A Menina Que Virou Caramujo
Maria Clara era uma menina bem educada, tinha amigas e reuniões de bonecas.
As bonecas ganhavam banho e roupa nova para que as meninas as exibissem como as suas filhas e era de praxe as meninas comerem biscoitos e tomarem algum refresco de frutas, preparados por elas mesmas enquanto conversavam brincadeiras.
Um dia, a mãe da Maria Clara recebeu o convite de uma amiga para passar o final de semana numa chácara. O pai da menina não poderia ir, pois tinha os estudos de especialização em engenharia; o final de semana dele seria a apresentação de um projeto que exigiria a sua atenção.
Mãe e filhos foram para a chácara. Maria Clara, dez anos, tinha dois irmãos próximos de idade, um mais velho e outro mais novo, João, doze anos, e Célio, oito anos, por ordem de nascimento.
A dona da chácara tinha um filho e estava grávida do segundo.
O filho dela era da idade dos meninos e se chamava Alisson.
Alisson era educado e convidou João, Maria Clara e Célio para brincarem com ele.
Os três foram conhecer com curiosidade os brinquedos de Alisson.
Alisson tinha bola, mas não tinha com quem brincar; preferia brincar no rio.
Os irmãos perguntaram se o rio era raso e, ao saberem que sim, concordaram.
Maria Clara ficou em dúvida e parou olhando os meninos começarem a caminhar em direção ao rio.
Alisson pediu para que Maria Clara fosse junto com eles:
_Não tenha medo, o rio é manso.
Ela sorriu e foi com os irmãos ao rio.
Chegaram as quatro crianças encharcadas da camiseta ao tênis à casa da chácara.
A mãe do Alisson sorriu e indicou o local para que a mãe de Maria Clara desse a roupa seca para as crianças.
_ Aqui as crianças são livres, o rio é bom, quero criar os dois nesse lugar.
A mãe da Maria Clara resmungou com as crianças e pediu a elas que não incomodassem a amiga. Ela não adivinhava como era ser criança naquele lugar.
No domingo, Alisson, depois do almoço, convidou as crianças para subirem na casa da árvore.
Os meninos aceitaram o convite prontamente, mas Maria Clara perguntou se ela poderia subir até a casa na árvore antes de ir.
Alisson garantiu que não tinha perigo algum, a casa era de boa madeira e a escada, forte.
A mãe do Alisson concordou com ele dizendo que todos poderiam ir até a árvore. Ela tinha sido feita com segurança para as crianças.
A mãe olhou para Maria Clara e disse:
_Você é quem sabe, minha filha. Se quiser ir, vá. Se não gostar, volte. Você pode ficar comigo, se assim desejar.
Maria Clara subiu na árvore e entrou na casa junto com os irmãos e o amigo.
Ela estava se encantando em trocar a casa de bonecas pela casa da árvore, quando os percevejos apareceram. Os insetos eram inofensivos, pelo menos os daquela espécie, mas foi o momento em que ela resolveu voltar e ficar com a mãe e a amiga dela.
Todos ficaram tristes com ela.
O garoto Alisson disse, então:
_Ela estava se comportando tão bem até agora. Já vi que não tem jeito, todas as mulheres são iguais.
Os irmãos dela concordaram com ele.
_Todas as mulheres são iguais e cheias de dengos. É difícil brincar com ela.
Maria Clara correu para dentro da casa e contou a história para as respectivas mães:
_Eles pensam que eu sou caramujo. Brincar com percevejos! Isso tem cabimento?
Não tinha cabimento. Mas que eles ensaiaram um churrasco de percevejos para tentar agradá-la, isso tentaram.
A mãe do Alisson achou uma boneca de pano para a menina brincar, mas ela brincou pouco.
Maria Clara guardou o estômago para quando voltasse à cidade logo mais à noite.
3 comentários:
A vida no campo e ar livre não tem comparação com a vida na cidade.
As crianças devem ser livre para brincarem e crescerem em harmonia.
Gostei do texto.
Interessante esse conto que mostra as diferenças das crianças e seus cuidados (até em demasia) pelas mãe...beijos,chica
Onde estão nossas crianças hoje? Plugadas... tão somente! Agendadas em inúmeras atividades!Sem a rica aprendizagem do "brincar"...
Abraço.
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