A Solução
Celina, depois de formada, montou a sua clínica de psicologia em sociedade com algumas amigas. Depois de dois anos, Leidiane, uma das sócias, não conseguia obter a sua cartela de pacientes.
Os pacientes marcavam uma entrevista e depois, pediam para fazerem outra entrevista com outra psicóloga na secretaria da clínica. Era uma situação difícil para toda a equipe, pois as outras amigas estavam bem adaptadas e saíam-se bem no local de trabalho.
Celina era a diretora e propôs, junta as sócias, uma pesquisa investigativa do problema. Ela estava dando alta a um jovem, que fora adotado com quatro anos de idade por uma senhora ainda sem filhos, conhecida por sua mãe em um local de vendas de rendas artesanais à beira da estrada. A mãe e o pai adotivos vieram para o sul do país, mas a mãe natural continuou morando no sertão nordestino. Algum tempo atrás, a mãe natural conseguiu contato com a família adotiva e pediu para rever o Fernando, esse era o nome do jovem. Depois de consultada, Celina fez um roteiro de reencontro para que fosse o mais aprazível possível, e dentro da realidade atual das famílias adotiva e natural. As mães se entenderam e os irmãos de ambas as famílias travaram amizade para se conhecerem. As visitas e viagens foram agendadas e neste verão, Fernando, a mãe e a irmã adotivas foram passar as férias no interior do Piauí, onde a mãe natural era dona de um restaurante de comida típica e estava bem de vida; fato possível após seis meses de diálogo e intermediação de ambientes sociais.
Celina propôs ao Fernando, com a anuência da sua família adotiva e das demais psicólogas, que fizesse uma entrevista com a Leidiane e depois contasse o que tinha achado da entrevista.
Fernando, que estava liberado da psicanálise, foi cooperativo e marcou a entrevista.
_Doutora Leidiane, a doutora Celina me acompanhou até agora e me pediu para conversar com a senhora. O caso é que eu vou com a minha mãe e a minha irmã passaras férias junto com a minha mãe biológica e eu gostaria de algumas orientações suas, que de acordo com a doutora Celina, terão outra abordagem psicológica e serão interessantes para levar na bagagem.
A Leidiane ouviu a proposição e disse:
_Fernando, em primeiro lugar saiba que lá não será melhor que aqui. Você não se iluda, as dificuldades estão em toda a parte e são decorrentes de todas as atitudes que tomamos. A sua mãe natural será agradável e a sua mãe adotiva também, mas não creia mais do que necessita. A sua vida é aqui e nem pense em alongar as férias; o cronograma está feito e basta seguir sem complicar ou modificar o que está feito. Obedeça e tudo sairá bem. Não questione, não pergunte, trate a sua mãe biológica da mesma forma que você trata a sua vizinha mais querida, não se apegue a ela. Quem te criou merece respeito e será um desrespeito você tratá-la com um carinho excessivo.
Fernando se irritou e disse que as duas eram suas mães, que uma comia farinha para sobreviver quando ele nasceu e a outra o acolheu e o sustentou até agora nos seus dezoito anos de vida. Disse também que as duas se trataram bem e que o seu outro irmão por parte da mãe biológica nascera anos mais tarde, quando ela podia se alimentar adequadamente. Esse irmão contou do sofrimento da mãe biológica ao ver o seu filho partir para o sul.
_Doutora, a senhora não usando de um rigor maior que o necessário?
A doutora Leidiane disse que não:
_Eu não exponho os meus pacientes a ilusões de felicidade. A sua vida é aqui, e agora você certamente vai comparar com a vida de lá, vê se você se enxerga bem criado e dá àquela mulher o mesmo que ela te deu: fome e abandono. Amor com amor se paga. Devolva o que ela te deu.
Fernando saiu do consultório e marcou entrevista com a doutora Celina.
Celina percebeu que a metodologia da outra era incompatível com as escolas psicanalíticas adotadas na sua clínica. A metodologia da doutora Leidiane consistia em provocar para ouvir as respostas, mas ela questionava, porque as respostas vindas da irritação não são as mais sinceras e conduzem a psicanálise para testes outros, fora do objeto em questão.
_Esses métodos são válidos para outros problemas e comportamentos sociais, embora sejam questionáveis. Nesta clínica não usamos e até desaconselhamos estes comportamentos profissionais. Fernando lembre-se das orientações que eu te dei. Trate as duas com carinho, ambas estão sob a expectativa de como serão estas férias. Deixe que os irmãos se conheçam e saiam juntos sem a sua interferência. Faça por onde se divertir e deixe todos à vontade. Divirtam-se. A situação é estressante, mas vocês podem chegar a um bom nível de convivência familiar. Os outros também não dependem de você para ser feliz, cada um é feliz do seu jeito.
Celina chamou Leidiane para conversar porque, se ela queria seguir este rumo, ela teria que procurar uma clínica que adotasse este estilo comportamental como norma, uma clínica com pacientes com outro perfil e que freqüentavam outros consultórios. Esta era uma decisão difícil para ela, mas não mudaria a metodologia em função da vontade de uma das amigas e profissionais que trabalhavam em equipe.
9 comentários:
O trabalho em "equipe" realmente integrado é muito difícil. Sociedade, então... quando não há conectividade, impossível de dar certo! Belo texto para ótima reflexão.
Já tive problemas com psicólogos exatamente por isso, cada um tem seu jeito de agir, um era bem mais tranquilo, e a outra me forçava demais o que me irritava e ainda não estava pronta para certas coisas, no final fui para um terceiro e deu certo, é muito complicado, pois qdo precisamos de ajuda profissional no começo pleo menos não queremos ouvir criticas, só depois que já temo sa confiança do profissional, este texto retrata muito bem o que ocorre em varias clinicas, e infelizmente muitos desistem do tratamento.
Tu talento amiga es hermosamente inspirador. Todo lo que haces termina por acariciar el alma. Besos.
Olá amiga, após um longo jejum de internet estou me reativando.
Agradeço pelos comentários que recebi, e as felicitações de ano novo.
Como aqui em casa tem uma psicologa mesmo que a nível laboral nós sempre estamos em contante debates sobre este assunto.
Realmente você é bem articulista e desenvolta em assuntos que tange o ser humano. Parabéns pela bela matéria e um feliz ano de 2012..
Abraço
Equipe precisar funcionar para dar certo, beijo Lisette.
Por mim digo que a forma mais correcta é aquela que o Fernando deveria decidir só e agir de acordo com a razão.
Ambas merecem respeito e amor.
Ainda que continue a viver com aquela que lhe deu pão nunca deverá esquecer a mãe biológica nem os irmãos.
Nós criamos os filhos mas não os podemos guardar apenas para nós nem tão pouco organizar os seus sentimentos e escolhas.
Se os amamos devemos deixar que sigam a sua estrela e que sejam felizes...........
Yayá
Cada um sente as coisas à sua maneira. Esta psicóloga talvez não tivesse má intenção. Talvez não tenha havido um diálogo entre colegas no sentido de trabalharem em equipa. É muito complexa a mente humana e o que parece bem a uns vai, muitas vezes, parecer mal a outros mesmo com o mesmo curso académico.
É um bom tema para reflectir uma vez que muitas pessoas recorrem aos psicólogos.
Beijinhos
Lourdes
Yayá, penso que todo cuidado é pouco, quando tratamos com a psique das pessoas.
Este exemplo que trouxeste mostra que, apesar do trabalho necessitar ser integrado, não poderá ser nunca opressivo e complicado ao ponto de fazer com que a clientela seja afastada, ao invés de ser ajudada. Acho que, no caso da Leidiane, ela deveria rever seus conceitos e jamais impor a alguém seus próprios pensamentos.
Um grande beijo, querida.
Maria Paraguassu.
Ola Prezada amiga
Venho agradecer a sua carinhosa presença no meu cantinho!
E pedir desculpas pelo meu silencio, não foi proposital, mas por conta de alguns desafios que vida nos traz. Os quais nos fazer parar por um tempinho para poder ver o que até aqui não conseguimos enxergar!
Agradeço pelo carinho e compreensão e pelo dom da amizade, pois sem ela, não conseguimos ser quem somos, pessoas muito felizes!
Tenha um Lindo Fim de semana!
Em breve voltarei !
Abraço amigo!
Maria Alice
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