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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Conversa de Jovem?

Conversa de Jovem?

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Os dois aparentam por volta de vinte anos. Um deles aborrecido.

_Que cara é essa? O que é que você tem?

O rapaz baixou a cabeça e depois olhou nos olhos do amigo e perguntou se ele realmente queria saber o que é que ele tinha.

O outro disse que sim.

_Eu levei a Simone para casa, ela me beijou e agradeceu pela companhia e pela noite de festa.

O outro olhou com jeito de espanto e perguntou, nessa maneira jovem de dizer as coisas: E daí? A noite terminou bem, não terminou?

_A noite terminou bem, mas eu penso se é isso o que eu quero. Eu saio, eu namoro, mas volto pra casa. Eu queria ter uma vida igual a do meu avô, mas é difícil.

O amigo pediu para que ele explicasse porque ele não entendeu a questão.

_Como é que o meu avô conseguiu uma mulher para a vida inteira? Estou falando à sério. O meu avô conseguiu isso. Eu não sei o que é isso. O meu pai e a minha mãe se separaram quando eu era pequeno e eu não tenho lembranças do que seja esse tipo de família. Talvez seja uma antiguidade.

Ele parou de falar, pensativo.

O amigo disse que ele deveria considerar uma sorte ter um avô e uma avó que mostrassem para ele como funcionava essa antiguidade.

_Eu estou indo à casa do meu avô toda semana. Pergunto sobre eles e parece que ele gosta de contar. Ele pergunta da minha vida e se eu estou namorando sério. Eu digo que não, mas peço para ele me contar mais sobre a vida dele com a minha avó.

O outro, assustado, perguntou se o avô dele contava sobre as intimidades entre ele e a avó.

_Não, ele não conta. Você sabe o que é que o meu avô tem? Ele tem café na mesa com toalha, pão, geleia e queijo todos os dias. Aos domingos tem o bolo que a minha avó faz. Eu nunca terei isso. Eu acho que me acostumo porque eu nunca tive.

O outro ironizou perguntando se na casa dele não tinha geleia e queijo.

_Na minha casa tem até pasta de avelã para comer com pão, mas mesa arrumada para o lanche, não. A gente come na cozinha para não aumentar a louça a ser lavada.

O amigo desistiu do assunto dizendo que o jeito era se acostumar. A época do avô dele foi outra e ele tem que se virar conforme a atualidade.

_Desistir? Não penso nisso. Ele tem que me ensinar. Você acha que se, eu for duas vezes por semana na casa dele, eu consigo aprender como é que se arranja uma mulher para a vida inteira?

O amigo disse que não custava nada tentar. Olhou no relógio e disse que sentia muito, mas estava com pressa.

_Eu vou lá hoje à noite de novo. Não é justa essa história de me beijar e desejar boa noite.

O amigo ficou com remorso de ter cortado a conversa olhando no relógio e o convidou para caminharem juntos até a faculdade.

Ambos pegaram o caminho até a faculdade, juntos, silenciosamente juntos.

Um comentário:

Ivone disse...

Bela reflexão, pois é, hoje em dia não se tem tempo para se viver como a vida pede, com atenção, com dedicação, com mesa arrumada, com pessoas reunidas em volta dessa mesa, que pena!
Mas digo aqui que em minha vida sempre existiu tudo isso, um dos meus netos está namorando faz mais de dois anos e sonha com uma vida como a do meu marido e eu, ele e a namoradinha querem isso e eu desejo de todo coração que tenham!
Abraços amiga Yayá, sempre textos bons e inteligentes por aqui! Parabéns!