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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O Curso do Córrego

O Curso do Córregoclip_image002

Duas senhoras chamadas respectivamente de Maria e Francisca sentam-se à beira de um córrego para descansarem antes de prosseguirem a jornada diária.

_Eu vi este riacho pela primeira vez faz dois anos. É um riacho que está secando, não tem peixes, a água está limpa, mas o rio se acaba em pouco tempo.

A outra senhora se espanta:

_Maria, eu conheço este rio desde menina. O rio não tinha peixes há quarenta anos, ele não está secando. O rio aprofunda-se mais adiante, basta seguir o seu curso.

E esta responde:

_A senhora Francisca conhece este córrego? Mas, se ele não dá peixes, para que serve?

E a outra responde:

_Neste rio já se viram as mais belas pedras brasileiras em estado bruto. Eram as mais pesadas e eu catava os cascalhos para segurar com as minhas mãos de criança. Depois, devolvia-os ao rio, como se o pudesse enfeitar, dispondo as pedras coloridas de acordo com a minha preferência.

Mas, sobre os peixes, ela nada dissera e a senhora Maria insistiu na questão dos peixes.

_Há tantos peixes no mar, existem tantos rios de pescar, este é um rio de ensinar.

Maria perguntou à Francisca o que ela havia aprendido naquele riacho de pés rasos.

_Eu aprendi a andar sobre o leito de pedras e não cortar os meus pés. Também é fato que os meus pés ficavam vermelhos e com alguns arranhões, mas não me feri. A água transparente me mostrou um mundo novo, o mundo das pedras redondas e pontudas, formas comuns, pedras comuns e polidas e pedras semipreciosas que ainda hoje são as moradoras deste leito. Eu as conheço e quem tenta usar calçados ou chinelos para protegerem os pés, muito sofrem. É muito difícil perceber a correnteza, mas se usar chinelos, a correnteza puxa e os faz boiar, aumentando o risco de quedas com machucados sérios. No entanto, se usar outros calçados, os pés podem ficar presos entre as pedras e irem afundando como se estivessem em areia movediça, mas não é o caso. O rio segue o seu curso, as pedras permanecem a dar sustentação e nós ficamos ali o tempo que convém para admirarmos, digamos que nós nos movemos em todas as direções, embora não voemos.

_Mas, e os peixes?

_Aqui, por algum motivo desconhecido, não há peixes. Com algum esforço um ou outro lambari é pescado na parte funda, mas não neste trecho.

Maria diz o seu pensamento sobre o rio, como se ninguém a ouvisse:

_Para mim este rio está seco. Eu sinto como se não houvesse rios cheios. O rio, para mim, não passa de um sentimento esvaziado.

Francisca disse a ela que se encontrasse com a realidade. Ali é um lugar raso, não há peixes, há pedras lapidadas numa água cristalina.

_ Não espere o que este rio não pode te oferecer. Mas encontre o rio que te satisfaz, há tantos rios que num deles você poderá pescar peixes. Eu pesquei pedras vivas que dependiam deste rio para me encantarem e aqui as deixei e elas me deixaram o encantamento com a simplicidade.

As duas senhoras se levantam porque o sol já ia alto e seguiram o seu caminho; Maria atrás de rio cheio de peixes e, Francisca, guarda o encantamento para o caminho.

4 comentários:

Ivone disse...

Que lindo amiga! Nossa, como a própria vida, para cada um ela diz algo diferente, para tanto é preciso sentir, perceber e ser feliz com o que se tem! Que rio maravilhoso esse da Francisca, pena que a Maria não possa ver da mesma forma!
Abraços.
Ivone

MARILENE disse...

Especial! Nem a natureza consegue agradar a todos. Mas os que sabem ver beleza, são muito mais felizes. Os outros, buscam seus peixes por toda a vida, sem se dar por satisfeitos.

Bjs.

Teresa Brum disse...

Maravilhoso!
Quanto podemos aprender ao observar a linda natureza, mas cada um de nós tem um olhar próprio para a mesma coisa, como você descreveu tão bem.
E cada um em o rio que precisa, pois não?
Um beijo em seu coração e fique com Deus.

Dione Fonseca disse...

Amei o Rio das pedras coloridas . ja fiz um montinho para mim.
Grande abraço.gosto muito de seus comentarios .bjus e Boa semana
Dione Fonseca