o livro Os Miseráveis, de Victor Hugo numa noite só. Começou a ler às oito horas da noite e terminou a leitura às três horas da manhã.
Uma das moças mudou de assunto. Perguntou à outra moça se ela tinha algum dia morado fora.
_Morei na praia com alguns parentes.
Quando ela mencionou o nome da praia, eu não me contive. Pedindo desculpas antecipadas, porque conheço o lugar, perguntei:
_O que é que tem de bom por lá?
Ela respondeu com olhar direto dizendo que era a qualidade de vida.
Perguntei novamente. Eu sabia as respostas, mas perguntei.
_O que é que tem de bom por aqui?
_Negócios!
Ela me entendeu. Não precisei dizer mais nada.
As moças que estavam com ela olharam, quase que com vontade de me chamar de intrometida. Elas tinham razão, a conversa era entre elas. Fingi não perceber.
Na saída, distraída, esqueci o pão pensando na conversa e, tive que voltar ao caixa.
Peguei-as conversando a meu respeito.
A moça que morou na praia disse que gostou do que ouviu de mim. As outras ficaram aborrecidas.
Olhei para ela e disse que tínhamos, tanto ela quanto eu que conciliar e saber diferenciar a vida na cidade e a vida na praia. Desejei um bom dia a todas elas e saí.
Saí pensando comigo mesma: intrometida? Alguém que leu Os Miseráveis, de Victor Hugo, em sete horas, não merece confiança! Foi uma boa ação.
2 comentários:
Mas nem no processo de leitura dinâmica, hein Yayá... Cada uma! Dá mesmo até para se esquecer o pão...
Abraço.
É, realmente não dá para ler neste tempo de forma alguma...
Beijos
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